O homem nasceu para ser um guerreiro ou os “deuses” ensinaram a humanidade a guerrear ? Os “deuses” alienígenas/extraterrestres foram responsáveis pelos eventos mais cataclísmicos da história humana ? As guerras da Terra começaram nos “Céus” e os eventos celestes determinaram o futuro da humanidade na Terra ? Neste livro, Zecharia Sitchin apresenta uma evidência surpreendente de que os “deuses” [Anunnaki, Nefilins, et caterva] que vieram à Terra desde o planeta Nibiru, travaram uma série de batalhas ferozes pela supremacia e controle do nosso planeta, alistando os terráqueos nesses conflitos entre os “deuses”.
Fonte: As Guerras dos deuses e dos homens : Livro III das crônicas da Terra, de Zecharia Sitchin
Sitchin conta com um estudo meticuloso dos relatos antigos, desde as escritas sumérias em tabletes de argila e o Antigo Testamento até os mitos antigos dos ensinamentos canaanitas, egípcios, hititas, persas, gregos e hindus, para traçar a saga dos “deuses” e dos homens de um início criativo a um fim trágico. Ele usa então fontes modernas, como fotografias da Terra tiradas pela NASA desde o espaço, para revelar a evidência de uma enorme explosão nuclear ocorrida há cerca de 4 mil anos, mudando a vida na Terra para sempre. O novo exame dos mistérios antigos feito por Sitchin explica o Grande Dilúvio, a destruição de Sodoma e Gomorra [o primeiro grande núcleo da permissividade e corrupção da ideologia Transgênero e LGBTQ+] e outros eventos cataclísmicos do passado na história da humanidade, possibilitando a compreensão de nosso presente e um vislumbre do nosso futuro.
PREFÁCIO : Muito antes de os homens guerrearem com os homens, os deuses lutaram entre si pelo controle da Terra. De fato, as guerras entre os homens começaram com as guerras entre os deuses. E as guerras dos deuses pelo domínio desta nossa Terra tiveram início em seus próprios sistemas solares e planetas. Foi por causa delas que a primeira civilização da humanidade sucumbiu num holocausto nuclear [causado pelos “deuses”. Isso é um fato, não ficção, está registrado em várias culturas antigas, e tudo o que se relaciona com ele foi registrado há muito tempo – nas Crônicas da Terra.
Capítulo 1 – AS GUERRAS DO HOMEM
Na primavera de 1947, um jovem pastor palestino que procurava uma ovelha perdida nas colinas áridas que dão para o mar Morto descobriu uma caverna e, em seu interior, centenas de rolos de papiro em jarros de barro. Esses e outros manuscritos encontrados na área nos anos subseqüentes – chamados coletivamente de Manuscritos do Mar Morto – permaneceram ali, cuidadosamente embalados e intocados, durante quase 2 mil anos, depois de terem sido escondidos durante a época turbulenta em que os judeus desafiaram o poderio do Império Romano.
Seriam os Manuscritos parte da biblioteca oficial de Jerusalém, levada para um local seguro antes da cidade e seu templo caírem diante das legiões romanas de Vespasiano e Tito no ano 70 ou, como afirma a maioria dos estudiosos, seriam os livros dos essênios, uma seita de eremitas com preocupações messiânicas ?
As opiniões estão divididas, pois o acervo descoberto dos Manuscritos do Mar Morto continha tanto os tradicionais textos bíblicos [Velho Testamento judeu] como escritos que tratavam da organização, costumes e crenças da seita. Um dos mais longos e completos rolos, e talvez o mais impressionante de todos, trata de uma Guerra Futura, um tipo de Guerra Final [a mesma visão de João do Armagedom, narrado no Apocalipse].
Intitulado pelos pesquisadores de A Guerra dos Filhos da Luz contra os Filhos das Trevas, o texto prevê a disseminação de operações de guerra – combates locais em que de início estariam envolvidos os vizinhos mais próximos da Judéia – que iriam aumentando em ferocidade e escala até todo o mundo conhecido na Antiguidade ser abrangido.
“O primeiro ataque dos Filhos da Luz contra os Filhos das Trevas, ou seja, contra o exército de Belial, se dará sobre as tropas de Edom, Moabe, a região dos amonitas e filisteus; depois sobre os quítios da Assíria e aqueles que violaram a Aliança e os ajudaram”… Após essas batalhas, “eles
avançarão sobre os quítios do Egito” e, “na hora azada… contra os reis do norte”. Nessa guerra de homens, profetiza o papiro, o deus de Israel terá um papel ativo:
No dia em que os quítios caírem, haverá um tremendo combate, uma verdadeira carnificina, na presença do deus de Israel; Pois esse é o dia que Ele marcou há muito, muito tempo para a batalha final contra os Filhos das Trevas.
Muito antes de esse papiro ter sido escrito, o profeta Ezequiel já havia vaticinado a Batalha Final, “no fim dos tempos”, entre Gog e Magog, em que o “Senhor” em pessoa “arrancará o arco de tua mão esquerda e fará as flechas caírem de tua mão direita”. No entanto, o manuscrito do mar Morto vai além, prevendo a participação física de muitos deuses nessa guerra final [o Armagedom], combatendo ombro a ombro com os mortais humanos.
Nesse dia, a Companhia do Divino e a Congregação dos Mortais estarão lado a lado na carnificina. Os Filhos da Luz lutarão contra os Filhos das Trevas com uma exibição de poderio divino, entre estrondoso tumulto, entre os gritos de guerra de homens e [falsos] deuses.
Apesar de os cruzados, os sarracenos e inúmeros outros combatentes em guerras históricas terem ido à luta “em nome de deus”, parece-nos fantástica a crença numa guerra futura onde o Senhor em pessoa estaria fisicamente presente às batalhas e deuses e homens combateriam ombro a ombro, uma ideia que deveria ser considerada, no máximo, uma alegoria. Todavia, não se trata de algo tão extraordinário assim, pois na Antiguidade acreditava sabia-se que as guerras dos homens não somente eram decretadas pelos deuses, mas também contavam com a sua participação ativa.
