Os sauditas se juntaram a outros países asiáticos para abandonar sua sensibilidade de longo prazo ao preço do ouro. Evidências sugerem que o banco central saudita tem comprado secretamente 160 toneladas de ouro na Suíça desde o início de 2022, contribuindo para o atual mercado de ouro em alta.
Fonte: Money Metals – Por Jan Nieuwenhuijs
Embora os sauditas tenham desempenhado um papel fundamental no nascimento do padrão do petrodólar global no início da década de 1970, desta vez eles podem até se tornar um elemento fundamental para a sua dissolução, o fim do petrodólar.
Introdução
Até recentemente, a demanda por ouro da Arábia Saudita declinava quando o preço do ouro subia e se fortalecia quando o preço caía. Isso amorteceu a volatilidade no mercado de ouro, que por muitas décadas foi governado pelo Ocidente.
Desde que o Ocidente imobilizou os cerca de 300 bilhões de ativos em dólares da Rússia em fevereiro de 2022, aqueles com desacordos diplomáticos com o Ocidente estão cada vez mais trocando seus dólares por ouro físico.
A Arábia Saudita é o último país — depois da China e da Tailândia — do qual encontrei estatísticas de comércio transfronteiriço mostrando que ele deixou de ser sensível ao preço para se tornar um impulsionador de preço.
Durante todo o rali do final de 2022 até o presente, os sauditas têm sido um importador líquido constante, o que impulsionou o preço do ouro. A cereja do bolo é que parte do fluxo para a Arábia Saudita, o ouro vindo da Suíça, na verdade vai para o banco central saudita, também conhecido como Autoridade Monetária da Arábia Saudita (SAMA).
Expondo a compra oculta de ouro do Banco Central Saudita
Formalmente, as estatísticas de comércio de ouro transfronteiriço de qualquer país se referem ao metal “não monetário”, ou seja, de propriedade privada. O ouro monetário — de propriedade de bancos centrais — está isento de ser divulgado em números de comércio. Como demonstrei em um artigo anterior, no entanto, o ouro não monetário que cruza a fronteira chinesa é frequentemente uma remessa com destino aos cofres do Banco Popular da China (PBoC), independentemente.
Entre os insiders da indústria, a SAMA é conhecida por ter acelerado as compras secretas de ouro desde 2022. Ao comparar as estimativas do World Gold Council (WGC) sobre as compras totais dos bancos centrais (com base em pesquisas de campo) com o que os bancos centrais relatam ter comprado ao Fundo Monetário Internacional (FMI), podemos concluir que as compras “não relatadas” dispararam a partir de 2022. Pessoas familiarizadas com o assunto, mas que preferem permanecer anônimas, me disseram que isso se deve em grande parte ao PBoC da China e, em menor grau, à SAMA. Essa é a pista número um.
Como os Exchange Traded Funds (ETFs) de ouro quase não existem na Arábia Saudita, podemos estimar as compras de SAMA comparando as importações líquidas com a demanda do consumidor local. Não por coincidência, as importações líquidas começaram a superar consistentemente a demanda do consumidor no segundo trimestre de 2022, logo após o início da guerra na Ucrânia. A SAMA estava (e está) com pressa para colocar as mãos em ouro físico.
Uma fonte me disse uma vez que os bancos centrais geralmente compram ouro na Suíça e em Londres e têm bancos de ouro embalando e enviando o ouro para onde os bancos centrais quiserem. Dessa forma, ele aparece nos dados de comércio internacional porque os bancos de ouro têm que lidar com a alfândega.
Suíça apontada como marco zero para compras secretas
Para descobrir se a SAMA compra barras de ouro nos Alpes Suíços, subtraí a demanda do consumidor saudita de suas importações líquidas e comparei o resultado (ouro importado, mas não vendido aos consumidores) com as exportações brutas da Suíça para a Arábia Saudita. O resultado mostra uma forte correspondência desde o Q2 de 2022, confirmando que a SAMA tem comprado ouro discretamente na Suíça.
A Arábia Saudita possui muito mais ouro do que gostaria que fosse conhecido
Os dados sugerem que a SAMA comprou aproximadamente 160 toneladas de ouro nos últimos anos (e provavelmente também estava comprando em 2015 na Suíça). Não sei quanto ela detém no total, em parte porque os dados do comércio de ouro saudita só começam em 2015. O que aconteceu antes disso está em jogo. Nem sei quanto ouro adicional a SAMA pode estar comprando em outro lugar.
Uma coisa é certa: a Arábia Saudita possui muito mais ouro do que quer que o mundo acredite.
A última vez que o banco central saudita atualizou suas reservas oficiais de ouro foi em fevereiro de 2008, quando informou que deveria manter 332 toneladas, o que foi 180 toneladas a mais do que em janeiro de 2008. Obviamente, a SAMA não comprou 180 toneladas em um mês.
Assim como as reservas de ouro relatadas pelo PBoC, o número divulgado pela SAMA é puramente político. Ao esconder quanto metal precioso a nação realmente possui, a Casa de Saud evita perturbar abertamente os Estados Unidos e a desvalorizar o dólar.
Mas a evolução dos países na Ásia armazenando cada vez mais seus superávits comerciais em ouro — um ativo de reserva neutro e à prova de sanções testado pelo tempo — é clara. Ao lado de 160 toneladas pela SAMA, calculo que o PBoC da China comprou 1.600 toneladas desde a guerra na Ucrânia.
Ambos os bancos centrais, o primeiro do país mais influente no mercado de petróleo e o último da segunda maior economia global, devem estar confiantes em qual direção o mercado de ouro está indo assim como o do dólar americano.
Como o exposto acima se relaciona com outras iniciativas concertadas de nações asiáticas para contornar o dólar americano, discutiremos no próximo artigo.
