O homem nasceu para ser um guerreiro ou os “deuses” ensinaram a humanidade a guerrear ? Os “deuses” alienígenas/extraterrestres foram responsáveis pelos eventos mais cataclísmicos da história humana ? As guerras da Terra começaram nos “Céus” e os eventos celestes determinaram o futuro da humanidade na Terra ? Neste livro, Zecharia Sitchin apresenta uma evidência surpreendente de que os deuses [Anunnaki, Nefilins, et caterva] que vieram à Terra desde o planeta Nibiru e outros sistemas, travaram uma série de batalhas ferozes pela supremacia e controle do nosso planeta, alistando os terráqueos nesses conflitos entre os “deuses”.
Fonte: As Guerras dos deuses e dos homens : Livro III das crônicas da Terra, de Zecharia Sitchin
Sitchin conta com um estudo meticuloso dos relatos antigos, desde as escritas sumérias em tabletes de argila e o Antigo Testamento até os mitos antigos dos ensinamentos canaanitas, egípcios, hititas, persas, gregos e hindus, para traçar a saga dos “deuses” e dos homens de um início criativo a um fim trágico. Ele usa então fontes modernas, como fotografias da Terra tiradas pela NASA desde o espaço, para revelar a evidência de uma enorme explosão nuclear ocorrida há cerca de 4 mil anos, mudando a vida na Terra para sempre. O novo exame dos mistérios antigos feito por Sitchin explica o Grande Dilúvio, a destruição de Sodoma e Gomorra [o primeiro grande núcleo da permissividade e corrupção da ideologia Transgênero e LGBTQ+] e outros eventos cataclísmicos do passado na história da humanidade, possibilitando a compreensão de nosso presente e um vislumbre do nosso futuro.
12 – O Prelúdio do Desastre
Uma grande variedade de textos nos informa a respeito dos últimos anos da Era de Ishtar. Juntos, esses textos criam um relato sobre incríveis e dramáticos eventos: a usurpação do poder supremo na Terra por uma deusa; a profanação do Santo dos Santos de Enlil/Yahweh em Nippur; a entrada de um exército humano na Quarta Região; uma invasão do Egito; o surgimento de deuses africanos nos domínios asiáticos; rebeliões entre os deuses, em que governantes humanos desempenham tristes papéis e sangue humano foi derramado sem misericórdia.
Diante do surgimento de seu antigo adversário, Inanna mostrou-se decidida a não entregar seu império. Colocando no trono primeiro o primogênito de Sargão e depois um outro filho, contando com o apoio dos reis vassalos que dominavam as terras montanhosas no oriente, ela lutou como uma leoa enfurecida …
“fazendo chover chamas sobre a terra… atacando como uma tempestade agressiva, Vós sois conhecida pela destruição das terras rebeldes”, entoou uma filha de Sargão num poema. “Vós sois conhecida por massacrar seu povo …Voltando-se contra a cidade que não disse que a terra é vossa, fazendo seus rios correrem tintos de sangue”.
Inanna provocou a destruição a sua volta por mais de dois anos, até que os deuses decidiram que o único modo de conter a carnificina seria forçarem Marduk a voltar para o exílio. Ele retornara à Babilônia quando Sargão tentara tirar parte de seu solo sagrado e fortificara a cidade, modernizando especialmente o sistema de água subterrânea, tornando-a impossível de ser sitiada.
Não podendo ou não querendo retirar Marduk à força, os Anunnaki recorreram a Nergal, seu irmão, pedindo-lhe para “dar um susto em Marduk, fazendo-o largar o trono” da Babilônia. Esses eventos estão registrados num texto que os estudiosos intitularam “O Épico de Erra”,” pois nele Nergal é chamado de ER.RA, um epíteto um tanto depreciativo, pois significa “Servo de Ra”. Um melhor título seria A Lenda dos Pecados de Nergal, pois o texto culpa esse deus por uma cadeia de
eventos com um final catastrófico. De qualquer forma, trata-se de uma fonte de incalculável valor para que conheçamos os acontecimentos que foram o prelúdio do desastre.
Depois de aceitar a missão, Nergal/Erra viajou à Mesopotâmia para uma conversa cara a cara com Marduk. A primeira cidade que visitou foi Erech, chamada de Cidade de Anu, mas que de fato era controlada por Inanna/lshtar. Chegando à Babilônia, foi ao “Esagil, templo do Céu e da Terra, onde
apresentou-se diante de Marduk”. Esse importantíssimo encontro foi registrado pelos artistas antigos, e o desenho mostra os dois deuses exibindo suas armas. Marduk, porém, em pé sobre uma plataforma, estende ao irmão um símbolo de boas-vindas.
Erra citou a Marduk as coisas maravilhosas que ele dera à Babilônia, especialmente o sistema de água, que fizera a “fama de Marduk brilhar como uma estrela nos céus”, mas lembrou-o que ele privara outras cidades de suas águas. Além disso, ao coroar a si mesmo na Babilônia, “acendendo luzes em seu sagrado recinto”, ele irritara os outros deuses, pois “cobrira a morada de Anu com a escuridão”. Portanto, concluiu, Marduk não conseguiria continuar agindo contra a vontade dos outros Anunnaki e principalmente contra a vontade de Anu. Marduk explicou por que tivera de tomar tais providências:
Depois do Dilúvio, os decretos do Céu e da Terra se perderam. As cidades dos deuses sobre a ampla Terra mudaram de posição. Elas não voltaram às suas localizações originais… Quando as visito, fico revoltado com o mal que foi cometido. Sem a volta delas para suas antigas localizações, a existência da humanidade é diminuída… Devo reconstruir minha residência, que foi varrida pelo Dilúvio; seu nome devo chamar novamente.
Entre as desordens pós-diluvianas que perturbavam Marduk estavam algumas filhas do próprio Erra no trato de certos artefatos divinos – “O instrumento de dar ordens, o Oráculo dos Deuses; o sinal da realeza, o Cetro Sagrado que contribui para o brilho da Monarquia… Onde está a sagrada Pedra de Radiação que tudo desintegra”? E Marduk continuou:
“Se eu for obrigado a sair, no dia em que deixar minha sede de governo seu sistema de poços
deixará de funcionar… as águas não subirão… o dia claro se transformará em trevas… a confusão se levantará… os ventos da seca surgirão… a doença se espalhará”.
Depois de algumas argumentações, Erra propôs devolver ao irmão “os artefatos do Céu e da Terra” se Marduk fosse pessoalmente ao Mundo Inferior para buscá-los. E quanto às “obras” na Babilônia, garantiu que não havia motivo para preocupação, pois ele só entraria na Casa de Marduk para “erigir os Touros e Anu e Enlil/Yahweh em seu portão” – as estátuas dos touros alados que
realmente foram encontradas nas escavações do templo – e não faria nada para prejudicar o sistema de água.