Uma das guerras mais romanceadas da história da humanidade, em que “o amor lançou mil navios ao mar”, foi a guerra de Tróia, que envolveu os gregos aqueus e os troianos. Segundo sempre nos contaram os gregos a iniciaram com o objetivo de forçar os troianos a devolver a bela Helena a seu
marido legítimo. No entanto, uma lenda épica grega, a Kypna, conta que o conflito foi tramado pelo “grande” Zeus:
Houve uma época em que milhares de homens sobrecarregavam o amplo seio da Terra. “Compadecendo”-se deles, Zeus, em sua “grande sabedoria”, resolveu aliviar o fardo da Terra. Para isso, causou uma desavença em Ílion (Tróia) com o propósito de, por meio da morte, criar um vazio na raça dos homens. Homero, o escritor grego que relatou os eventos dessa guerra na Ilíada,
atribuiu-a aos caprichos dos deuses, que instigaram os conflitos, levando-os a assumir enormes proporções. Agindo direta ou indiretamente, às vezes visíveis, em outras não, os vários deuses atiçaram os principais atores desse drama humano. E por trás de tudo estava Jove (Javé/Enlil/Yahweh):
“Enquanto os outros deuses e os guerreiros armados dormiam profundamente na planície, Jove mantinha-se acordado, pois pensava em como poderia honrar Aquiles e destruir muitas pessoas nos navios dos aqueus [os gregos]”.
Já antes da batalha o deus Apolo incentivara as hostilidades: “Ele sentou-se longe dos navios, com o rosto sombrio como a noite, e seu arco de prata sibilou morte enquanto lançava a seta dos aqueus… Por nove dias inteiros ele disparou flechas contra o povo… E durante o dia todo queimavam as piras dos mortos”.
Quando os contendores aceitaram cessar as hostilidades, para que seus líderes decidissem a questão num combate corpo a corpo, os deuses, descontentes com essa ideia, instruíram a deusa Minerva: “Vá imediatamente ao campo de batalha e faça com que os troianos sejam os primeiros a romper a trégua e a atacar os aqueus”. Ansiosa por levar a cabo sua missão, Minerva “lançou-se pelo firmamento como um brilhante meteoro… deixando atrás de si um rastro flamejante”. Mais tarde, não desejando que a batalha encarniçada cessasse com a chegada da noite, a deusa iluminou o campo: “Ela levantou o véu de seus olhos e muita luz caiu sobre eles, tanto no lado onde estavam os navios como no campo de batalha. Os aqueus puderam ver Heitor e todos os
seus homens”.
Enquanto os combates prosseguiam, levando às vezes a uma luta corporal entre dois heróis, os deuses vigiavam, descendo de tanto em tanto para salvar um soldado acuado ou parar um carro desgovernado. Mas quando eles se deram conta de que estavam apoiando lados opostos, também começaram a ferir-se mutuamente. Zeus então ordenou-lhes que parassem e se mantivessem fora da luta dos mortais.
Esse afastamento não durou muito, porque vários dos principais combatentes eram filhos de deuses com parceiros humanos. Marte ficou especialmente irritado quando seu filho Ascalafo caiu morto pela flecha de um aqueu. “Não me culpem, deuses que habitam o céu, se eu for aos navios dos aqueus para vingar a morte de meu filho”, ele anunciou a seus pares, “mesmo se no final
eu seja atingido pelo raio de Jove, para cair coberto de sangue e poeira entre os outros cadáveres.”
“Enquanto os deuses se mantiveram afastados dos guerreiros mortais”, escreveu Homero, “os aqueus triunfaram, pois Aquiles, que havia muito recusava-se a lutar, agora estava com eles”. Porém, em vista do crescente rancor entre os deuses e da ajuda que agora os gregos recebiam do semi-deus, o herói Aquiles, Jove mudou de idéia:
“Quanto a mim, ficarei aqui no Olimpo, sentado, e observarei tranqüilamente. Mas vocês outros dirijam-se para os troianos ou aqueus e ajudem o lado que quiserem, segundo seu gosto”.
Assim falou Jove, dando permissão aos “deuses” para a guerra. Ouvindo isso, os deuses escolheram seu lado e entraram na batalha. Por muito tempo a Guerra de Tróia, bem como a própria Tróia, foi considerada apenas parte de um fascinante, mas improvável conjunto de
lendas gregas que os “especialistas, acadêmicos eruditos” [um bando de ignorantes] , com um sorriso de tolerância e desdém, denominaram a história como mera “mitologia”.
A cidade e os eventos ligados a ela ainda eram vistos como pura fantasia quando Charles McLaren sugeriu, em 1822, que um certo morro da Turquia, chamado Hissarlik, devia marcar a antiga localização da Tróia homérica. Todavia, só em 1870, quando um homem de negócios, Heinrich
Schliemann, começou a escavar o sítio, arriscando nisso a própria fortuna, e apresentou as suas espetaculares descobertas, foi que os “especialistas, acadêmicos eruditos” [um bando de ignorantes] passaram a acreditar na existência histórica de Tróia. Hoje, em geral, aceita-se que a guerra ocorreu no século XIII a.C. Então, segundo fontes gregas, foi nessa época que homens e
deuses lutaram lado a lado. Uma crença estranha, mas os gregos não eram os únicos a acreditar nela.
Naquele tempo, embora a ponta da Ásia Menor que dá para a Europa estivesse salpicada de povoados essencialmente gregos, a maior parte da região era dominada pelos hititas. Inicialmente conhecidos dos eruditos apenas por serem citados na Bíblia, e mais tarde nos textos egípcios, esse povo e seu reino – Hatti – também ganharam vida quando os arqueólogos começaram a descobrir as ruínas de suas cidades.
A decifração da escrita dos hititas e o estudo de sua língua indo-européia tornaram possível situar a origem desse povo no segundo milênio antes de Cristo, quando as tribos arianas começaram a migrar da área do Cáucaso, algumas dirigindo-se para a Índia, outras para a Ásia Menor. O reino hitita floresceu por volta de 1750 a.C. e entrou em declínio cerca de quinhentos anos depois, época em que passou a ser atormentado por incursões dos habitantes da área do mar Egeu. Os hititas referiam-se a esses invasores como o povo de Aquiyava, e muitos estudiosos acreditam que se trata do mesmo povo que Homero chamava aquioi – cujo ataque à ponta ocidental da Ásia
Menor ele imortalizou na Ilíada.
Por muitos séculos antes da Guerra de Tróia, os hititas expandiram seu reino, que chegou a atingir proporções imperiais, afirmando estar cumprindo ordens de seu deus supremo, Teshub (“O Trovejante”), cujo epíteto mais antigo era “Deus da Tempestade cuja Força Causa Morte”. Os reis hititas às vezes garantiam que ele participava pessoalmente das batalhas. Segundo escreveu o
rei Murshilis, o poderoso deus da Tempestade mostrou seu divino poder e lançou um raio sobre o inimigo, ajudando-o a derrotá-lo. Quem também auxiliou os hititas foi a deusa Ishtar, cujo epíteto era “A Senhora do Campo de Batalha”. Muitas vitórias lhe foram atribuídas pelo fato de ela “ter descido do céu para esmagar os países hostis”.
