As Guerras dos ‘deuses’ e dos homens (2) – A Contenda entre Hórus e Seth

O homem nasceu para ser um guerreiro ou os “deuses” ensinaram a humanidade a guerrear ? Os “deuses” alienígenas/extraterrestres foram responsáveis pelos eventos mais cataclísmicos da história humana ? As guerras da Terra começaram nos “Céus” e os eventos celestes determinaram o futuro da humanidade na Terra ? Neste livro, Zecharia Sitchin apresenta uma evidência surpreendente de que os deuses [Anunnaki, Nefilins, et caterva] que vieram à Terra desde o planeta Nibiru, travaram uma série de batalhas ferozes pela supremacia e controle do nosso planeta, alistando os terráqueos nesses conflitos entre os “deuses”.

Fonte: As Guerras dos deuses e dos homens : Livro III das crônicas da Terra, de Zecharia Sitchin

Sitchin conta com um estudo meticuloso dos relatos antigos, desde as escritas sumérias em tabletes de argila e o Antigo Testamento até os mitos antigos dos ensinamentos canaanitas, egípcios, hititas, persas, gregos e hindus, para traçar a saga dos “deuses” e dos homens de um início criativo a um fim trágico. Ele usa então fontes modernas, como fotografias da Terra tiradas pela NASA desde o espaço, para revelar a evidência de uma enorme explosão nuclear ocorrida há cerca de 4 mil anos, mudando a vida na Terra para sempre. O novo exame dos mistérios antigos feito por Sitchin explica o Grande Dilúvio, a destruição de Sodoma e Gomorra [o primeiro grande núcleo da permissividade e corrupção da ideologia Transgênero e LGBTQ+] e outros eventos cataclísmicos do passado na história da humanidade, possibilitando a compreensão de nosso presente e um vislumbre do nosso futuro.


CAPÍTULO 2 – A CONTENDA ENTRE HÓRUS E SETH

Os essênios previram que na Guerra Final entre os homens, a Companhia do Divino se aliaria à Congregação dos Mortais e nos campos de batalha se mesclariam “gritos de guerra de homens e deuses”. Seria isso apenas um triste comentário sobre a história sangrenta das guerras da humanidade?

Nada disso. O que o texto A Guerra dos Filhos da Luz contra os Filhos das Trevas nos informa é apenas que as contendas entre os homens terminarão exatamente como iniciaram: com deuses e mortais lutando lado a lado [no Armagedom]. Por mais incrível que pareça, existe um documento que descreve a primeira guerra em que os deuses envolveram os mortais humanos. Trata-se de uma inscrição nas paredes do grande templo de Edfu, uma antiga cidade sagrada do Egito, dedicada ao deus Hórus.

Foi lá, segundo as tradições do Antigo Egito, que Hórus instalou uma fundição de “ferro divino” e onde guardava, num recinto especial, o “Disco Alado” em que percorria os céus. Um dos textos diz: “Quando as portas da fundição se abrem, o “Disco Voadorse eleva”. A inscrição no templo de Edfu, notável por sua exatidão geográfica, começa com uma data – não relacionada com a contagem de tempo da humanidade – e fala de eventos ocorridos muito antes [pré dilúvio] da época dos faraós, quando o Egito era governado pelos “deuses“.

No ano 363, Sua Majestade, Ra, o Santo, o Falcão do Horizonte, O
Imortal Eterno, foi à terra de Khenn. Com ele estavam seus guerreiros,
pois os inimigos tinham conspirado contra seu senhor no distrito que
ainda hoje tem o nome de Ua-Ua. Ra foi até lá em seu “barco”, junto com seus companheiros, e desceu no distrito da Sede do Trono de Hórus, na parte ocidental desse distrito, ao
leste da Casa de Khennu, que desde então passou a ser chamada de
Khennu Real. Hórus, o Medidor Alado, aproximou-se do “barco” de Ra e disse a seu
ancestral: “Ó, Falcão do Horizonte, tenho visto os inimigos conspirarem
contra vós, Senhor, para se apoderarem da Coroa Luminosa”.

Em poucas palavras, o escriba conseguiu nos dar um panorama geral da situação e criar a cena para a guerra que iria estourar. Entendemos que a causa do conflito era uma conspiração de certos “inimigos” dos deuses Ra e Hórus, que pretendiam conquistar a Coroa Luminosa, ou seja, a soberania. É óbvio que essa pretensão só podia partir de um outro deus dos deuses. Para sufocar a
conspiração, Ra reuniu seus guerreiros e tornou seu barco para ir ao local onde Hórus estabelecera seu quartel-general.

O “barco” de Ra, como sabemos a partir de muitos outros textos, era uma embarcação celestial, com o qual o deus podia viajar aos céus mais distantes. Nesse caso, Ra usou-o para descer num lugar distante de qualquer tipo de extensão de água, “na parte ocidental” do distrito de Da-Da, ao leste da “Sede do Trono” de Hórus. Este, então, contou-lhe que o inimigo estava reunindo
suas forças:

Então Ra, o Santo, o Falcão do Horizonte, disse a Hórus, o Medidor Alado: “Altíssimo rebento de Ra, meu escolhido, vá rápido, extermine o inimigo que você avistou”. Obedecendo a ordem, Hórus partiu no Disco Alado para enfrentar o inimigo. E assim Hórus, o Medidor Alado, voou para o horizonte no Disco Alado de Ra e, por isso, desde esse dia é chamado de “Grande Deus, Senhor dos Céus”. Voando no Disco Alado, Hórus avistou as forças inimigas e atacou-as com uma arma poderosa: Dos céus, do Disco Alado, ele viu os inimigos e atacou-os pela retaguarda. De sua parte dianteira lançou sobre eles uma Tempestade que não podiam ver com os olhos nem escutar com os ouvidos. Isso trouxe morte a todos num único instante; ninguém se salvou.

