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Os Reinos Perdidos (10): Tiahuanaco, a Baalbek do Novo Mundo

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Todas as lendas na Cordilheira dos Andes, independentemente de sua versão, apontam para o lago Titicaca como o lugar onde a vida humana se iniciou, onde o grande deus Viracocha criou o mundo e as criaturas. É o local onde a humanidade reapareceu depois do Dilúvio, onde os an­cestrais dos incas receberam um cetro de ouro para fundar a civilização andina. Se isso for ficção, é apoiada por um fato in­contestável: exatamente   às margens do Titicaca encontramos a primeira e maior cidade das Américas, Tiahuanaco.

Edição e imagens:  Thoth3126@protonmail.ch

Livro, OS REINOS PERDIDOS (The Lost Realms), da série de livros Crônicas da Terra, Capítulo 10 – A BAALBEK DO NOVO MUNDO  de Zecharia Sitchin

Capítulo 10 – A BAALBEK DO NOVO MUNDO

Sua magnitude, o tamanho de seus monólitos de pedra, as intrincadas gravações sobre os monumentos, suas estátuas, surpreendem to­dos os visitantes que estiveram em Tiahuanaco (como é chamado o local), desde que o primeiro cronista a descreveu para os eu­ropeus. Todos se perguntam quem construiu essa cidade, e de que forma, além de ficarem intrigados pela sua antiguidade.

Ain­da assim, o maior enigma é o próprio local: um local desolado, quase sem vida, situado a quase 4 quilômetros de altitude, elevado entre os picos andinos permanentemente cobertos de neve. Por que alguém se daria ao trabalho de levantar construções ciclópicas de pedra, que precisavam ser extraídas e trazidas de muitos quilômetros de distância, nesse deserto sem árvores, frio e varrido por ven­tos fortes?

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O Lago Titicaca e ao fundo picos das montanhas nevadas da Cordilheira dos Andes.

Esse pensamento abalou Ephraim George Squier quando ele chegou ao lago Titicaca, um século atrás. Ele escreve em Peru Illustrated (“Peru Ilustrado”): “As ilhas e promontórios do lago Titicaca são, em sua maior parte, desertas. As águas escondem uma va­riedade de peixes estranhos, que contribuem para sustentar uma população escassa, numa região onde a cevada só amadurece em condições muito favoráveis e o milho, de tamanho diminuto, tem o seu desenvolvimento mais precário; onde a batata, enco­lhida às menores proporções, é amarga; onde o único grão exis­tente é o quina e onde os únicos animais nativos que servem de comida são a Viscacha, a Lhama e a Vicunha”.

Ainda assim, “nesse mundo sem árvores, se a tradição for nossa guia, foi desenvolvido o germe da civilização incaica”, a partir de uma “civilização original, mais antiga, que esculpia suas memórias em pedras enormes, dei­xando-as na planície de Tiahuanaco, e de quem não sobrou nenhuma tradição, exceto a de que o trabalho ali executado fora obra de gigantes dos tempos antigos, que o teriam feito numa única noite”.

Um pensamento diferente, entretanto, atingiu Squier enquanto ele subia um promontório que dominava o lago e o antigo local. Talvez ele tivesse sido escolhido pelo seu isolamento, talvez pelas montanhas ao redor, ou por causa da vista entre os picos. De uma serra a sudoeste da planície onde o lago está situado, perto de onde as águas fluem para o rio Desaguadero, ele podia divisar não só o lago, com suas ilhas e penínsulas ao sul, mas também os picos nevados para o leste.

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Lago Titicaca e ao fundo a Cordilheira dos Andes.

Squier fez um esboço do local e escreveu: “Aqui, a grande cadeia de picos nevados dos Andes explode em toda a sua ma­jestade. Dominando o lago está o vulto maciço do Illampu, ou Sorata, a coroa do continente, a maior montanha nas Américas, rivalizando em altura aos monarcas do Himalaia, ou até igua­lando-os, cuja altitude, segundo estimativas, deve se situar entre 7.600 e 8.200 metros”. Mais ao sul, a cadeia de montanhas e picos “termina no grande Illimani, com 7.467 metros de altitude”.

Entre a cadeia ocidental, em cuja ponta Squier esteve, e as mon­tanhas gigantes para o leste, estende-se a depressão ocupada pelo lago Titicaca e suas margens meridionais. “Talvez em nenhum lugar do mundo, um panorama tão diversificado e grandioso possa ser con­templado de um único ponto de observação”. O grande altiplano central do Peru e da Bolívia, em sua parte mais larga, com os seus rios e lagos, planícies e montanhas, emoldurado pela cordilheira dos Andes, faz com que qualquer observador sinta-se olhando para um mapa.

Seriam essas características geográficas e topográficas a razão para a escolha do local — na borda de uma grande bacia plana, com dois picos que não se destacam apenas no solo, mas também no céu — assim como aconteceu com os dois picos do monte Ararat (5.180 e 3.960 metros) e as pirâmides de Gizé, que serviram para marcar o caminho para os anunnaki aterrissarem na Terra?

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Sem o saber, Squier levantou a analogia, pois intitulara o ca­pítulo descrevendo as ruínas antigas como “Tiahuanaco, a Baalbek do Novo Mundo”. Essa foi a única comparação na qual ele pôde pensar — comparação com um lugar que identificamos como o ponto de pouso dos nefilim, onde Gilgamesh colocou os pés, há cerca de 5 000 anos passados.