A influência hitita como indicam muitas referências encontradas no Antigo Testamento, estendia-se até Canaã, ao sul. Todavia, os hititas viviam nessa região como colonizadores, e não como conquistadores, encarando a área como uma zona neutra, opinião não compartilhada pelos egípcios. Os faraós estavam sempre pretendendo ampliar seus domínios penetrando em Canaã e
no País dos Cedros (Líbano), e terminaram sendo bem-sucedidos por volta de 1470 a.C. quando derrotaram uma coalizão de reis hititas em Megido.
O Antigo Testamento e as várias inscrições deixadas pelos inimigos dos hititas os mostram como guerreiros cruéis que aperfeiçoaram o uso do carro de combate no Oriente Médio da Antiguidade. Todavia, segundo sugerem os textos desse povo, eles só entravam em guerra quando seus deuses lhes ordenavam e depois que o inimigo tivesse a chance de se render pacificamente antes do início das hostilidades. Como vencedores, segundo esses mesmos textos, satisfaziam-se em receber tributos e cativos; não saqueavam as cidades nem massacravam a população.
Mas Tutmés III, o faraó que venceu a batalha de Megido, vangloriou-se em suas inscrições: “Esta majestade foi para o norte saqueando cidades e arrasando acampamentos”. Ao falar de um rei vencido, escreveu: “Destruí suas cidades, incendiei seus acampamentos, transformando-os em montes de terra; jamais conseguirão repovoar a região. O povo inteiro capturei, fiz dele prisioneiro. Apoderei-me de suas inúmeras cabeças de gado, bem como de todas as suas mercadorias. Tomei tudo o que podia servir à vida: cortei seus grãos, derrubei os pomares e as árvores de sombra. Destruí-os totalmente”. E, segundo o faraó, tudo isso foi feito sob as ordens de seu deus, Amon-Ra.
A natureza cruel dos guerreiros egípcios e a destruição impiedosa que infligiam aos inimigos vencidos eram objeto de orgulhosas inscrições. O faraó Pepi I, por exemplo, comemorou sua vitória sobre os “habitantes da areia” asiáticos num poema saudando seu exército, que “arrasou o país dos habitantes da areia… cortou sua figueiras e vinhedos… incendiou suas casas e matou dezenas de milhares de sua gente”. Os textos eram acompanhados de vívidas representações de cenas de batalhas.
Seguindo essa tradição de crueldade, o faraó Pi-Ankhi, que enviou tropas do Alto Egito para esmagar uma rebelião no Baixo Egito, enfureceu-se diante da sugestão de seus generais para que poupasse os adversários derrotados. Jurando “destruição perene”, o faraó prometeu entrar na cidade capturada “para arrasar o que tinha restado”. E acrescentou: “Por isso meu pai, Amon,
me elogia”.
O deus Amon, a cujas ordens os egípcios atribuíam a própria crueldade nas batalhas, tinha um seu igual no [raivoso e irado] “deus” de Israel. Vejamos a citação do profeta Jeremias: “Assim disse o Senhor dos Exércitos, o “deus” de Israel: ‘Punirei Amon, deus de Tebas, e os que nele confiam, e levarei a retribuição contra o Egito, seus deuses, faraós e reis…”‘. Essa disputa, como nos conta a Bíblia, não tinha fim. Já mil anos antes, na época do êxodo, Yahweh, o “deus” de Israel, fez cair sobre o Egito uma série de pragas, com o objetivo não apenas de amolecer o coração do faraó, mas também para funcionar como um “julgamento contra todos os deuses do Egito”.
A milagrosa partida dos israelitas na direção da Terra Prometida, escapando da servidão, é atribuída a uma intervenção direta de Yahweh: E, tendo saído de Sucot, acamparam em Etam, à entrada do deserto. E Yahweh ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem para lhes mostrar o caminho, e de noite numa coluna de fogo, para os alumiar. Houve em seguida uma batalha, que o faraó evitou deixar registrada em inscrições, mas que é contada no Livro do Êxodo:
E o coração do Faraó e seus servos mudaram a respeito do povo… E os egípcios seguiram depois deles, e os alcançaram acampados junto ao mar… E Iahweh, por um forte vento oriental que soprou toda aquela noite, fez o mar se retirar; e as águas foram divididas. Os filhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco… Ao alvorecer, quando os egípcios deram-se conta do que tinha acontecido, o faraó mandou seus carros perseguirem os israelitas. Mas… Na vigília da manhã, Yahweh, da coluna de fogo e da nuvem, viu o acampamento dos egípcios e nele lançou confusão. Ele emperrou as rodas de seus carros e fê-los andar com dificuldade. Então, os egípcios disseram: “Fujamos da presença dos israelitas, porque Yahweh combate a favor deles contra o Egito”.
Mas o governante egípcio que perseguia os israelitas ordenou que seus carros continuassem o ataque. O resultado lhe foi calamitoso. E as águas voltaram e cobriram os carros e cavaleiros de todo o exército do Faraó, que os haviam seguido no mar; e não escapou um só deles… E Israel viu o grande poder que Yahweh havia mostrado contra os egípcios.
A linguagem bíblica é quase idêntica à que um faraó posterior, Ramsés II, usou para descrever o milagroso aparecimento de Amon-Ra durante a decisiva batalha contra os hititas, em 1286 a.C.
O combate, travado na fortaleza de Kadesh, no atual Líbano, mobilizou quatro divisões de Ramsés II contra as forças reunidas pelo rei Muwatallis, dentre todas as partes de seu império. Terminou com a retirada egípcia, abortando o avanço do faraó em direção à Síria e à Mesopotâmia. No entanto, a batalha esgotou os recursos hititas e deixou-os fracos e vulneráveis.
A vitória hitita poderia ter sido mais decisiva, uma vez que estes quase conseguiram capturar o faraó. Até agora, só foram encontrados fragmentos de inscrições hititas sobre a guerra. Mas Ramsés, ao voltar para o Egito, achou conveniente descrever em detalhes o milagre de sua fuga.
Suas inscrições nas paredes dos templos, acompanhadas de ilustrações detalhadas, contam como as hostes egípcias chegaram a Kadesh e acamparam ao sul da cidade, preparando-se para a batalha.
Surpreendentemente, os hititas não avançaram contra eles. Ramsés, então, ordenou que duas divisões atacassem a fortaleza. Foi quando os carros hititas surgiram, como se viessem do nada, pegando pela retaguarda as divisões que avançavam e causando grandes estragos no acampamento das outras duas.