Marduk ouviu. Ouviu a promessa, feita por Erra, e viu suas vantagens. Assim, desceu de seu trono e acertou sua direção para a Terra das Minas, morada dos Anunnaki. Marduk concordou em deixar a Babilônia. Porém, nem bem havia assumido tal compromisso; Nergal quebrou sua palavra. Incapaz de resistir à curiosidade, ele entrou na Gigunu, a misteriosa câmara subterrânea na qual Marduk o proibira de entrar. Erra retirou de lá o “Brilho” (“fonte de irradiação de energia”), e, como Marduk avisara, o dia escureceu, o sistema de água deixou de funcionar e logo as terras estavam secas e o povo fadado a morrer.
Toda a Mesopotâmia foi afetada, e Ea/Enki, Sin e Shamash, em suas respectivas cidades, ficaram alarmados, “enchendo-se de raiva contra Erra”. O povo fazia sacrifícios a Anu e Ishtar, mas era tudo em vão. Ea/Enki, o pai de Erra, censurou a atitude do filho: “Agora que o príncipe Marduk deixou o
trono, o que fizeste”? Então ordenou que a estátua de Erra, que já fora esculpida, não fosse colocada no Esagil. “Vá embora!”, vociferou. “Parta para onde nenhum deus jamais vai”!
De início, “Erra perdeu a voz”, mas logo depois começou a ser insolente. Furioso, arrebentou a morada de Marduk, ateou fogo em seus portões. Desafiador, “fez um sinal” enquanto dava as costas para partir, anunciando que seus seguidores iriam continuar ali. “Quanto aos meus guerreiros, eles não voltarão”. E foi assim que, quando Erra retornou a Kutha, os homens que tinham ido com ele permaneceram, marcando a presença de Nergal nas terras de Shem. Eles receberam ordens para se instalar numa colônia não muito distante da Babilônia, montando uma
guarnição permanente.
Na época bíblica, havia na Samaria “kutheanos adoradores de Nergal”, e existia também em Elam um culto oficial a ele – o que ficou provado por uma incomum escultura encontrada ali, retratando uma cerimônia realizada por adoradores com inconfundíveis traços africanos. A partida de Marduk da Babilônia trouxe o fim dos conflitos com Ishtar. A rixa entre os dois irmãos e o fato de Nergal ter retido parte do território asiático criaram, talvez não intencionalmente, uma aliança entre este e Ishtar.
A série de eventos trágicos que ninguém poderia ter previsto, e que possivelmente ninguém desejava, foi dessa forma determinada pelo acaso e empurrou os Anunnaki e a humanidade para mais perto ainda do desastre final…
Com sua autoridade restaurada, Inanna renovou a monarquia em Acad e colocou no trono um neto de Sargão, Naram-Sin (“O Favorito de Sin”). Vendo nele, finalmente, um digno sucessor do avô, incentivou-o a procurar a grandeza. Depois de um breve período de paz e prosperidade, ela incitou o rei a expandir seu império. Logo Inanna estava se apoderando de territórios pertencentes a outros deuses, mas eles não quiseram (ou não puderam) lutar contra ela.
“Os grandes deuses Anunnaki fugiam dela como morcegos desorientados”, afirma um hino dedicado à deusa. “Eles não conseguiam manter-se diante de seu rosto assustador… não conseguiam aplacar seu coração irado”.
Diversas gravações em pedra nos territórios anexados retratavam Inanna como a cruel conquistadora em que ela se transformara. No início das campanhas Inanna ainda era chamada de “Amada de Anu”, ou “Aquela que executa as ordens de Anu”. No entanto, seu avanço começou a
mudar de natureza, deixando de ser apenas uma contenção de rebeliões para se tornar um plano calculado de conquista da supremacia. Dois conjuntos de textos, um que trata da deusa e outro de seu protegido, Naram-Sin, registram os eventos daquela época. Ambos indicam que o primeiro alvo de Inanna, fora dos que eram permitidos, foi o local de Aterrissagem na Montanha dos Cedros.
Sendo uma deusa voadora, ela estava bastante familiarizada com o lugar. Então “queimou os grandes portões” da montanha e, depois de um breve cerco, obteve a rendição das tropas que a
guardavam. “Eles se debandaram por vontade própria”. De acordo com o que está registrado nas inscrições de Naram-Sin, Inanna então voltou para o sul, seguindo a costa mediterrânea, subjugando cidade após cidade. A conquista de Jerusalém – Centro de Controle da Missão – não é
mencionada especificamente, mas a deusa também deve ter estado lá, pois está registrado que ela continuara em frente para capturar a milenar Jericó.
Situada perto do estratégico ponto de travessia do rio Jordão e da fortaleza de Tell Ghassul, Jericó, a cidade dedicada a Sin, também tinha se rebelado. O Antigo Testamento está repleto de admoestações contra o “desvio para deuses estrangeiros”. O texto sumério nos transmite a mesma proibição. O povo de Jericó, depois de ter feito a solene promessa de adorar Sin, o pai de Inanna,
jurou aliança com outro deus, estrangeiro. A rendição dessa “cidade das tamareiras” a Inanna, que aparece fortemente armada, foi gravada num escudo cilíndrico.
Depois da conquista do sul de Canaã, Inanna estava nos portões da Quarta Região, a área do espaçoporto. Sargão não se atrevera a cruzar a linha proibida, mas Naram-Sin, incentivado por Inanna, atravessou-a… Uma crônica real da Mesopotâmia atesta que Naram-Sin não apenas entrou na península como também invadiu o país de Magan (o Egito):
Naram-Sin, descendente de Sargão, marchou contra a cidade de Apishal e fez uma brecha em suas muralhas, conquistando-a. Ele pessoalmente capturou Rish-Adad, rei de Apishal, e seu vizir. Ele então marchou contra o país de Magan e capturou o rei Mannu Dannu.
A exatidão dessa crônica babilônica tem sido amplamente confirmada no que diz respeito a outros pormenores, portanto não existe motivo para se duvidar desse trecho. Por mais incrível que possa parecer, ele conta que um rei humano, com um exército humano, atravessou a península do Sinai, a Quarta Região, restrita aos deuses. Alguns especialistas afirmam que Naram-Sin poderia ter usado a estrada que acompanhava a costa do Mediterrâneo, posteriormente denominada Via Maris, que mantinha os viajantes bem distantes da planície central da península e do Espaçoporto.
Todavia, certos vasos de alabastro com desenhos egípcios encontrados na Mesopotâmia e Elam identificam como seu proprietário “Naram-Sin, Rei das Quatro Regiões”. O fato de Naram-Sin ter começado a se chamar de “Rei das Quatro Regiões” confirma não apenas a conquista do Egito como sugere a inclusão da península do Sinai em sua esfera de influência.