O grande explorador de Tiahuanaco, neste século, sem dúvida foi Arthur Posnansky, um engenheiro europeu que se mudou para a Bolívia e devotou sua vida a descobrir os mistérios dessas ruínas. Em 1910 ele se queixava de encontrar, a cada visita, menos peças, pois tanto os nativos locais, como os construtores de La Paz, e até mesmo o próprio governo, arrancavam sistematica­mente os blocos de pedra, não por seu valor artístico ou arqueo­lógico, mas para utilizar como material de construção, principal­mente nas estradas de ferro. Meio século antes, Squier fizera a mesma queixa.

Ele observara que a cidade mais próxima, Copa­cabana, fora construída, da igreja às casas dos habitantes, com pedras arrancadas das ruínas antigas, utilizadas como se fossem uma pedreira. Descobriu que até mesmo a catedral de La Paz fora erigida com pedras de Tiahuanaco. Ainda assim, o pouco que sobrou — principalmente por causa do tamanho — o im­pressionou a ponto de perceber que eram as ruínas de uma ci­vilização desaparecida muito antes do surgimento dos incas, uma civilização contemporânea à do Egito e às do Oriente Médio.

As ruínas indicam que as estruturas e os monumentos foram construídos por um povo dotado de uma arquitetura única, per­feita e harmoniosa — mas, “sem sinais de ter tido uma infância, um período gradual de desenvolvimento”. Não era de admirar, portanto, que os nativos dissessem aos espanhóis que essas es­truturas haviam sido feitas por gigantes, do dia para a noite.

Pedro de Cieza de León, que viajou pelo território do Peru e da Bolívia entre 1532 e 1550, em suas Crônicas, considera as ruínas de Tiahuanaco como “o local mais antigo de todos os que já descrevi”. Entre os edifícios que o impressionaram, estava uma “colina feita pelas mãos dos homens, numa grande fundação de pedra, cuja base media 275 por 122 metros e 36 metros de altura”.

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Além, ele viu “dois ídolos de pedra, na forma de figuras humanas, com as feições esculpidas com tamanha habilidade, que pareciam ter sido criadas pela mão de um mestre”. “São tão grandes que lembram pequenos gigantes e agora está claro que usavam um tipo de roupa diferente das usadas pelos nativos daquelas pa­ragens e parecem ter algum tipo de ornamento na cabeça.”

Nas cercanias, ele encontrou as ruínas de outro edifício, com uma parede “muito bem construída”. Tudo parecia erodido e antigo. Em outro lado do sítio arqueológico, deparou-se com pedras tão grandes, “que ficamos maravilhados de pensar nelas e refletir sobre a força humana que pode tê-las transportado até o local onde hoje repousam”, muitas delas “esculpidas de várias formas, algumas como um corpo humano, que poderiam ter sido ídolos”.

Perto do muro e dos blocos largos de pedra ele viu “muitos buracos e lugares ocos no chão”, que o intrigaram, e para oeste, “outras ruínas antigas, entre elas muitos portais, com seus um­brais, lintéis e soleiras feitos de um só bloco”. Ele imaginou, corretamente, que dos portais saíam rochas ainda maiores, sobre as quais eles estavam dispostos, com quase 10 metros de largura, 5 ou mais de comprimento e 2 de profundidade. Ele afirma, chocado: “todo o conjunto — o portal, os umbrais e o lintel — era feito de um único bloco de pedra”.

Acrescenta ainda: “o tra­balho é grandioso, suntuoso, quando se considera tudo”. E: “não consigo entender com que instrumentos ou ferramentas puderam fazer isso. E’ certo que para trabalhar essas grandes pedras e deixá-las como as encontramos, as ferramentas precisariam ser muito melhores do que as utilizadas atualmente pelos índios”.

De todos os artefatos encontrados pelos primeiros espanhóis, descritos com tanta sinceridade por Cieza de León, os portais colossais em monobloco ainda estão onde caíram. O local, a pouco menos de dois quilômetros a sudoeste do corpo principal das ruínas de Tiahuanaco, era considerado pelos índios Puma-Punku como uma área separada. Porém, hoje em dia, é considerado parte da metrópole maior que circundava Tiahuanaco, uma área medindo 1,5 x 3 quilômetros.

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As ruínas impressionaram cada viajante que colocou os olhos nelas durante os últimos dois séculos. Contudo, quem as des­creveu cientificamente foram dois pesquisadores alemães, A. Stübel e Max Uhle (Die Ruinenstaetíe von Tiahuanaco im Hochland dês Alten Peru – “As Ruínas de Tiahuanaco no Altiplano do Alto Peru”), em 1892. As fotografias e esboços que acompanharam seu trabalho mostraram que os gigantescos blocos caídos com­punham várias estruturas de grande complexidade, como, por exemplo, o edifício a leste do local.

O edifício, que caiu, era composto de quatro partes e possuía uma enorme plataforma, com ou sem as partes que formavam um corpo só, tanto na vertical, como em outros ângulos. As partes individuais, quebradas, pesavam cerca de 100 toneladas cada uma. São compostas de arenito vermelho. Posnansky (Tiahuanacu: The Cradle of American Man – “Tiahuanaco: O Berço do Homem Americano”) provou, de forma conclusiva, que a fonte desses blocos, pesando três ou quatro vezes mais quando formavam uma única peça, ficava na margem ocidental do lago Titicaca, a 15 quilômetros de distância.