Quando as tropas egípcias começaram a fugir em pânico, Ramsés subitamente percebeu que “estava sozinho com seu guarda-costas” [a narrativa ainda hoje visível em estelas narram a companhia de um gigantesco leão e de dois enormes cães que acompanhavam Ramsés em suas batalhas] e, “quando o rei olhou para trás, viu que estava bloqueado por 2.500 carros” do inimigo. Abandonado por seus oficiais, pelos condutores e pela infantaria, o faraó voltou-se para seu deus, lembrando-o de que só se encontrava naquela situação aflitiva porque atendera as ordens dele:
E sua Majestade disse:
“E agora, meu Pai Amon”?
Um pai esqueceu-se de seu filho?
“Seja o que for que eu tenha feito ou não, não foi seguindo tuas ordens”?
Lembrando ao seu deus egípcio que o inimigo adorava outros deuses, Ramsés perguntou: “O que são esses asiáticos para ti, ó Amon? Esses miseráveis que de ti nada conhecem, ó meu deus?”. O faraó continuou implorando a Amon para salvá-lo, lembrando-lhe que os poderes da divindade eram maiores do que “milhões de soldados, centenas de condutores de carros”, e então aconteceu o milagre: o próprio deus surgiu no campo de batalha!
Amon ouviu quando chamei.
Ele estendeu a mão para mim e me rejubilei.
Colocou-se atrás de mim e gritou:
“Para a frente”! Para a frente!
“Ramsés, filho amado de Amon, estou contigo”!
Seguindo as ordens de seu deus, Ramsés avançou para o meio das tropas hititas. Sob a influência de Amon, os inimigos mostraram-se inexplicavelmente debilitados. “Suas mãos caíram para os lados, eles não conseguiam segurar e atirar as lanças”. E os hititas diziam uns aos outros:
“Não é mortal este que está entre nós. Ele é um deus poderoso; seus feitos não são de homem; há um deus em seus membros”. Sem encontrar oposição, matando inimigos à esquerda e à direita, Ramsés conseguiu escapar.
Depois da morte de Muwatallis, os reinos egípcio e hitita firmaram um tratado de paz, e o faraó tomou como sua principal esposa uma princesa hitita. A paz, era necessária porque não apenas os hititas, mas também os egípcios estavam sendo ameaçados pelos “povos do mar”, invasores vindos de Creta e de outras ilhas gregas. Estes acabaram conquistando territórios na costa mediterrânea de Canaã e tornaram-se os filisteus da Bíblia. No entanto, os ataques que lançaram contra os egípcios foram rechaçados pelo faraó Ramsés III, que comemorou a vitória mandando pintar as cenas da batalha nas paredes dos templos. Nas inscrições, ele atribuiu seu êxito “ao Todo-Poderoso, meu augusto divino pai, o senhor dos deuses”. O crédito do triunfo deveria caber a Amon-Ra, pois, como afirmou o faraó, ele “estava na retaguarda do inimigo, destruindo-o”.
A trilha sangrenta das guerras dos homens contra seus semelhantes em favor dos deuses agora nos leva à Mesopotâmia – a Terra entre os Rios (Tigre e Eufrates) a Suméria -, o país bíblico de Senaar. Foi lá, segundo é relatado no Gênesis, 11, que surgiram as primeiras cidades com prédios feitos de tijolos cozidos e torres que pareciam arranhar o céu. Foi lá também que se iniciou o registro da História, e mais, onde começou a Pré-História, com o estabelecimento das primeiras povoações dos antigos deuses, códigos de leis e registros históricos.
Mil anos antes dos tempos dramáticos de Ramsés II, na distante Mesopotâmia, um jovem ambicioso subiu ao trono. Seus súditos o chamavam de Sharru-Kin – “O Governante Justo”; nossos livros de história referem-se a ele como Sargão I. Esse rei construiu uma nova capital, Acad, e fundou o reino de Acadia. A língua acadiana, escrita com caracteres cuneiformes, foi a língua-mãe de todos os idiomas semíticos, dos quais continuam em uso o hebraico e o árabe, cuja principal característica é a escrita da direita para a esquerda.
Tendo governado durante a maior parte do século 24 a.C., Sargão atribuía a longa duração do seu reinado (54 anos) à condição especial que lhe fora dada pelos “grandes deuses”, fazendo dele “Supervisor de Ishtar, Sacerdote Ungido de Anu, o Grande e Virtuoso Pastor de Enlil [o Yahweh hebreu/judeu]”. Segundo escreveu o rei, foi Enlil “que não deixou ninguém se opor a Sargão” e lhe concedeu “a região do Mar Superior até o Mar Inferior” (do Mediterrâneo até o golfo Pérsico). Era
por isso que Sargão levava os reis capturados em batalhas, puxando-os por cordas presas a coleiras, ao “portão da Casa de Enlil [o Yahweh hebreu/judeu]“.
Numa de suas campanhas nas montanhas Zagros, Sargão teve a oportunidade de presenciar um milagre dos deuses igual ao testemunhado pelos combatentes de Tróia. Enquanto ele “avançava pelo país Warahshi… penetrando na escuridão… Ishtar fez uma luz brilhar”. Dessa forma, o rei pôde
liderar suas tropas no avanço através da montanha do atual Luristão.
A dinastia acadiana iniciada por Sargão chegou ao auge sob seu neto NaramSin (“O Amado do deus Sin”). Segundo está gravado nos monumentos que ele construiu, suas conquistas foram possíveis porque seus deuses o armaram com um artefato singular, “A Arma do deus”, e outros deuses consentiram em sua entrada – ou até o convidaram a fazê-lo – nas regiões sob sua proteção.
Naram-Sin concentrou a maior parte de seu avanço na região a noroeste de seu reino, e uma de suas conquistas foi a cidade-Estado de Ebla, cujo arquivo de tabuinhas de argila, recém-descoberto, continua despertando grande interesse científico. “Embora desde a época da separação da humanidade nenhum rei jamais tenha destruído Arman e Ebla, o deus Nergal abriu
caminho para o poderoso Naram-Sin e deu-lhe as duas cidades. O deus também o presenteou com Amanus, a Montanha dos Cedros, até o Mar Superior”.
Naram-Sin atribuiu aos deuses tanto suas campanhas bem-sucedidas como sua queda, ocorrida por ele ter ido à guerra contra suas ordens expressas. Os eruditos reconstituíram, a partir de fragmentos de várias versões, um texto que intitularam de A “Lenda” de Naram-Sin. Falando na primeira pessoa, o rei explica nessa lamentação que seus problemas começaram quando a deusa
Ishtar “mudou de planos” e os deuses deram sua bênção a “sete reis, sete irmãos, gloriosos e nobres, com tropas de 360 mil homens”.
