Arábia Saudita pode ‘Quebrar’ a Arquitetura Financeira do (Hospício do) Ocidente

Observando os do G-7 esforços para confiscar ativos russos de cerca de US$ 300 bilhões nos EUA e na UE, os investidores ricos da Península Arábica estão ficando preocupados com a segurança da sua própria riqueza investida no (Hospício do) Ocidente.

Fonte: Rússia Today

A propriedade privada sempre foi considerada algo sagrado para a humanidade. Hoje, porém, esta santidade e inviolabilidade da propriedade privada estão seriamente ameaçadas no [Hospício do] ocidente.

No mundo moderno, onde a instabilidade econômica e política se torna cada vez mais comum, os sistemas jurídicos e os acordos internacionais concebidos para proteger os direitos de propriedade enfrentam novos desafios. O confisco de bens, as sanções econômicas e a pressão política ameaçam as noções tradicionais de inviolabilidade da propriedade, forçando as pessoas a reavaliar as suas crenças e a procurar novas formas de salvaguardar os seus interesses.

Na semana passada, os meios de comunicação social globais relataram que, no início deste ano, a Arábia Saudita sugeriu a possibilidade de vender parte das suas participações em dívida europeia se os países do G-7 avançassem com planos de confiscar os quase 300 bilhões de dólares dos ativos congelados da Rússia. Esta informação veio de fontes familiarizadas com a situação dentro do G-7, acrescentando uma camada de complexidade ao já tenso cenário geopolítico.

O Ministério das Finanças da Arábia Saudita comunicou a alguns parceiros do G-7 a sua forte desaprovação da medida proposta, que se destinava a apoiar a Ucrânia no seu conflito com a Rússia. Uma fonte descreveu a comunicação como uma ameaça velada, destacando a séria intenção do reino de proteger os seus interesses financeiros. Os sauditas mencionaram especificamente as dívidas emitidas pelo Tesouro francês, sublinhando a sua abordagem estratégica para alavancar a sua influência econômica.

Durante o período de Maio a Junho, os países do G-7 deliberaram sobre várias opções relativas aos ativos do Banco Central Russo. As discussões foram intensas e multifacetadas, considerando as ramificações jurídicas, políticas e econômicas. No final das contas, o grupo chegou a um consenso de utilizar apenas os rendimentos gerados com esses ativos, deixando o principal intacto. Esta abordagem cautelosa foi adotada apesar da pressão considerável dos Estados Unidos e do Reino Unido, que defendiam medidas mais assertivas, incluindo o confisco [roubo] direto de todos os ativos russos. 

A proposta de confiscar imediatamente os ativos russos enfrentou uma resistência significativa, especialmente por parte de alguns países membros da “zona” do euro. Estas nações expressaram preocupações sobre as potenciais repercussões negativas nas suas próprias moedas e na estabilidade econômica regional mais ampla. Esta oposição interna dentro do G-7 destacou uma divisão notável entre os seus membros, revelando que nem todos estavam preparados para apoiar medidas radicais. Esta divisão persiste mesmo enquanto o conflito na Ucrânia continua e a necessidade de apoiar a sua economia sitiada torna-se mais urgente.

Além disso, as implicações mais amplas da posição da Arábia Saudita não podem ser ignoradas. A potencial venda por parte do reino de títulos de dívida europeus poderá ter um efeito cascata nos mercados financeiros globais, desestabilizando potencialmente o delicado equilíbrio dos mercados internacionais de dívida e de ações. Tal medida significaria também uma mudança geopolítica significativa, demonstrando a vontade da Arábia Saudita de usar o seu poder econômico como uma ferramenta de influência política [a favor da Rússia].

A decisão cautelosa do G-7 de utilizar apenas os lucros provenientes dos ativos russos reflete uma hesitação mais ampla em escalar sanções financeiras até ao ponto do confisco de ativos. Esta decisão sublinha a complexidade da diplomacia financeira internacional, onde as decisões econômicas estão intrinsecamente ligadas a considerações políticas e estratégicas. À medida que a situação evoluir, a comunidade internacional acompanhará de perto o desenrolar destas estratégias financeiras e geopolíticas, particularmente no contexto do conflito na Ucrânia e no panorama econômico global.

O dinheiro de Riad tem grande influência

Num contexto de escalada de tensões internacionais e de sanções econômicas, a reação da Arábia Saudita às potenciais medidas dos países do G-7 para confiscar ativos russos tem atraído uma atenção significativa. O reino não só expressou o seu descontentamento, mas também sugeriu possíveis contramedidas econômicas, destacando a sua crescente influência na cena global e as suas intenções estratégicas.