Tais blocos de pedra, alguns medindo 4×3 metros, e mais de meio metro de largura, estão cobertos de depressões, sulcos, ângulos precisos e superfícies em vários níveis. Em certos pontos, os blocos possuem depressões que com certeza tinham a função de segurar grampos de metal, possivelmente, para pren­der cada secção vertical às que ficavam ao redor — um “truque” técnico que vimos em Ollantaytambu. A suposição de que tais grampos fossem feitos de ouro (o único metal conhecido dos incas), não se sustenta, pois o ouro não possui resistência.

Na verdade, esses grampos eram feitos de bronze. Esse fato é conhe­cido porque foram encontrados alguns deles. Esta descoberta teve enorme significado, pois o bronze é uma liga metálica difícil de produzir, exigindo a combinação de cobre, em certa proporção (cerca de 85-90%), com estanho. Mas, se o cobre pode ser en­contrado em seu estado natural, o estanho precisa ser extraído do minério através de processos metalúrgicos complexos.

Como teria sido obtido esse bronze? Isso pode ser parte do enigma, mas também, uma pista para a sua solução. Deixando de lado a explicação costumeira de que as estruturas colossais de Puma-Panku eram um “templo”, surgem as inevi­táveis perguntas. A que intrincado propósito prático serviriam? Por que despender tamanho esforço e utilizar tecnologias tão sofisticadas?

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Ruínas ciclópicas em Ollantaytambo

O arquiteto alemão Edmund Kiss (cuja visualização de como seriam essas construções inspiraram seus planos para os monu­mentais prédios nazistas) acreditava que os montes e as ruínas ao redor da secção de quatro partes eram elementos de um porto, partindo da pressuposição de que o lago se estenderia até ali, na Antiguidade. Essa hipótese deixa aberta, e até reforça, a ques­tão: o que estava acontecendo em Puma-Punku? O que importavam os habitantes e que produtos embarcavam naquela altitude tão erma?

Escavações em andamento em Puma-Punku descobriram uma série de espaços semi-subterrâneos, construídos com blocos per­feitamente trabalhados em pedra. Lembram os da praça rebai­xada em Chavin de Huantar, levantando a possibilidade de que fossem elementos — reservatórios, depósitos e compartimentos-comporta — de um sistema hídrico parecido.

Outras intrigantes descobertas no local podem oferecer mais respostas. Foram encontrados blocos de pedra, completos ou que­brados, componentes de blocos maiores, extraídos, cortados em ângulos, separados e escavados de uma forma assombrosa, com uma precisão que seria difícil reproduzir, usando apenas as fer­ramentas modernas conhecidas. A melhor forma de descrever esses milagres é mostrá-los.

Não existe explicação plausível para essas peças, a não ser sugerir — com base em nosso atual estágio de desenvolvimento tecnológico — que fossem matrizes e formas para a confecção de intrincadas peças de metal; partes de um equipamento complexo e sofisticado, que o homem, seja nos Andes, ou em qualquer outro lugar, não poderia ter, absolutamente, na época pré-incaica.

Vários arqueólogos e pesquisadores que visitaram Tiahuanaco a partir da década de 30 — como Wendell C. Bennett, Thor Heyerdahl, Carlos Ponce Sangines, entre os nomes mais conhe­cidos — apenas centraram suas discussões em torno das con­clusões de Arthur Posnansky, o primeiro a apresentar um estudo completo sobre a região. Sua vasta obra começou a ser publicada em 1914, quando apareceram os vários volumes de Una Metrópole Pré-historica en Ia America del Sur (“Uma Metrópole Pré-histórica na América do Sul”), seguida depois, em 1945, por Tiahuanaco: Cuna dei Hombre de Ias Americas (“Tiahuanaco: Origem do Homem das Americas”). Essa edição, comemorativa aos 12.000 anos de Tiahuanaco, foi honrada com um prefácio oficial do governo bo­liviano (o local terminava na margem boliviana do lago, depois da fronteira com o Peru).

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Ruínas de pedras megalíticas de Puma-Punku em Tiahuanaco

Por esse motivo, depois de tudo o que foi dito ou feito sobre Tiahuanaco, a conclusão mais surpreendente (e controvertida) foi a de Posnansky. Segundo o pesquisador, a cidade tinha sido fundada há milênios, constituindo sua primeira fase quando o nível do lago estava cerca de 30 metros mais alto, num período anterior à invasão da área por uma avalanche de água — talvez o famoso Dilúvio — e milhares de anos antes da Era Cristã.

Combinando as descobertas arqueológicas com estudos geológi­cos, da flora e da fauna, e com medidas de crânios encontrados em tumbas e representados em pedra, e utilizando toda a sua perícia técnica de engenheiro, Posnansky concluiu: existiram três fases distintas na história de Tiahuanaco; ela foi habitada por duas raças, pêlos mongolóides e, depois, pelos caucasianos do Oriente Médio e nunca pelo povo negróide.  

O lugar sofreu duas catástrofes, uma motivada por uma forte inundação (o dilúvio, quando a região e o lago estavam ao nível do mar) e, a outra, por algum desastre de natureza não identificado (elevação de toda a região em cerca de mais 3.800 metros de toda a Cordilheira dos Andes no evento cataclísmico durante o dilúvio).

Sem necessariamente concordar com essas conclusões de im­pacto, ou com a datação estabelecida por Posnansky, o fato é que todos os estudiosos que o sucederam nos 50 anos após suas descobertas arqueológicas e sua monumental obra têm aceito e utilizado seus dados e suas ideias. O mapa que realizou do local, com medidas, orientações, e localização dos edifícios principais tem sido usado como plano básico da cidade. Algumas das estruturas em ruínas que ele apontou como importantes, realmente produziram peças arqueológicas de interesse. A aten­ção principal concentrava-se, e ainda se concentra, sobre três ruí­nas básicas.