Vindos da região onde atualmente se encontra o Irã, esses guerreiros invadiram os países montanhosos de Gutium e Elam, a leste da Mesopotâmia, e começaram a avançar sobre Acad. Naram-Sin pediu orientação aos deuses e foi aconselhado a guardar as armas e ir dormir com sua esposa (mas, por algum motivo qualquer, não devia fazer sexo com ela).
Os deuses lhe responderam: “Ó Naram-Sin, esta é nossa palavra”:
Esse exército que contra ti avança…
Amarra tuas armas, num canto as encoste!
Contenha tua ousadia, fica em casa!
Junto com tua esposa, vá dormir, Mas com ela não podes…
“Sair de teu país, ir ao encontro do inimigo, não deves”.
Mas Naram-Sin, contrariando o desejo dos deuses, declarou que confiava no próprio poderio e decidiu atacar o inimigo. “Quando chegou o primeiro ano, mandei 120 mil soldados, mas nenhum voltou vivo”, confessou o rei na lamentação. Mais tropas foram aniquiladas no segundo e terceiro ano, e Acad aos poucos ia sucumbindo diante da fome e da morte. No quarto aniversário da guerra não autorizada, Naram-Sin suplicou ao deus Ea que passasse por cima da autoridade de Ishtar para colocar seu caso diante dos outros deuses. Estes o aconselharam a desistir da luta, prometendo: “Nos dias que virão, Enlil fará cair a perdição sobre os filhos do mal”, e então Acad teria sua vingança.
A prometida Era de paz durou três séculos, durante os quais a parte mais antiga da Mesopotâmia, a Suméria, ressurgiu como a sede da monarquia, e os primeiros centros urbanos da Antiguidade – Ur, Nippur, Lagash, Isin e Larsa – voltaram a florescer. A Suméria, sob o governo dos reis de Ur, era o cerne de um império que abrangia todo o Oriente Médio. Todavia, no final do terceiro milênio anterior a Cristo, a região tornou-se uma arena onde se conflitavam lealdades e exércitos. Foi então que essa grande civilização a primeira de que se tem notícia no mundo – sucumbiu, numa catástrofe [nuclear/atômica/radioativa] de proporções sem precedentes.
Esse foi um evento fatídico que, acreditamos, teve eco nos relatos bíblicos, um desastre cuja lembrança durou muito, muito tempo, e foi tema de inúmeros poemas de lamentação. Esses textos nos dão uma descrição bem clara do estrago e da desolação que se abateram sobre o âmago dessa antiga civilização. E, segundo os textos mesopotâmicos, tal catástrofe que destruiu a
Suméria ocorreu por decisão do conselho dos grandes deuses.
A parte sul da Mesopotâmia levou um século para ser repovoada e mais outro para se recuperar totalmente da aniquilação divina. A essa altura, a sede do poder se transferira para o norte, para a Babilônia, onde se levantaria um novo império, proclamando como sua deidade suprema um deus ambicioso – Marduk.
Por volta de 1800 a.C., Hamurabi, o rei que ficou famoso pela criação de um código de leis que levou seu nome, subiu ao trono da Babilônia e começou a alargar suas fronteiras. Segundo suas inscrições, os deuses não apenas lhe diziam se e quando devia desencadear suas campanhas militares, mas também lideravam seus exércitos.
Com o poder dos grandes deuses, o rei, filho amado de Marduk, restabeleceu as fundações da Suméria e de Acad. Sob o comando de Anu e com Enlil à frente de seu exército, e mais os
extraordinários poderes que os deuses lhe deram, ele não podia ser vencido pelo exército de Emutbal e seu rei, Rim-Sin…
Para Hamurabi derrotar os inimigos, o deus Marduk presenteou-o com uma “arma poderosa”, chamada “O Grande Poder de Marduk”.
Com a Arma Poderosa com a qual Marduk proclamava seus triunfos, o herói (Hamurabi) derrotou em batalha os exércitos de Eshnunna, Subartu e Gutium… Com o Grande Poder de Marduk ele venceu os exércitos de Sutium, Turukku, Kamu… Com o Grande Poder que Anu e Enlil lhe deram, derrotou todos os seus inimigos até o país de Subartu.
No entanto, o poderio da Babilônia não durou muito, pois logo surgiu um rival a sua altura, situado mais ao norte – a Assíria, onde o deus supremo era Assur (O que Tudo Vê). Enquanto os babilônios engalfinhavam-se com inimigos ao sul e a leste, os assírios foram estendendo seu domínio nas
direções norte e oeste, indo até “o país do Líbano, nas margens do Grande Mar”. Essas regiões pertenciam aos deuses Ninurta e Adad, e os reis da Assíria tomaram o cuidado de registrar que suas campanhas foram iniciadas sob ordens explícitas dos dois. Tiglat-Pileser I comemorou suas guerras, no século 12 a.C., com as seguintes palavras:
Tiglat-Pileser, o rei legítimo, rei do mundo, rei da Assíria, rei das quatro regiões da terra; O corajoso herói, guiado pelas ordens de Assur e Ninurta, os grandes deuses, seus amos, derrotou os inimigos… Sob o comando de meu senhor Assur, minha mão conquistou desde a parte inferior do rio Zab até o Mar Superior, que fica a oeste. Três vezes marchei contra os países dos Nairi… Fiz ajoelharem-se aos meus pés trinta reis dos países dos Nairi. Desses países eu trouxe reféns e recebi cavalos domados como tributo… Sob o comando de Anu e Adad, meus amos, fui até as montanhas do Líbano, onde cortei vigas de cedro para os templos desses grandes deuses.
Ao assumirem o título de “rei do mundo, rei das quatro regiões da terra”, os governantes assírios estavam desafiando a Babilônia, pois uma dessas quatro regiões, onde séculos antes tinham florescido a Suméria e Acad, ficava dentro do Império Babilônico. O único modo de eles tornarem verdadeira essa afirmação era estendendo seu domínio sobre as cidades onde os grandes deuses
tinham morado no passado. No entanto, até mesmo o caminho para esses locais estava bloqueado pelos babilônios, e assim permaneceu por muito tempo. A glória de conquistar essa região sagrada coube a Shalmaneser III, no século 9 a.C. Ele disse em suas inscrições:
Marchei contra Acad para vingar… Infligi derrota… Entrei em Kutha, na Babilônia e em Borsippa.