Cumprida a missão. Hórus voltou para junto de Ra ainda viajando no Disco Alado, “que brilhava com muitas cores” e ouviu sua vitória ser oficializada por Thoth, o deus das artes mágicas:
Então Hórus, o Medidor Alado, reapareceu no Disco Alado que brilhava com muitas cores; ele voltou para o barco de Ra, o Falcão do Horizonte. E Thoth disse: “Ó, Senhor dos Deuses! O Medidor Alado voltou no grande Disco Alado, brilhando em muitas cores…”. Por isso, desde esse dia ele também é conhecido como “O Medidor Alado”, e em sua honra a cidade de Hut passou a ser chamada de Behutet.

Essa primeira batalha entre Hórus e os “inimigos” teve lugar no Alto Egito. Heinrich Brugsch, o primeiro a publicar o texto dessa inscrição, o que aconteceu por volta de 1870 (Die Sage von dergeflüten Sonnenscheibe), sugeria que a “Terra de Khenn” seria a Núbia e que Hórus avistou o inimigo em Siena, a atual Assuã.

Estudos mais recentes, como Egypt in Nubia, de Walter B. Emery, concordam que Ta-Khenn era mesmo a Núbia e que Da-Da era o nome de sua parte norte, a área entre a primeira e a segunda catarata do Nilo. (A parte sul da Núbia era chamada de Kuch.) Essa identificação é válida, já que Behutet, a cidade concedida a Hórus como prêmio por sua vitória, era a mesma Edfu, que através dos tempos sempre foi dedicada a esse deus. As tradições afirmam que Hórus estabeleceu em Edfu uma fundição onde eram forjadas armas especiais feitas de “ferro divino”. E foi lá também que ele treinou um exército de mesniu – “povo de metal”.

Nas paredes do templo dessa cidade, esses guerreiros foram retratados como homens de cabeça raspada, usando túnicas curtas de colarinhos largos e carregando armas nas duas mãos. O desenho de uma arma não identificada, parecida com um arpão, foi incluído nas palavras hieroglíficas para “ferro divino” e “povo de metal” .

Ainda segundo as tradições egípcias, os primeiros homens a receber armas de metal dos deuses foram os mesniu. E veremos, com os prosseguimentos do texto, que eles foram também os primeiros mortais convocados para lutar nas guerras entre os deuses. Como a área Assuã e Edfu agora estava garantida, e Hórus tinha seus guerreiros armados e treinados, os deuses sentiram-se prontos para avançar em direção ao norte, penetrando no interior do Egito. As vitórias iniciais parecem ter servido para fortalecer a aliança entre esses aliados, pois ficamos sabendo que a deusa asiática Ishtar (o texto egípcio a chama pelo seu nome cananeu, Astarot) juntara-se ao grupo. Pairando no céu, Hórus gritou para Ra se encarregar do reconhecimento do terreno abaixo dele:

E Hórus disse: “Avance, ó, Ra! Procure os inimigos que jazem sobre a terra”! Então Ra, o Santo, avançou; Astarot estava com ele. Ambos procuraram o inimigo no terreno, mas todos eles estavam escondidos. Como não podia ver o adversário, Ra teve uma idéia: E Ra disse aos deuses que o acompanhavam: “Guiemos nossa embarcação até a água, pois o inimigo está em terra…”. Então deram às águas o nome de “Águas Viajadas”, e assim elas são conhecidas até hoje. Mas enquanto Ra possuía um veículo anfíbio, Hórus não tinha como entrar no rio. Então os deuses lhe deram um barco, ao qual deram o nome de Mak-A (“O Grande Protetor”), e assim ele é conhecido até hoje. Seguiu-se a primeira batalha entre os mortais: Mas os inimigos também entraram na água, fingindo-se de crocodilos e hipopótamos, e atacaram o barco de Ra, o Falcão do Horizonte…

Hórus, o Medidor Alado, chegou com seus criados, que lhe serviam de guerreiros, cada um com seu próprio nome, carregando o Ferro Divino e uma corrente nas mãos, e eles afugentaram os crocodilos e os hipopótamos. Arrastaram 651 inimigos até aquele lugar; eles foram mortos perto da cidade. E Ra, o Falcão do Horizonte, disse a Hórus, o Medidor Alado: “Que este local seja conhecido como o lugar onde ficou estabelecida sua vitória sobre as terras do sul”! Tendo vencido o inimigo no céu, na terra e na água, o triunfo de Hórus parecia completo. Thoth achou que era o momento de comemorar: Então Thoth disse aos outros deuses: “Ó, deuses do céu, rejubilem-se! Ó, deuses da terra, rejubilem-se! O jovem Hórus trouxe a paz por ter conseguido realizar feitos extraordinários nesta campanha”!

Nessa ocasião, o Disco Alado foi adotado como o emblema de Hórus vitorioso: Desde esse dia existem os símbolos de metal de Hórus. Foi ele que confeccionou como seu emblema o Disco Alado, que colocou na parte dianteira do barco de Ra. A deusa do norte e a deusa do sul, representadas por duas serpentes, foram colocadas uma em cada lado. E Hórus posicionou-se no barco de Ra, atrás do emblema, tendo nas mãos o Ferro Divino e a corrente.

Apesar de Thoth ter proclamado Hórus como aquele que trouxera a paz, ela ainda não fora alcançada. Prosseguindo em seu avanço para o norte, a companhia dos deuses “avistou dois brilhos numa planície ao leste de Tebas [hoje Luxor]. Ra então disse a Thoth: ‘Esse é o inimigo; que Hórus o elimine…’. E Hórus fez um grande massacre”.

Novamente, com o auxílio do exército de homens que armara e treinara, Hórus conseguiu conquistar a vitória. E Thoth continuou dando nomes aos locais onde as batalhas bem-sucedidas haviam se desenrolado. O primeiro combate aéreo de Hórus tinha rompido as defesas que separavam o Egito da Núbia em Siena (Assuã). As batalhas seguintes, tanto em terra como na água, garantiram ao deus a curva do Nilo que vai de Tebas até Dendera, local onde, no futuro, proliferariam templos e cidades reais. Agora estava aberto o caminho para o interior do Egito.

