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Atlântida: Um Habitante de Dois Planetas (19 e 20) – Duplicidade

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ATLÂNTIDA, A RAINHA das ONDAS dos OCEANOS 

“O propósito desta história é relatar o que conheci pela experiência, e não me cabe expor idéias teóricas. Se levares alguns pontos pequenos  deixados sem explicação para o santuário interior de tua alma, e ali meditares  neles, verás que se tornarão claros para ti, como a água que mitiga a tua sede. .

Este é o espírito com que o autor (Philos, o Tibetano) propõe que seja lido este livro. E chama de história o relato que faz de sua experiência. Que é história?. . . Ao leitor a decisão.

“Em época por vir, uma glória refulgente, A glória de uma raça feita livre e pujante.Vista por poetas, sábios, santos e videntes, Num vislumbre da aurora inda distante. Junto ao mar do Futuro, uma praia cintilante Onde cada homem seus pares ombreará,em igualdade, e a ninguém o joelho dobrará. Desperta, minh’alma, de dúvidas e medos te desanuvia;  Contempla da face da Manhã toda a Magia E ouve a melodia de prodigiosa suavidade que para nós flutua de remota e áurea graça — E o canto como um coral da Liberdade E o hino lírico da vindoura Raça.”  (Philos, o Tibetano)


Livro: “Um Habitante de Dois Planetas”, de Philos, o Tibetano – Livro Primeiro, CAPÍTULO 19 e 20:

Fontehttps://www.sacred-texts.com

CAPITULO XIX – UM PROBLEMA BEM RESOLVIDO

De volta ao lar. O problema de instruir os Suernis. Esse povo, tendo perdido seu aparente poder mágico, requer instrução nas artes da vida. Zailm e seus vice-regentes realizam esse plano. Os últimos registros desse povo podem ser encontrados na história da raça dos hebreus. Morte do pai de Lolix; sua indiferença ao ouvir a notícia. A consciência começa a adormecer.

Havia trabalho me esperando em Caiphul, deveres que eu poderia cumprir sem prejudicar minha saúde ainda delicada; na verdade uma atividade positiva para a sua recuperação, por oferecer um grau apropriado de estímulo mental, sem envolver a severa tensão dos estudos. No dia em que cheguei em casa, Menax falou comigo de um modo que me deixou pensativo: “Pelo que entendo o povo de Suern perdeu o poder que tinha de conseguir alimentos por meios aparentemente mágicos.

Deve ser um problema terrível para eles satisfazer as exigências da fome.” Na ocasião não consegui saber se Menax dissera essas palavras com o propósito de despertar em mim uma tomada de consciência quanto aos meus deveres naquele país. De qualquer forma, ponderei a situação com grande empenho. Ocorreu-me que os Suernis tinham poucos campos cultivados como os nossos, se é que tinham algum; que provavelmente não tinham conhecimentos sobre a arte da agricultura, preparação do solo e coisas semelhantes e, finalmente, que seus músculos não eram treinados para suportar esse esforço.

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Em assuntos dessa natureza não passavam de crianças grandes. Quanto mais pensava no problema, mais complicada me parecia a condição deles. Vi que, pelo menos por um ano, seria necessário mandar-lhes provisões. Também teriam de ser instruídos sobre métodos de plantio, horticultura e criação de gado, ovelhas e outros animais domésticos úteis. Mais tarde, seria necessário ensinar-lhes outras artes como mineração, tecelagem e metalurgia. Na realidade, tratava-se de uma nação inteira, com oitenta e cinco milhões de habitantes, a quem eu deveria prover com escolas de instrução sobre a arte da sobrevivência.

Quando percebi o significado disso, fiquei arrasado. Ai, pobre de mim! Caí de joelhos na grama do jardim e orei a Incal. Quando me levantei, vi o Rai Gwauxln me olhando de um jeito muito peculiar. Seu rosto estava muito sério, mas os esplêndidos olhos estavam cheios de riso.  “Sentes que estás à altura dessa tarefa?” – perguntou ele. “Zo Rai” – respondi corajosamente – “teu filho está sobrecarregado. À altura? Sim, se Incal me conceder sua orientação”. “Bem respondido, Zailm. Ponho à tua disposição os recursos de Poseid para o teu trabalho.”