Os investimentos de ativos da Arábia Saudita nos mercados ocidentais através do seu fundo soberano, o Fundo de Investimento Público (PIF), sublinham a sua influência financeira significativa. O PIF é uma pedra angular do ambicioso programa Visão 2030, que visa diversificar a economia e reduzir a dependência das receitas do petróleo.

No final de 2023, o PIF geria ativos num total de aproximadamente 925 bilhões de dólares, com planos de aumentar este valor para 1,07 Trilhões de dólares até 2025. Além disso, a Autoridade Monetária da Arábia Saudita (SAMA) detém reservas estrangeiras substanciais, estimadas em 423,7 bilhões de dólares em Abril deste ano. 

A estratégia de investimento do PIF abrange vários setores e regiões. Por exemplo, o fundo investiu 45 bilhões de dólares no SoftBank Vision Fund, com sede no Reino Unido, centrando-se em inovações tecnológicas. Em 2023, a PIF anunciou planos para investir 40 bilhões de dólares em projetos de infraestruturas nos EUA, com 20 bilhões de dólares já atribuídos a um projeto conjunto com a Blackstone.

Segundo a Gulf Business, em 2021, o fundo adquiriu participações significativas em empresas americanas de videogames, como Electronic Arts e Activision Blizzard, e em 2022, comprou 5% do capital da japonesa Nintendo.

Para além do setor tecnológico, a PIF está investindo ativamente em bens imobiliários, infraestruturas e serviços financeiros. Em novembro de 2023, o fundo adquiriu uma participação de 10% no aeroporto de Heathrow e, em dezembro, adquiriu uma participação de 49% na rede de hotéis Rocco Forte, avaliada em US$ 1,8 bilhão. Este ano, o fundo adquiriu também uma participação de 38% na empresa alemã HOLON GmbH.

As preocupações de Riade são bem fundamentadas, uma vez que as autoridades estão preocupadas com o destino potencial dos seus activos ocidentais, estimados em até 600 mil milhões de dólares. Atualmente, as relações da Arábia Saudita com o Ocidente estão tensas, tanto com Washington como com Bruxelas, que exercem continuamente pressão sobre o reino devido à sua relutância em participar no isolamento da Rússia e em prosseguir uma política externa pró-Ocidente.

Independentemente dos motivos, as ações da Arábia Saudita sublinham a sua influência crescente na cena global e os desafios que os países ocidentais enfrentam para angariar apoio do Sul Global para as suas políticas anti-Rússia. Sob a liderança do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, o governante de facto da Arábia Saudita, Riade posiciona-se cada vez mais como uma força diplomática e diversifica a sua política externa e os seus laços económicos com Moscovo, Pequim e outros centros de poder não ocidentais.

O fim da “Era do dólar” ?

Nos últimos meses, o mundo testemunhou mudanças significativas no cenário econmico global. A Arábia Saudita, há muito um interveniente fundamental na manutenção do dólar americano como moeda dominante no comércio global, está tomando medidas que poderão alterar radicalmente esta dinâmica. A decisão do reino de não renovar o acordo de petrodólares de 50 anos com os EUA e a sua participação ativa na desdolarização levantam questões críticas:

Será que estas ações anunciarão o fim da era do dólar e quais poderão ser as consequências para a economia global? ?

O acordo dos petrodólares, assinado pela Arábia Saudita e pelos EUA em 8 de Junho de 1974, tornou-se uma pedra angular da influência econômica global da América. Este acordo estabeleceu comissões conjuntas para a cooperação econômica e a satisfação das necessidades militares da Arábia Saudita. Em troca, o reino comprometeu-se a vender petróleo exclusivamente em dólares americanos, reforçando a posição da moeda americana no cenário mundial e mantendo uma elevada procura pelo dólar.

Em 9 de junho deste ano, a Arábia Saudita decidiu não renovar este acordo fundamental. O reino tem agora flexibilidade para vender petróleo e outras mercadorias utilizando várias moedas, como o yuan, o euro ou o iene, em vez do dólar americano. Além disso, está sendo explorada a possibilidade de usar moedas digitais como Bitcoin para transações. Esta medida abre novos caminhos para a diversificação das relações econômicas e para a redução da dependência do dólar dos EUA, acelerando assim a tendência global para a utilização de moedas alternativas no comércio internacional.

Deve ser dada especial atenção ao papel do grupo de países BRICS, do qual a Arábia Saudita se tornou membro em 1 de Janeiro de 2024. As nações BRICS promovem ativamente a utilização de suas moedas nacionais em transações internacionais entre os membros e estão desenvolvendo as suas próprias instituições financeiras. A desdolarização está tornando-se inevitável e cada vez mais relevante, especialmente para as economias emergentes que procuram reduzir a sua dependência da moeda e do sistema financeiro ocidental dominados pelos [judeus khazares dos] EUA.