Uma delas, próxima à parte sul da área, forma uma colina conhecida como Akapana. Provavelmente, foi uma pirâmide com degraus e deve ter servido como fortaleza, conclusão a que se chega pela existência, no seu topo, de uma superfície oval escavada no centro, alinhada com cantarias, certamente para servir como reservatório de água. Presume-se que tenha sido construída para recolher água da chuva e assim garantir o fornecimento de água para os defensores, num eventual cerco à cidadela.

As len­das sobre o lugar, entretanto, falavam que ali havia ouro escon­dido. No século 18, um espanhol chamado Oyaldeburo chegou a receber uma concessão de mineração para o Akapana. Ele cor­tou o lado oriental da colina para retirar a água, procurou no fundo do reservatório, destruiu estruturas de belas cantarias, e cavou fundo na colina, encontrando apenas canais e tubulações.

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A destruição, apesar de tudo, revelou não ser o Akapana uma colina natural, mas sim uma estrutura complexa. Escavações atuais mal arranharam a superfície da colina. Elas deram segui­mento, no entanto, ao trabalho de Posnansky, que demonstrou ser o reservatório de arenito provido de engenhosas comportas para regular o fluxo de água pelos canais de cantarias, dotados de encaixes precisos.

O complexo interior do Akapana foi cons­truído de forma a permitir que a água passasse de um nível para outro, alternando secções verticais e horizontais, numa al­tura de 15 metros. Porém, como o percurso corria em ziguezague, essa distância tornava-se muito maior. Ao final, pouco abaixo do fundo do Akapana, a água, que fluía por um bico de pedra, caía num canal artificial (ou dique) com cerca de 30 metros de largura, circundando completamente o local. Seguia dali para ancoradouros ao norte e, de lá, para o lago.

Se o propósito fosse apenas o de drenar a água para prevenir inundações durante a época das chuvas, um simples canal inclinado (como o que foi encontrado em Tuia) teria dado maior vazão de saída. Ali, porém, temos canais em ângulo, construídos com pedras trabalhadas e encaixadas engenhosamente de forma a regular o fluxo de água de um nível para outro. Isso indica alguma técnica de proces­samento — o uso de água corrente para lavar minérios, talvez?

Chegou a ser aventada a possibilidade de algum processa­mento mineral no Akapana pela descoberta, na superfície e no solo removido do “reservatório”, de grandes quantidades de “pedriscos” verde-escuros, variando em tamanho de 2 a 5 centíme­tros. Posnansky declarou que eram cristalinos. Mas nem ele, nem outros (que seja do nosso conhecimento) realizaram testes para determinar a natureza e origem dessas pedrinhas.

A estrutura localizada mais ao centro da cidadela (“K”, no mapa de Posnansky) possuía tantos subterrâneos e semi-subterrâneos que Posnansky achou que poderia ser um local reservado às tumbas. Por todos os lados havia secções de blocos de pedra cortados para funcionar como condutores de água. Porém, esta­vam totalmente desordenados, fato que ele atribui não apenas aos caçadores de tesouros, mas também a exploradores anterio­res, como o conde Crequi de Montfort, que durante suas escavações no local, em 1903, praticamente destruiu tudo o que estava em seu caminho, carregando muitas peças.

O relatório sobre as descobertas e conclusões dessa equipe francesa foi apresentado num livro de George Courty e numa conferência no Congresso Internacional de Americanistas de 1908, pronunciada por Manuel Gonzales de La Rosa. A essência destas descobertas era de que havia “duas Tiahuanacos”, uma de ruínas visíveis, e outra sub­terrânea e invisível.

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O próprio Posnansky descreveu as tubulações, canais e uma comporta (como no topo do Akapana) que encontrou entre as desarrumadas porções subterrâneas da estrutura. Ele descobriu que essas tubulações levavam a vários níveis, conduzindo talvez ao Akapana, e estavam interligadas a outras estruturas subter­râneas na direção oeste (direção do lago). Ele descreveu em palavras e desenhos algumas das estruturas subterrâneas e semi-subterrâneas que encontrou, sem esconder seu assombro pela precisão do trabalho, pelo fato de que as can­tarias eram feitas de andesita, uma rocha dura, e pela sua im­permeabilidade à água.

Ao longo das juntas, especialmente nas gran­des rochas do teto, havia sido espalhada uma camada de cal puro, com cerca de cinco centímetros de espessura, que produzia um efeito estanque. Ele afirma: “Esta foi a primeira e única vez que encontramos o uso do cal em construção pré-histórica na América”. O que se passava naquelas câmaras subterrâneas e porque foram construídas daquela forma tão específica, ele não conse­guiu descobrir. Talvez contivessem tesouros. Sendo assim, há muito teriam desaparecido nas mãos dos caçadores de riquezas.

De fato, ele percebeu que algumas dessas câmaras tinham sido despidas e saqueadas por mestiços iconoclastas da moderna Tiahuanaco. Partes das ruínas que escavou — pedaços de todos os tamanhos e diâmetros — podiam ser vistas na igreja próxima, ou nas pontes e dormentes da moderna estrada de ferro e até mesmo em La Paz. As indicações apontaram para a existência de grandes instalações hídricas em Tiahuanaco. Posnansky de­votou a elas um capítulo inteiro de seu último trabalho, intitulado Rydraulic Works in Tiahuanacu (“Trabalhos Hidráulicos em Tia­huanaco”). Escavações recentes descobriram mais tubulações e canais hídricos, confirmando suas conclusões.

