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Os Templários – História – (10)

OS TEMPLÁRIOS, ESSES GRANDES GUERREIROS DE MANTOS BRANCOS COM CRUZES VERMELHAS 

Os seus costumes, os seus ritos, os seus segredos: Digam o que disserem determinados historiadores encastelados em sua erudição acadêmica, a criação da Ordem dos Cavaleiros Templários continua envolta em inúmeros mistérios; e o mesmo acontece com a realidade profunda da sua missão, não a que se tornou pública, mas a missão oculta. Inúmeros locais ocupados e ou de propriedade dos cavaleiros  Templários apresentam particularidades estranhas. 

Atribuíram-se aos monges-soldados crenças heréticas, cultos curiosos e às suas construções, principalmente a Catedral de Chartres, significados e até poderes fantásticos. A seu respeito, fala-se de gigantescos tesouros escondidos (sendo o maior deles o CONHECIMENTO), de segredos ciosamente preservados e de muitas outras coisas. 

Edição e imagens:  Thoth3126@protonmail.ch

OS TEMPLÁRIOS, ESSES GRANDES SENHORES DE MANTOS BRANCOS – OS SEUS  COSTUMES, OS SEUS RITOS, OS SEUS SEGREDOS.

Mais informações sobre os Templários: https://thoth3126.com.br/category/templarios/

DOS ASSASSINOS ÀS RAÇAS MALDITAS I  – OS TEMPLÁRIOS E O ISLÃ

Os Templários na encruzilhada de dois mundos

Os Templários foram acusados amiúde de se terem convertido ao Islã. Vimos que o termo baphomet poderia ser aproximado do nome do profeta Mahomet. E, todavia, a Ordem foi indubitavelmente virgem de qualquer traição a esse respeito. Não deixa contudo de ser verdade que a atitude dos Templários em relação aos seus inimigos – aqueles que consideravam infiéis os cristãos, aqueles muçulmanos que tinham por missão combater – nem sempre foi compreendida. Eram censurados por confraternizarem com o adversário. Ao entrarem em Jerusalém, os cruzados tinham feito um imenso massacre de infiéis. Os Templários nunca utilizaram tais métodos.

Entrar num país pela força é uma coisa, manter-se nele é outra e não se pode esperar um resultado feliz numa ocupação que se faz desprezando as populações locais ao massacrá-las. Desde o início, a Ordem compreendera-o bem. É preciso dizer que, ao contrário de um bom número de cruzados que vinham para uma campanha militar e, em seguida, partiam com bastante rapidez, eles ficavam no local. Ademais, tinham um grande interesse pela civilização que encontraram no Oriente. Tentaram compreendê-la, assimilar a sua essência.

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Não foram os únicos, pois todos os ocidentais que ficaram tempo suficiente no local sofreram, em maior ou menor escala, a influência do Oriente. O clima obrigou-os a modos de vida diferentes. Cunhavam-se moedas bilíngues com uma face em árabe, a fim de facilitar as trocas. Por exemplo, em São João de Acre, os venezianos cunharam um besante de ouro que ostentava, nomeadamente, o nome de Maomé e o ano muçulmano. Algo que provocou um belo escândalo no Ocidente. Inúmeros cruzados estudaram o árabe e o armênio. Foi, nomeadamente, o caso da maior parte dos Grão-Mestres da Ordem do Templo que contrataram também secretários muçulmanos.

De igual modo, no plano jurídico, os usos do direito muçulmano substituíram o juízo de Deus, ainda muito praticado no Ocidente. O juramento era prestado sobre diferentes livros sagrados próprios dos latinos, gregos, maronitas, nestorianos ou jacobitas e sobre os textos sagrados muçulmanos ou judeus. Muitos cruzados sucumbiram aos encantos do Oriente ao ponto de casarem com muçulmanas. Os seus filhos, cada vez mais numerosos, acabaram mesmo por constituir uma verdadeira comunidade cujos membros eram designados pelo nome de frangos. Os Templários não manifestaram qualquer animosidade a priori contra os homens do Islã, mesmo quando os combateram. Aliás, tiveram, nas suas próprias tropas, auxiliares muçulmanos em grande número a que deram o nome de Turcopolos.

Não há dúvida de que também apreciaram os conhecimentos científicos dos árabes. A astronomia babilônica estava muito avançada em relação às outras. A universidade do Cairo ultrapassava de longe as do Ocidente. As maiores e mais ricas bibliotecas eram islâmicas. A civilização implantada no Sul de Espanha pelas dinastias muçulmanas transformava em ignorantes os barões francos do norte. Foi em contato com os sábios, intelectuais, juristas e médicos do Islã que veio a formar-se a nata intelectual do Ocidente. Era aí que iam aperfeiçoar-se em matemáticas, física, astronomia, agronomia, filosofia. O inventor da álgebra era árabe (Khwarezmi), tal como Al Tusi, que inventou a trigonometria. Sábios como Rhazès ou Avicena eram conhecidos em toda a Europa. Isso não podia deixar de incentivar o respeito e a admiração dos cruzados mais conscientes e, nomeadamente, dos cavaleiros Templários que contatavam com essa civilização, tanto na Espanha bem como no Oriente, quando, no Ocidente, todos os clérigos não sabiam sequer escrever.

É verdade que o respeito manifestado pelos Templários em relação aos seus inimigos nem sempre era compreendido pelos cavaleiros mal elucidados e recém chegados da Europa. Um dia, o emir Ousama e o capitão turco Ounour vieram visitar Foulques d’Anjou, a Jerusalém. Ousama manifestou desejo de se recolher. Depois, contou o que se passara: Entrei na mesquita El-Aqsa, que estava ocupada pelos Templários, meus amigos. Ao lado, encontrava-se uma pequena mesquita que os Francos haviam convertido em igreja. Os Templários cederam-me essa pequena mesquita para fazer as minhas orações. Um dia, entrei lá, glorifiquei a Alá. Estava imerso na minha oração, quando um dos francos saltou sobre mim, me agarrou e virou o meu rosto para o Oriente, dizendo: «Eis como se reza!» Um grupo de Templários precipitou-se sobre ele, agarrou-o e expulsou-o. […] Pediram-me desculpa, dizendo: «É um estrangeiro que chegou há poucos dias do país dos Francos. Nunca viu ninguém a rezar sem estar virado para o Oriente.» Respondi: «Já rezei o suficiente, por hoje.» Saí, muito espantado por ver até que ponto aquele Satanás tinha o rosto descomposto, como tremia e que impressão sentira ao ver alguém a rezar virado na direção do Kibah.