Uma invasão estrangeira ocorrida por volta da época de Naram-Sin está registrada nos documentos egípcios. Esses textos descrevem um período conturbado, caótico. Encontramos num papiro que os egiptólogos conhecem como As Admoestações de Ipuwer as seguintes palavras: “Estranhos vieram ao Egito… os nobres estão cheios de lamentações”. Essa foi a época em que
houve a mudança do centro de adoração e da monarquia de Mênfis-Heliópolis para Tebas, no sul.
Os estudiosos chamam esse século de desorganização de “Primeiro Período Intermediário”, e ele seguiu ao colapso da VI Dinastia. Como pôde Inanna, com sua aparente imunidade, intrometer-se na península do Sinai e invadir o Egito sem encontrar oposição por parte dos deuses dessa
região?
A resposta está num ponto das inscrições de Naram-Sin que tem intrigado os estudiosos: a aparente veneração de um deus egípcio, Nergal, por parte de um rei mesopotâmico. Um longo texto revela que Naram-Sin foi a Kutha, o centro de culto de Nergal na África, e ali mandou erigir uma estela à qual afixou uma plaquinha de marfim gravada com o relato de sua visita ao local para prestar homenagem ao deus.
O reconhecimento do poder e da influência de Nergal bem além dos limites da África está comprovado pelo fato de que, nos tratados feitos entre Naram-Sin e governantes provinciais em Elam, seu nome é citado entre os de outros deuses para servirem de testemunhas. E, numa inscrição que trata da marcha de Naram-Sin para a Montanha de Cedro no Líbano, o rei atribui a Nergal (e não a Ishkur/Adad, como seria de esperar) o sucesso na conquista:
Embora desde a era do governo do homem nenhum dos reis jamais tenha destruído Arman e Ebla,
Adora o deus Nergal abriu o caminho para o poderoso Naram-Sin. Ele deu-lhe Arman e Ebla, presenteou-o com Amanus e com a Montanha dos Cedros e o Mar Superior.
Esse intrigante aparecimento de Nergal como uma influente deidade asiática e a audaciosa marcha do protegido de Inanna até o Egito – violação do status quo das Quatro Regiões estabelecidas depois das Guerras da Pirâmide – têm uma única explicação: enquanto Marduk voltava suas atenções para a Babilônia, Nergal assumira um papel preeminente no Egito. Com o retorno de
Marduk (embora tenha sido convencido por Nergal, a pedido dos deuses) surgira uma amarga inimizade entre os dois irmãos. Isso levou a uma aliança entre Nergal e Inanna.
Ambos, porém, logo se viram diante da oposição dos outros deuses. Foi feita uma assembléia em Nippur para tratar das conseqüências danosas das incursões de Inanna. Até mesmo Enki concordou que ela fora longe demais. Então Enlil/Yahweh emitiu uma ordem de prisão e pediu o julgamento da deusa.
Ficamos sabendo desses eventos a partir de uma crônica que os estudiosos intitularam A Maldição de Agade. Decidindo que Inanna realmente saíra dos limites, foi lançada contra ela a “palavra do Ekur” (o recinto sagrado de Enlil/Yahweh em Nippur). Mas Inanna não esperou para ser capturada e fugiu de Agade.
A “palavra do Ekur” estava sobre Agade como uma sentença de morte; Agade tremia, seu templo Ulmash estremecia de pavor. Ela, que lá morava, deixou a cidade. A donzela abandonou sua câmara; a santa Inanna abandonou seu santuário em Agade.
Quando uma delegação dos grandes deuses chegou a Acad, encontrou apenas um templo vazio e só lhe restou retirar do local seus atributos de poder: Em dias, não cinco, em dias, não dez, o toucado da governança, a tiara da realeza, o trono dado para o governante, Ninurta levou para seu templo; Utu carregou a Eloqüência da cidade; Enki retirou sua Sabedoria. A Coisa Impressionante que podia atingir o Céu, Anu levou para os Céus. “O rei de Acad ficou prostrado, seu futuro foi extremamente infeliz”. Então, Naram-Sin “teve uma visão”, uma comunicação de sua deusa Inanna. “Ele guardou-a para si, não a colocou em palavras, não contou nada a ninguém… por sete anos Naram-Sin manteve-se à espera”.
Teria Inanna ido procurar Nergal durante seu desaparecimento de sete anos? O texto não responde, mas acreditamos que só lá ela encontraria santuário para fugir da cólera de Enlil/Yahweh. Os eventos subseqüentes sugerem que a deusa, ainda mais audaciosa que antes, mais ambiciosa que nunca, deve ter obtido o apoio de pelo menos um deus de maior importância, e esse deus só poderia ser Nergal. Portanto, parece-nos uma hipótese bem plausível que Inanna tenha se
escondido nos domínios africanos de Nergal.
Tudo indica que os dois, analisando a situação, revendo os eventos passados, terminaram formando uma nova aliança que daria um novo arranjo aos domínios divinos. Uma Nova Ordem seria viável, pois Inanna desestruturara a antiga. Um texto cujo antigo título era Rainha de Todos os ME reconhece que Inanna derrubara suas regras e regulamentos e declarara-se a deidade suprema, uma “Grande Rainha das Rainhas”. Anunciando que ela se tornara “maior que a mãe que a parira… até mesmo maior do que Anu”, Inanna seguiu suas declarações com feitos e capturou o E-Anna (“Casa de Anu”) em Erech, visando desmantelar esse símbolo da autoridade do deus supremo.
A monarquia celeste foi capturada por uma mulher… Ela modificou completamente as regras do Santo Anu, não temeu o grande Anu. Ela roubou o E-Anna de Anu… Aquela Casa de irresistível encanto, duradoura atração… Àquela Casa ela trouxe destruição; atacou seu povo, fazendo-o cativo.
O golpe de Estado contra Anu foi acompanhado de um ataque contra a sede e os símbolos de autoridade de Enlil/Yahweh. Inanna encarregou Naram-Sin de executar essa tarefa. O ataque contra o Ekur em Nippur e a resultante queda da cidade de Acad estão detalhadas no texto A Maldição de Agade. A partir dele entendemos que, depois da espera de sete anos, Naram-Sin recebeu outros
oráculos, e daí em diante “mudou sua linha de ação”. Ao receber novas ordens:
Ele desafiou a palavra de Enlil/Yahweh, esmagou os que tinham servido a Enlil/Yahweh, mobilizou suas tropas e, como um herói acostumado ao arbítrio, colocou uma mão castradora sobre o Ekur.