Por vários dias os deuses continuaram avançando rumo ao norte – Hórus vigiando do alto, no Disco Alado, e Ra e seus companheiros navegando pelo rio, enquanto o povo de metal guardava os flancos em terra. Houve então uma série de combates, breves, mas ferozes. Os nomes dos locais – bem estabelecidos na geografia do Antigo Egito – indicam que os deuses atacantes atingiriam a área dos lagos que, na Antiguidade, iam desde o Mediterrâneo até o mar Vermelho (atualmente ainda restam alguns deles).

Então os inimigos se distanciaram deles, dirigindo-se para o norte. Eles acamparam no distrito das águas, diante do mar Mediterrâneo. Seus corações estavam cheios de medo. Mas Hórus, o Medidor Alado, perseguiu-os no barco de Ra, levando na mão o Ferro Divino. E seus ajudantes, carregando armas de ferro forjado, estavam por todos os lados.

No entanto, a tentativa de cercar e capturar os inimigos não foi bem sucedida. Por quatro dias e quatro noites Hórus percorreu as águas em perseguição aos inimigos, mas não conseguiu avistar nenhum deles. Ra então aconselhou-o a subir novamente no Disco Alado, e dessa vez Hórus avistou os inimigos em fuga. Hórus atirou sua Lança Divina contra eles e causou grande confusão em suas fileiras, matando muitos deles. Também trouxe 142 prisioneiros, que colocou na parte dianteira do barco de Ra, onde foram rapidamente executados.

Nesse ponto a inscrição no templo de Edfu termina e recomeça num novo painel. De fato, inicia-se um novo capítulo da Guerra dos Deuses. Os inimigos que conseguiram escapar “foram para o Lago do Norte, dirigindo-se para o Mediterrâneo, que tentavam atingir navegando pelo distrito das águas. Mas o deus encheu seus corações de medo e, quando atingiram o meio das águas, eles fugiram para as águas que se ligam com os lagos do distrito de Mer, com o propósito de se juntarem aos inimigos que estavam nas terras de Set”.

Esses versos nos oferecem mais que informações geográficas, pois, pela primeira vez, encontramos uma identificação dos “inimigos”. A arena do conflito agora era o conjunto de lagos que, na Antiguidade, separava o Egito propriamente dito na península do Sinai. Para o leste, além dessa barreira de água, ficavam os domínios de Seth adversário e assassino de Osíris, pai de Hórus. Portanto, Seth era o inimigo sobre cujas forças Hórus vinha avançando, vindo do sul.

Com a fuga dos inimigos houve uma calmaria no conflito, e durante esse período Ra chegou à região que separava o Egito do país de Seth, e Hórus levou seu povo de metal à linha de frente. Mas o adversário também teve tempo para reagrupar suas forças e voltou a atravessar a barreira de água, entrando no Egito. Seguiu-se então uma grande batalha, na qual 381 inimigos foram capturados e executados.

(Os textos não fazem referência ao número de baixas no lado de Hórus).

Hórus, no calor da perseguição, atravessou as águas, e entrou nos domínios de Seth. Este, furioso com a invasão, desafiou-o para um combate pessoal.

As lutas entre os dois deuses, que transcorreram tanto em terra como no ar, foram tema de inúmeras lendas, e falarei delas mais adiante. Nesta altura, porém, é interessante analisarmos o aspecto salientado por E. A. Wallis Budge em The Gods of the Egyptians: no primeiro envolvimento dos homens nas guerras dos deuses, o que trouxe a vitória a Hórus foi o fato de ele ter armado
os mortais com o Ferro Divino. “Está bem claro que ele deveu seu êxito, sobretudo à superioridade das armas que seus homens portavam e ao material de que eram feitas”.

Portanto, segundo os textos egípcios, foi nessa guerra dos deuses que o homem aprendeu a levantar a espada contra seu semelhante. Quando os combates terminaram, Ra expressou sua satisfação pelos feitos do “povo de metal de Hórus” e decretou que dali em diante aqueles homens
morariam em santuários e seriam servidos com libações e oferendas, porque haviam matado os inimigos do deus Hórus.

Assim, esses mesniu estabeleceram-se nas duas capitais de Hórus: Edfu, no Alto Egito, e Tis (Tânis, em grego; Zoan, na Bíblia), no Baixo Egito. Com o passar do tempo, eles abandonaram seu papel puramente militar e ganharam o titulo de Shamsu-Hor (“Atendentes de Hórus”), passando a servir como assessores e emissários dos deuses.

Segundo os estudiosos, a inscrição nas paredes do templo de Edfu é uma cópia de um texto bem mais antigo e muito conhecido dos escribas. No entanto, ninguém ainda foi capaz de determinar quando o relato original foi escrito. Os peritos concluíram que a exatidão dos dados geográficos e outros indicam (nas palavras de E. A. Wallis Budge) “que não estamos lidando com eventos puramente mitológicos; é quase certo que o triunfante avanço atribuído a Hor-Behutet (Hórus de Edfu) é baseado nos feitos de algum invasor aventureiro que se estabeleceu em Edfu em tempos muito primitivos”.

Como acontece em todas as inscrições egípcias, essa também começa com uma data: “No ano de 363…”. Essas datas sempre indicam o ano do período de reinado do faraó envolvido no evento descrito. Assim, cada governante tinha seu primeiro ano de reinado, o segundo, e assim por diante. No entanto, o texto em questão trata de assuntos divinos, e não de atividades de reis, portanto relata acontecimentos que tiveram lugar no “ano 363” do reinado de um certo deus, ou deuses, levando-nos de volta a tempos primitivos em que o Egito era governado por deuses e não por homens.

As tradições do Antigo Egito nunca deixaram dúvida de que houve realmente uma época como essa. Durante sua longa viagem pelo Egito, o historiador grego Heródoto (século 5 a.C.) recebeu informações detalhadas sobre reinos e dinastias faraônicas. “Os sacerdotes me contaram que Mên foi o primeiro rei do Egito; ele construiu o dique que protege Mênfis das inundações do Nilo”.