O segundo edifício impressionante de Tiahuanaco não preci­sou de muitas escavações, porque se elevava em sua majestade para que todos o vissem — um colossal portal de pedra, que se ergue sobre a uniformidade do cenário como o Arco do Triunfo em Paris, mas sem desfiles embaixo e sem ninguém para assistir e aplaudir.

Conhecido como a Porta do Sol, foi descrito por Posnansky como “o mais perfeito e importante trabalho […]”, como “um le­gado e um testemunho elegante desse povo culto e da sabedoria e civilização de seus líderes”. Todos os que o viram concordam. Ele é impressionante não apenas por ter sido cortado e esculpido em um único bloco de pedra (medindo “apenas” 3×6 metros e pesando cerca de 100 toneladas), mas também pelos relevos in­trincados e surpreendentes em sua superfície.

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O Portal do Sol em Tiahuanaco

Existem nichos, aberturas e relevos esculpidos geometricamente sobre a parte mais baixa do portal e na parte de trás, mas o que impressiona são as esculturas na parte superior frontal. Elas representam uma figura central, quase em três dimensões, embora se trate de um relevo, flanqueada por três fileiras de figuras aladas; imagens representando apenas o rosto da figura central, emolduradas por uma linha em meandros completam a composição.

Há consenso geral de que a figura central e dominante é a de Viracocha, segurando um cetro, arma, ou um raio na mão direita, e um forcado na outra mão. Essa imagem aparece em muitos vasos, panos e peças encontrados do sul do Peru e nas terras circundantes, indicando o raio de influência que os estudiosos julgam ter tido a cultura de Tiahuanaco. Ao lado desse deus se alinham atendentes com asas, dispostos em três fileiras horizontais, oito em cada lado da representação central. Posnansky ob­servou que apenas os primeiros cinco de cada lado são esculpidos no mesmo relevo pronunciado que a divindade; os outros, si­tuados nos extremos, são menos profundos, indicando que foram esculpidos posteriormente.

Ele desenhou a figura central, os meandros abaixo dela e os quinze espaços originais em cada lado, concluindo que aquele era o calendário do ano de doze meses, começando no equinócio de primavera (setembro no hemisfério sul). A figura central, mostrando sua divindade de corpo inteiro, segundo Pos­nansky, representava o mês e o equinócio da primavera. Como o “equinócio” representa a época do ano em que o dia e a noite são iguais, ele concluiu que o segmento sob a figura central, que se situava no centro da linha em meandros, representava o outro mês de equinócio, ou seja, março.

Ele, então, designou os meses em sucessão aos outros segmentos no interior dos meandros, observando que os dois segmentos da ponta seriam os meses extremos, quando o Sol se afasta, nos solstícios de junho e de­zembro, época em que os sacerdotes soavam as trompas para chamá-lo de volta. A Porta do Sol, em outras palavras, era um calendário de pedra.

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Em detalhe, os entalhes no Portal do Sol

Para Posnansky, tratava-se de um calendário solar, porque não só estava aparelhado para marcar o equinócio da primavera, como também marcava os outros equinócios e solstícios. Era um calendário de 11 meses de 30 dias cada um (o número de atendentes alados sobre o meandro), mais um mês “grande” de 35 dias, o Mês de Viracocha, completando o ano solar de 365 dias. Ele deveria ter mencionado que um ano solar de doze meses, começando no equinócio de primavera, caracterizava o início do calendário do Oriente Médio, em Nippur, na Suméria, por volta de 3.800 a.C.

A imagem da divindade, assim como aquelas dos atendentes alados e o resto dos meses, é representada com traços que possuem um significado próprio, quase sempre apresentando formas geométricas. Também aparecem em outros monumentos e es­culturas de pedra, assim como em objetos de cerâmica.

Posnansky os classificou pictograficamente segundo o objeto representado (animal, peixe, olho, asa, estrela etc), ou a ideia (Terra, Céu, movimento e assim por diante). Ele determinou que os círculos e ovais, dispostos numa variedade de formas e cores, represen­tavam o Sol, a Lua, os planetas, os cometas, e outros corpos celestes ; que a ligação entre o Céu e a Terra aparecia freqüentemente, e que os símbolos dominantes eram os da cruz e da escadaria.

Na escadaria, ele viu a “marca” de Tiahuanaco, seus monumentos e sua civilização mais recente. Na sua opinião, ali se encontrava a origem, de onde o símbolo se espalhara pelas Américas. Sabia que esse glifo era baseado nos zigurates da Mesopotâmia, mas obser­vou que não reparara antes em indícios da presença de sumé­rios em Tiahuanaco. Tudo isso reforçou a idéia de que a Porta do Sol fazia parte de uma estrutura mais complexa em Tiahuanaco, cujo propósito e função era servir de observatório, gerando a sua mais impor­tante, e também mais controvertida, conclusão.

Dados oficiais da Comissão para a Destruição e Expiação da Idolatria, criada pelos espanhóis exclusivamente para esse fim (em­bora alguns suspeitem que se tratava de um disfarce para procurar riquezas), atestam que os homens dessa comissão chegaram a Tiahuanaco em 1625. Um relatório de 1621 do padre Joseph de Arriaga listava cerca de 5.000 “objetos de idolatria”, destruídos pela força, fundidos ou queimados. O que fizeram em Tiahuanaco não é conhecido. A Porta do Sol, como mostram as primeiras fotografias, foi encontrada no século 19, quebrada no topo, com a parte da direita apoiando-se perigosamente na outra metade.

