A Nova Batalha pelas Américas: Porque o Hemisfério Ocidental está se tornando um ponto crítico global

Os principais adversários geopolíticos dos EUA no Hemisfério Ocidental — Cuba, Venezuela e Nicarágua — estão firmemente no campo da China e da Rússia. Outros países podem sofrer alterações dependendo do resultado das eleições recentes. Segue uma visão geral de alguns dos países geopoliticamente mais importantes do Hemisfério Ocidental para ajudar a contextualizar o panorama geral.

Fonte: Escrito por Nick Giambruno via InternationalMan.com

Venezuela

Um confronto militar dos EUA na Venezuela parece cada vez mais provável. Desde a ascensão de Hugo Chávez ao poder em 1999, Caracas alinhou-se com a Rússia e a China. As vastas reservas de petróleo e ouro da Venezuela a tornam um prêmio geopolítico. O país detém as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo — mais de 303 bilhões de barris, cerca de 17% do total global — concentradas na Faixa do rio Orinoco. Isso representa mais petróleo do que as reservas declaradas da Arábia Saudita.

Para a China e a Rússia, a Venezuela representa uma posição geopolítica estratégica no quintal dos Estados Unidos — assim como os EUA usam Taiwan e a Ucrânia para fazer o mesmo com Pequim e Moscou. A renovada “guerra às drogas” de Trump é um pretexto pouco disfarçado para os EUA promoverem seus interesses geopolíticos na América do Sul.

Além disso, no início deste ano, Washington classificou o Tren de Aragua e o Cartel de los Soles, da Venezuela, como “organizações terroristas estrangeiras”, uma escalada dramática sem precedentes. Essas designações abriram caminho para ações militares e secretas sob a égide das autoridades antiterroristas.

Os Estados Unidos reuniram uma força naval impressionante na costa da Venezuela, no que Trump descreveu como uma campanha contra o “narcoterrorismo”.

Na realidade, isto parece mais com a clássica diplomacia das canhoneiras — a narrativa das drogas e do terrorismo é apenas uma fina camada de propaganda usada para justificar a política. A Venezuela não é uma grande produtora de cocaína, nem desempenha qualquer papel significativo no tráfico de fentanil.

A Venezuela encontra-se agora na encruzilhada de uma ordem mundial em transformação. É difícil imaginar os EUA consolidando sua esfera de influência no Hemisfério Ocidental enquanto a Venezuela mantiver sua atual orientação geopolítica — promovendo uma ideologia que defende a independência da América Latina em relação aos EUA.

Guiana

A Guiana tornou-se, discretamente, um dos estados geopoliticamente mais importantes do Hemisfério Ocidental. Seu boom petrolífero, sua vulnerabilidade a uma longa disputa territorial com a Venezuela e seu crescente alinhamento com os EUA a colocam na vanguarda do conflito pelo controle do Hemisfério Ocidental.

O recente aprofundamento dos laços econômicos e de segurança entre a Guiana e os Estados Unidos sinaliza o reconhecimento dessa mudança. Enquanto isso, as medidas legislativas e militares de Caracas para afirmar o controle sobre a região de Essequibo, na Guiana, refletem um desafio ousado — não apenas à Guiana, mas à influência hemisférica dos EUA.

Cuba

Cuba pode parecer pequena no mapa, mas sua posição — a apenas 145 quilômetros da Flórida — a torna uma das peças estrategicamente mais importantes no tabuleiro de xadrez hemisférico. Num mundo onde a geografia ainda define o poder, a proximidade de Cuba com os EUA e seu histórico desafio a Washington conferem-lhe um peso geopolítico desproporcional.

À medida que os EUA voltam a concentrar-se na consolidação da sua influência no Hemisfério Ocidental, Cuba representa um desafio. Para Washington, o alinhamento da ilha com a China e a Rússia complica os esforços para afirmar o controle sobre a região.