Capturando a cidade aparentemente indefesa, Naram-Sin, “como um bandido, a saqueou”. Depois ele aproximou-se do Ekur no recinto sagrado, “erigindo grandes escadas contra a Casa”. Assim, o rei invadiu o Santo dos Santos de Enlil/Yahweh. “O povo agora via sua cela sagrada, uma câmara que não conhecia a luz; os acadianos puderam ver os vasos sagrados do deus”. Naram-Sin atirou
os ao fogo. Ele “atracou grandes barcos no cais próximo à Casa de Enlil/Yahweh e levou embora as posses da cidade”. O horrível sacrilégio estava completo.
Enlil/Yahweh (não se conhece seu paradeiro, mas sabe-se que certamente estava longe de Nippur) “ergueu os olhos” e viu a destruição de Nippur e a profanação de seu templo. Então ordenou que as hostes de Gutium – uma terra montanhosa a nordeste da Mesopotâmia atacassem Acad, destruindo-a por completo.
As hordas desceram sobre a região acadiana “em vastos números, como gafanhotos… Nada escapou de suas mãos”. “O que dormia no telhado morreu no telhado; o que dormia no interior da casa não foi levado para ser enterrado… cabeças foram esmagadas, bocas foram arrebentadas… o sangue dos traidores correu sobre o sangue dos fiéis”. Mais uma vez os outros deuses intercederam diante de Enlil/Yahweh:
“Lance uma maldição terrível sobre Acad, mas deixe as outras cidades e suas terras cultivadas sobreviverem”! Quando Enlil/Yahweh finalmente concordou, oito grandes deuses se reuniram para amaldiçoar Acad, “a cidade que ousou atacar o Ekur”. E termina o antigo escriba: “Eis como Agade foi destruída”! Os deuses decretaram que ela deveria ser varrida da Terra e, ao contrário de outras
cidades, que depois de arrasadas foram reconstruídas e repovoadas, Acad permaneceu para sempre um sítio desolado.
Quanto a Inanna, por fim seus pais conseguiram “aplacar seu coração”. Os textos não explicam exatamente o que aconteceu, mas nos contam que o pai da deusa, Nannar/Sin, chegou para levá-la de volta à Suméria, “enquanto a mãe, Ningal, rezava por ela e foi recebê-la à porta do templo”. Os deuses e o povo suplicaram a Inanna: “Chega, chega de inovações, ó, grande Rainha”! “E a principal Rainha, em sua assembléia aceitou a súplica”.
A Era de Ishtar estava terminada. Todas as evidências escritas sugerem que Enlil e Ninurta estavam longe da Mesopotâmia quando Naram-Sin atacou Nippur, mas as hordas que desceram da montanha para arrasar Acad eram “as hostes de Enlil/Yahweh”, provavelmente lideradas por Ninurta. As Listas de Reis sumérias chamam a terra de onde saíram esses vingadores de Gutium. Na lenda de Naram-Sin eles são chamados de Umman-Manda (possivelmente “Hordas dos Irmãos Fortes e Distantes”), que saíram de “acampamentos na habitação de Enlil/Yahweh”, situada “na terra montanhosa cuja cidade os deuses tinham construído”. Alguns versos dos textos sugerem que esses homens eram os descendentes dos soldados que tinham acompanhado Enmerkar em suas distantes viagens, que “haviam assassinado seu anfitrião” e foram punidos por Utu/Shamash com o exílio.
Tendo se tornado uma tribo numerosa, comandada por sete chefes irmãos entre si, eles receberam ordens de Enlil/Yahweh para arrasar a Mesopotâmia e “se atirar contra o povo que matara em Nippur”. Por algum tempo os débeis sucessores de Naram-Sin tentaram manter um poder central, enquanto as hordas capturavam cidade após cidade. A situação confusa está descrita nas Listas de Reis sumérias com as perguntas: “Quem era rei? Quem não era rei? Irgigi era rei? Nanum era rei? Imi era rei? Elulu era rei”?
No final, os gutianos assumiram o controle de toda a região da Suméria e Acad: “A monarquia ficou nas mãos das hordas de Gutium”. Durante 91 anos e 40 dias os gutianos dominaram a Mesopotâmia. Nenhuma capital recebeu um nome referente a eles, mas parece que Lagash – a única cidade suméria que escapou ao saque dos invasores – era seu quartel-general. E foi de sua sede em Lagash que Ninurta começou o demorado processo de restaurar a agricultura do país e, principalmente, o sistema de irrigação que fora destruído no incidente Erra-Marduk. Esse capítulo da história da Suméria pode ser chamado de Era de Ninurta.
O ponto central dessa era foi Lagash, uma cidade que começou como um “recinto sagrado” – o Girsu – para Ninurta e seu Divino Pássaro Preto. Todavia, com o crescimento do tumulto causado por ambições humanas e divinas, o deus resolveu converter Lagash num importante centro, fazendo dela sua principal residência, que ele compartilharia com sua consorte, Bau/Gula, e onde suas idéias de lei e ordem, seus ideais de moral e justiça poderiam ser colocados em prática.
Ninurta designou vice-reis humanos para ajudá-lo na tarefa e encarregou-os da administração e defesa da Cidade Estado. A história de Lagash (lugar que atualmente tem o nome de Tello) registra uma dinastia cujo reinado – ininterrupto por meio milênio – começou três séculos antes da ascensão de Sargão. Além de ser uma ilha de estabilidade armada num ambiente de crescente violência, Lagash era um grande centro da cultura suméria. Enquanto os feriados religiosos vieram de Nippur, em Lagash tiveram origem as tradições de festivais ligados a um calendário agrícola,
como o Festival dos Primeiros Frutos. Seus intelectuais e escribas aperfeiçoaram a língua suméria, e seus governantes, a quem Ninurta atribuía o título de “Governador Virtuoso”, tinham de jurar fidelidade a um código de justiça e moralidade.
Entre os primeiros governantes da longa dinastia de Lagash, destacou-se Ur Nanshe (cerca de 2600 a.C.) Mais de cinqüenta de suas inscrições foram encontradas nas ruínas da cidade, e elas registram a chegada de material de construção para o Girsu, inclusive madeiras especiais importadas de Tilmun.
Elas também descrevem grandes obras de irrigação, escavação de canais e construção de diques. Numa das plaquinhas, Ur-Nanshe é mostrado chefiando uma equipe de construtores, e pode-se ver que ele não se recusava a fazer pessoalmente algum trabalho braçal. Os quarenta vice-reis conhecidos que o sucederam deixaram registros escritos sobre realizações na agricultura,
construção, legislação social e reformas éticas – feitos morais e materiais que orgulhariam qualquer governo.
Lagash tinha escapado das devastações ocorridas durante os turbulentos anos de Sargão e Naram-Sin não apenas por ser “centro de culto” de Ninurta, mas também (e especialmente) devido às façanhas militares de seu povo. Na posição de “principal guerreiro de Enlil/Yahweh”, Ninurta escolhia para governar Lagash homens com talento para as artes da guerra. Um deles, chamado
Eannatum, cujas inscrições foram descobertas por arqueólogos, era um mestre em táticas e general vitorioso. As estelas o mostram conduzindo um carro de guerra – um veículo militar cuja introdução antes era considerada como tendo ocorrido muitos séculos mais tarde; as gravações também mostram suas tropas usando capacete e mantendo uma formação cerrada.