Para não ser prolixo, as escolas foram estabelecidas, os entrepostos de alimentos e vestuário foram estabelecidos nos distritos competentes e os habitantes de Suern, a grande península da hoje ÍNDIA moderna, foram instruídos sobre os meios de obterem uma confortável autopreservação e  de passarem a depender do próprio conhecimento. Obviamente, nem tudo isso foi feito sob minha supervisão, mas fui eu quem deu início ao plano; durante três anos e meio o trabalho prático nisso envolvido foi conduzido por mim e por meus vice-suseranos. Talvez eu não tivesse sido suficientemente grato a Incal; talvez nunca tenha voltado a pensar, naqueles dias de prosperidade, na prece do jovem pobre e desconhecido no Pitach Rhok.

Por outro lado, devo tê-lo feito. Penso que nem por um momento esqueci daquela manhã e dos votos que fiz. Contudo, há o estranho fato de que a natureza humana pode desviar-se daquilo que ela sabe ser a linha inamovível da correção; pode estar bem consciente de cada infração e continuar pensando que foi fiel a seus votos. Os lapsos morais são os mais freqüentes; os pecados que não são infrações diretas dos códigos comunitários. Estranho, também, é que a humanidade não costuma ser clemente com as vítimas, embora seja geralmente branda em suas censuras ao verdadeiro criminoso. Não poderá haver verdadeira justiça em qualquer assunto até que, em crimes dessa espécie, a mesma pena seja imposta, sem consideração de sexo.

Minha proposição te parece surpreendente? Pois então considera: a justiça humana é um sistema; se for íalha num particular será falha em todas as coisas, pois justiça significa perfeição e o que tem uma mancha ou defeito não tem perfeição. Na história da raça hebraica podem ser encontrados os últimos registros da parte mais merecedora do povo dos Suernis. Em verdade, meu povo, juntos tivemos a glória e o longo sofrimento. Estivemos juntos naquele longínquo período já passado! Minha semente do esforço denodado caiu em solo arado e se multiplicou cem vezes. O fim ainda não chegou; a colheita não foi recolhida e o povo eleito ainda não recebeu a recompensa pela Grande Tribulação havida desde que Ernon de Suern desistiu de lutar por ele.

O caminho foi longo, mas eles finalmente sairão do deserto no qual entraram há tanto tempo, e Deus dará o descanso a Seus filhos! Como havia dito Rai Ernon, o general saldeu não conseguiu voltar à sua terra natal. Ele vagava pela cidade, sem quase ser notado pelo povo, e o lugar que mais visitava era o vailx de um certo comissário poseidano, destacado com outros para permanecer em Ganje, a capital de Suern. Um dia, tendo se tornado amigo desse último, o Saldeu pediu ao amigo que lhe proporcionasse o prazer de subir ao espaço, pois nunca tinha viajado de vailx e desejava fazê-lo. Na ocasião o comissário estava ocupado e prometeu satisfazer o pedido no dia seguinte.

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O sagrado Rio Ganges na Índia atual.

Cumprindo a promessa, após o almoço servido no convés do vailx, foi feita a ascensão. O general tinha bebido muito vinho e seus movimentos careciam de firmeza. Um dos passageiros era um Suerna, ex-conselheiro do Rai Ernon. O general foi tropegamente até a amurada do vailx para apreciar a paisagem. Perto dele estava o Suerna. Os dois não se gostavam e o Saldeu, também excitado pelo vinho, iniciou uma discussão. O Suerna, o mesmo, aliás, que tinha ficado tão espantado pela perda de seus poderes ocultos quando tentou me matar, deu um leve empurrão no general que caiu contra a amurada.

Sendo pesado, ele curvou-se por falta de equilíbrio e caiu, agarrando-se à grade com as duas mãos com inesperada agilidade. E ali ficou, pedindo socorro aterrorizado, sem poder voltar para o convés. O capitão poseidano não era um homem mau, mas um tanto estúpido por causa de uma pancada na cabeça e, embora se saísse bem como comissário, nunca tinha podido subir de posição. Antes do acidente ele tinha sido um homem de talento, inclusive conhecido como inventor de razoável fama. Esse talento de pouco lhe servia, porque muitos outros o tinham superado nesse campo.