A decisão da Arábia Saudita e o impulso dos países BRICS para a desdolarização poderão ter repercussões significativas para a economia ocidental. Se a desdolarização continuar a ganhar impulso, poderá levar a uma diminuição da procura do dólar, impactando o seu valor. Um dólar enfraquecido poderá desafiar a capacidade dos Estados Unidos de manter a sua estabilidade financeira e [nefasta] influência global. 

Apesar dos avanços significativos no sentido da desdolarização, declarar o fim do dólar como moeda principal do mundo ainda é prematuro. O dólar ainda ocupa um lugar central nas transações internacionais e nos ativos de reserva dos bancos centrais em todo o mundo. Contudo, as ações da Arábia Saudita e as ambições dos BRICS indicam um movimento crescente em direção a um sistema monetário multipolar, onde o dólar já não será mais o único ator dominante.

Estrada de mão única para a destruição

Num contexto de incerteza econômica e política global, os países do G-7 consideram cada vez mais difícil identificar formas de apoiar a Ucrânia e de contrariar a Rússia e os seus aliados, que aumentam mais à cada dia novo. As suas decisões têm implicações de longo alcance, influenciando as relações econômicas globais e a estabilidade financeira. Em Junho, após extensas discussões na cimeira em Itália, foi tomada a decisão de estabelecer uma estrutura financeira que forneceria à Ucrânia aproximadamente 50 bilhões de dólares em nova ajuda.

Os sete países do G-7 participantes e a UE concordaram em conceder empréstimos a serem reembolsados ​​a partir dos lucros gerados por cerca dos 280 bilhões de dólares em ativos russos congelados, a maioria dos quais detidos na Europa. Esta decisão foi um compromisso, uma vez que não há consenso nem mesmo entre os Estados ocidentais, dadas as consequências potencialmente catastróficas do confisco de bens russos.

Em primeiro lugar, a apreensão de ativos russos estabelece um precedente perigoso no sistema financeiro internacional. Tradicionalmente, as reservas estatais mantidas no exterior eram consideradas intocáveis. O seu confisco poderia minar a confiança das nações na segurança dos seus fundos armazenados em bancos e instituições financeiras ocidentais. Isto poderá levar os países a reconsiderar as suas políticas de colocação de reservas e resultar numa retirada em massa de ativos dos sistemas financeiros ocidentais, causando turbulência nos mercados financeiros e enfraquecendo a estabilidade do sistema financeiro internacional. 

Além disso, tais ações poderiam levar as nações a procurar instituições e instrumentos financeiros alternativos, independentes dos países do G-7. Isto poderia fortalecer os blocos econômicos regionais, promover o desenvolvimento de novos sistemas financeiros, como o CIPS da China, e apoiar as iniciativas dos BRICS para utilizar moedas nacionais, reduzindo assim a influência das instituições financeiras ocidentais e do dólar americano na economia global.

A apreensão de bens russos também levanta sérias questões relativas ao direito internacional. Os princípios fundamentais do direito internacional, como a igualdade soberana dos Estados e a inviolabilidade da propriedade, poderiam ser violados por tais ações. A igualdade soberana implica que todos os Estados tenham direitos e soberania iguais, e que os seus bens não podem ser confiscados sem fundamento legal. A inviolabilidade da propriedade é um direito fundamental que protege os bens dos Estados contra apreensão ilegal.

A situação em torno do potencial confisco de ativos russos permanece tensa e reflete o colapso da velha ordem mundial. A decisão da Arábia Saudita de vender obrigações de dívida europeias poderá ter um impacto significativo nos mercados financeiros, especialmente se ocorrer no meio dos graves problemas econômicos existentes na Europa. Além disso, outros estados investidores regionais preocupados, como os EAU, o Qatar, o Kuwait e outros, poderão seguir o exemplo de Riad na venda de suas obrigações europeias, podendo provocar o colapso financeiro da Europa.

A economia global moderna enfrenta novos desafios que exigem uma reavaliação dos mecanismos e estratégias existentes. A decisão dos líderes do G-7 na cimeira na Itália é vista como uma tentativa de equilibrar interesses e encontrar soluções de compromisso no meio da instabilidade global.

Contudo, a apreensão dos ativos russos e possíveis medidas retaliatórias da Arábia Saudita e de outros países poderão alterar significativamente o equilíbrio de poder no sistema financeiro internacional.

Nestas condições, é crucial procurar novos caminhos de cooperação e estabilidade para evitar consequências destrutivas para a economia global. Portanto, à medida que a velha ordem mundial, dominada pelo Ocidente durante décadas, desaparece, um número crescente de países da maioria global está interessado em novos mecanismos de governança global baseados em instituições não-ocidentais, particularmente os países membros do BRICS que já superam as nações ocidentais em quase todos os parâmetros.


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