Compreensão, tolerância, respeito mútuo faziam parte da filosofia dos Templários, mas daí a ver uma conversão, vai apenas um passo que muitos deram demasiado depressa. Tanto mais que isso não impediu os monges-soldados de estarem presentes em todos os combates, comportando-se com valentia e pagando um pesado tributo às guerras do Oriente. Quantos barões francos deveram o não terem sido vencidos à intervenção providencial dos Templários que fizeram mudar o rumo da batalha. Quantas vezes os cruzados tiveram de torcer a orelha por não os terem escutado.

A política realista dos Templários e a presunção de São Luís

De qualquer modo, os cavaleiros da Ordem do Templo, mesmo quando estavam persuadidos de se encontrarem envolvidos numa tática que conduzia à catástrofe, mostraram-se sempre solidários com os outros cruzados e nunca os abandonaram. Foi assim em frente a Mansura, a 8 de Fevereiro de 1250. Tinham prevenido o conde d’Artois, irmão do rei, de que era loucura tentar tomar a cidade. O conde chamou-lhes de covardes. O Grão-Mestre Guillaume de Sonnac empalideceu perante o insulto e respondeu que os Templários não tinham o hábito de ser medrosos e os acompanhariam. Mas preveniu-o também de que, sem dúvida, não regressaria nenhum. Com efeito, foi um massacre. Os cavaleiros tombaram sob as flechas e as cimitarras dos mamelucos e só escaparam três.

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Os Templários tiveram também de combater a loucura de São Luís, que só pensava em pelejar, persuadido da excelência dos exércitos francos, e que esteve na origem de alguns dos maiores desastres dessas guerras orientais. Costuma ver-se nesse rei uma personagem dotada de todas as qualidades e de todas as virtudes. Que erro! São Luís (rei da Franças, Luiz IX), rei da cruzada contra os Albigenses e do massacre das populações do Languedoque, foi também aquele que se ergueu contra os tratados assinados entre os Templários e o sultão da Síria. Humilhou o Grão-Mestre e todos os dignitários da Ordem e obrigou-os a pedir desculpas públicas, em presença de todo o exército, descalços, como penitentes vulgares, por terem assinado um tratado com o inimigo. Mandou banir da Terra Santa Hughes de Jouar, que negociara em nome da Ordem.

O fanatismo desse rei apenas teria como consequência conduzir os homens ao massacre, e gratuitamente. Aquilo que os Templários haviam conseguido ganhar, quer com as armas na mão, quer negociando, sabia São Luís perder fazendo, ainda por cima, massacrar os seus homens. Como escreveu Georges Bordonove: Não tinham muitas razões para admirar, em São Luís, o estratego, nem o diplomata: era mais o príncipe das oportunidades perdidas do que o grande capitão. Moralmente, devem, por vezes, ter sofrido atrozmente ao serem tratados como covardes quando nunca recuaram e, depois, ao verem tombar a fina flor da cavalaria europeia, porque um tal barão ou um tal rei megalômano ou iluminado pensava que a sua mera presença garantiria a vitória. Quantos templários tombaram em combate, apenas por causa do orgulho desses loucos…

A política da Ordem era, antes de mais nada, realista. Tinham compreendido que era preciso dividir para reinar e que, de qualquer modo, era impossível combater em todas as frentes ao mesmo tempo. Aliás, as quinze praças-fortes que possuíam abrigavam, atrás das suas muralhas, uma importante população muçulmana. Tratá-la mal teria sido suicida. Logo, era prudente respeitar os costumes locais e até a religião muçulmana e aliar-se com determinados príncipes do Islã para cessar as hostilidades, pelo menos, numa ou noutra frente. E é verdade que, por vezes, desempenharam um papel único de árbitros entre os reinos turcos da Síria e o califado fatímida do Cairo. Isso decorria sempre no mais profundo respeito mútuo. Aliás, os Muçulmanos tinham os Templários em muito alta estima e pediam-lhes amiúde que servissem de garantes para a execução dos acordos que por vezes assinavam com príncipes cristãos, como o rei Ricardo, Coração de Leão.

É preciso dizer que este último não tinha palavra. Assim, apesar das negociações com Saladino e das trocas de presentes, tivera a deselegância de mandar passar pelo fio da espada dois mil e quinhentos prisioneiros turcos. Os Templários souberam ser fiéis às suas alianças. Fizeram, nomeadamente, acordos duradouros com Damasco, sobretudo para lutar contra o atabeg de Mossul. O essencial era impedir que todas as forças do Islã se reunissem numa só mão porque, então, os cruzados nunca teriam conseguido enfrentá-las. Do lado muçulmano, alguns grandes chefes, como Nour-ed-Din, tentaram essa unificação. Conscientes do perigo, os Templários ajudaram o rei Amaury I a fazer um acordo com o califa do Egito. A embaixada, que compreendia Hughes de Cesareia, Guillaume de Tiro e o Templário Geoffroy de Foucher, devia muito às negociações realizadas pela Ordem do Templo com o vizir Chawer.

Assim, o exército egípcio juntou-se aos Francos para lutar contra Chirkouh, enviado por Nour-ed-Din. Um homem excepcional acompanhava Chirkouh: Salah ad-Din, mais conhecido, depois, sob o nome de Saladino. Por fim, o conjunto das operações saldou-se por um tratado de paz assinado entre Amaury I e Chirkouh e Saladino foi hóspede de Amaury, durante vários dias. O rei franco emprestou-lhe inclusive navios para repatriar mais comodamente os seus feridos. Assim, em 1167, na sequência da campanha do Egito, os Francos puderam apresentar-se como verdadeiros árbitros dos conflitos regionais. Instalaram uma espécie de protetorado franco no Egito, dando razão à política dos Templários. Infelizmente, o rei Amaury I violou o tratado, apoderando-se de uma cidade e massacrando todos os seus habitantes. Chawer levantou-se então contra ele, não hesitando em praticar a tática da terra arrasada, lançando fogo aos arredores do Cairo.

Os cavaleiros Templários haviam-se recusado a participar na violação do tratado e, a partir desse momento, furiosos, executaram uma política própria, recusando-se, em geral, a comprometer-se como garantidores de tratados dado que os barões francos faltavam com demasiada frequência à palavra dada. Rapidamente, Saladino tornou-se senhor do Egito. Aproveitou-se disso para, em 1171, acabar com o califado fatímida do Cairo, fazendo desaparecer, ao mesmo tempo, o cisma religioso e reunificando todo o Oriente Próximo sob a fé sunita, coisa que os Templários desejavam evitar a todo o custo. A Ordem procurava, permanentemente, soluções de paz duradouras, mas com que dificuldades!