Finalmente, tinha se tornado um lunático no campo das invenções, sempre tentando achar uma forma de utilizar força ou economizar força. Enquanto o capitão ficou ali parado com sua estúpida indecisão, o Suerna puxou-o para o lado, agarrando o aterrorizado Saldeu pelo braço. No momento seguinte o ex-conselheiro e o general Saldeu estavam balançando e girando, pendurados no ar a uma milha da terra. Então o poseidano viu-os cair; com a mente ocupada com sua mania predileta, exclamou. “Que desperdício de energia! Se ao menos pudessem cair em algum aparelho ajustado para levantar um peso!” Como o acidente aconteceu o comissário nunca soube, segundo suas declarações. Por falta de testemunhas e levando em conta sua óbvia imbecilidade, o tribunal o absolveu.

Quando eu soube do caso foi através do governador por mim nomeado, o qual me informou ter dispensado o capitão do comando do vailx e do cargo de comissário, substituindo-o por outro poseidano. O Saldeu era pai de Lolix e seria necessário dar a notícia a ela da maneira mais delicada possível. Como fiquei espantado quando ela me disse, após ouvir a triste notícia: “Pergunto, o que tem isso a ver comigo?” “Mas. . . teu pai. . . ” -comecei, mas ela me interrompeu: “Meu pai! Estou contente. Poderia eu, que amo a coragem, sentir algo além de desprazo diante da covardia em face da morte, que o levou a gritar aterrorizado como uma criança? Ora, nenhum covarde merece ser meu pai!”

Virei-me, completamente horrorizado, calado por não ter palavras que expressassem meus sentimentos. Percebendo isso, Lolix se aproximou e, pousando a pequena e branca mão em meu braço, fitou diretamente os meus olhos com suas gloriosas pupilas azuis. “Meu Senhor Zailm, pareces ofendido! É esse o caso? Terei dito algo que te causou desgosto?” “Pelos deuses!” – exclamei. Mas, lembrando uma avaliação anterior, de que a Saldu era apenas uma criança em certos aspectos, respondi: “Ofendido ou desgostoso? Não, Astiku (princesa).” Então ela enfiou a mão sob meu braço e caminhou ao meu lado.

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Vailx sobrevoam Caiphul em Atlântida

Essa pequena experiência foi o início de uma outra bem mais longa que, embora fosse extremamente doce por algum tempo, culminou em angústia lá mesmo em Atlântida e, como a fênix, ergueu-se das cinzas dos séculos faz poucos anos. Em verdade, “o mal que os homens fazem a eles sobrevive”. Por ser tão óbvio que sua falta de coração se devia ao subdesenvolvimento, não fiquei desgostoso com Lolix. Reprovei-a, mas ao invés de voltar-me contra ela em fúria, procurei induzir nela a percepção de que a enormidade de sua ofensa se devia à crueldade de seu coração.

Seguindo o costume de seu povo, Lolix me pediu em casamento. Naturalmente eu não pude aceitar, embora fosse muito agradável ter aquela linda jovem fazendo o máximo para me conquistar. Eu não pude, porque amava Anzimee. Nunca falei a Lolix desse amor por minha doce e feminina irmãzinha, por não querer causar possíveis problemas futuros. Fiz pior, contando-lhe uma inverdade, dizendo que a lei de Poseid proibia o
casamento entre pessoas de nacionalidades diferentes. “Não há exceções?” -perguntou ela. “Nenhuma. O castigo é a morte.” Essa foi outra mentira, pois em Poseid a pena de morte nunca era aplicada, estando proibida pela lei contida no livro de Maxin.

“Pois então não importa. És jovem e forte, tens coragem e és belo. Por tudo isso te amo. Se a lei proibe, para mim tanto faz. Ninguém precisa saber além de nós.” A última barreira tinha caído. A consciência estava adormecida. Os pensamentos sobre Anzimee foram postos de lado, como se ignora um anjo acusador. Pensei no Pitach Rhok e em meus dias de pureza? Ou no misterioso estranho que eu ouvira com reverente respeito no início de minha vida em Caiphul? Sim, pensei nessas coisas. Pensei em Incal e murmurei: 

“Incal, meu Deus, se estou a ponto de pecar diante de Ti, ao desprezar as leis da sociedade e do casamento, fulmina-me antes que eu peque.” Mas Incal não me fulminou naquele instante e sim mais tarde, muito mais tarde. Não, ele não me fulminou naquele momento. A minha consciência adormeceu mais profundamente e a paixão despertou e dominou a situação.