Ofereci sacrifícios aos deuses nas cidades sagradas de Acad. Desci o rio até a Caldéia e recebi tributo de todos os seus reis… Na época, Assur, o Grande Senhor… Deu-me cetro, cajado… Tudo o que seria necessário para governar o povo. Eu agia somente sob as ordens expressas de Assur, o Grande Senhor, meu amo.
Descrevendo suas campanhas militares, Shalmaneser afirmou que conseguira suas vitórias graças às armas fornecidas pelos dois deuses: “Lutei com a Força Poderosa que Assur, meu senhor, me deu; e com as armas com que Nergal, meu líder, me presenteou”. A arma de Assur foi descrita como tendo um “Brilho aterrador”. Numa guerra contra os Adini, o inimigo fugiu só ao ver o
“Brilho de Assur”.
A Babilônia, depois de vários atos de desafio, foi derrotada e saqueada pelo rei assírio Senaqueribe (689 a.C.), e esse infortúnio só aconteceu porque o deus Marduk, encolerizado com o rei babilônio e seu povo, decretou: “Setenta anos serão a medida de sua desolação” – exatamente a mesma sentença que mais tarde o “deus” de Israel imporia sobre Jerusalém. Com a subjugação de
toda a Mesopotâmia, Senaqueribe pôde ostentar legitimamente o ambicionado título de “rei da Suméria e de Acad”.
Senaqueribe, como tantos outros, mandou gravar inscrições descrevendo suas campanhas militares ao longo da costa do Mediterrâneo, inclusive batalhas com os egípcios na entrada da península do Sinai. A lista de cidades conquistadas por ele parece um capítulo do Antigo Testamento – Sídom, Tiro, Biblos, Akko, Ashdod, Ascalon. Eram “idades fortes”, que o rei assírio “oprimiu” com o auxílio do “Brilho aterrador, a arma de Assur, meu senhor”.
Os baixos-relevos que ilustram o relato das campanhas, como o que mostra o cerco de Laquis, mostram os atacantes usando contra o inimigo objetos em forma de míssil. Nas cidades conquistadas, conta Senaqueribe, “matei seus oficiais e seus aristocratas, pendurei seus corpos em postes em torno da cidade; os cidadãos comuns foram por mim considerados prisioneiros de guerra”.
Um artefato conhecido como o Prisma de Senaqueribe preservou uma inscrição de grande valor histórico em que o rei menciona a subjugação da Judéia e seu ataque contra Jerusalém. O pomo da discórdia entre o assírio e o soberano judeu, Ezequias, foi o fato de este manter em cativeiro o rei da cidade filistéia de Ekrom, Padi, “que era leal a seu solene juramento ao deus Assur”.
“Quanto a Ezequias, o judeu”, escreveu Senaqueribe, “que não se submeteu ao meu jugo, sitiei quarenta e seis de suas cidades fortificadas, fortes e incontáveis vilarejos em suas vizinhanças… Mantive Ezequias cativo em Jerusalém, sua residência real; cerquei-o de aterros, deixando-o como um pássaro na gaiola… As cidades que saqueei, separei de seu reino e dei-as a Mitinti, rei de Ashdod, a Padi, rei de Ekrom, e a Sillibel, rei de Gaza. Dessa forma, reduzi o tamanho de seu país.”
O cerco de Jerusalém pelos assírios nos oferece uma série de aspectos interessantes. Para começar, a causa do ataque foi indireta: Ezequias não desafiou Senaqueribe, mas mantinha em cativeiro o rei de Ekrom.
O “Brilho Aterrador, a arma de Assur”, empregado para “oprimir as cidades fortes” da Fenícia e da Filistéia, não foi usado contra Jerusalém. E mais: o costumeiro final dessas inscrições comemorativas – “Lutei com eles e lhes impus a derrota” – não existe no relato sobre o cerco de Jerusalém. Senaqueribe termina dizendo apenas que diminuiu o tamanho da Judéia, dando as áreas periféricas aos reis vizinhos.
Outro aspecto incomum na inscrição sobre Jerusalém é a ausência da afirmação habitual de que o soberano atacou a cidade em cumprimento às “ordens expressas” do deus Assur. Podemos imaginar se isso não é um indício de que o ataque a Jerusalém foi um ato não autorizado, um capricho de Senaqueribe, algo que não espelhava o desejo dos deuses.
Essa intrigante possibilidade torna-se uma probabilidade convincente quando lemos o outro lado da história – um outro lado que está descrito no Antigo Testamento. Enquanto o rei assírio fala por alto de seu fracasso na tomada de Jerusalém, o relato encontrado em II Reis, 18 e 19, conta tudo. Ficamos sabendo que: “No décimo quarto ano do rei Ezequias, Senaqueribe, rei da Assíria, veio para atacar todas as cidades fortificadas de Judá e apoderou-se delas”.
Senaqueribe enviou dois de seus generais para Jerusalém, à frente de um grande exército. No entanto, em vez de atacar a capital, o general Rab-Shakeh começou a conversar com os líderes da cidade, insistindo em usar a língua hebraica para que toda a população pudesse entendê-lo. O que ele precisava dizer de tão importante para o povo comum? Como deixa claro o texto bíblico, o general assírio buscava convencer os cidadãos de Jerusalém de que aquela invasão tinha sido autorizada pelo Senhor Yahweh! “E Rab-Shakeh lhes disse: ‘Dizei a Ezequias: Assim fala o grande rei, o rei da Assíria: Que confiança é essa em que tu te estribas’”?
Dir-me-eis, talvez:
“É em Yahweh, nosso Deus, que pomos nossa confiança”.
E então, foi porventura sem o consentimento de Yahweh que ataquei esta
cidade para destruí-la?
Foi Yahweh que me disse:
“Ataca este país e devasta-o”!
Quanto mais os representantes do rei Ezequias, postados no alto das muralhas imploravam a Rab-Shakeh para parar de dizer tais inverdades e falasse em aramaico, a língua diplomática da época, mais o general aproximava-se gritando em hebraico para que todos entendessem. Logo ele começou a insultar seus interlocutores, em seguida passou a ofender o rei. Empolgado com a própria eloqüência, Rab-Shakeh esqueceu-se da alegação de que possuía a permissão de Yahweh para atacar Jerusalém e pôs-se a menosprezar o deus também.
Quando o rei Ezequias foi informado dessas blasfêmias, “rasgou suas roupas, cobriu-se com um pano de saco e foi ao Templo de Yahweh… E enviou mensagem ao profeta Isaias, dizendo: ‘Hoje é um dia de aborrecimento, de opróbrio, de blasfêmia… Oxalá Yahweh, teu Senhor, tenha ouvido todas as palavras de Rab-Shakeh, que o rei da Assíria, seu mestre, mandou para insultar o Deus vivo!’. E a palavra de Yahweh veio por intermédio de Isaías: ‘Ouvi a súplica que me dirigiste a respeito de Senaqueribe, rei da Assíria… Por onde veio, ele voltará; não entrará nesta cidade… Pois a defenderei e a salvarei'” .