Em meados do século XIII, Armand de Perigord podia escrever ao Mestre da Ordem em Inglaterra: O sultão de Damasco e o senhor de Krac entregaram de imediato ao culto cristão todos os terrenos deste lado do Jordão, exceto Nablus, Santo Abraão e Beissen. Não há dúvida de que esta situação feliz e próspera poderia durar muito tempo se os cristãos deste lado do mar quisessem, a partir de agora, respeitar esta política. Mas, infelizmente, quantas pessoas nesta terra e alhures nos são contrárias e hostis por ódio e por inveja. Assim, o nosso convento e nós, com o concurso dos prelados da Igreja e de alguns pobres barões da terra que nos ajudam como podem, asseguramos, sozinhos, o fardo da defesa. Quanto aos reis, depois de se terem pavoneado, dado lições a toda a gente, à semelhança de São Luís, regressavam à Europa, caso não tivessem perdido a vida no local, por… doença.

Aos Templários só restava, então, enfrentar as consequências catastróficas das campanhas dos soberanos e reconstruir, com paciência e obstinação, aquilo que fora destruído pelo orgulho real. Claro que é necessário não generalizar mas, em princípio, aqueles que apenas passavam no Oriente o tempo de uma cruzada eram mais prejudiciais do que úteis e, ainda por cima, desprezavam aqueles que viviam lá e, por vezes, haviam adotado alguns costumes locais.

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O risco de queimar os dedos

A diplomacia dos Templários chocava com bastante dificuldade, na medida em que não eram os únicos a assinar tratados com os muçulmanos. Os diferentes tratados, não coordenados, nem sempre eram compatíveis entre si. Surgiram conflitos, nomeadamente em virtude da política pró-egípcia dos Hospitalários que se opunha à de uma Ordem do Templo unida com Damasco. Furiosos com os seus próprios erros e as suas derrotas pouco gloriosas, alguns reis e grandes barões não gostavam de que se soubesse quais haviam sido as consequências da sua inépcia e obstinação. Nesse caso, existe sempre tendência para querer mal àquele cujo único pecado foi ter razão. Regressados à Europa, alguns não se abstinham de acusar a Ordem de pactuar com o inimigo e de ser responsável pelos problemas no Oriente. Devido a isso, quando do processo contra a Ordem dos Cavaleiros Templários, tentou-se, a todo o custo mas sem resultados palpáveis, provar que o Templo se convertera ao Islã.

Viraram-se para a personalidade de Gérard de Ridefort. Foi eleito para a chefia da Ordem em 1184, quando o reino de Jerusalém atravessava uma grave crise. Tendo o rei Balduíno, sem filhos, sido atingido pela lepra, a regência fora confiada a Guy de Lusignan. Depois, Balduíno zangara-se com ele e designara para o seu lugar o conde de Tripoli. Haviam-se formado dois partidos, prontos para entrarem em luta e imporem, cada um, o seu candidato. Outrora, Gérard de Ridefort esperara desposar a filha do conde de Tripoli. As suas homenagens haviam sido repudiadas. Entrara então para a Ordem do Templo, mas guardara, no fundo do coração, uma ferida que não conseguia fechar-se. Tornado Grão-Mestre, a situação proporcionava-lhe uma ocasião para fazer pagar ao conde Tripoli a afronta que lhe infligira. Tendo morrido Balduíno V, Ridefort conseguiu afastar o conde Tripoli da sucessão e impor a coroação de Guy de Lusignan. Ora, talvez tivesse para tal algumas motivações mais ligadas ao esoterismo.

Os Lusignan não faziam parte do mundo mítico, tal como Godofredo de Bouillon, e isso, graças a Mélusine? De qualquer modo, a divisão viria revelar-se favorável a Saladino e, desta vez, a responsabilidade cabia em parte ao Templo. Um erro tático de Ridefort correu mal. Quase se apoderaram de Saladino, mas ele escapou por uma unha negra e, por fim, foi Guy de Lusignan que foi capturado na sequência da desastrosa batalha de Hattin. Ridefort também se encontrava entre os prisioneiros. Foi levado pelos Sarracenos, juntamente com Renaud de Châtillon e o rei. Conduziram-nos junto de Saladino. Sobre a sua tenda, flutuava uma bandeira negra com a inscrição: Salah-ed-Dyn, o rei dos reis, o vencedor dos vencedores, é, tal como os outros homens, escravo da morte.

Saladino recebeu suntuosamente os seus cativos de alta estirpe. Estendeu a Guy de Lusignan a «taça da paz» – um sorvete de neve do Monte Hermon: «É um nobre costume dos árabes que um cativo tenha a vida salva se bebeu e comeu com o seu vencedor», afirmara. Depois, Saladino matara Renaud de Châtillon que se revelara culpado de atos de pilhagem, mas poupara Gérard de Ridefort, sem que se saiba muito bem porquê. Aos outros Templários capturados fora proposto renegarem a sua fé ou serem mortos. Nenhum deles vacilara. Foram duzentos e trinta os que se viram amarrados aos postes de execução e, em seguida, torturados até a morte chegar. Então, por que razão fora poupado o Grão-Mestre?

Foi enviado para Damasco com o rei, e Saladino serviu-se deles para pedir a guarnições cristãs que depusessem as armas. Depois, libertou-os. Teriam eles traído a causa ou Saladino manobrara com habilidade lançando a dúvida e retirando, assim, toda a credibilidade a inimigos que, doutro modo, teria transformado em heróis ou em mártires? Ridefort foi acusado de se ter safado entregando o rei e, embora tenha continuado a bater-se e tenha morrido em combate em frente a Acre, um ano depois, continuou a falar-se dele como de um traidor. E quando Geoffroy de Gonneville, comendador da Aquitânia e de Poitou, afirmou, durante o processo, que o uso dos maus princípios fora introduzido na Ordem por um Mestre que estivera prisioneiro dos Sarracenos e teria traído, pensou-se de imediato em Ridefort. No entanto, alguns Templários declararam que essas práticas haviam sido introduzidas por Mestre Thomas Bérard, grande amigo da família de Voisins, bem conhecida dos que gostam do mistério de Rennes-le-Château.