CAPITULO XX – DUPLICIDADE

Duplicidade. Formatura no Xioquithlon. Festividades em honra dos formandos. Tristeza do Imperador Gwauxln pelos erros do sobrinho:

O ano em que não pude estudar passou rapidamente e sem grandes mudanças, a não ser pelo fato de que se aprofundaram as complicações por causa de Lolix. Minha afeição por Menax tornou-se quase tão grande quanto o amor que ele tinha por mim, que era ilimitado. Mas não lhe falei daquilo que cada vez mais me oprimia com seu peso crescente, o caso secreto com Lolix. Tê-lo feito teria sido o certo, mas não ousei, pois isso me teria feito perder o que eu mais prezava. Pelo menos era assim que eu me sentia então.

Com o passar do tempo, passei a questionar minha posição. Amava eu aquela bela moça? Não como amava Anzimee. “Ó Incal, meu Deus, meu Deus!” – gemi com angústia na alma. A consciência continuava adormecida mas já se agitava, inquieta. O fato de Anzimee ser minha irmã adotiva não impedia que ela se tornasse minha mulher, pois a lei da consangüinidade não seria violada. Meus próprios atos eram a causa do impedimento. Meu plano de levar Lolix para morar num palácio num local distante do Menaxithlon foi executado com êxito, sem levantar suspeitas e sem causar ciúmes em Lolix. Duplicidade, duplicidade!

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Então passei a cortejar Anzimee sem o obstáculo da presença daquela que seria um fator de perigo se desconfiasse que a filha de Menax não era minha irmã de sangue. Mas meus dias começaram a ser perseguidos pelo medo, pois eu havia semeado dentes de dragão; o desfecho de assuntos que têm o mal por guia sempre é tristeza e amargura. Supondo que Lolix não se cansasse de mim – e eu não tinha vontade de fazer qualquer coisa que a levasse a isso – as leis da natureza tornariam provável a revelação de fatos letais para minhas esperanças; embora eu freqüentemente gritasse agoniadamente que era um desgraçado, a consciência continuava a dormir.

Mas meu caráter não era do tipo que se deixa intimidar pelo perigo. Se eu estava envolvido num jogo de inteligência, com o mal por oponente, usaria as melhores táticas que tivesse. Resolvi livrar-me de Lolix; uma decisão tardia, porque o fruto de nosso pecado tinha chegado e um lar secreto providenciado, pois eu nunca chegaria ao ponto de impedi-lo de viver. Esses planos foram levados a cabo com sucesso, como eu pensava, sem que pessoa alguma tomasse conhecimento. Mas como ficar livre daquela mulher realmente encantadora – Lolix?

Só faltava um ano para que eu fizesse o exame para obter o diploma no Xioquíthlon. Se eu fosse bem-sucedido, pretendia pedir a mão de Anzimee, que retribuía meu amor, eu bem o sabia, a fim de que fosse para mim tudo que o honroso título de esposa significava. À tarde, ou à noitinha, nada dava mais prazer a Anzimee do que passear a sós com Menax ou comigo pelos jardins do palácio, sob as grandes palmeiras e festões de lindas trepadeiras em flor que enfeitavam todas as aléias, formando frescos túneis verdes, ornados com matizes mais radiantes da Flora.

Pelos vãos existentes entre essas verdejantes paredes podíamos ver os lagos, colinas, escarpas e rios artificiais e, mais adiante, Caiphul com seus palácios; Caiphul enfeitada pelas heras e por suas  quinhentas colinas, grandes e pequenas. Caminhar nesses lugares ao lado dela era um prazer tão caro para mim que não é de estranhar que minha alma ficasse aliviada de grande parte de seu peso de pecado e aflição. Retardei por tanto tempo a resolução do caso de Lolix que passei a temer fazer alguma coisa além de deixar os acontecimentos se resolverem por si mesmos. Sim, perdi a confiança em minha capacidade de solucionar o perigoso problema, temendo tornar as coisas ainda piores.

E os dias se escoaram e a provação do exame logo chegaria. Não negligenciei Lolix; não pude e nem tinha esse desejo. Freqüentemente ia ter com ela. Na verdade, com uma estranha cegueira quanto ao mal que fazia, dividia meu tempo livre entre Lolix e Anzimee. Às vezes sentia medo de que Mai-nin, Gwauxln ou talvez ambos soubessem de meu segredo. Eles o conheciam, sim, pois sua visão oculta era poderosa demais para que não conhecessem os fatos. Entretanto, nenhum dos. dois deu qualquer sinal, nem mesmo Mainin, pois não importava para ele o mal que estivesse acontecendo, como veremos em breve.