Comentando essas descobertas, Maurice Lambert (La Période Pré Sargonique) escreveu que “essa infantaria de lanceiros, protegida por homens que carregavam escudos, dava ao exército de Lagash uma defesa extremamente sólida e capacidade de ataque rápida e versátil”. As vitórias de Eannatum impressionaram até mesmo Inanna, a ponto de ela se apaixonar por ele. E “porque ela amava Eannatum, deu-lhe a sabedoria sobre Krish, além da governança de Lagash, que já era dele”. Dessa forma, Eannatum tornou-se LU.GAL (“Potentado”) da Suméria e, mantendo as rédeas com um firme punho militar, fez prevalecer a lei e a ordem.
Ironicamente, o período caótico que precedeu Sargão de Acad encontrou em Lagash não um forte líder militar, mas um reformador social chamado Urukagina. Ele dedicou seus esforços a um reavivamento moral e à introdução de leis baseadas na justiça e não num conceito crime/castigo. Sob seu governo, Lagash mostrou-se fraca demais para manter a lei e a ordem. A debilidade de Urukagina permitiu a Inanna trazer o ambicioso Lugal-zagesi de Umma para a cidade de Erech, numa tentativa de restaurar seu domínio por toda a região. Todavia, as falhas de Lugal-zagesi (como já vimos anteriormente) levaram a sua queda e à escolha de um novo protegido de Inanna, Sargão.
Durante o período de supremacia de Acad, a dinastia de Lagash prosseguiu sem interrupções. Até mesmo o grande Sargão passou ao largo da cidade, deixando-a intacta. Ela escapou da ocupação e da destruição durante os levantes de Naram-Sin principalmente por ser uma formidável fortaleza,
fortificada e refortificada para enfrentar todos os tipos de ataque. Ficamos sabendo a partir de uma inscrição de Ur-Bau, o vice-rei de Lagash por ocasião dos levantes de Naram-Sin, que ele fora instruído por Ninurta a reforçar as paredes de Girsu e a fortalecer o recinto que abrigava a aeronave Imdugud. Ur-Bau “compactou o solo até torná-lo como pedra… queimou a argila até
torná-la como metal” e, na plataforma do Imdugud, “trocou o velho solo por novas fundações” e fortaleceu-o com enormes vigas de madeira e pedras importadas de lugares distantes.
Quando os gutianos deixaram a Mesopotâmia – por volta de 2160 a.C. -, Lagash conheceu um novo período de florescimento e produziu alguns dos mais iluminados e conhecidos governantes sumérios. Um deles, Gudea, que reinou durante o século 22 a.C. é famoso por suas inúmeras inscrições e estátuas descobertas pelos arqueólogos. Seu governo foi uma época de paz e prosperidade, seus registros não falam de exércitos e guerras, mas de êxtase no comércio e na reconstrução. Ele coroou suas atividades com a construção de um novo e magnífico templo no Girsu, que mandou ampliar. Segundo as inscrições de Gudea, “o Senhor do Girsu” apareceu-lhe numa visão, parado ao lado de seu Divino Pássaro Preto.
O deus expressou o desejo de ter um novo E.NINNU (“Casa do Cinqüenta” – a posição numérica de Ninurta na hierarquia dos deuses) e deu a Gudea dois conjuntos de instruções divinas: um vindo de uma deusa que numa das mãos “segurava a tábua da estrela favorável” e, na outra, “segurava um estilete sagrado”, com o qual indicou o “planeta favorável”, em cuja direção deveria ficar orientado o novo templo; o outro conjunto de instruções veio de um deus que Gudea não reconheceu, mas que depois veio a saber que era Ningishzida, que entregou-lhe uma tábua feita de pedra preciosa “contendo a planta do templo”. Uma das estátuas de Gudea o mostra sentado com essa tábua no colo e com o estilete sagrado ao lado dela.
Na inscrição, Gudea admite que precisou do auxílio de adivinhos e “buscadores de segredos” para entender o projeto do templo. Ele era, como demonstraram pesquisadores modernos, uma engenhosa planta arquitetônica para a construção de um zigurate sob a forma de uma pirâmide de sete andares. A estrutura continha uma plataforma altamente reforçada para suportar a aterrissagem da aeronave de Ninurta.
A participação de Ningishzida no planejamento do E-Ninnu tem um significado que vai muito além da mera assistência arquitetural, e sua importância é evidenciada pelo fato de Gudea ter incluído no templo um santuário especial para esse deus. Segundo várias inscrições sumérias, Ningishzida, filho de Enki, associado à cura e a poderes mágicos, sabia como tornar seguras as fundações dos templos. Ele era “o grande deus que guardava as plantas”. Como já sugerimos anteriormente, Ningishzida não era outro senão Thoth, o deus egípcio dos poderes mágicos, que foi designado como guardião das plantas de arquitetura e construção das pirâmides de Gizé.
Ninurta, deve-se lembrar, tinha levado com ele algumas das “pedras” que ficavam no interior da Grande Pirâmide por ocasião do final das Guerras da Pirâmide. Agora, devido aos esforços de Inanna e Marduk de obterem a supremacia, Ninurta desejava reafirmar sua “posição de cinqüenta” através da construção de uma Pirâmide de sete andares para ele mesmo em Lagash. Foi por isso, acreditamos, que convidou Ningishzida/Thoth para ir à Mesopotâmia, de modo a projetar para ele uma estrutura alta e imponente que, por falta das pedras que eram abundantes no Egito, teria de ser construída com os humildes tijolos de barro daquela região.
A estada de Ningishzida na Suméria e sua colaboração com Ninurta foram comemoradas não apenas nos santuários do deus visitante mas também em inúmeras representações artísticas, algumas das quais foram descobertas durante os sessenta anos de escavações arqueológicas no sítio de Tello. Uma delas combina o emblema do Divino Pássaro de Ninurta com as serpentes de
Ningishzida. Outra mostra Ninurta com uma esfinge egípcia. A época de Gudea e da colaboração Ninurta-Ningishzida coincide com o Primeiro Período Intermediário do Egito, quando os reis da IX e X Dinastias abandonaram a adoração de Osíris e Hórus e mudaram a capital de Mênfis para uma cidade que posteriormente os gregos vieram a chamar de Heracleópolis. A partida de Thoth do Egito pode ter sido conseqüência dos tumultos ocorridos naquela região, e algo semelhante explicaria seu subseqüente desaparecimento da Suméria.