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Reprodução de Saladino e Guy de Lusignan

Quando nos debruçamos sobre o mestrado de Bérard, que se estendeu entre 1256 e 1273, temos dificuldade, todavia, em encontrar uma pista interessante referente a qualquer traição em proveito do Islã. De qualquer forma, poderemos referir um caso interessante. Em 1263, o papa Urbano IV convocou o marechal do Templo, Estêvão de Sissey, para lhe comunicar que era indigno e lhe haviam sido retiradas as suas  prerrogativas. Desconhecemos as razões para esta reprimenda papal. Alguns autores julgaram que se tratara de uma aventura galante. Estêvão de Sissey recusara demitir-se e fora excomungado pelo papa. Isso não o impediu de voltar a esconder-se no seio da Ordem, protegido por Thomas Bérard. Este último foi feito prisioneiro quando da tomada de Saphad. Teria sido libertado enquanto outros templários foram executados, mas tudo isso é muito vago e não permite tirar conclusões.

Podemos pensar também em Guillaume de Sonnac (1247-1250) a respeito de quem se dizia: «O Mestre do Templo e o Sultão do Egito tinham feito uma paz tão boa em conjunto que se tinham sangrado aos dois para a mesma escudela.» São Luís não gostava dele por ter negociado com o inimigo. Isso não impediu Guillaume de Sonnac de morrer em combate salvando a vida de São Luís, que foi feito prisioneiro e não cuspiu sobre o dinheiro da Ordem do Templo que serviu para pagar o seu resgate. De qualquer modo, é difícil imaginar uma conversão maciça da Ordem ao Islã, na sequência de um destes episódios. Mais interessante, sem dúvida, é o problema das relações dos Templários com a seita dos Assassinos que desempenhou um papel importante no Oriente, até 1265, data da destruição da cidadela de Alamute pelos Mongóis.

A ordem dos Assassinos

Os «assassinos» estavam ligados à seita dos Ismaelitas. Recusavam-se, portanto, a acreditar na morte de Ismael, uma forma de se manterem afastados da tradição decorrente de Maomé. O Ismaelismo recrutara inúmeros adeptos, nomeadamente no Irã, onde o fato de se afastar um pouco do mundo árabe não era desagradável. Aí, não haviam sido esquecidas as velhas crenças zoroastrianas que os árabes tinham repudiado. Uma personagem viria a utilizar essa recordação da religião mazdeísta para adquirir um formidável poder: Hassan-Ibn-Sabbah, o «velho da montanha». Na sua juventude, encontrara um dia alguns cavaleiros e perguntara-lhes aonde se dirigiam. A sua resposta, que conhecemos através das memórias do próprio Hassan-Ibn-Sabbah, não deixava de ter interesse:

“Vimos de uma terra que deixou de existir e dirigimo-nos para um país que vai nascer. Tu, oh solitário, continua a andar. Contempla o sol e as grutas secretas. Aproxima-se a décima segunda hora. Vai receber a mensagem que te espera!”

Uma mensagem que, sem dúvida, teria apaixonado Gérard de Nerval. Em seguida, Hassan fora conduzido à luz espiritual por «guias» que o haviam submetido a provas iniciáticas muito longas. A sua iniciação tinha várias semelhanças com a da futura franco-maçonaria. Aí, aprendera a ver para além do véu das religiões. O «Mestre desconhecido da Montanha» vestira-lhe a túnica branca e o cinto vermelho e Hassan partira para cumprir o seu destino. Sabia que, para tal, não deveria hesitar, por vezes, em utilizar as forças obscuras dado que, a seus olhos, o fim justificava os meios. Hassan-Ibn-Sabbah continuara a sua formação na Casa das Ciências do Cairo e fora aí que conhecera, pela primeira vez, os poderes do haxixe, a «erva da segurança», que permitia ser totalmente indiferente ao sofrimento e à morte.

O haxixe exacerbava os gostos, servindo de afrodisíaco ao ser sensual, aumentando a violência das cores, dando uma maior riqueza às impressões do gosto e do tato mas, sobretudo, fazendo esquecer toda a prudência e todo o elemento moral. Hassan-Ibn-Sabbah decidiu fazer do Irã o centro do ismaelismo, fundando lá uma ordem ao mesmo tempo religiosa e militar, integrada por homens dedicados de corpo e alma. Estava-se em 1081, o ano 1 do ismaelismo reformado, nascimento da seita dos Assassinos de Alamute. Numa primeira fase, Hassan-Ibn-Sabbah recrutou fiéis, o que não deixou de lhe provocar alguns problemas com os chefes políticos e religiosos da época. Um dia, ao atravessar a região iraniana de Roudbar, avistou, numa passagem escarpada, uma muralha que dominava um precipício: a fortaleza de Alamute, «o ninho da águia». Soube, então, que encontrara o lugar donde irradiaria o seu poder.

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Ruínas da fortaleza de Alamut

O governador de Alamute, o Alide Mahdi, opunha-se ao ismaelismo e era fiel a Melik-Shah. Hassan seguiu em frente, provisoriamente. Tinha de encontrar um abrigo para os seus fiéis, alguns dos quais seguiam havia… nove anos. Eis uma coisa que nos lembra os Templários. Entre eles, contavam-se alguns francos que afirmavam tê-lo visto realizar milagres: durante uma tempestade, Hassan acalmara os elementos e salvara o seu barco. Em seguida, tinham-se disposto a segui-lo até ao fim do mundo, se preciso fosse. Alguns meses depois da sua primeira passagem por aquelas paragens, alguns dos seus homens entraram em Alamute e começaram a fazer propaganda junto da população. Falavam sem cessar de uma personagem misteriosa que meditava durante horas, sentada sobre uma pedra, envergando uma túnica branca com um cinto vermelho. Dizia-se que nunca comia nem dormia. A população foi conquistada pouco a pouco, em grande parte por meio da curiosidade. Uma noite, um dos seus homens fez entrar Hassan-Ibn-Sabbah em Alamute. Em pouco tempo, adquiriu uma enorme importância.

Um dia, quando o Alide Mahdi quis ir à caça, todos os seus servidores se recusaram a segui-lo, porque o Dih-Khoda (o chefe ou guia) proibira. Inquieto, Mahdi regressou aos seus aposentos do torreão. Já não tinha qualquer poder na sua própria fortaleza. Um dia, Hassan veio vê-lo e disse-lhe que o seu lugar era alhures. A Mahdi não restou senão partir. Hassan mandou entregar-lhe dinheiro e disse-lhe que prevenisse os homens do sultão de que, daí para a frente, havia um senhor em Alamute, que fundara uma ordem de monges-guerreiros, que o seu nome era Hassan-Ibn-Sabbah, cognominado «Sheyk al-Djebbal», o «senhor da montanha». Em pouco tempo, Hassan apoderou-se de quase todas as cidadelas da região do Roudbar. Um pouco por todo o lado, as populações das aldeias viam nele a ressurreição das doutrinas ancestrais do velho Irã.