Nem Gwauxln, não porque não se importasse, mas porque era misericordioso e sabia que o carma me reservava uma punição mais terrível do que a que qualquer homem pudesse me infligir e, em sua clemência, absteve-se de aumentar meu castigo. E assim o câncer continuou oculto ao olhar público e eu não sabia que o nobre soberano era um espectador entristecido do meu mal feito. Não me surpreendo ao lembrar a tristeza de suas feições nas ocasiões em que estivemos juntos no último ano de meus estudos.

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Anzimee havia adiado seu próprio exame no Xio até o ano em que eu devia me formar. Com isso, as festividades que sempre se seguiam ao exame, como marca de regozijo pelo êxito dos que tinham recebido diplomas, incluíam o nome dela em sua honrosa lista, principalmente porque tinha sido aprovada com mérito. Foi oferecido um jantar pelo Rai aos felizes candidatos; essa festividade deu início a uma prolongada temporada de jantares, bailes, festas, concertos e peças teatrais, todos pelo mesmo motivo. Anzimee, vestida de seda acinzentada, com os pesados cabelos presos por uma linda rosa, trazendo no ombro um broche de safiras e rubis, foi apresentada pelo Rai no banquete real aos novos Xioqi como a “Ystranavu” ou “Estrela Vespertina”. Tratava-se de uma distinção social semelhante à moderna “Rainha do Baile”.

Sabendo que Rai Gwauxln conduziria a sobrinha à mesa e seria o seu par, levei Lolix, como era de meu direito, pois tinha me formado e quem possuísse um diploma podia escolher uma companhia que podia ou não ser
formada pela Xioquithlon. Lolix, por minha causa, tinha estudado muito nos últimos três anos e estava no segundo ano do Xioquithlon, para onde tinha sido promovida pelas escolas inferiores. Eu estava começando a sentir orgulho dela; na verdade, eu seria muito desprezível se não reagisse dessa forma, depois do sacrifício que ela havia feito por mim. Várias vezes percebi Gwauxln olhando atentamente para mim e, uma das vezes, quando
passou perto de mim, ouvi-o murmurar tristemente: “Zailm, oh, Zailm.”

Gomo é fácil imaginar, essas palavras não aumentaram nada minha paz  de espírito. Apesar de tudo, a noite transcorreu, como tantas outras, sem maiores inquietações. Caminhando com Lolix pelo grande salão de Agacoe, notei os muitos olhares de admiração causados por sua beleza, lançados pelos muitos cavalheiros que encontramos, nobres de elevado nome. Ela tinha de fato se transformado numa mulher de feições e porte encantadores e, melhor que isto, de caráter, pois seu temperamento não se mostrava mais cruel e sim gentil, desde a experiência com sua maternidade secreta e conseqüente perda das alegrias próprias desse estado, pois era impossível revelar que a criança era dela.

Lolix tinha recebido propostas de casamento e recusado, mesmo sabendo que tais propostas eram uma prova de que eu mentira ao dizer que as leis de Poseid proibiam nosso casamento. Mas seu amor por mim, embora sofrido, era fiel e constante. Ela guardou bem o segredo, especialmente para me poupar, a mim que era tão indigno! Quando olhava para ela, sentia que a queria muito. Mas Anzimee me era ainda mais cara e assim a horrenda tragédia continuou.

Eu sabia que por amor a mim Lolix havia reprimido observações cruéis, depois tinha se interessado pelo alívio dos sofrimentos alheios espontaneamente, e assim passara de belo espinheiro a uma gloriosa rosa de feminino encanto, com bem poucos espinhos. Será que eu tinha uma consciência digna desse nome por não me apresentar aos olhos do mundo e tomar Lolix por esposa, vendo todo esse seu ilimitado amor por mim? Não, não em Poseid. A consciência não tinha adormecido – pois nunca havia existido. Ela, a consciência, ainda estava para nascer e crescer em mim num outro tempo. E assim, a nêmesis do julgamento continuou a manter seu golpe vingador em suspenso.

Continua no Capítulo XXI


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