Quando e por quem foi endireitada e colocada de volta perma­nece um mistério. De que modo foi quebrada, também é um dado desconhecido. Posnansky não acha que tenha sido trabalho da Comissão. Acredita que o portal escapou da ira dos espanhóis porque havia caído, ou estava escondido da vista, quando os fanáticos da Comissão chegaram. Como aparentemente foi colocado outra vez em pé, alguns se perguntam se foi recolocado em seu local original.

O motivo para a suspeita recai sobre o fato de que o portal não era um edifício solitário na superfície plana, e sim parte de uma grande estrutura para o leste. A forma e tamanho dessa estrutura, chamada o Kalasasaya, era delineada por uma série de pilares ver­ticais de pedra (que corresponde ao significado do nome “Os Pilares Em Pé”), formando uma área retangular de cerca de 137 x 122 metros. Como o eixo da estrutura parece ser leste-oeste, alguns imaginam se o portal não teria ficado no centro, ao invés de na extremidade nordeste da parede oeste (onde está agora).

Enquanto antes apenas o peso da estrutura seria um obstáculo para a sua remoção por quase 70 metros, como se imaginou, agora, com a descoberta de outras evidências arqueológicas, acre­dita-se que se ergue no local original, uma vez que o centro da parede oeste está ocupado por um terraço, cujo próprio centro está alinhado segundo o eixo leste-oeste do Kalasasaya. Posnans­ky descobriu ao longo desse eixo várias pedras esculpidas de forma a permitir a observação dos astros. Por isso, suas conclu­sões de que o Kalasasaya era um engenhoso observatório de astronomia são hoje aceitas como um fato.

As ruínas mais atrativas do Kalasasaya têm sido os pilares que formam um recinto levemente retangular. Mas nem todos eles foram suportes da parede; alguns parecem estar associados com o número de dias do ano solar e do mês lunar. Posnansky deteve-se no estudo de onze deles, erigidos ao longo do terraço que se projeta do centro da parede oeste. As medidas das linhas de mira, em pedras especialmente orientadas, a orien­tação da estrutura, os leves e propositais desvios dos pontos cardeais, o convenceram de que o Kalasasaya foi construído por um povo que possuía um conhecimento ultramoderno de astro­nomia, capaz de fixar, com precisão, equinócios e solstícios.

TIAHUANACO - KALASASAYA
O Kalasasaya, e a marcação da passagem do tempo nos pilares de pedra, dos equinócios e solstícios.

Os desenhos arquitetônicos de Edmund Kiss (Das Sonnentor von Tiahuanaku), baseados no trabalho de Posnansky, assim como nas suas próprias medidas e avaliações, mostram (provavelmente com acerto) a estrutura interior como uma pirâmide com degraus, mas oca: uma estrutura cujas paredes exteriores elevam-se em estágios, mas apenas para cercar um pátio central aberto. A es­cadaria principal localizava-se no centro da parede oriental e os principais pontos de observação situavam-se no centro dos dois terraços largos que completavam a “pirâmide” do lado oeste.

Foi nesse ponto que Posnansky fez sua descoberta mais estarrecedora, com consequência explosivas. Ao medir os ângulos e as distâncias entre os dois pontos de solstício, ele percebeu que a obliqüidade da Terra em relação ao Sol, na qual eram baseados os aspectos astronômicos do Kalasasaya, não combi­nava com a inclinação do eixo do planeta dos 23° e 30 segundos de nossa era.

A inclinação da eclíptica, como termo científico atual, para a orientação da mira astronômica do Kalasasaya, seria 23 graus, 8 minutos e 48 segundos. Baseado nas fórmulas determinadas pelos astrônomos da Conferência Internacional de Efemérides, realizada em 1911, em Paris, que levam em conta a posição geográfica e a elevação do local, isso significa que o Kalasasaya foi construído por volta de 15.000 a.C.

Anunciando que Tiahuanaco era a cidade mais antiga do mun­do, construída “antes do Dilúvio”, Posnansky inevitavelmente despertou a ira da comunidade científica de seu tempo (os eruditos, como sempre). Até então, segundo as teorias de Max Uhle, a data de fundação de Tiahua­naco era calculada em torno do início da era cristã.

A inclinação da eclíptica não deve ser confundida (como fi­zeram alguns críticos de Posnansky) com o fenômeno da Pre­cessão. O último altera a esfera celestial no fundo (constelações de estrelas) contra o qual o Sol se levanta ou age em determinado momento, tal como o equinócio da primavera. A mudança, em­bora pequena, chega a 1 grau em 72 anos e até 30 graus (uma casa inteira do Zodíaco) em 2.160 anos. As mudanças de incli­nação resultam do quase imperceptível balanço da Terra, como se fosse um navio erguendo e abaixando em relação ao horizonte. A mudança do ângulo no qual a Terra está inclinada contra o Sol pode variar 1 grau em cerca de 7.000 anos.

Intrigados pelas descobertas de Posnansky, os membros da Comissão de Astronomia Alemã decidiram enviar uma expedição ao Peru e à Bolívia. Dela faziam parte Hans Ludendorff, diretor do Observatório Astronômico e Astrofísico de Potsdam, Arnold Kohlschütter, diretor do Observatório Astronômico de Bonn e astrônomo honorário do Vaticano e Rolf Müller, astrônomo do Observatório de Potsdam. Todos fizeram estudos e observações em Tiahuanaco entre novembro de 1926 e junho de 1928.