Depois de fazer o desvio do rio, o faraó começou a construir a cidade nas terras tomadas das águas. Heródoto prossegue: “Além dessas obras, segundo os sacerdotes, ele construiu o templo de Vulcano, que fica dentro da cidade, um imenso edifício, digno de ser mencionado”. O historiador acrescenta: “Em seguida, os sacerdotes foram buscar um papiro e leram para mim os nomes de 330 monarcas que ocuparam o trono depois de Mên. Entre eles, dezoito eram reis etíopes, e havia uma rainha, que era nativa; todos os outros eram homens e egípcios”.

Os informantes de Heródoto também lhes mostraram fileiras de estátuas representando faraós e lhes contaram vários pormenores sobre esses governantes, afirmando que possuíam ancestrais divinos. “Os seres representados por essas imagens estavam muito longe de ser divinos”, duvidou Heródoto, mas ele escreveu:

Em épocas anteriores a situação era bem diferente. O Egito era governado por deuses que habitavam a Terra junto com os homens, e um deles sempre exercia a supremacia sobre os restantes. O ultimo desses deuses foi Hórus, filho de Osíris, a quem os gregos chamavam Apolo. Hórus depôs Tífon e então reinou sobre o Egito.

Em seu livro Contra Apião, o historiador judeu Flávio Josefo, do século I, citou os escritos de um sacerdote egípcio chamado Manetho como uma de suas fontes sobre a História do Egito. Esses textos jamais foram encontrados, mas qualquer dúvida que pudesse haver sobre a existência de tal sacerdote desfez-se quando os estudiosos descobriram que sua obra serviu de base para vários autores gregos.

Atualmente acredita-se que Manetho (o nome, em hieróglifos, significa “Presente de Thoth”) tenha sido realmente o alto sacerdote e grande erudito que, por volta de 270 a.C., compilou a história do Egito em diversos volumes, por ordem do rei Ptolomeu Filadelfo. O manuscrito original encontrava-se na Biblioteca de Alexandria quando, junto com numerosos outros documentos de valor incalculável, foi consumido pelo fogo por ocasião do incêndio provocado por conquistadores muçulmanos no ano de 642.

Manetho foi o primeiro historiador a dividir os governantes egípcios em dinastias, prática que continua até hoje. Sua Lista de Reis – nomes, duração dos reinados, ordem de sucessão e outras informações pertinentes – foi preservada principalmente por meio das obras de Julio Africano (século III) e Eusébio de Cesaréia (século IV). Essas e outras versões baseadas no historiador egípcio trazem como ponto comum que o primeiro governante da primeira dinastia foi o rei Mên (Menés, em grego) – o mesmo que Heródoto citou, com base nas próprias investigações no Egito.

Esse fato foi confirmado por descobertas mais modernas, como a Tábua de Abidos, em que o faraó Seti I, acompanhado de seu filho, Ramsés II, listou o nome de 75 de seus antecessores. O primeiro deles é Mena. Se Heródoto estava correto ao citar as dinastias dos faraós egípcios, teria ele
acertado também quanto à existência de uma “época precedente”, quando o Egito era governado pelos deuses?

Manetho corrobora as afirmações de Heródoto quanto a essa questão. Segundo ele, as dinastias dos faraós foram precedidas por outras quatro: duas de deuses, uma de semi-deuses e uma outra de transição. Primeiro, sete grandes deuses reinaram sobre o Egito, perfazendo um total de 12 300 anos.

Ptah reinou 9.000 anos
Ra reinou 1.000 anos
Shu reinou 700 anos
Geb reinou 500 anos
Osíris reinou 450 anos
Seth reinou 350 anos
Hórus reinou 300 anos

Sete deuses reinaram 12.300 anos. A segunda dinastia de deuses, escreveu Manetho, compreendeu doze governantes, dos quais o primeiro foi Thoth. Eles reinaram por 1.570 anos. Portanto, no conjunto, dezenove deuses governaram por 13.870 anos. Seguiu-se uma dinastia de trinta semi-deuses, que reinaram por 3.650 anos; ao todo, houve 49 governantes divinos e semi-divinos no Egito, que reinaram por 17.250 anos no total. Depois, durante um período de 350 anos não existiu um governante único reinando sobre o Egito como um todo. Foi uma época caótica em que dez reis humanos deram prosseguimento à monarquia na cidade de This. Então veio Menés, que estabeleceu a primeira dinastia dos faraós e construiu uma nova capital que dedicou ao deus Ptah – o “Vulcano” de Heródoto.

Um século e meio de descobertas arqueológicas e a decifração da escrita hieroglífica convenceram os estudiosos de que as dinastias faraônicas começaram por volta de 3.100 a.C. com um governante cujo hieróglifo lê-se como Menés. Ele unificou o Alto e o Baixo Egito e estabeleceu sua capital numa nova cidade chamada Men-Nefer (“A Beleza de Mên”) – Mênfis, em grego. Como indicara Manetho, esse faraó subiu ao trono de um Egito reunificado depois de um período caótico de total desunião.

Uma inscrição no artefato conhecido como a Pedra de Palermo preservou para os arqueólogos pelo menos nove nomes arcaicos de reis que usavam apenas a coroa vermelha do Baixo Egito e reinaram antes de Menés. Também foram encontradas algumas tumbas e objetos pertencentes a esses governantes arcaicos – “Escorpião”, Ka, Zeser, Narmer e Sma.

Sir Flinders Petrie, o famoso egiptólogo, afirmou em The Royal Tombs of The First Dynasty e em outras obras que esses nomes são os mesmos que Manetho relacionou como os dez humanos que reinaram em Tânis durante os séculos de caos e sugeriu que esse grupo, por ter precedido a primeira dinastia, fosse chamado de Dinastia Zero.

Um importante documento arqueológico que trata da monarquia egípcia, conhecido como o Papiro de Turim, começa com uma dinastia de deuses que inclui Ra, Geb, Osíris, Set e Hórus, depois assinala outra, com Thoth, Maat e outros, atribuindo a Hórus um reinado de trezentos anos – exatamente como registrou Manetho. Depois dos governantes divinos, esse papiro, que data da
época de Ramsés lI, relaciona 38 reis semi-divinos:

“Dezenove chefes da Muralha Branca e dezenove Veneráveis do Norte”.