Um ímpeto nacionalista acompanhava a sua conversão ao ismaelismo, cujo aspecto messiânico os fanatizava. Melik-Shah fez várias tentativas de envio de tropas para desalojar Hassan, mas tivera de desistir, perante a resistência das populações. Por vezes, até os homens do sultão se passaram para o lado do «Senhor da Montanha». Alamute zombava do Islã ortodoxo. O rochedo, que parecia um leão deitado sobre os joelhos, com a cabeça apoiada no solo, dava a impressão de lançar um aviso. Em breve, Hassan viria a despertar forças terríveis. Que fazer para o desalojar? Só existia uma passagem acessível e, para a atingir, tinha de se escalar uma parte da montanha, graças a uns furos escavados no rochedo. O castelo podia resistir a um cerco. Era capaz de albergar uma guarnição muito importante. O seu ponto fraco era o abastecimento de água e víveres, no caso de um bloqueio de longa duração. De qualquer modo, não se podia contar com uma colaboração do interior para surpreender Hassan-Ibn-Sabbah. Este tomara a precaução de expulsar todos quantos poderiam ser-lhe desfavoráveis, bem como de todos os homens fracos, velhos e doentes e suas famílias, excetuando aqueles que eram sábios numa ciência qualquer; expulsara também os contadores de histórias e os músicos, para que não espalhassem a dissipação.

Vindos de todos os lados, os Ismaelitas dirigiam-se a Alamute para receberem os ensinamentos de Hassan. O senhor da montanha guardava junto de si os mais fortes e os mais dedicados. Hassan passava longas horas na sua biblioteca, em cuja janela se enquadrava uma paisagem árida e grandiosa. A vida em Alamute era de uma grande austeridade. O uso do vinho era proibido sob pena de morte. As mulheres tinham o direito de viver na aldeia que se abrigava por detrás das muralhas, mas estava-lhes vedado o castelo. Tudo o que podia amolecer ou distrair os espíritos estava banido. Os fiéis passavam o tempo entre os exercícios físicos, o treino no manuseamento das armas, os exercícios de piedade e o estudo das línguas. Tal como Hassan, vestiam túnicas brancas e cintos vermelhos. Todos se sentiam privilegiados, porque eram raros aqueles que Hassan aceitava como habitantes da fortaleza, escolhidos com muito cuidado, o escol das suas tropas.

Os paraísos artificiais do Velho da Montanha

Hassan-Ibn-Sabbah elaborou, para os seus fiéis, um ensinamento iniciático que comportava sete estágios. O sétimo era ilustrado pela máxima: «Nada é verdadeiro, tudo é permitido», que não deixa de lembrar o «Faz o que quiseres» de Rabelais. Depois de elaborado definitivamente o corpo da sua doutrina, inaugurou o seu ensinamento por meio de uma cerimônia que lembrava as velhas tradições do Irã avéstico. No mais alto terraço do castelo, procedeu a um sacrifício inspirado nas cerimônias mágicas de Zaratustra. Mandou erguer um altar ao «Senhor do Universo» e entregou-se, juntamente com os seus fiéis, a práticas de culto em relação às quais apenas dispomos, infelizmente, de muito poucas informações. Enquanto o fogo do sacrifício se erguia para o céu, Hassan exclamava: Ao Oriente das puras luzes da aurora opõe-se o Ocidente das massas corporais, a sombra sinistra das prisões que retêm cativos na sua noite os filhos da luz.

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Hassan-Ibn-Sabbah

Hassan-Ibn-Sabbah lançara as bases de uma cavalaria espiritual, com os seus ritos e os seus mitos, nomeadamente o da busca da Ilha Verde que lembra, em muitos pontos, as lendas célticas. Alamute aparece como uma prefiguração da cidadela celeste, tal como o Monte Salvage da demanda do Graal. Poderemos imaginar facilmente que isso não deixasse descansados os poderes estabelecidos e, em Junho de 1092, o emir Arslan-Tach atacou Alamute, à frente de um milhar de homens. Instalou o cerco e queimou as aldeias ismaelitas dos arredores. Hassan mandou prevenir um dos seus dais (grande lugar-tenente) que se encontrava em missão noutra região. O dai Al-Kebir Abu-Ali caiu de improviso sobre as tropas inimigas e massacrou-as. O exército de Arslan-Tach foi desbaratado, varrido, aniquilado.

Louco de raiva, o grão-vizir decidiu uma ofensiva geral. Reuniu dezenas de milhares de guerreiros e mandou-os marchar sobre Alamute. O caso era sério. Por mais corajosos que fossem, os homens de Hassan-Ibn-Sabbah teriam dificuldade em resistir a uma tal avalanche. O velho da montanha decidiu utilizar a astúcia e, a 16 de Outubro de 1092, quando o grão-vizir estava de visita a Bagdad, foi assassinado por um agente de Hassan: um fidawi. Cinco semanas mais tarde, o sultão Melik-Shah, que acabara de ordenar ao seu general, Kill-Saregh, que lançasse a última ofensiva contra Alamute, morreu envenenado no seu próprio palácio de Isfahan.

O império encontrava-se desorganizado e, para compor o ramalhete, Hassan mandou os seus fidawi assassinarem algumas das personalidades mais importantes entre aquelas que podiam prejudicá-lo. O terror instalou-se na corte e todas as operações dirigidas contra o velho da montanha foram suspensas. [Nota: O nome verdadeiro era Senhor da Montanha, mas a expressão Velho da Montanha foi tão amplamente utilizada que empregamos indiscriminadamente os dois termos. (O epíteto de «Velho da Montanha» designa todos os posteriores líderes da seita dos «Assassinos».) (N. do E.)] Daí em diante, todos iriam pensar duas vezes antes de atacarem Hassan-Ibn-Sabbah. Várias províncias se lhe submeteram e os seus dais levavam as suas ordens para todo o lado. O imposto devido ao sultão já não lhe era enviado, mas sim entregue aos homens de Hassan, e, quando um emir ou vizir protestava, não o fazia durante muito tempo: o punhal ou o veneno encarregavam-se dele. No Roudbar, a última fortaleza que ficara nas mãos dos inimigos de Hassan, Lemsir, caiu em seu poder em Setembro de 1102.