Segundo E. D. van Buren em The God Ningizzida, esse deus foi “tirado da obscuridade na época de Gudea”, só para se tornar um “deus fantasma” e uma simples memória em épocas posteriores (assírias e babilônicas). A Era de Ninurta na Suméria, que atravessou incólume a invasão gutiana e
continuou durante o período de reconstrução, foi só um interlúdio. Um habitante das montanhas em seu coração, Ninurta logo começou a voar pelos céus em seu Divino Pássaro Preto, visitando seus domínios mais atrasados ao nordeste e até mesmo mais distantes. Aperfeiçoando as artes
marciais das tribos montanhesas, ele deu-lhes grande mobilidade através da introdução da cavalaria, o que ampliou em centenas e até milhares de quilômetros seu poder de ataque.
Ele retomara à Mesopotâmia, a chamado de Enlil/Yahweh, com o objetivo de pôr fim ao sacrilégio cometido por Naram-Sin e às confusões causadas por Inanna. Com a volta da paz e da prosperidade, ele partiu novamente da Suméria, e Inanna, que nunca desistia, aproveitou-se de sua ausência para retomar a sede da monarquia para Erech.
A tentativa durou apenas alguns anos, pois Anu e Enlil não aceitaram as intenções da deusa. No entanto, a história desse evento (contida num enigmático texto catalogado como Ashur-13955) é fascinante. Ela nos faz lembrar a lenda de Excalibur, a espada mágica do rei Artur que foi encravada
numa pedra e só poderia ser retirada pelo homem destinado a ser rei, e lança luz sobre os acontecimentos precedentes, inclusive o incidente com o qual Sargão ofendeu Marduk.
Sabe-se que quando “a realeza foi descida do céu”, para se iniciar em Kish, Anu e Enlil lá estabeleceram um “Pavilhão do Céu”. “Em seu solo de fundação, para todo o sempre” eles implantaram o SHU.HA.DA.KU, um artefato feito de uma liga de metal cujo nome em tradução literal significa: “Suprema Arma Forte e Brilhante”. Esse objeto divino foi transportado para Erech quando a sede da monarquia se transferiu para lá e continuou a ser levado de um lado para outro enquanto a realeza mudava de cidade. Todavia, isso só ocorria quando a mudança era autorizada pelos Grandes Deuses.
Seguindo esse costume, Sargão levou o objeto para Acad, mas Marduk protestou porque aquela cidade era nova e não uma das escolhidas pelos “grandes deuses do Céu e da Terra” para serem capitais reais. Os deuses escolheram Acad – Inanna e seus seguidores eram, na opinião de Marduk, “rebeldes, deuses que usam roupas sujas”. Foi para sanar o defeito de Acad que Sargão foi à Babilônia, ao local onde ficava seu “solo sagrado”. A idéia era remover parte dessa terra e levá-la para “um lugar diante de Acad”, onde seria implantada a Arma Divina, assim legitimando a nova capital. Foi como castigo para esse ato, diz o texto, que Marduk instigou rebeliões contra Sargão e também lançou sobre ele uma “inquietação” (alguns estudiosos acham que o termo significaria “insônia”) que o levou à morte.
O texto continua contando que, durante a ocupação dos gutianos que se seguiu ao reino de Naram-Sin, o objeto divino permaneceu intocado “ao lado das obras de represamento das águas”, porque “não se sabia como executar as regras relacionadas com o artefato divino”. Marduk recomendara que aquele objeto tinha de ficar no seu lugar determinado, “sem ser aberto”, e não poderia “ser oferecido a nenhum deus” até que os “deuses que trouxeram a destruição fizessem a restituição”.
Todavia, quando Inanna aproveitou a oportunidade para fazer de Erech a sede da monarquia, o rei escolhido por ela, Utu-Hegal, “tirou o Shuhadaku de seu lugar de repouso; pegou-o na mão”, embora ainda não tivesse chegado a hora da restituição. Sem autorização Utu-Hegal “levantou a arma contra a cidade que estava sitiando”, mas assim que fez isso tombou morto. “O rio levou seu corpo afundado.”
As ausências de Ninurta da Suméria e a tentativa fracassada de Inanna em recapturar a sede da monarquia para Erech indicaram a Enlil/Yahweh que a questão da divina governança da Suméria precisava ser definitivamente resolvida. O candidato que lhe apareceu mais adequado para a tarefa foi Nannar/Sin. Durante todos aqueles anos de tumulto, Nannar fora obscurecido por aspirantes mais agressivos à supremacia, inclusive por sua própria filha, Inanna. Agora ele estava finalmente recebendo a oportunidade de assumir um cargo digno de sua posição de primeiro filho de Enlil/Yahweh nascido na Terra. A era que se seguiu – que chamaremos de Era de Nannar – foi uma das mais esplendorosas nos anais sumérios e também o último grito de glória da Suméria.
O primeiro passo de Nannar foi fazer de sua cidade, Ur, uma grande metrópole e capital de um vasto império. Indicando uma nova linha de governantes, chamada pelos especialistas de Terceira Dinastia de Ur, ele conseguiu para a civilização suméria picos de avanço material e cultural sem
precedentes. Nannar e sua consorte, Ningal, tomavam parte ativa nos assuntos de Estado. Eles residiam no imenso zigurate que dominava a cidade fortificada- um zigurate cujas ruínas, depois de 4000 anos, ainda é uma visão impressionante na planície mesopotâmica.
Nannar e o rei, liderando uma hierarquia de sacerdotes e funcionários, orientaram a agricultura da cidade de modo a torná-la o celeiro da Suméria; dirigiram sua criação de ovinos de tal forma que Ur tornou-se o centro da produção de lã e roupas de todo o Oriente Médio da Antiguidade; desenvolveram um comércio exterior por terra e mar que fez os mercadores de Ur serem lembrados por milênios depois dessa era.
Para facilitar esse comércio e ao mesmo tempo melhorar as defesas da cidade, foi construído um canal navegável em torno da muralha externa, com dois portos, um ao norte e um ao sul, mais um canal unindo esses portos e ao mesmo tempo separando o recinto sagrado, o palácio e o bairro administrativo das áreas residencial e comercial da cidade. As casas brancas de Ur, muitas delas de vários andares, brilhavam como pérolas a distância. As ruas eram retas e largas, com santuário na maioria das esquinas. O povo era trabalhador, e a administração funcionava tranqüilamente. Os habitantes eram religiosos, jamais deixando de rezar às suas benevolentes deidades.