E, entre eles e Menés, situa reis humanos que governaram sob a tutela de Hórus e cujo epíteto era ShamsuHor! Em 1843, dirigindo-se à Royal Society of Literature em Londres, o curador de
Antiguidades Egípcias no Museu Britânico, Dr. Samuel Birch, anunciou que contara no Papiro de Turim um total de 330 nomes – número que “coincidia com os 330 reis mencionados por Heródoto”.

Embora com algumas discordâncias entre si em relação a detalhes, os egiptólogos da atualidade aceitam que as descobertas sustentam as informações fornecidas pelos historiadores antigos a respeito das dinastias que tiveram início com Menés depois de um período de caos, quando cerca de dez reis governaram um Egito desunido. E mais: que antes disso houve um período em que o reino estava unido sob governantes cujos nomes só podiam ser Hórus, Osíris etc. No entanto, os estudiosos que acham difícil acreditar na natureza divina desses reis sugerem que deviam ser apenas seres humanos “deificados”.

Com o intuito de lançar uma luz sobre o assunto, comecemos pelo mesmo lugar que Menés escolheu para construir a capital do Egito reunificado. A localização de Mênfis não foi obra do acaso, mas uma escolha apoiada em certos eventos ligados aos deuses. Menés erigiu-a sobre um aterro, resultado do desvio do rio Nilo e de uma série de obras de represamento e recuperação
de terras. Ao fazê-lo, imitava o modo como o próprio Egito havia sido criado. Os egípcios acreditavam que “um grande deus que surgira nos tempos mais primitivos” havia chegado àquela terra e a encontrara sob a água e a lama. Ele fez grandes obras de represamento e recuperação de terras, literalmente erguendo o Egito das águas – o que explica o outro antigo nome do Egito:
“Terra Elevada”.

Esse deus arcaico chamava-se Ptah, um “Deus do Céu e da Terra”, e era considerado um grande engenheiro e mestre artífice. A veracidade da lenda da Terra Elevada é favorecida pelos aspectos
tecnológicos. O Nilo é um rio tranqüilo e navegável até Siena (Assuã), mas depois seu curso torna-se traiçoeiro e é obstruído por várias cataratas.

Atualmente o nível do rio é regulado pela represa de Assuã, e tudo indica que em tempos pré-históricos havia um sistema de comportas similar. As lendas contam que Ptah estabeleceu sua base de operações na ilha de Abu, que desde a época dos gregos é chamada de Elefantina, devido ao seu formato. Ela fica localizada logo acima da primeira catarata do Nilo, na atual Assuã. Nos textos
e desenhos, Ptah, cujo símbolo era uma serpente, aparece controlando as águas do Nilo a partir de cavernas subterrâneas. “Era ele que tomava conta das portas que continham as inundações, que puxava as trancas na hora adequada.”

Em linguagem técnica, somos informados de que, no local mais apropriado do ponto de vista da engenharia, Ptah construiu “cavernas gêmeas” (dois reservatórios interligados) cujas comportas podiam ser abertas e fechadas, dessa forma regulando artificialmente o nível e a vazão das águas do Nilo. Em egípcio, Ptah e os outros deuses antigos eram chamados de Ntr [Neter] – “Guardiões, Vigias”. Segundo as tradições, eles vieram de Ta-Ur, em que Ur significava “antigo” ou “distante” – sendo então “Terra Distante”, mas que poderia ser o verdadeiro nome do lugar, bem nosso conhecido devido aos registros mesopotâmicos e bíblicos: a antiga cidade de Ur, ao sul da Mesopotâmia.

O estreito do mar Vermelho, que ligava a Mesopotâmia ao Egito, era chamado de Ta-Neter, o “Lugar dos Deuses”. A afirmação de que os deuses primitivos teriam vindo das terras públicas de Sem é fortalecida pelo intrigante fato de que os nomes desses deuses eram de origem semita, mais especificamente acadiana. Ptah, por exemplo, que não tinha significado em egípcio, nas línguas semitas queria dizer: “aquele que faz coisas abrindo e escavando”.

Com o passar do tempo – 9.000 anos, segundo Manetho -, Ra, um filho de Ptah, tornou-se o governante do Egito. Seu nome também não tinha significado em egípcio, mas, como ele era associado a um corpo celeste luminoso, os eruditos acreditam que Ra poderia ser “brilhante”. O que se sabe com certeza é que um dos apelidos desse deus – Tem – tinha a conotação
semítica de “o Completo, o Puro”.

Os egípcios acreditavam que Ra chegara à Terra vindo do “Planeta de Milhões de Anos”[NIBIRU], viajando num Barco Celestial cuja parte superior, cônica, chamada Ben-Ben (Pássaro Piramidal) posteriormente foi preservada num santuário especial construído na cidade sagrada de Anu (a On da Bíblia, a Heliópolis dos gregos). Na época das dinastias, os egípcios faziam peregrinações a esse santuário para reverenciar o Ben-Ben e outras relíquias associadas a Ra e às viagens celestes dos deuses. Foi para reverenciar Ra, sob o apelido de Tem, que os egípcios forçaram os israelitas a construir a cidade que a Bíblia chama de Pitom (Pi-Tom, “O Portão de Tem”).

Os sacerdotes de Heliópolis foram os primeiros a registrar as tradições dos deuses egípcios. Segundo eles, a primeira “companhia” de deuses, liderada por Ra, era constituída por nove “Guardiões” ele e mais quatro casais divinos. O primeiro casal, que começou a governar quando Ra se cansou de ficar no Egito, era formado pelos próprios filhos do deus: o rapaz Shu (“Secura”) e a
moça Tefnut (“Umidade”). Segundo as lendas, os dois tinham como principal tarefa ajudar o pai a controlar o Firmamento sobre a Terra. Shu e Tefnut estabeleceram o modelo para os faraós mortais que reinaram em épocas posteriores: o rei escolhia como consorte oficial a própria irmã.