Na sequência disso, as outras cidadelas iraquianas, as da planície, também prestaram vassalagem ao senhor da montanha e aos seus homens, devotados até à morte. Perguntou-se muitas vezes como fazia Hassan para captar assim a fidelidade cega dos fidawi que mandava cometer assassínios, sabendo que, provavelmente, seriam capturados e torturados. Hassan mandara construir, no castelo de Alamute, jardins com água corrente e um pavilhão de quatro andares. No interior, as rosas competiam com as porcelanas e as baixelas de ouro e prata para ornamentarem os vários recantos. As colunas estavam forradas de âmbar e musgo. Aí, instalara dez rapazes com formas de efebos e dez jovens (houris) mulheres muito belas. Vestia-os de seda e tecidos preciosos, ornava-os com jóias de ouro e prata. Por todo o lado, havia taças que transbordavam com frutos, flores odoríferas e água, mercadoria rara naquelas bandas. E havia também animais nos jardins: gazelas, avestruzes, patos, gansos, lebres, etc.

Um corredor secreto ligava o pavilhão a uma grande casa situada fora daquele local paradisíaco. Quando detectava um indivíduo adequado à missão que tencionava confiar-lhe, Hassan recebia-o na casa e convidava-o a comer alimentos drogados. Depois de adormecer, o homem era transportado para o pavilhão e confiado aos efebos e às mulheres que o aspergiam com vinagre, para o despertar. Quando abria os olhos, ofuscado, ouvia: Apenas esperamos a tua morte, porque este lugar está-te destinado: é um dos pavilhões do Paraíso e nós somos as houris e os filhos do Paraíso […]. Se estivesses morto, ficarias para sempre conosco, mas apenas sonhas e não tardarás a despertar. Os odores provocavam-lhe tonturas, os pássaros, os animais, a vegetação pareciam-lhe tão maravilhosos que acreditava no que lhe diziam.

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Mesquita de Isfahan, terceira maior cidade do Irã.

Então, os efebos e as mulheres comunicavam-lhe que estavam ali para satisfazer todos os desejos do seu corpo, fossem eles quais fossem. Hassan chegava em seguida, dizendo-lhe que era capaz de visitar o Paraíso quando queria. Mandava-o aspergir com água de rosas, convidava-o para uma nova refeição em que os pratos estavam, uma vez mais, drogados e mandava-o levar pela galeria secreta até à casa, sem que ele disso se apercebesse. Hassan assistia ao seu despertar e informava-o de que lhe estava reservada uma sorte tão maravilhosa depois de ter sacrificado a vida pela Ordem.

O viajante veneziano Marco Polo, que visitou Alamute e pediu que lhe contassem a história da fortaleza, confirmou esses procedimentos. Escreveu: Quando o Velho queria matar um grande senhor, ordenava-lhes que matassem esse homem e dizia-lhes que os queria enviar para o Paraíso, e iam e faziam tudo quanto o Velho lhes ordenava […]. E, deste modo, não havia um homem que não fosse morto quando o Velho da Montanha queria… Assim, Hassan tornava tangível, para esses homens, aquilo que o Corão prometia: “Sobre leitos preciosamente separados por tabiques, Em redor deles circulam jovens eternos, Com taças e vasos cheios de frescas bebidas, Que não os atordoarão nem angustiarão. Com frutos delicados segundo as suas preferências, E carnes de animais segundo os seus desejos. Para eles há as houris que têm os grandes olhos brancos e negros, Modelos de pérolas ciosamente guardadas, adolescentes apaixonadas, apaixonantes; estarão entre os lótus podados, entre as sombras extensas, Entre as águas que correm; Cobrem-nos vestimentas verdes, Em sutil cetim e brocado. E estão ornados com pulseiras de prata, E o seu senhor manda-os beber uma bebida muito pura.”

Compreendemos assim como os subterfúgios de Hassan-Ibn-Sabbah se destinavam a convencer os fidawi de que, por instantes, haviam entrado no Paraíso, a ponto de se dedicarem de corpo e alma ao seu senhor e de já não terem medo da morte e de, inclusive, a esperarem com impaciência. Isto permitia, nomeadamente, ao senhor da montanha impressionar os seus visitantes ordenando a um dos seus homens que se lançasse, gratuitamente, do alto das muralhas. E o homem mergulhava no vazio a um simples sinal de Hassan, que dizia ao espectador surpreendido: «Tornou-se um liberto», expressão que Villiers de L’Isle-Adam virá a retomar em Axel, ao falar da morte voluntária. [Nota: Refiramos, de passagem, que Villiers de L’Isle-Adam projetava escrever uma obra sobre o Velho da Montanha.]

No entanto, podemos espantar-nos pelos fidawi se terem mostrado tão crédulos e não se terem apercebido do subterfúgio. Apesar de todos os esforços de Hassan, os jardins instalados em Alamute, montanha árida, deviam ter dificuldades em passar pelo Paraíso, como observou Maurice Barrès, que visitou o local. Mas não esqueçamos a utilização do haxixe, que Hassan descobrira no Cairo. Com o poder dos sentidos decuplicado pela droga, os fidawi viam todas as cores mais vivas, os odores eram mais fortes, o prazer parecia-lhes maior e, ao mesmo tempo, perdiam toda a noção de desconfiança e de prudência. Tinham-se tornado haschischins, termo que os cruzados iriam transformar em Assassinos que, a partir de então, viria a designar esse tipo de homicidas. A partir de então, Hassan apenas precisava de não evidenciar fraqueza, nem piedade, e era isso que acontecia dado que não hesitou em decapitar o seu filho mais velho, por ter conspirado contra ele, e estrangular o seu segundo filho, que cometera o simples crime de consumir vinho.

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Na noite de 12 de Junho de 1124, sentindo que a sua morte se aproximava, Hassan convocou os seus fiéis mais próximos para a biblioteca e designou como seu sucessor Kya Buzurg-Humid, confiando, por outro lado, o exército a Hassan Kasrany e a administração da Ordem a Abu-Ali. A meio da noite, antes de morrer, pediu a todos que o deixassem só, dizendo: – Adeus, e lembrai-vos de que o meu espírito vela. Enquanto fordes dignos dele, dignos de o compreender, ele aconselhar-vos-á. Kya Buzurg-Humid herdou, assim, mais de setenta mil homens dedicados de corpo e alma, apenas na região do Roudbar. Retomou a prática dos ritos seguidos por Hassan, mas começou bastante mal o desempenho das suas funções de mestre. Apaixonou-se por um jovem da corte do príncipe do Taberistão. Parece, aliás, que os casos de homossexualidade eram muito frequentes entre os fiéis do velho da montanha. Basta pensarmos nos efebos oferecidos aos fidawi ou no fato de o filho mais velho de Hassan ter sido levado a conspirar pelo seu amante.