O primeiro governante da Terceira Dinastia, Ur-Nammu (“A Alegria de Ur”), era filho da deusa Ninsun com um humano e, portanto, um semi-deus. Os extensos registros sobre ele contam que logo que “Anu e Enlil/Yahweh entregaram a monarquia a Nannar em Ur”, e Ur-Nammu foi escolhido para ser o “Virtuoso Pastor” do povo, os deuses ordenaram ao rei que instituísse uma renovação moral. Os quase três séculos que tinham se passado depois da obra semelhante de Urukagina, em Lagash, tinham assistido à ascensão e queda de Acad, o desafio contra a autoridade de Anu e a profanação do Ekur de Enlil/Yahweh.
A injustiça, a opressão e a imoralidade grassavam. Em Ur, sob o governo de Ur Nammu, Enlil/Yahweh mais uma vez tentou afastar a humanidade do mal, levando-a para o “caminho certo”. Proclamando um novo código de justiça e comportamento social, o rei “estabeleceu a eqüidade na terra, baniu a maledicência e pôs fim às disputas e à violência”. Mostrando que esperava muito desse começo, Enlil/Yahweh – pela primeira vez confiou a guarda de Nippur a outro deus, Nannar, e deu a Ur-Nammu as instruções necessárias para a reforma do Ekur (que fora danificado por
Naram-Sin). O rei marcou a ocasião mandando erigir uma estela que o mostra carregando as ferramentas e a cesta de pedreiro. Terminada a obra, Enlil/Yahweh e Ninlil voltaram a sua residência em Nippur e “foram felizes lá”, como conta uma inscrição suméria.
A volta aos “costumes certos” envolveu não apenas a justiça social entre o povo, mas também a adoração adequada dos deuses. Para isso, Ur-Nammu, além das grandes obras que realizou em sua cidade, também restaurou e ampliou os edifícios dedicados a Anu e Inanna em Erech; o de Ninsun, sua mãe, em Ur; o de Utu, em Larsa; o de Ninharsag, em Adab. Ele também fez algumas reformas em Eridu, a cidade de Enki. Chamam atenção pela ausência nessa lista a Lagash de Ninurta e a Babilônia de Marduk. As reformas sociais de Ur-Nammu e as realizações de Ur no comércio e indústria levaram os estudiosos a considerar a época da Terceira Dinastia um período não apenas de prosperidade, mas também de paz. Por isso eles ficaram intrigados ao encontrar nas ruínas da Cidade-Estado dois painéis retratando as atividades de seus cidadãos – um deles um Painel de Paz, e o outro, surpreendentemente, um Painel de Guerra. A imagem do povo de Ur
corno guerreiros alertas e treinados parecia totalmente fora de lugar.
No entanto, os fatos, segundo evidências arqueológicas como armamento, uniformes militares e carros de guerra, bem como numerosas inscrições, desmentem essa imagem de pacifismo. De fato, um dos primeiros atos de Ur Nammu foi subjugar Lagash e assassinar seu governador, ao que se seguiu a ocupação de sete outras cidades. A necessidade de medidas militares não ficou limitada às fases iniciais da subida ao poder de Nannar em Ur. Sabemos a partir de várias inscrições que,
depois que Ur e Suméria como um todo “gozaram de dias de prosperidade e rejubilaram-se grandemente com Ur-Nammu” e o rei reconstruiu o Ekur, Enlil/Yahweh considerou-o digno de possuir a Arma Divina, com a qual ele deveria subjugar “cidades más” em “terras estrangeiras”.
A Arma Divina, que nas terras hostis amontoa os rebeldes em pilhas, a Ur-Nammu, o pastor, Ele, o Senhor Enlil/Yahweh, concedeu. Como um touro para esmagar a terra estrangeira, como um leão para caçá-la; para destruir as cidades más, limpá-las da oposição contra o Altíssimo. Essas palavras nos fazem lembrar as profecias bíblicas sobre a ira divina, que por meio de reis mortais caia sobre “cidades más” e “povos pecadores”. Elas revelam que sob a capa da prosperidade e da paz estava se criando uma nova guerra entre os deuses – uma luta pela aliança das massas da humanidade.
O triste fato é que o próprio Ur-Nammu, tornando-se um poderoso guerreiro, “O Poder de Nannar”, encontrou uma morte trágica num campo de batalha. Numa terra distante onde o povo se rebelou, o carro do rei atolou na lama e ele caiu. Porém, em seguida, os cavalos avançaram, o carro se movimentou bruscamente e atropelou Ur-Nammu, “que ficou ali, abandonado como um
jarro esmagado”. A tragédia tornou-se ainda maior quando o barco que trazia de volta seu corpo à Suméria “afundou num lugar estranho; as ondas o arrastaram, levando Ur-Nammu dentro dele”.
Quando a noticia chegou a Ur, houve grandes lamentações. O povo simplesmente não conseguia entender como, um Pastor Virtuoso, um rei que fora tão justo com seus súditos e fiel aos deuses podia ter sofrido um fim tão indigno. Ele não entendia por que “o Senhor Nannar não o pegara pela mão, por que Inanna, Senhora do Céu, não colocara seu nobre braço em torno de sua cabeça, por que o valente Ur não o ajudara”. Por que esses deuses tinham se afastado? Ur-Nammu, sem dúvida, fora traído pelos grandes deuses.
Como a sorte do herói mudou! Anu falou à sua palavra sagrada… Enlil/Yahweh finalmente modificou seu decreto do destino…
O modo como Ur-Nammu morreu (2096 a.C.) talvez explique o comportamento do seu sucessor, sobre o qual pode-se usar o conceito bíblico para um rei que “se prostituiu” e “fez o que havia de errado diante do Senhor”. Esse governante, chamado Shulgi, nasceu sob divinos auspícios, pois foi o próprio Nannar que tomou providências para a criança ser concebida no santuário de Enlil/Yahweh em Nippur através da união entre Ur-Nammu e a suma sacerdotisa, de modo que pudesse ser considerado “um pequeno Enlil/Yahweh… uma criança adequada para realeza e para o trono”…
O novo rei começou seu longo reinado escolhendo manter seu império por meios pacíficos e pela reconciliação divina. Assim que subiu ao trono iniciou a construção (ou reconstrução) de um templo dedicado a Ninurta em Nippur, o que o permitiu declarar Ur e Nippur “cidades-irmãs”. Em seguida ele mandou construir um navio – que chamou “Ninlil” – e partiu para a “Terra do Voar para a Vida”. Seus poemas indicam que Shulgi imaginava-se um segundo Gilgamesh e desejava seguir os passos de seu predecessor até a “Terra dos Vivos” – a península do Sinai.
Atracando no “Lugar da Rampa” (ou “Lugar do Aterro”), ele construiu ali um altar para Nannar. Continuando a viagem por terra, Shulgi chegou a Harsag a montanha de Ninharsag ao sul da península -, e lá também mandou construir um altar. Continuando o avanço pela região do Sinai, ele atingiu o lugar chamado BAD.GAL.DINGIR (Dur-Mah-Ilu em acadiano), “O Grandioso Lugar Fortificado dos Deuses”. Agora Shulgi estava realmente imitando Gilgamesh, pois este, ao chegar pela região do mar Morto, também parara para orar e fazer oferendas no lugar onde ficava o portão dos deuses, situado entre o Neguev e a península do Sinai propriamente dita. Lá Shulgi erigiu um altar para “O Deus que Julga”.