O primeiro casal foi sucedido por seus descendentes, novamente irmão e irmã: Geb (“Aquele que Empilha a Terra”) e Nut (“O Firmamento Estendido”). A abordagem puramente mitológica das lendas egípcias sobre os deuses – que afirma que o povo observava a natureza e via “deuses” nos seus fenômenos – levou os estudiosos a imaginar que Geb representava a Terra deificada, e Nut,
o Céu; e que os egípcios, ao chamarem Geb e Nut de pai e mãe dos deuses que reinaram depois deles, acreditavam que seus deuses tinham nascido da união do Céu e da Terra. No entanto, quando se lêem de uma forma mais literal as lendas e os versos contidos nos Textos das Pirâmides e no Livro dos Mortos, percebe-se que Geb e Nut tinham esses nomes devido a atividades
relacionadas com o aparecimento periódico do pássaro Bennu, que deu origem à lenda grega da Fênix.

Para os gregos, a Fênix era uma águia com penas vermelhas e douradas que morria e renascia a intervalos de vários milênios. Era para o Bennu das lendas egípcias – pássaro cujo nome era o mesmo do aparelho em que Ra chegara à Terra – que Geb envolvia-se com obras de terra e Nut “estendia o firmamento”. Tudo indica que esses empreendimentos eram feitos na “Tem dos Leões”, onde Geb “abriu a terra” para o grande objeto esférico que surgiu no horizonte vindo do “firmamento estendido”.

Geb e Nut acabaram entregando o governo do Egito a quatro de seus filhos: Asar (“O que Tudo Vê”), que os gregos chamam de Osíris, e sua irmã-esposa Ast mais conhecida como Ísis; Set e sua esposa Néftis (Nebt-Hat, a “Senhora da Casa”), a irmã de Ísis. A maioria das lendas egípcias gira em tomo das atividades desses quatro deuses. Mas, estranhamente, quando eles eram retratados, Set jamais aparecia sem seu disfarce animal: seu rosto nunca era visto. O significado do nome Set também desafia os egiptólogos, embora seja idêntico ao do terceiro filho de Adão e Eva.

Com dois filhos casados com as próprias irmãs, os deuses Geb e Nut se defrontaram com um grave problema de sucessão. Então, a única solução era dividir o reino. Osíris recebeu as terras planas do norte (o Baixo Egito), e Set ficou com a região montanhosa ao sul (Alto Egito). O tempo que durou esse arranjo podemos apenas adivinhar, com base nas crônicas de Manetho, mas uma coisa é certa: Set não ficou satisfeito com a divisão do reino e tramou vários planos para conquistar a soberania sobre todo o Egito. Os estudiosos afirmam que o único motivo da insatisfação de Set era a ânsia de poder. No entanto, quando analisamos melhor as regras de sucessão dos deuses, entendemos o profundo efeito que elas exerceram sobre as questões divinas (e, mais tarde, sobre as dos reis humanos).

Antigamente os deuses (e depois os homens) podiam ter uma ou mais concubinas, além da consorte oficial, o que resultava em filhos ilegítimos. Portanto, a primeira regra de sucessão era: o herdeiro do trono é o primogênito da consorte oficial. Se ela não tivesse filhos, o primeiro filho do rei com uma das concubinas seria o herdeiro. Porém, em qualquer época, mesmo que já houvesse um primogênito herdeiro, se o governante tivesse um filho com uma sua meia-irmã, este passaria à frente do primogênito e se tornaria o herdeiro legítimo.

Esse costume sempre foi a causa básica das rivalidades entre os Deuses do Céu e da Terra e, acreditamos, explica os motivos da ira de Set. A fonte dessa nossa teoria é o tratado De Iside et Osiride (Sobre Ísis e Osíris), escrito por Plutarco, biógrafo e historiador do século I, que registrou para os gregos e os romanos da época as lendas dos deuses do Oriente Médio. Plutarco baseou-se
em textos que, segundo a crença na Antiguidade, tinham sido escritos pelo próprio Thoth, que na condição de Escriba dos Deuses encarregava-se do registro da história e dos feitos das divindades na Terra.

“Agora contarei em breves palavras a história de Ísis e Osíris, conservando os aspectos mais significativos e omitindo os supérfluos”, escreveu Plutarco na sentença de abertura, e em seguida passa a contar que Nut (os gregos a comparavam com sua deusa Rea) teve três filhos, sendo Osíris o primogênito, e Set, o terceiro. Ela também deu à luz duas filhas, Ísis e Néftis. Todavia, nem
todos tinham sido gerados por Geb. Osíris e o segundo irmão eram filhos de Ra, que procurara sua neta Nut em segredo. Ísis, por sua vez, era filha de Thoth (o deus grego Hermes), que, “apaixonado pela deusa mãe”, retribuía de várias maneiras “para recompensar os favores que dela recebia”.

Então, o quadro era esse: o primogênito, Osíris, mesmo não sendo filho de Geb, tinha um direito à sucessão ainda maior pelo fato de ter sido gerado pelo grande Ra. Mas Set, pela primeira regra da sucessão era o herdeiro legítimo por ser filho de Geb, o governante, com sua meia-irmã, Nut. Como se isso já não fosse suficiente para criar a discórdia entre os irmãos, havia também uma
feroz disputa entre os dois para garantirem o trono a seus respectivos herdeiros. Set, para conseguir o direito de sucessão a seus descendentes, precisaria gerar um filho com sua meia-irmã, Ísis. Já Osíris levava vantagem, pois tinha duas meias-irmãs, Ísis e Néftis, e, portanto maior probabilidade de gerar o herdeiro legítimo. Para cortar definitivamente a pretensão de Set de ter
descendentes que governassem o Egito, Osíris apressou-se a tomar Ísis como sua consorte. Set então casou-se com Néftis, mas, como ela era sua irmã plena, por parte de pai e mãe, seus descendentes não seriam qualificados para a sucessão.

