Faltou luz em todos os estados, exceto Roraima, e em algumas regiões blecaute durou mais de seis horas. Episódio segue sob investigação, mas associá-lo à privatização da Eletrobras seria “leviano”, diz ministro. O apagão que comprometeu o abastecimento de energia em 25 estados e no Distrito Federal na manhã desta terça-feira (15/08) deixou um terço dos consumidores brasileiros sem luz e provocou caos no transporte público e no trânsito em diversas cidades, além de também ter afetado o funcionamento de órgãos públicos.
Apagão afetou um terço dos brasileiros, diz governo.
Fonte: Deutschewelle
Mais tarde, falando a jornalistas, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, informou que entre 27 milhões a 29 milhões de endereços [mais de 100 milhões de pessoas] foram afetados em alguma medida pelo evento de queda de energia.
A falta de luz começou às 8h31 (horário de Brasília) e o abastecimento só foi totalmente normalizado mais de seis horas depois, perto das 15h, segundo informações do próprio ministério. Até o fim da tarde, a imprensa brasileira ainda noticiava, contudo, falta de energia no Amapá e em Santa Catarina.
Segundo Silveira, o episódio estaria associado a uma “sobrecarga” em linhas de transmissão no Ceará, no Nordeste do país. O ministro, porém, argumentou que o evento, sozinho, não justificaria a magnitude do apagão, e disse que pedirá à Polícia Federal e à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que investiguem eventual ação humana.
Por determinação do ministro, o episódio está sob apuração de um grupo integrado por representantes do ministério, do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Silveira, contudo, descartou que a interrupção no fornecimento de energia pudesse estar relacionada à segurança energética do país, ressaltando que “vivemos um momento de abundância dos nossos reservatórios”.
Apagão no Sul e Sudeste teria sido “ação controlada”, segundo ONS
Mais cedo, em nota, o ONS havia comunicado a interrupção de 16 mil MW de carga em razão de uma “ocorrência” às 8h31 na rede que afetou a interligação Norte-Sudeste e derrubou o fornecimento de eletricidade em estados nas cinco regiões do país – à exceção de Roraima, que não está interligado ao sistema nacional. O órgão alega que a interrupção do abastecimento de energia no Sul e no Sudeste foi uma “ação controlada” para evitar que o problema se espalhasse.
Segundo informações do Ministério de Minas e Energia, até as 10h22 o fornecimento já havia sido totalmente restabelecido nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país. Já as regiões Norte e Nordeste estavam, até as 12h30, com 41% e 85% da carga recomposta, respectivamente. Mais tarde, às 14h30, a pasta informou que o sistema nacional de energia havia sido restabelecido, “restando ajustes pontuais a serem realizados pelas distribuidoras em algumas cidades”.
Por causa do blecaute, Silveira interrompeu viagem ao Paraguai, aonde fora para, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhar a posse do novo presidente do país, Santiago Peña – os dois países compartilham a administração da usina hidrelétrica de Itaipu.
Oposição tenta desgastar Lula, e esquerda cita privatização da Eletrobras
Líderes da oposição reagiram ao apagão criticando o governo Lula. Aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o senador Ciro Nogueira (PP-PI) associou a falta de luz à chegada de um “governo do apagão” ao Palácio do Planalto, além de citar o aumento do preço da gasolina, anunciado nesta terça pela Petrobras.
Nogueira preside o PP, mesmo partido do presidente da Câmara, Arthur Lira, que atualmente negocia a adesão à base governista. “O Brasil voltou! Voltou ao Apagão!”, escreveu o senador no X, antigo Twitter.
Senador e ex-juiz da Lava Jato, Sergio Moro (União Brasil-PR) também teceu críticas semelhantes às que já circulavam nas redes sociais entre apoiadores de Bolsonaro, citando além do apagão e do aumento “abrupto” da gasolina e do diesel a décima queda consecutiva no Ibovespa, a pior sequência do tipo desde 1984.
Do outro lado do espectro político, governistas sugeriram que o apagão poderia estar relacionado à privatização da Eletrobras, levada a cabo pelo governo Bolsonaro em 2022. Declarações nesse sentido foram feitas nas redes sociais pela primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, pelo senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), e pelo deputado federal Glauber Braga (Psol-RJ) – este último associou o apagão a demissões na esteira da privatização.
“A conta da privatização irresponsável da Eletrobras chegou: apagão em 25 estados e no DF”, escreveu Rodrigues no X. “No Brasil, vimos hoje o infeliz resultado da venda da Eletrobras a preço de banana no governo Bolsonaro, que comprometeu a segurança energética do nosso país!”
Responsabilizar privatização da Eletrobras seria leviano, diz ministro
Embora tenha afirmado que a privatização da Eletrobras “fez mal” por se tratar de um “setor estratégico para a segurança do país”, Silveira rejeitou qualquer associação entre o apagão e a venda da estatal.
Conforme a emissora de TV CNN, porém, a linha de transmissão de energia no Ceará associada ao blecaute é operada pela Eletrobras.
“Eu seria leviano em apontar que há uma causa direta com relação à privatização da Eletrobras. O que não posso faltar é com a coerência, a minha posição sempre foi essa e não vai deixar de ser é que um setor estratégico como esse deve ter a mão firme do estado brasileiro”, afirmou. “A Eletrobras era o braço operacional do setor elétrico brasileiro, responsável por mais 40% da transmissão nacional, mais de 33% da geração do país.”
O ministro disse ter sabido pela imprensa da renúncia do presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, anunciada na noite de segunda-feira – o governo brasileiro detém 43% das ações da empresa.
bl/cn/ra (ots)
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