Sob o governo de uma administração terrorista renomeada da Al-Qaeda, a minoria cristã da Síria enfrenta o terror e assassinato sancionado pelo Estado – desta vez com atentados assassinos dentro das suas próprias igrejas. O atentado de 22 de junho na Igreja Ortodoxa Grega Mar Elias, em Damasco, na Síria, não só deixou 25 fiéis mortos e 52 feridos, como também abalou o frágil senso de proteção ao qual os cristãos sírios outrora se apegavam.
Fonte: The Cradle
O ataque é emblemático do regime cada vez mais sectário imposto pela nova liderança síria – enraizada na ideologia da Al-Qaeda e liderada por Ahmad al-Sharaa, anteriormente conhecido como Abu Mohammad al-Julani, um terrorista sobre quem Trump teceu elogios e cuja cabeça estava à prêmio de US$ 10 milhões pelo próprio governo dos EUA.
Enviado pelo líder do ISIS, Abu Bakr al-Baghdadi, para estabelecer a Frente Nusra, Sharaa agora governa Damasco por meio do aparato Hayat Tahrir al-Sham (HTS), cuja ascensão foi impulsionada por uma década de operações ocidentais de mudança de regime. Sob essa autoridade extremista salafista renomeada, a minoria cristã na Síria – já dizimada pela guerra e pelos deslocamentos – enfrenta uma nova onda de violência direcionada aos cristãos e indiferença oficial.
Um massacre em Damasco
Durante a missa de domingo na Igreja Mar Elias, no bairro de Duweila, o agressor abriu fogo contra os fiéis com uma arma automática antes de detonar seu colete explosivo. Imagens do ocorrido mostraram pisos encharcados de sangue, bancos estilhaçados e alvenaria pulverizada. Em 15 minutos, o Ministério do Interior da Síria culpou o ISIS e identificou o agressor como um homem-bomba.
“Ele abriu fogo contra a congregação antes de se detonar usando um colete explosivo”, disse um comunicado do ministério.
BREAKING: Um homem-bomba realizou um ataque terrorista explodindo-se na histórica Igreja Ortodoxa Grega de Santo Elias, em Dweilaa, a leste de Damasco, na Síria. De acordo com o Ministério do Interior sírio, 19 pessoas morreram na explosão. A igreja, construída originalmente no século VIII e reconstruída no século XIX, sofreu danos significativos.
Mas muitos acharam suspeito que o Ministro do Interior, Anas Khattab, cofundador da Frente Nusra, que já foi incluído na lista negra de terroristas do Conselho de Segurança da ONU (CSNU), pudesse alegar saber a identidade do perpetrador e da organização por trás dele tão rapidamente.
“O estranho é que, como o Ministério do Interior anunciou, após 15 minutos, a identidade do assassino que se explodiu na igreja”, questionou um comentarista no Facebook , “mas, após seis meses de suposta perseguição aos assassinos que cometeram o massacre [de alauítas] na costa, não encontraram ninguém? Como souberam imediatamente que ele era do ISIS?”
No dia seguinte, Khattab alegou que suas forças descobriram a célula do ISIS responsável pelo ataque e realizaram um ataque contra seus membros nos subúrbios de Damasco, levando a confrontos, várias prisões e duas mortes. No entanto, as imagens do ataque mostraram que ele era claramente falso, sugerindo que nenhum confronto ocorreu e que a operação foi uma encenação para tirar fotos.
As forças de segurança lideradas pelo HTS realizaram um ataque falso semelhante em janeiro, alegando na época que estavam tentando impedir um ataque do ISIS ao Santuário Sayyeda Zaynab, um local sagrado para os muçulmanos xiitas [iranianos] nos subúrbios ao sul de Damasco.
Nos dias seguintes ao atentado de Mar Elias, a narrativa que sugeria que o ISIS era responsável pelo ataque começou a desmoronar, com relatos surgindo de que os agressores não eram membros do ISIS, mas sim do próprio Serviço de Segurança Geral e do Ministério da Defesa do atual governo sírio.
O jornalista Aws Nizar Darwish relatou que o autor do atentado suicida na Igreja Mar Elias era um membro das forças de Segurança Geral de Khattab. Darwish disse que, de acordo com uma pessoa próxima ao evento, o homem que detonou o cinto suicida era Zyad Anwar al-Idlibi, de 18 anos, membro da Segurança Geral.
Darwish relatou que Idlibi era a mesma pessoa que, duas semanas atrás, foi ao bairro de Duweila e percorreu as ruas ameaçando cristãos e pedindo que se convertessem ao islamismo. Idlibi era de uma pequena vila em Idlib e se voluntariou para se juntar à Segurança Geral em janeiro deste ano.
“Se você perguntar a qualquer pessoa em Duweila sobre Zyad Anwar al-Idlibi, eles o conhecerão. E ele é um voluntário da Segurança Geral e o autor do atentado suicida”, afirmou Darwish.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (SOHR), sediado no Reino Unido, informou que, de acordo com fontes confiáveis, um membro do Ministério da Defesa sírio da província de Deir Ezzor participou do ataque e estava entre os feridos levados ao hospital depois.
Extremismo dirigido aos cristãos apoiado pelo Estado
Enquanto o Estado lutava para controlar a narrativa, um grupo até então obscuro, Saraya Ansar al-Sunnah – um desdobramento do HTS – assumiu a responsabilidade. Como observou o Syrian Observer , o governo sírio nunca emitiu um alerta sobre o grupo, inclusive depois que este assumiu a responsabilidade por alguns dos massacres perpetrados contra alauítas na costa em março, nos quais pelo menos 1.700 pessoas foram assassinadas.