A raiva de Set contra Osíris era profunda e amarga, pois este não só o privara do trono como também da possibilidade de vê-o ocupado por seus descendentes. Segundo Plutarco, a ocasião para a vingança de Set surgiu quando “uma certa rainha da Etiópia, chamada Aso”, foi visitar o Egito. Conspirando com seus seguidores, Set ofereceu um banquete para homenagear a rainha e convidou todos os deuses. Como parte de sua trama, mandou construir um magnífico baú, grande o bastante para conter o corpo de Osíris. Durante a festa, pediu que trouxessem o baú para todos os presentes poderem admirá-lo. Depois, como se estivesse brincando, prometeu dá-lo à pessoa que coubesse perfeitamente dentro dele. Os convidados, ansiosos para ganhar aquela peça de
arte, começaram a entrar, um de cada vez no baú.

Finalmente chegou a vez de Osíris. Assim que ele se acomodou dentro do baú, os conspiradores correram para perto dele, fecharam a tampa, prenderam-na com pregos e derramaram chumbo derretido sobre ela. Em seguida, levaram a enorme caixa com Osíris para a praia e, no lugar onde o Nilo deságua no Mediterrâneo, na cidade de Banis afundaram-na no mar. Vestida de luto e depois de cortar uma mecha dos cabelos em sinal de dor, Ísis saiu à procura do baú. Plutarco prossegue: “Finalmente ela recebeu notícias mais claras sobre o paradeiro da caixa, que fora levada pelas ondas até a costa de Biblos (o atual Líbano)”. Encontrando o baú, a deusa retirou-o da água e
escondeu-o num local isolado enquanto pensava num meio de ressuscitar o marido. Mas Set descobriu tudo, apoderou-se da enorme caixa e cortou o corpo de Osíris em catorze pedaços, que espalhou por todo o Egito.

Novamente Ísis partiu, dessa vez em busca dos restos do marido. Algumas versões da lenda dizem que ela enterrou as partes onde as encontrou, dando início ao culto de adoração a Osíris nesses locais, que passaram a ser sagrados. Outras afirmam que Ísis juntou todos os pedaços e recompôs o corpo do marido, amarrando-o com tiras de linho, o que deu origem ao costume da mumificação. No entanto, todos os relatos concordam num ponto: Ísis encontrou todas as partes do corpo, menos uma – o falo. Porém, antes de enterrar o corpo, a deusa conseguiu extrair a “essência” [DNA] de Osíris e se auto-inseminou com ela, concebendo Hórus. Assim que o menino
nasceu, escondeu-o nos pântanos do Nilo para protegê-lo de Set.

Os arqueólogos têm encontrado muitas lendas relacionadas com os eventos que se seguiram, textos copiados e recopiados pelos escribas, dos quais muitos foram capítulos do Livro dos Mortos ou foram usados como fonte para os versos dos Textos das Pirâmides. Reunidas, elas revelam um drama que envolveu manobras legais, seqüestros, uma ressurreição, homossexualidade [entre os “deuses”] e finalmente uma grande guerra – o conflito em que o prêmio foi o Divino Trono.

Como tudo levava a crer que Osíris morrera sem deixar descendentes, Set viu-se diante da possibilidade de gerar um herdeiro legítimo, e para isso tramou forçar Ísis a se casar com ele. Seqüestrou a meia-irmã com a intenção de mantê-la prisioneira até obter seu consentimento. Ísis, contudo, conseguiu fugir com a ajuda de Thoth. Uma versão da lenda registrada na Estela de
Mettemich, composta como se fosse um relato pessoal da deusa, descreve sua fuga no meio da noite e as aventuras que enfrentou até chegar ao pântano de papiros onde Hórus estava escondido. Mas, ao deparar-se com o filho, viu-o agonizando devido a uma picada de escorpião.
O povo que habitava os pântanos ouviu os gritos de aflição de Ísis e acorreu em seu socorro, mas não pôde fazer nada para ajudá-la. Então o auxílio veio de uma espaçonave: Ísis lançou um grito ao céu, endereçando sua súplica ao Barco de Milhões de Anos [NIBIRU].

O Disco Celestial imobilizou-se e não saiu de onde estava. Então Thoth desceu. Ele possuía poderes mágicos, o grande poder de transformar a palavra em realidade. E falou: “Ó, Ísis, deusa, gloriosa, conhecedora da boca; nenhum mal cairá sobre o menino Hórus, pois sua proteção vem do Barco de Ra”. “Cheguei no Barco do Disco Celestial vindo do lugar onde ele ontem se encontrava. Quando cair a noite, esta Luz expulsará o veneno, curando Hórus…Vim dos céus para salvar esta criança para sua mãe”.

Salvo da morte por Thoth e, como afirmam algumas lendas, imunizado para sempre das picadas de escorpiões, Hórus passou a ser citado como um Nechtatef, “Vingador de seu Pai”. Recebendo a melhor das instruções dos deuses e deusas que tinham apoiado Osíris, foi treinado nas artes marciais por eles, sua aparência e atitudes condiziam com sua posição de Príncipe Divino, digno de
ser membro da associação celestial. Então, num certo dia, ele apresentou-se diante do Conselho dos Deuses para reclamar o trono de Osíris.

De todos os deuses que se surpreenderam com o aparecimento de Hórus, nenhum ficou mais chocado que Set. Mas a principal dúvida era: seria mesmo Osíris o pai daquele rapaz? Como descreve o texto conhecido como Papiro Chester Beatty nº 1, Set pediu um recesso para ter uma conversa particular e pacífica com o recém-descoberto sobrinho. Voltando-se para Hórus, disse: “Venha, passemos um dia feliz em minha casa”. Mas ele não pensava em paz. Sua mente estava ocupada com tramas sinistras. Ao anoitecer, a cama foi arrumada para eles, e os dois se deitaram.

No meio da noite, Set fez seu membro endurecer e penetrar entre as nádegas de Hórus. Quando os deuses voltaram a se reunir em conselho, Set exigiu que o cargo de governante continuasse com ele, alegando que Hórus estava desqualificado. Quer fosse filho de Osíris, quer não, agora tinha sua semente dentro dele, o que podia lhe dar o direito de sucedê-lo, mas jamais de precedê-lo! Chegou a vez de Hórus surpreender os deuses. Explicou que, quando Set derramara seu sêmen, ele o pegara nas suas mãos.