Acontece que Buzurg-Humid ordenou aos seus homens que raptassem o objeto dos seus desejos. Isso deu origem a um conflito, uma espécie de guerra de Tróia homossexual, que ganhou, mas à custa de pesadas perdas. A partir de então, Buzurg-Humid lançou-se em intrigas de corte, nem sempre coerentes. Teve mesmo tendência para transformar a sua ordem em mafia, não hesitando em vender os serviços dos seus assassinos a príncipes dispostos a pagar caro. Mas, ao mesmo tempo, aumentou o poder da Ordem dos Assassinos, chegando a possuir setenta e quatro fortalezas na Síria. Kya Buzurg-Humid decidiu cortar as pontes com o ramo fatímida dos Ismaelitas e mandou assassinar o califa do Egito Abu-Ali al-Manisur. Seguiu-se uma série de guerras intestinas no Egito que, depois, viriam a servir de base para o poderio de Saladino. Buzurg-Humid não parava de mandar construir novos castelos, organizava verdadeiras universidades ismaelitas em antigos mosteiros cristãos. Mas cometeu um erro: designar o seu próprio filho para lhe suceder, fundando uma dinastia que, depois, devia continuar. Pouco a pouco, os textos sagrados de Hassan-Ibn-Sabbah foram revelados a demasiadas pessoas, o recrutamento tornou-se menos elitista.

A Ordem dos Assassinos continuava poderosa, devido ao ímpeto adquirido, mas continha dentro de si os germes da sua perda. O assassínio político continuava a ser a regra, mas faltava o gênio aos dirigentes da seita e os assassinos não souberam defender-se da invasão mongol. No tempo de Hassan, os chefes mongóis teriam caído sob os punhais dos fidawi e o seu exército teria ficado desorganizado, mas esse tempo ficara distante.

Os assassinos, vassalos dos Templários

Os assassinos mantiveram estranhas relações com os cruzados. Desde o início, o objetivo de Hassan fora restaurar o poderio do Irã e a sua religião zoroastriana, o que passava pela destruição do poder árabe. Nisso, os cruzados podiam ajudá-lo. Tinha, pois, um interesse objetivo em lhes facilitar a tarefa. Em Abril de 1102, o conde de Saint-Gilles e os seus homens tinham posto cerco à fortaleza de Hossnal-Akard, também chamada praça-forte dos Curdos. O príncipe de Erneso decidira ir em socorro da fortaleza e atacar os cruzados por detrás. Não teve tempo para o fazer, dado que foi apunhalado por três fidawi, numa mesquita. Os cristãos só mais tarde souberam que haviam sido ajudados pelo senhor da montanha. Foi estabelecida uma aliança tácita entre os assassinos e os Francos. Circulou inclusive uma lenda, transmitida pela Chanson d’Antioche datada do século XII.

A lenda contava que o irmão de Godofredo de Bouillon, Balduíno de Edessa, casara com a filha do velho da montanha. Depois, viria a afirmar-se o mesmo em relação a Frederico II de Hohenstaufen, que, na verdade, mandara vir para a sua corte, em Castello del Monte, astrônomos e metafísicos pertencentes à seita de Alamute. De qualquer modo, mal uma cidade caía nas mãos dos cruzados, os Ismaelitas aproveitavam o enfraquecimento do poder árabe para aí desenvolverem a sua própria propaganda. Ninguém duvida de que isso não podia deixar indiferentes os Templários e as relações que se estabeleceram entre eles e os assassinos provam-no bem. Assim, quando o reino de Jerusalém quase caiu nas mãos de Conrad de Montferrat, este foi assassinado pelos fidawi, favorecendo o partido de Guy de Lusignan, apoiado pelos Templários. É verdade que Conrad de Montferrat fizera naufragar um barco que pertencia ao chefe dos Ismaelitas. Podia tratar-se de uma vingança. Mas, depois, Philippe de Champagne casara com a viúva de Conrad e assumira o título de rei de Jerusalém. Morreu rápida e estranhamente, caindo de uma janela.

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Uma vez mais, este assassínio aproveitava menos aos assassinos do que aos Templários e ao partido de Guy de Lusignan. Este último nunca teria podido reinar se o segundo e o terceiro maridos de Isabel tivessem vivido. Em contrapartida, quando o velho da montanha lançou os seus assassinos contra Saladino foi, ao mesmo tempo, para ajudar os cruzados e para impedir a federação das forças árabes. Mas Saladino tinha a baraka. Escapou várias vezes às tentativas de assassínio dos fidawi e decidiu atacar o senhor de Alamute. Então, este fez um acordo com Saladino: cada um decidiu deixar o outro em paz. O mais curioso é, sem dúvida, os assassinos terem pago um tributo aos Templários, como se fossem seus vassalos: três mil peças de ouro (ou dois mil ducados). Seria uma forma de estarem em paz com a Ordem do Templo, o que significaria que os Ismaelitas a temiam? Aliás, o velho da montanha tentara libertar-se desse tributo, propondo uma aliança a Amaury de Jerusalém, caso este aceitasse pagá-lo por ele. Mas foi mal sucedido: os emissários que enviara foram interceptados e devidamente mortos. A Ordem apercebera-se de que era a melhor maneira de se fazer respeitar. Amaury, descontente, exigiu que lhe fosse entregue o templário responsável por essa execução, Gautier du Mesnil. O Grão-Mestre recusou-se a fazê-lo e Amaury sofreu uma humilhação.

O tributo em questão podia muito bem estar ligado a uma fortaleza que os Templários não podiam manter e que tinham preferido oferecer aos assassinos a ver cair nas mãos dos árabes. O velho da montanha tentou, uma vez mais, livrar-se do imposto. Em Maio de 1250, enviou emissários a São Luís, que se encontrava em Acre. Comunicaram-lhe que o imperador da Alemanha e o rei da Hungria lhes pagavam tributo e que ele deveria fazer o mesmo, a menos que os dispensasse do seu pagamento aos Templários. Imagina-se a humilhação do rei que se viu submetido a um imposto lançado por pessoas que tinham de pagar um à Ordem do Templo. É claro que os Templários se imiscuíram no assunto e o rei não teve direito a expressar a sua opinião. Intimaram os emissários a voltarem a casa e regressarem, dentro de quinze dias, trazendo ao rei, de parte do velho da montanha, «cartas e jóias tais que este se considere apaziguado e vos saiba de boa fé». E aqueles que faziam tremer os príncipes submeteram-se às ordens do Templo.