Para Pequim e Moscou, Cuba oferece uma rara oportunidade de apoio no próprio quintal dos Estados Unidos — um lugar para projetar poder brando, informações de inteligência e, potencialmente, até influência militar, sem cruzar linhas vermelhas diretas.

Economicamente, as parcerias de Cuba com a China e a Rússia ajudam o país a sobreviver sob as sanções dos EUA. Pequim tornou-se o maior parceiro comercial de Cuba e um importante investidor em telecomunicações, portos e infraestrutura. Moscou, por sua vez, prometeu mais de US$ 1 bilhão em cooperação econômica e continua a fortalecer os laços nas áreas de energia e defesa. Essas relações permitem que Havana mantenha sua autonomia política e servem como um ponto de convergência simbólico para o sentimento anti-EUA em toda a América Latina.

Resumindo, Cuba é mais do que uma relíquia da geopolítica da Guerra Fria — é uma variável viva na ordem multipolar atual. Cuba também serve como um lembrete contundente dos limites do poder do governo dos EUA. Desde 1959, Washington tem desencadeado operações secretas, embargos econômicos e inúmeras tentativas de derrubar o regime cubano — e, no entanto, ele permanece no poder.

Que nova medida os EUA poderiam agora implementar que ainda não tenham tentado?

A menos que haja uma invasão militar em grande escala — que por si só não ofereceria nenhuma garantia de sucesso — não vejo nenhuma alternativa viável. Isso significa que o governo cubano provavelmente manterá sua atual orientação geopolítica e continuará sendo um obstáculo para as ambições dos EUA no Hemisfério Ocidental.

Colômbia

A Colômbia tem sido, há muito tempo, um dos aliados mais confiáveis ​​de Washington na América Latina. Hugo Chávez, de forma famosa e depreciativa, referiu-se a ela como “o Israel da América do Sul”.

Esse padrão mudou sob o atual presidente de esquerda do país, Gustavo Petro. No início deste ano, ele viajou para a China e assinou um plano de cooperação que marcou a adesão formal da Colômbia à Iniciativa Cinturão e Rota — uma medida que incomodou Washington. Em resposta, Trump anunciou a suspensão da ajuda americana e ameaçou impor tarifas à Colômbia, acusando o governo de Petro de não conter o narcotráfico.

A questão crucial agora é se a aproximação da Colômbia com Pequim representa um realinhamento estratégico duradouro ou simplesmente um desvio temporário sob a liderança de Petro. O rumo que a Colômbia tomar terá grandes implicações geopolíticas para as Américas, especialmente considerando sua posição na fronteira com a Venezuela e o Panamá.

Nicarágua

A Nicarágua alinhou-se firmemente com a China e a Rússia, posicionando o governo Ortega como um dos adversários mais declarados de Washington no Hemisfério Ocidental.

Economicamente, a Nicarágua abraçou a China como parceira em infraestrutura e investimentos, oferecendo a Pequim uma posição estratégica na América Central. O governo Ortega tem buscado ativamente financiamento chinês para projetos de energia, telecomunicações e portos — iniciativas que se encaixam perfeitamente nas ambições mais amplas de Pequim com a Iniciativa Cinturão e Rota. As relações com os EUA, por outro lado, deterioraram-se drasticamente em meio a sanções, restrições comerciais e críticas públicas a Ortega.

Brasil

O Brasil, o maior país da América Latina em extensão territorial, economia e população, encontra-se em uma conjuntura crucial no mapa geopolítico em constante evolução do hemisfério. Sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, o Brasil manteve uma relação próxima com os Estados Unidos, compartilhando políticas comerciais e cooperação estratégica. Essa postura mudou com o retorno de Lula da Silva, que impulsionou o Brasil rumo a laços mais estreitos com a China, a Rússia e com o BRICS.

As tensões com os EUA explodiram recentemente quando Trump impôs uma ampla tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras, citando o processo movido pelo Brasil contra Bolsonaro e o que Washington chamou de práticas comerciais desleais.