De manhã, fora procurar a mãe e lhe mostrara o que trazia, contando-lhe o que havia acontecido. Ísis o mandara endurecer o membro e derramar o próprio sêmen numa vasilha; em seguida, indo para a horta de Set, depositara-o numa alface que mais tarde havia servido de alimento para Set. “Portanto”, anunciou Hórus, “a semente de Set não está dentro de mim, mas a minha está dentro dele”. “Logo, o desqualificado é Set”!

Atônitos, os deuses pediram a Thoth para resolver a questão. Ele verificou o sêmen que Hórus levara a Ísis e que ela guardara num pote, constatando que era mesmo de Set. Em seguida examinou o corpo de Set e confirmou que ele continha o sêmen de Hórus. Furioso, Set não esperou o fim das deliberações. Saiu gritando que só uma luta até o amargo fim poderia decidir aquela questão.

Pela contagem de Manetho, a essa altura Set reinava havia 350 anos. Se acrescentarmos a esse número o tempo que Ísis levou para encontrar os treze pedaços de Osíris – e acreditamos que tenha sido treze anos, – foi mesmo “no ano 363” do reinado de Set que Ra juntou-se a Hórus na Núbia para ajudá-lo em sua guerra contra “os inimigos”. Em Horus, Royal God of Egypt, S. B.
Mercer resumiu as opiniões dos estudiosos do assunto com estas enfáticas palavras: “A lenda do conflito entre Hórus e Set representa um evento histórico”.

De acordo com a inscrição no templo de Edfu, a primeira batalha pessoal entre Set e Hórus aconteceu no “Lago dos Deuses”, que daí em diante passou a ser chamado “Lago da Batalha”. Hórus conseguiu atingir Set com sua Lança Divina e, quando ele caiu, capturou-o e levou-o à presença de Ra. “A lança estava em seu pescoço, as pernas do maligno estavam acorrentadas e sua boca fechada por um golpe de clava do deus (Hórus)”. Ra decidiu que Hórus e Ísis poderiam fazer o que quisessem com Set e os outros conspiradores capturados.

Mas quando Hórus começou a executar os prisioneiros, cortando-lhes a cabeça, Ísis ficou com pena de seu irmão Set e libertou-o. Existem várias versões dos acontecimentos que se seguiram, mas segundo a maioria delas a libertação do seu tio inimigo deixou Hórus tão furioso que ele decapitou Ísis, sua própria mãe. Thoth, porém, recolocou a cabeça da deusa no lugar e ressuscitou a. (Plutarco também relata esse incidente).

Depois da fuga, Set escondeu-se num túnel subterrâneo. Após três dias, teve início uma série de combates aéreos. Hórus decolou num Nar (um “Pilar Flamejante”), que foi retratado como um objeto longo e cilíndrico equipado com barbatanas ou aletas. A parte dianteira continha dois “olhos”, que ficavam mudando de cor, passando do azul para o vermelho e vice-versa. Da traseira saíam rastros como os de um jato. Além disso, o aparelho emitia raios pela porta dianteira. Os textos egípcios, todos escritos por cultuadores de Hórus, não descrevem o veículo aéreo de Set.

As lendas falam de uma longa batalha sobre uma extensa região. O primeiro a ser atingido foi Hórus, que sofreu o impacto de um golpe de luz saído do veículo de Set. O Nar perdeu um de seus “olhos”, mas Hórus continuou a luta usando o Disco Alado de Ra, e foi dele que lançou um “arpão” contra o inimigo. Foi a vez de Set ser atingido. Ele foi ferido e perdeu os testículos…

Demorando-se sobre a natureza da arma usada por Hórus, W. Max Müller escreveu em Egyptian Mythology que ela possuía “uma ponta estranha” e que seu apelido nos textos hieroglíficos era “a arma dos trinta” . Como nos revelam os antigos desenhos, o “arpão” na verdade era um engenhoso foguete três em um. Depois do disparo do primeiro míssil, o maior, ficava aberto a caminho para o lançamento dos dois menores. O apelido “arma dos trinta” sugere que esse artefato era o que atualmente chamamos de míssil de ogiva múltipla.

Por pura coincidência, mas talvez porque circunstâncias similares resultam em conotações similares, a Companhia McDonnell-Douglas de St. Louis, no Missouri, deu ao seu mais moderno míssil naval teleguiado o nome de “Arpão”.

Os grandes deuses pediram uma trégua e convocaram os adversários a se apresentarem diante do Conselho. Alguns pormenores das deliberações podem ser extraídos da inscrição gravada numa coluna de pedra do faraó Shabako (século 8 a.C.), que afirma que o texto é uma cópia de um rolo de papiro muito antigo, já “devorado pelos vermes”, enterrado sob o grande templo de Ptah, em Mênfis. De início o Conselho re-dividiu o Egito entre Hórus e Set, mantendo as fronteiras existentes na época de Osíris, mas Geb contestou a decisão, preocupado com a questão da continuidade.

Como Set poderia “abrir o corpo” para gerações futuras? Ele, por não possuir mais testículos, não tinha como gerar descendentes… E assim, Geb, “O Senhor da Terra, legou como herança a Hórus” todo o Egito. Set recebeu um outro território em que pudesse exercer seu domínio, e, daí em diante, no entender dos egípcios, passou a ser uma deidade asiática.

O Conselho dos Deuses adotou a recomendação com unanimidade. Seu ato final é assim descrito no Papiro de Hunefer:

Hórus está triunfante na presença de toda a companhia dos deuses. A soberania sobre o mundo lhe foi dada, e seus domínios atingem as partes mais distantes da Terra. O trono do deus Geb lhe foi concedido, junto com a patente criada pelo deus Shu.

Segundo o Papiro, a legitimação da decisão do Conselho …

foi formalizada por decretos [que estão guardados] na Câmara dos Registros; Foi inscrita numa tábua de metal, conforme as ordens de teu pai Puh… Deuses celestiais e terrestres transferem-se para os serviços de teu filho Hórus. Eles o seguem ao Salão dos Decretos. Hórus será o senhor deles.

CONTINUA . . .


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