Ao mesmo tempo, os cristãos foram lembrados após o ataque da hostilidade que os membros do governo sírio têm em relação à sua fé. Declarações do governo condenando o atentado à igreja de Mar Elias irritaram os cristãos, pois eles não chamam os mortos no atentado de mártires, chamando-os simplesmente de vítimas.
Imagens antigas de vídeo circularam online entre a comunidade cristã do Ministro da Defesa da Síria, Major-General Murhaf Abu Qasra, destruindo uma estátua da Virgem Maria. O vídeo foi filmado quando Abu Qasra era comandante do HTS, antigo grupo afiliado à Al-Qaeda, durante a guerra apoiada pela CIA contra o governo do ex-presidente sírio Bashar al-Assad.
A maioria dos massacres de alauítas em março foi realizada por facções afiliadas ao Ministério da Defesa. Os cristãos não foram alvos dos massacres, mas alguns foram informados, enquanto fugiam da costa, que, embora estivessem sendo poupados agora, seriam os próximos a serem alvos.
Isso nos faz lembrar do slogan sectário outrora proclamado pelos rebeldes sírios: “Os alauítas para a sepultura, os cristãos para Beirute”.
Nos últimos dias, vários observadores notaram que Khattab se referiu aos cristãos em termos depreciativos em seus escritos anteriores. Após o bombardeio da Síria pela Coalizão dos EUA no final de 2014, Khattab escreveu um livro alegando que os “mujahideen” enfrentavam uma coalizão de “cruzados”, “adoradores da cruz” e “nusayris” (um termo depreciativo para alauítas) lutando contra os mujahideen na Síria e que os muçulmanos eram obrigados a lutar uma jihad contra eles.
De Bucca a Damasco
O “Jovem e Atraente” [de acordo com Trump] terrorista Sharaa – agora presidente de fato da Síria – não está menos comprometido. Como comandante sênior do ISIS , ele supervisionou atentados suicidas contra comunidades cristãs e xiitas no Iraque antes de ser enviado pelo autoproclamado califa Abu Bakr al-Baghdadi à Síria para estabelecer a Frente Nusra.
Em 2010, seu associado, um agente do ISIS, Haitham Balawi, planejou o ataque do ISIS à Catedral de Sayidat al-Nejat, em Bagdá. O ataque sangrento deixou 70 mortos e 75 feridos cristãos, incluindo 51 fiéis e dois padres.
Balawi foi mantido na infame Prisão Americana de Bucca, no Iraque, juntamente com Sharaa e o líder do ISIS, Baghdadi. Todos foram posteriormente libertados por autoridades americanas de Bucca – conhecida como “Universidade Jihadista” pelo general americano que comandava o campo.
Sharaa foi posteriormente enviado à Síria para estabelecer a Frente Nusra (posteriormente HTS) sob as instruções de Baghdadi. Apesar desse histórico, Sharaa foi preparado para o poder pelo ex-embaixador dos EUA na Síria, Robert Ford, que o conheceu em Idlib durante a ascensão do HTS.
Ford, figura central na Operação Timber Sycamore da CIA, ajudou a armar e apoiar grupos ligados à Al-Qaeda na Síria sob o pretexto de mudança de regime. Em suas próprias palavras, Sharaa “nunca se desculpou” por seu passado. No entanto, Ford o via como o futuro líder de uma Síria pós-Assad.
Em dezembro de 2024, essa visão se concretizou. Assad fugiu para Moscou, o exército sírio entrou em colapso e o HTS assumiu o controle da capital. Damasco caiu sob a autoridade de uma coalizão de militantes islâmicos sunitas extremistas renomeados e colaboradores ocidentais.
Futuro cristão na Síria em perigo
Desde que Sharaa e o HTS chegaram ao poder em Damasco, os cristãos têm se preocupado com seu futuro na Síria. Antigamente considerada o berço da herança cristã – onde se diz que São Paulo se converteu – “o caminho de” Damasco tem se tornado cada vez mais sinônimo de insegurança e violência sectária .
Embora os cristãos não tenham sido alvos dos massacres costeiros, foram avisados de que seriam os próximos. E agora, com o atentado de Mar Elias, essa profecia se tornou realidade. Como observou o analista político sírio Kevork Almassian:
“Noventa por cento dos cristãos sírios já fugiram, expulsos pela guerra de mudança de regime liderada pela CIA. Mais cristãos partiram ainda mais depois que o regime da Al-Qaeda assumiu o poder em Damasco. Agora, homens-bomba atacam os poucos que restam, dentro de igrejas. Os cristãos sírios não têm mais ninguém do seu lado. Ninguém”.
Sua eliminação não é mais uma questão colateral: é o resultado inevitável de um estado agora governado pelas mesmas forças que um dia prometeram destruí-los.
¹⁶ Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas. ¹⁷ Acautelai-vos, porém, dos homens; porque eles vos entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas; ¹⁸ E sereis até conduzidos à presença dos governadores, e dos reis, por causa de mim, para lhes servir de testemunho a eles, e aos gentios.
¹⁹ Mas, quando vos entregarem, não vos dê cuidado como, ou o que haveis de falar, porque naquela mesma hora vos será ministrado o que haveis de dizer. ²⁰ Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós. ²¹ E o irmão entregará à morte o irmão, e o pai o filho; e os filhos se levantarão contra os pais, e os matarão.
²² E odiados de todos sereis por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo.²³ Quando pois vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra; porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem que venha o Filho do homem. ²⁴ Não é o discípulo mais do que o mestre, nem o servo mais do que o seu senhor. – Mateus 10:16-24