As investigações, medidas e constatações visuais confirmaram, em primeiro lugar, que o Kalasasaya era de fato um observatório de astronomia. Os cientistas alemães descobriram, por exemplo, que o terraço oeste com onze pilares, devido à largura, à distância e às posições dos pilares, permitia medidas precisas dos movi­mentos sazonais do Sol, levando em conta um número levemente diferente do número de dias do solstício para o equinócio, e vice-versa.

Esses estudos confirmaram que em seu ponto mais contro­vertido Posnansky estava essencialmente correto: a inclinação do Kalasasaya diferia bastante do ângulo de inclinação de nosso tempo ATUAL. Baseados em dados que lançam nova luz sobre o pro­blema, com observações da China e da Grécia antigas, os astrônomos sabem que sua curva de movimentos oscilatórios está correta apenas para alguns milênios atrás. A equipe de astrônomos alemães concluiu, portanto, que os resultados poderiam in­dicar uma data para Tiahuanaco de 15000 a.C, mas também em 9.300 a.C. (a mais correta, em época POSTERIOR ao dilúvio), dependendo da curva utilizada.

Desnecessário dizer que mesmo a data mais recente não foi aceita pela comunidade científica. Provocando críticas, Rolf Müller conduziu novos estudos no Peru e na Bolívia, juntando-se a Posnansky em Tiahuanaco. Descobriram que os resultados po­deriam sofrer alterações, quando determinadas variáveis eram consideradas. Em primeiro lugar, se a observação do solstício não se realizasse do ponto escolhido por Posnansky, mas de outro lugar, o ângulo entre as extremidades do solstício (e portanto a inclinação) era levemente diferente; da mesma forma, não havia maneira de saber, com certeza, se o momento do solstício era determinado quando o Sol passava pela linha do horizonte ao meio-dia ou ao poente.

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Com essas variáveis, Müller publicou um relatório definitivo no importante jornal científico Baesseler Ârchiv (vol. 14), no qual expõe todas as alternativas e conclui que se o ângulo de 24 graus e 6 minutos for aceito como o mais preciso, a curva de inclinação repetiria essa leitura em 10.000 ou 4.000 a.C.

Posnansky foi convidado a manifestar-se sobre o assunto no 23º. Congresso Internacional de Americanistas. Aceitou, então, como correto, o ângulo de inclinação de 24 graus, 6 minutos e 528 segundos, o que deixava uma alternativa entre 10.150 e 4.050 a.C. Considerando o assunto como “delicado”, deixou a matéria pendente, concordando que seriam necessários estudos mais aprofundados.

Tais estudos de fato foram feitos, embora não diretamente em Tiahuanaco. Já mencionamos que o calendário dos incas indicava um Início na Era de Touro, e não de Aries (o carneiro). O próprio Müller, como já vimos, chegou à data de 4.000 a.C. como idade aproximada das ruínas megalíticas em Cuzco e Machu Pichu. Também nos referimos às pesquisas, seguindo linhas diferentes de investigação, de Maria Schulten de D’Ebneth, que concluiu ter a Grade de Viracocha uma inclinação de 24 graus e 8 minutos, o que indicaria a época de 3.172 a.C. (segundo os próprios cál­culos).

A medida que objetos, textos, e múmias com a imagem de Viracocha foram sendo descobertos por todo o sul do Peru e em outros locais, mais ao norte e ao sul, tornou-se possível fazer comparações com outros dados, não provenientes de Tiahuanaco. Baseado nisso, mesmo arqueólogos persistentes, como Wendell C. Bennett continuaram recuando a idade de Tiahuanaco, da me­tade do primeiro milénio d.C. até quase o início do primeiro milénio a.C.

Datações por radiocarbono, entretanto, levam as datas aceitas cada vez mais para trás. No início dos anos 60, o CIAT (Centro Boliviano de ïnvestigaciones Arqueológicas en Tiwanaku) con­duziu escavações sistemáticas e realizou trabalhos de preservação no local. Seu maior feito foi a escavação e restauração de um “pequeno templo” enterrado, a leste do Kalasasaya, onde um bom número de estátuas e cabeças de pedra foram encontrados. Descobriram um pátio semi-subterrâneo, talvez um local para oferendas rituais, cercado por uma parede de pedra com cabeças esculpidas na pedra — como em Chavin de Huantar.

O relatório oficial de Carlos Ponce Sangines, diretor do Instituto Arqueoló­gico Nacional da Bolívia (Description Sumaria dei Templete Semi-subterrâneo de Tiwanaku – “Sumário Descritivo do Pequeno Templo Semi-Subterrâneo de Tiahuanaco”), de 1981, afirma que as amostras de matéria orgânica encontradas nesse local, submetidas à datação por radiocarbono, acusaram o ano de 1580 a.C. Baseado nisso, Ponce Sangines, em seu estudo Panorama de Ia Arqueologia Boliviana (“Panorama da Arqueologia Boliviana”), considera essa época como o início de Tiahuanaco.

Tais datações por radiocarbono indicam a idade dos restos orgânicos encontrados no local, porém não excluem uma idade mais antiga para as estruturas de pedra. Na verdade, o próprio Ponce Sangines revela, num estudo subsequente (Tiwanaku: Space, Time and Culture – “Tiahuanaco: Espaço, Tempo e Cultura”), que uma nova técnica de datação, chamada Hidratação da Obsidiana, fornecera uma data anterior de 2.134 a.C. para os objetos de obsidiana encontrados no Kalasasaya.