O Brasil respondeu apresentando uma queixa na Organização Mundial do Comércio, invocando sua nova Lei de Reciprocidade e insinuando tarifas retaliatórias próprias. O resultado: um grande desentendimento com os EUA e um sinal claro de que o Brasil está recalibrando sua orientação estratégica.

A direção que o Brasil tomar é extremamente importante. Uma ruptura duradoura entre os EUA e o Brasil poderia realinhar os fluxos comerciais, alterar a dinâmica de poder regional e impulsionar a influência da China na América Latina. Por outro lado, se o Brasil acabar se aproximando de Washington, isso reafirmaria a posição dominante dos EUA no hemisfério.

Panamá

O Panamá emergiu como um ponto crítico na disputa por influência em todo o Hemisfério Ocidental. Com o estratégico Canal do Panamá no centro do comércio global e da estratégia naval dos EUA, o governo Trump considera intolerável qualquer presença chinesa perto da hidrovia que liga o Atlântico ao oceano Pacífico.

No início deste ano, o Secretário de Estado Marco Rubio visitou o Panamá e transmitiu uma mensagem direta: reduzir a influência chinesa em torno do canal ou enfrentar as consequências. Dias depois, o Panamá anunciou que não renovaria seu memorando com a Iniciativa Cinturão e Rota da China — uma medida amplamente vista como uma vitória da pressão dos EUA.

O contexto é inconfundível: o próprio Trump questionou publicamente a soberania do canal, sugerindo que os EUA poderiam “retomá-lo”.

A intenção estratégica é clara: o Panamá deve se alinhar com os Estados Unidos, e não com Pequim. O canal é vital demais para que Washington o trate como neutro. A recente postura intransigente de Washington evoca ecos de 1989, quando as forças militares dos EUA invadiram o Panamá para depor Manuel Noriega e instalar um regime aliado.

México

O México está situado no coração das Américas, tanto geográfica quanto economicamente. Como o maior parceiro comercial dos EUA, o México possui fortes laços econômicos, industriais e logísticos com Washington — desde cadeias de suprimentos transfronteiriças até infraestrutura compartilhada.

Ao mesmo tempo, o México se relaciona economicamente com a China. Bens e investimentos chineses fluem para o México em ritmo crescente, por vezes causando atritos com os EUA, que temem que o México possa se tornar uma porta de entrada para a influência ou o comércio chinês. A liderança mexicana com a eleição de uma judeu khazar Claudia Sheinbaum para a presidência também demonstra sinais de maior independência, trilhando seu próprio caminho na diplomacia global e na política comercial, em vez de se alinhar completamente com Washington.

Além disso, o México enfrenta novas pressões de Washington para tratar seus cartéis de drogas como ameaças terroristas. O governo Trump declarou os principais grupos criminosos mexicanos como organizações terroristas estrangeiras e está planejando operações militares dentro das fronteiras do México.

Para a liderança mexicana, isso representa um sério desafio. O México afirma categoricamente que nenhuma operação militar estrangeira pode ocorrer em seu território sem autorização e considera a ação unilateral dos EUA uma violação da sua soberania nacional. O México poderá se tornar um ponto crucial onde a estratégia geopolítica dos EUA colide com a autonomia da América Latina.

El Salvador

El Salvador é um exemplo interessante da disputa geopolítica entre a China e os EUA na América Latina.

Um momento decisivo ocorreu quando Washington pagou cerca de 6 milhões de dólares a El Salvador para manter centenas de deportados — principalmente venezuelanos — na prisão de segurança máxima do país. Pouco depois, os EUA receberam o presidente Bukele na Casa Branca, elogiando a postura linha-dura de seu governo em relação às gangues, ao controle da migração e à segurança interna.

Ao mesmo tempo, Bukele estreitou os laços com a China. Pequim financiou importantes projetos de infraestrutura em El Salvador, incluindo a nova biblioteca nacional, um estádio moderno e um extenso corredor turístico à beira-mar.