Naquela mesma noite veio o anjo de Yahweh e exterminou no
acampamento assírio cento e oitenta mil homens.
Ao alvorecer só havia cadáveres.
Senaqueribe, rei da Assíria, levantou acampamento e partiu.
Voltou para Nínive e lá permaneceu.
Ainda segundo o Antigo Testamento, depois que o rei voltou a Nínive, “certo dia ele estava no templo de Nesroc, adorando seu deus, quando seus filhos Adramelec e Sarasar mataram-no a espada e fugiram para a terra de Ararat. Asaradão, seu filho, reinou em seu lugar”. Os anais assírios confirmam a declaração bíblica. Senaqueribe foi mesmo assassinado dessa forma, e seu filho mais novo, Asaradão, ascendeu ao trono.
Uma inscrição de Asaradão, conhecida como Prisma B, descreve as circunstâncias com mais detalhes, contando que Senaqueribe, seguindo as ordens dos grandes deuses, proclamou o filho mais novo como seu sucessor. “Ele convocou o povo da Assíria, velhos e jovens, e fez meus irmãos, os descendentes masculinos de meu pai, prestarem um juramento solene na presença do deus da Assíria… Para garantir minha sucessão”. No entanto, os irmãos quebraram o juramento, mataram Senaqueribe e tentaram eliminar Asaradão. Este foi salvo pelos deuses, que o levaram para longe. “Colocaramme num esconderijo… Preservando-me para a monarquia.”
Depois de um período turbulento, Asaradão recebeu uma ordem dos deuses: “Vai, não demora! Marcharemos contigo”! Ishtar foi a deidade encarregada de acompanhar o legítimo herdeiro. Quando as forças dos dois irmãos de Asaradão saíram de Nínive com a intenção de repelir o ataque contra a capital, “Ishtar, a Senhora da Batalha, que me desejava como seu sumo sacerdote, ficou ao meu lado. Ela quebrou os arcos das tropas e desordenou suas fileiras”. Ao ver as tropas de Nínive se dispersando, Ishtar dirigiu-se aos guerreiros falando por [através de] Asaradão. “Diante de seu altíssimo comando, eles se aproximaram de mim em massa, juntaram-se às minhas costas e me reconheceram como seu rei”, escreveu Asaradão.
Tanto Asaradão como seu filho e sucessor, Assurbanipal, tentaram conquistar o Egito e empregaram Armas de Brilho nas batalhas. “O Brilho aterrador de Assur cegou o faraó, e ele enlouqueceu”, escreveu Assurbanipal. Outras inscrições desse rei sugerem que a arma, que emitia um fulgor intenso e cegante, era usada pelos deuses como parte de seu toucado. Num relato, um
inimigo “foi cegado pelo brilho da cabeça divina”; em outro, “Ishtar, que mora em Arbela, vestida de Fogo Divino e ostentando o Toucado Radiante, fez chover chamas sobre a Arábia”.
O Antigo Testamento também faz referência a uma Arma de Brilho que podia cegar. Quando os Anjos (literalmente, emissários) do Senhor chegaram a Sodoma pouco antes da destruição da cidade, o populacho tentou arrombar a porta da casa em que eles repousavam. Os Anjos reagiram: “Quanto aos homens que estavam na entrada da casa, eles cegaram do menor até o maior, de modo que não conseguiam encontrar a entrada”.
À medida que a Assíria ia conquistando a supremacia, ampliando seu domínio sobre o Egito, seus reis, segundo as palavras do Senhor transmitidas pelo profeta Isaías, foram se esquecendo de que eram apenas instrumentos dos deuses: “Ai da Assíria, açoite da minha ira! Minha fúria é o bastão posto nas mãos deles. Contra nações ímpias eu os enviei; contra povos que me enfureciam os lancei”. Mas os reis da Assíria tinham chegado a um ponto em que uma mera punição não seria suficiente: “O que estava em seu propósito era exterminar e destruir um grande número de nações”, algo totalmente fora das intenções do deus; portanto, anunciou Yahweh, “eu darei o castigo ao rei da Assíria devido aos frutos da arrogância crescente de seu coração”.
As profecias bíblicas que previam a queda da Assíria provaram ser verdadeiras. Quando os invasores vindos do norte e do leste juntaram-se aos rebeldes babilônios do sul do império, Assur, a capital religiosa, foi atacada e caiu em 614 a.C. A cidade real, Nínive, foi invadida e saqueada dois anos depois, e assim a grande Assíria deixou de existir.
Reis vassalos do Egito e da Babilônia aproveitaram-se da desintegração do Império Assírio para tentar a restauração de suas próprias hegemonias. As terras situadas entre os dois reinos tornaram-se de novo um prêmio cobiçado. Os egípcios, conduzidos pelo faraó Necho, foram mais rápidos e invadiram esses territórios.
Na Babilônia, Nabucodonosor II – segundo suas inscrições recebeu ordens do deus Marduk para pôr seu exército em marcha para o oeste. A expedição só foi possível porque um “outro deus”, aquele que originalmente tinha a soberania sobre a região, “não desejava mais a terra dos cedros” [Líbano] e agora “um inimigo estrangeiro estava dominando-a e saqueando-a”.
Em Jerusalém, a ordem de Yahweh, dada por intermédio de seu profeta Jeremias, foi apoiar a Babilônia, pois Ele, chamando Nabucodonosor de “meu servo”, decidira fazer dele o instrumento de sua ira contra os reis egípcios: Assim disse Yahweh dos Exércitos, deus de Israel: Eis que mandarei buscar Nabucodonosor, meu servo… Ele virá e ferirá a terra do Egito. Quem é para a morte, a morte! Quem é para o cativeiro, o cativeiro! Quem é para a espada, a espada! Ele ateará fogo nos templos dos deuses do Egito, os queimará e os deportará… Ele quebrará os obeliscos de Heliópolis, aquele que está na terra do Egito, e incendiará os templos dos deuses do Egito.