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Este portal megalítico é tudo o que resta das paredes de um edifício em um pequeno monte perto do Kalasasaya. Grande parte da alvenaria de fácil acesso na ruína foi usado para construir a igreja católica na vila. A ponte da estrada de ferro nas proximidades também tem Tiahuanaco pedra.

Em relação a esse assunto é interessante ler nos trabalhos de Juan de Betanzos (Suma y Narracion de los incas – “Sumário e Histórias dos incas”) de 1551, que quando Tiahuanaco foi fun­dada sob as ordens de Con-Tici Viracocha, “ele tinha vindo com um certo número de pessoas”!…] Mas, depois, quando saiu do lago, foi para um lugar próximo de lá, onde hoje existe uma vila chamada Tiáguanaco. Dizem que uma vez, quando o povo de Con-Tici Viracocha já estava estabelecido, houve escuridão na Terra”. Mas Viracocha “ordenou que o Sol se movesse no curso que hoje percorre; abruptamente, ele fez o Sol começar o dia”.

A escuridão resultante da parada do Sol e o “começo do dia” quando o movimento continuou, sem dúvida, refere-se ao mes­mo evento que já localizamos, em ambos os lados da Terra, que teria ocorrido por volta de 1.400 a.C. Deuses e homens, segundo o registro de Betanzo sobre as lendas locais, já estavam em Tiahuanaco desde tempos antigos — tão antigos quanto indicam os dados arqueoastronômicos?

Mas por que Tiahuanaco foi fundada, nesse local, e nessa época antiga?

Em anos recentes, os arqueólogos encontraram semelhanças arquitetônicas entre Tiahuanaco, na Bolívia, e Teotihuacán, no México. José de Mesa e Teresa Gisbert (Akapana, Ia Pirâmide de Tiwanaku – “Akapana, a Pirâmide de Tiahuanaco”) observaram que o Akapana possuía um plano, ao nível do chão (quadrado com acessos proeminentes) como a Pirâmide da Lua, em Teotihuacán, e com praticamente a mesma medida da base e a mesma altura (cerca de 15 metros), a partir do primeiro degrau, que a Pirâmide do Sol e sua relação altura-largura.

Os extraterrestres Annunakis e sua conexão com os Incas, na América do Sul, após o Dilúvio:

Em vista de nossas próprias conclusões sobre o propósito original (e prático) de Teotihuacán e seus edifícios, expresso pelas construções hídricas no seu interior e ao longo das duas pirâmides, os canais de água no interior do Akapana, e através de Tiahuanaco, assumem um papel central. Tiahuanaco teria sido fundada naquele local como instalação de processamento? Se isso for verdade, o que proces­saria?

Dick Ibarra Grasso (The Ruins of Tiahuanaco – “As ruínas de Tiahuanaco” e outros trabalhos) contribuiu com a visão de uma Tiahuanaco maior, abrangendo toda a parte de Puma-Punku, es­tendendo-se por quilómetros ao longo de um eixo leste-oeste, não muito diferente do “Caminho dos Mortos”, em Teotihuacán, com várias vias norte-sul. A margem do lago, onde Kiss imagi­nara um porto, encontraram evidências arqueológicas de grandes paredes de retenção, que construídas em meandros criavam ma-rinas fundas onde barcos carregados pudessem aportar. Se isso aconteceu, que produtos Tiahuanaco importaria e quais expor­taria?

Ibarra Grasso fala sobre a descoberta das “pequenas pedras verdes” que Posnansky encontrou no Akapana e em outros lu­gares de Tiahuanaco, vistas nas ruínas de uma pequena pirâmide parecida com o Akapana mais para o sul, onde os rochedos que serviam para retenção também haviam se tornado esverdeados; na área das estruturas subterrâneas a oeste do Kalasasaya; e entre as ruínas de Puma-Punku, em grandes quantidades.

Significativamente, os rochedos nas paredes de retenção do ancoradouro de Puma-Punku também estavam verdes. Aquilo só podia significar uma coisa: exposição ao cobre, pois é o cobre oxidado que confere à pedra e ao solo a coloração verde (assim como a presença de ferro oxidado produz um tom marrom-avermelhado). Seria esse cobre processado em Tiahuanaco? Provavelmente. Contudo, isso poderia ser feito em algum lugar de mais fácil acesso e mais perto das minas de cobre. Parece que o cobre era trazido para Tiahuanaco e não extraído de lá.

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Templo de Kalasasaya, conforme desenho de Kiss.

O próprio significado do nome da sua localização pode dar uma pista: Tüicaca. O nome do lago vem de uma das duas ilhas ao largo da península de Copacabana. Foi ali, na ilha chamada Titicaca, contam as lendas, que os raios do Sol atingiram Tüikalla, a rocha sagrada, assim que o astro apareceu depois do dilúvio. (E por isso também conhecida como Ilha do Sol.) Foi ali, ao pé da rocha sagrada, que Viracocha entregou o cetro dourado a Manco Capac.

E o que significam todos esses nomes? Titi na linguagem aimara era o nome de um metal — chumbo ou estanho, segundo os linguistas. Tüïkalla, sugerimos, significa a “Rocha do Estanho”. Titicaca significava “Pedra de Estanho”. E o lago Titicaca era o lago que produzia estanho.

Estanho e bronze, portanto, eram os produtos pelos quais Tia­huanaco fora fundada — exatamente no local onde ainda se en­contram as ruínas que nos encantam. 


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