Até o momento, Bukele conseguiu equilibrar as relações com Washington e Pequim. Resta saber se esse equilíbrio se manterá, mas, por ora, El Salvador se destaca como um dos poucos países que conseguem navegar com eficácia em ambos os lados da rivalidade entre as grandes potências.

Argentina

Sob a liderança de Javier Milei [um marionete dos interesses de Israel que se converteu ao judaísmo e tem como guru um rabino judeu], a Argentina se tornou um parceiro fundamental para os EUA na América do Sul.

É por isso que os EUA fizeram uma aposta incomumente grande e abertamente política na Argentina. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o presidente Trump anunciaram anteriormente um acordo de swap cambial de US$ 20 bilhões que permite ao Tesouro dos EUA comprar pesos argentinos e fornecer dólares para ajudar a estabilizar o falido sistema financeiro argentino. Eles também delinearam planos para reunir outros US$ 20 bilhões de bancos e fundos privados dos EUA, elevando o apoio potencial total para cerca de US$ 40 bilhões.

Trump descreveu o acordo como uma “Doutrina Monroe econômica”, deixando claro que não se trata simplesmente de um programa econômico, mas de uma jogada geopolítica. Ele condicionou a continuidade do apoio dos EUA diretamente ao sucesso político do presidente Javier Milei.

O interesse dos EUA [e por extensão de Israel] na Argentina não é difícil de entender. A Argentina é a terceira maior economia da América Latina, com um PIB de cerca de US$ 600 bilhões. É uma grande exportadora de produtos agrícolas e detém algumas das maiores reservas de gás de xisto do mundo. Possui também enormes depósitos de lítio. Esses recursos são estrategicamente valiosos em um mundo onde as cadeias de suprimentos de alimentos, energia e minerais críticos estão se tornando cada vez mais importantes em meio às crescentes tensões com a Rússia e a China.

O que diferencia a Argentina é sua direção política. Enquanto muitas grandes economias latino-americanas mantêm laços mais estreitos com a China ou se inclinam para o bloco BRICS, a Argentina, com de eleição de Milei, trilhou o caminho oposto. Milei retirou-se da afiliação ao BRICS, cancelou ou congelou acordos de infraestrutura com a China, reduziu o uso das linhas de swap cambial chinesas, abriu a estratégica região do Rio Paraná à cooperação militar com os EUA e começou a assinar novos acordos de mineração com parceiros americanos.

Para Washington, reduzir a influência chinesa na Argentina e garantir o acesso a recursos essenciais são os principais incentivos por trás do apoio financeiro concedido.

Para a Argentina, a linha de swap com os EUA visa estabilizar o peso e apoiar as reformas pró-mercado de Milei. Mas a condicionalidade política cria riscos. Se as reformas estagnarem ou se Milei perder força legislativa, os EUA podem recuar, o que poderia desestabilizar rapidamente a moeda novamente.

Nas eleições nacionais mais recentes, o partido de Milei obteve ganhos significativos, conquistando cerca de 41% dos votos e aumentando sua representação no Congresso o suficiente para fortalecer sua capacidade de bloquear medidas da oposição. Os mercados interpretaram isso como um sinal de que o apoio dos EUA continuará por enquanto e que os esforços de reforma permanecerão em vigor.

Em termos mais amplos, Washington está usando sua influência financeira para garantir poder em um país estrategicamente importante e rico em recursos naturais.

Quando a geopolítica muda, a realidade financeira a acompanha.

A luta entre grandes potências que se desenrola no Hemisfério Ocidental não é apenas uma disputa regional — é um sinal das profundas fraturas econômicas que agora se espalham pelo sistema global.

Enquanto os EUA, a China e a Rússia competem por influência na América Latina, os alicerces financeiros que outrora sustentavam o domínio global americano estão se enfraquecendo sob o peso da inflação, da enorme dívida e de uma ordem monetária sobrecarregada.

O realinhamento geopolítico está acelerando um ajuste de contas financeiro que afetará todos os poupadores e investidores muito antes de remodelar as fronteiras nacionais.

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