O Senhor Yahweh acrescentou que, no curso dessa campanha de Nabucodonosor, Jerusalém também seria castigada por causa dos pecados do povo, que havia adotado o culto de adoração à “Rainha do Céu” e aos deuses do Egito. “Minha cólera e minha fúria se derramarão sobre este lugar… Que queimará e não se apagará… Na cidade onde chamavam meu nome, darei início à destruição”. E foi o que aconteceu em 586 a.C.: “Nabuzardã, capitão da guarda do rei da Babilônia, veio a Jerusalém. Ele incendiou a Casa de Yahweh, a casa do rei e todas as casas de Jerusalém. Todo o exército de caldeus que estava com o capitão da guarda derrubou as muralhas em torno de Jerusalém”. O deus de Israel, contudo, prometeu que a desolação da cidade duraria apenas setenta anos.
O rei que se encarregaria de cumprir essa promessa e possibilitaria a reconstrução do Templo de Jerusalém seria Ciro. Acredita-se que os ancestrais de Ciro, que falavam uma língua indo-européia, migraram para o sul vindos da região do Mar Cáspio e instalaram-se na província de Anzan, na
margem leste do golfo Pérsico. Nesse local o chefe dos migrantes, HakhamAnish (“O Sábio”) iniciou a dinastia dos Aquemênidas. Seus descendentes – Ciro, Dario, Xerxes – fizeram história como soberanos do Império Persa.
Quando Ciro ascendeu ao trono de Anzan, em 549 a.C., sua terra era uma distante província de Elam e da Média. Na Babilônia, o centro do poder, o governante era Nabunaid, que se tornara rei em circunstâncias incomuns. Não houve a costumeira escolha feita pelo deus Marduk, mas sim um pacto singular entre a grande sacerdotisa, a mãe de Nabunaid, e o deus Sin.
Uma tabuinha de argila parcialmente danificada contém o relato sobre a indicação do rei: “Ele montou uma estátua herética num pedestal… Chamou-a de ‘o deus Sin’… Na época apropriada do Festival de Ano-Novo, avisou de que não haveria celebrações… Ele confundiu os ritos e prejudicou as cerimônias”. Enquanto Ciro guerreava com os gregos na Ásia Menor, Marduk – tentando
recuperar sua posição de deidade nacional da Babilônia – “perscrutava todos os países à procura de um governante virtuoso, disposto a ser conduzido por ele. Então gritou o nome de Ciro, rei de Anzan, e proclamou-o governante de todos os países”.
Depois que os primeiros feitos de Ciro mostraram que ele agia de acordo com os desejos de Marduk, este “deu-lhe ordem de marchar contra sua própria cidade, a Babilônia. Fez com que ele tomasse a estrada para a Babilônia caminhando a seu lado como um verdadeiro amigo”. Assim, acompanhado pelo deus supremo da Babilônia em pessoa, Ciro conseguiu conquistar a cidade sem derramamento de sangue. No dia correspondente a 20 de março de 538 a.C., Ciro “segurou as mãos de Bel (o senhor) Marduk” no recinto sagrado da Babilônia. No ano novo, seu filho, Cambises, oficiou os ritos divinos na restauração do festival em honra de Marduk.
Ciro legou à seus sucessores um império que abrangia todos os reinos antigos, com exceção de um. Eram eles: Suméria, Acad, Babilônia e Assíria, na Mesopotâmia; Elam e Média ao leste; os territórios do norte; as terras hititas e gregas na Ásia Menor; Fenícia, Canaã e Filistéia, que agora tinham um único soberano e um só deus supremo – Ahura Mazda, Deus da Luz e da Verdade.
Na Pérsia antiga esse soberano era retratado como uma deidade barbuda percorrendo o Firmamento dentro de um Disco Alado, uma figura bem parecida com o deus supremo dos assírios, Assur. Em 529 a.C., ano em que Ciro morreu, o único país independente do Império Persa no Oriente Médio e que tinha os próprios deuses era o Egito. Alguns anos depois, Cambises, filho e sucessor de Ciro, avançou com suas tropas pela costa mediterrânea da península do Sinai e derrotou os egípcios em Pelúsio; mais tarde entrou em Mênfis, a capital real, e proclamou-se faraó.
Apesar da vitória, Cambises evitou empregar em suas inscrições egípcias a habitual frase de abertura: “O grande deus, Ahura Mazda, me escolheu”, reconhecendo assim que o Egito não estava sob o domínio dessa deidade. E mais: em deferência aos deuses egípcios, ele se prostrou diante de suas estátuas, aceitando sua supremacia. Os sacerdotes legitimaram sua soberania sobre o Egito, concedendo-lhe o título de “Rebento de Ra”.
O Oriente Médio da Antiguidade agora estava unido sob um único rei, escolhido pelo “Grande deus da Luz e da Verdade” e aceito pelos deuses do Egito. Nem homens nem deuses tinham mais motivos para guerrear uns contra os outros. Paz na Terra! Essa paz, porém, não durou muito. No outro lado do Mediterrâneo os gregos estavam crescendo em poder, riqueza e ambição. A Ásia Menor, o mar Egeu e a região oriental do Mediterrâneo passaram a ser arenas de combates
nacionais e internacionais.
Em 490 a.C., Dario I tentou invadir a Grécia e foi derrotado em Maratona. Nove anos depois, os gregos venceram Xerxes I em Salamina. Então, um século e meio depois, Alexandre da Macedônia deixou a Europa para se lançar numa campanha de conquista que fez o sangue correr em todos os países do Oriente Médio da Antiguidade, até a Índia.
Ele também estaria cumprindo uma “ordem expressa” dos deuses? Não, bem ao contrário. Acreditando numa lenda que afirmava ser ele filho de um deus egípcio, Alexandre fez questão de iniciar seu avanço abrindo caminho até o Egito, pois desejava ouvir do oráculo desse deus a possível confirmação de sua origem semi-divina.
No entanto, além de afirmar sua condição de semideus, o oráculo [no oásis de Siwa] também previu sua morte prematura; daí em diante as viagens e conquistas de Alexandre tiveram um principal propósito: a busca das Águas da Vida, que ele beberia para escapar de sua sina de morte precoce. Embora tenha tido tempo de espalhar uma grande carnificina, Alexandre morreu jovem, como previra o oráculo. Depois dele, as guerras dos homens têm envolvido apenas homens pois os “deuses” foram excluídos dos teatros de batalha por um “PODER” absoluto e superior a qualquer deus nacional, planetário, solar e Galáctico.
Uma resposta
Me surpreende esta narrativa. De acordo com a tábuas sumérias eu não vejo assim. As guerras eram travadas entre os Clãs dos Anunnaki, Enlil entre Enki e seus filhos. Se fosse o caso de se apossar do planeta, eles nem teriam ensinado as tecnologias, a agricultura e tudo o mais, pois escravos não tem direitos e sim deveres e não foi bem o que ocorreu.