Foi no oitavo ano do reinado de Shulgi que ele iniciou a viagem de volta à Suméria. A rota, passando pelo Crescente Fértil, começava em Canaã e no Líbano, locais onde ele construiu altares no “Lugar dos Oráculos Luminosos” e no “Lugar Coberto de Neve”. Foi uma jornada propositadamente longa, feita com a intenção de fortalecer os laços imperiais com as províncias distantes. Em resultado dela, Shulgi construiu uma rede de estradas que manteve o império unido em termos políticos e militares e também estimulou o comércio e, portanto, a prosperidade. Ao conhecer pessoalmente os chefes locais, ele aumentou ainda mais os vínculos com estes arranjando casamento adequado para suas filhas.
Shulgi voltou à Suméria vangloriando-se de que aprendera quatro línguas estrangeiras. Seu prestígio estava no auge. Num ato de gratidão, ele construiu um santuário para Nannar/Sin no recinto sagrado de Nippur e, em troca disso, recebeu os títulos de “Sumo Sacerdote de Anu” e “Sacerdote de Nannar” em cerimônias que ele registrou em seus escudos cilíndricos. No entanto, com o passar dos anos, Shulgi começou a preferir os luxos de Ur em vez dos rigores das províncias e pouco a pouco foi deixando seu governo a cargo de delegados.
Ele passava o tempo compondo hinos auto-laudatórios, imaginando-se um semi-deus. Suas ilusões despertaram a atenção da maior sedutora de todas elas- Inanna. Percebendo uma nova oportunidade, a deusa convidou o rei a visitar Erech, fazendo dele “um homem escolhido para a
vulva de Inanna”. Vejamos as palavras do próprio Shulgi:
Com o valente Utu, um amigo que é como irmão, bebi vinho forte no templo fechado por Anu. Mais menestréis cantaram para mim as sete canções do amor. Inanna, a rainha, a vulva do céu e da terra, estava a meu lado, banqueteando-se no templo.
À medida que foi crescendo a inevitável inquietação tanto na metrópole como nas províncias, Shulgi procurou apoio militar na província de Elam, a sudeste. Fazendo sua filha casar-se com o vice-rei, deu-lhe como dote a cidade de Larsa. Em troca o noivo mandou tropas para a Suméria, que serviriam como uma Legião Estrangeira para Shulgi. Todavia, em vez de paz, os elamitas
causaram mais guerras, e os relatórios anuais sobre o reinado de Shulgi falam de repetidas destruições nas províncias setentrionais.
O rei tentou manter seu poder nas províncias ocidentais por meios pacíficos, e o 37º. ano de seu reinado registra um tratado com um rei local chamado Puzur-Ish-Dagan nome com claras conotações cananitas e filistéias. O tratado permitiu a Shulgi voltar a usar o título de “Rei das Quatro Regiões”. A paz na região ocidental, contudo, não durou muito. Ao completar 41 anos (2055 a.C.), Shulgi recebeu certas profecias de Nannar/Sin e logo em seguida foi enviada uma expedição militar contra as províncias cananéias. Dois anos depois ele podia novamente afirmar que era “Herói, Rei de Ur, Governante das Quatro Regiões”.
Os indícios sugerem que as tropas elamitas foram utilizadas nessa campanha e que esses estrangeiros chegaram a atingir os portões de entrada da península do Sinai. Seu comandante chamava-se a si mesmo de “favorito do Deus que Julga, amado de Inanna, aquele que ocupou Dur-Ilu”. Porém, nem bem as tropas de ocupação retiraram-se, começaram novamente as rebeliões. Então, no ano de 2049 a.C. Shulgi ordenou a construção de uma “Muralha Ocidental”
para proteger a Mesopotâmia. Shulgi ainda continuou no trono por mais um ano, que foi repleto de inquietações. Embora até o final ele tenha insistido em se proclamar “querido de Anu”, não era mais um “escolhido” de Anu e Enlil/Yahweh. Segundo o ponto de vista dos deuses, que está registrado em textos sumérios, “os divinos regulamentos ele não seguiu, sua honestidade ele sujou”. Por isso, foi decretada a “morte de um pecador” no ano de 2048 a.C.
Quem sucedeu Shulgi no trono foi seu filho, Amar-Sin. Apesar de os primeiros dois anos de seu governo serem lembrados por suas guerras, seguiram-se três anos de paz. Todavia, no sexto ano houve um levante no distrito setentrional, Assur, e no sétimo – 2041 a.C. foi necessária uma
importante campanha militar para reprimir quatro localidades ocidentais e “suas terras”. Parece que essa campanha não foi muito bem-sucedida, pois a ela não se seguiu a costumeira concessão por Nannar de títulos ao rei. Em vez disso descobrimos que Amar-Sin, rei de Ur, voltou sua atenção para Eridu – a cidade de Enki! -, estabelecendo lá uma residência real e assumindo as funções sacerdotais.
Essa mudança na filiação religiosa pode ter sido causada pelo desejo prático de assumir o controle das docas de Eridu, pois no ano seguinte, o nono de seu reinado, Amar-Sin zarpou para o mesmo “Lugar da Rampa” visitado por seu pai. Todavia, ao chegar à “Terra de Voar para a Vida”, ele foi picado por uma serpente, ou um escorpião, e morreu.
Amar-Sin foi substituído no trono por seu irmão Shu-Sin. Apesar de existirem registros de duas incursões militares contra as cidades do norte em seus nove anos de reinado (2038/30 a.C.), eles se destacaram mais pelas medidas de defesa que foram tomadas, como o fortalecimento da Muralha Ocidental contra os amoritas e a construção de duas grandes embarcações: “O Grande Navio” e o “Navio do Abzu”. Tudo indica que Shu-Sin estava se preparando para fugir por mar… Quando o novo (e último) rei de Ur, Ibbi-Sin, subiu ao trono, invasores vindos do ocidente já estavam entrando em choque com os mercenários elamitas na própria Mesopotâmia.
Logo o coração da Suméria estava sendo sitiado; o povo de Ur e Nippur escondia-se atrás de muralhas protetoras, e a influência de Nannar restringiram-se a um pequeno enclave. Como acontecera antes, Marduk esperava nas sombras. Acreditando que sua vez de conquistar a supremacia finalmente chegara, ele deixou o exílio e conduziu seus seguidores de volta à Babilônia. Então foram usadas as Armas Aterradoras, e o desastre, só igualado pelo Dilúvio, caiu sobre a humanidade.