Ao fim de quinze dias, os emissários regressaram trazendo um jogo de xadrez, um elefante de cristal e «uma besta a que chamamos orafle (girafa)» também em cristal. O próprio São Luís mandou de volta os emissários carregados de presentes para o velho da montanha e mandou que fossem acompanhados pelo irmão Yves le Breton, nas funções de embaixador. Por tudo isto vemos que, apesar de poderem ser assinaladas algumas analogias entre as duas ordens, apesar de terem sido celebrados acordos entre elas, está longe de se encontrar provado que uma foi decalcada mais ou menos sobre a outra, como afirmam alguns autores. Deveremos ver antes, nelas, uma espécie de demanda paralela do Graal simbólico, utilizando meios diferentes. É verdade que podemos identificar alguns pontos comuns interessantes entre as duas ordens.

Lembra-se geralmente a identidade das vestes: túnica branca com cinto vermelho, para os fidawi, e manto branco com cruz vermelha, para os  Templários. Comparam-se as organizações recíprocas: cavaleiros, escudeiros e irmão do Templo que corresponderiam ao refik, fidawi e lassik dos assassinos. De igual modo, o Grão-Mestre, os grão-priores e os priores equivaleriam ao senhor da montanha, aos dais e aos dailkebir. Por outro lado, Pierre Ponsoye mostrou que a origem das lendas do Graal poderia ter sido iraniana. Wolfram von Eschenbach fazia dos Templários os guardiões do Graal. Os assassinos, cujo nome em árabe significava também «guardião», não podiam ignorar essa origem e, portanto, realizar essa procura, pelo menos no que se refere aos cultos dentre eles. A propósito de Gahumret, Wolfram evoca o Barux, que assimila ao califa de Bagdad. Feirefiz aparece como um cavaleiro muçulmano e lembra os refik do velho da montanha. Quanto a Flégétanis, nascera de pai árabe e era um sábio astrônomo. Fora nos astros que descobrira o mistério do Graal, que não evocava sem tremer. E Pierre Ponsoye escreve: Em Flégétanis encontram-se, pois, atestados expressamente, ao mesmo tempo, a fonte islâmica da noção de Graal, ou melhor, talvez, da tomada de consciência, e o vínculo desta fonte com a tradição esotérica de que, por outro lado, se reclamava a Ordem do Templo.

Ora, na verdade, o nome de Flégétanis não seria mais do que a transcrição do título de um livro árabe: Felek-Thani, que significa «segunda esfera» ou segundo céu planetário correspondente a mercúrio. Nos romances do ciclo arturiano, Lancelot deve ser sujeito a uma prova iniciática essencial. É preciso transpor uma ponte que, na verdade, se apresenta com a lâmina de cortante de uma espada, com o comprimento de duas lanças. Sob ela correm águas negras prontas a engoli-lo. Este tema encontra-se de forma idêntica no Avesta zoroastriano. Do outro lado da ponte, uma jovem aguarda Lancelot. Quanto a isto, diz-nos Paul du Breuil: Surpreendente transposição da Daena zoroastriana, que aqui encarna a rainha Genebra que o cavaleiro do Graal vai libertar do castelo da Morte, o país donde se não regressa. Na sua obra, Paul du Breuil mostra que a ética cavalheiresca existia entre os Partos, antes de existir no Ocidente. Respeito pela coragem, moral guerreira e código de honra serviam de princípios a esses guerreiros.

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No Irã, antes das cruzadas, criara-se uma instituição: a fotowwat. Paul du Breuil diz-nos, sobre ela: Fotowwat, substantivo que significa, em sentido próprio, liberalidade, generosidade, abnegação e que caracteriza bem uma espécie de confraria cujo grau de fato era conferido por sheiks, senhores ou mestres de sociedades iniciáticas. É inegável que os Templários devem ter descoberto na ética cavalheiresca oriental alguns pontos comuns com a sua própria busca. Daí a encontrar uma qualquer filiação vai uma grande distância. Por exemplo, será difícil conceber que os assassinos tenham podido pagar um tributo aos Templários se estes eram apenas os seus alunos, como pretendem alguns. Em contrapartida, em contato com os filósofos e os sábios da seita, alguns Templários podem muito bem ter trazido para a sua Ordem conhecimentos e elementos iniciáticos que talvez se tenham  misturado com o sistema próprio do Templo.

Templários e Druzos: a herança do califa Hakem

Teremos de nos interessar também por uma outra influência possível: a da ordem secreta dos Druzos. Conhecemos mal as suas origens. Por vezes, diz-se que são herdeiros dos gnósticos; ofitas, nazarenos, essênios. De igual modo, atribuemse-lhes origens que enraízam nos pitagóricos. Divididos num círculo externo – o povo – e um centro interno formado por iniciados – os okkals – os Druzos veiculavam um ensinamento secreto. No plano religioso, ostentavam no exterior uma fé muçulmana oriunda do Ismaelismo dos Fatímidas. A sua aparição deveu-se ao califa Hakem, que reinou no Egito entre 996 e 1021. Segundo a lenda, quando do seu nascimento, todos os planetas se encontravam reunidos no signo do Câncer e Saturno presidia na hora em que ele entrou no mundo. Diz-se também que nunca morreu e apenas desapareceu. Só foram encontradas a sua burra cinzenta e as suas sete túnicas, que haviam sido desabotoadas. De então para cá, os Druzos não deixaram de esperar o regresso iminente do califa Hakem. Tinha olhos azuis escuros e um olhar insustentável, uma voz profunda, vibrante. Passava uma boa parte do seu tempo entregue à astronomia. Nutria um estranho amor pela irmã. Nerval diz que «ela lhe provocava o efeito de uma dessas rainhas dos impérios desaparecidos que tinham deuses como antepassados». Julgando-se ele próprio deus, Hakem, à imagem dos faraós, decidiu casar com a irmã a fim de reconstituir o casal primordial da cosmogonia.

Tomado por louco, foi internado, mas os seus fiéis sublevaram o povo, que o libertou. Por certo foi assassinado por Ebn Dawas, o amante dessa irmã que amava tanto. Talvez tenha até sido ela a organizar o homicídio e, no entanto, os seus fiéis não acreditaram na sua morte, esperando sempre o seu regresso. Cerca de 1130, foi proclamado deus encarnado e os seus dais foram levar a sua palavra à Síria. Segundo Gerard de Nerval, a doutrina do califa Hakem punha em cena um deus, senhor do mundo, que designava com o nome de Al-Bar. Esse deus encarnava regularmente porque a loucura dos homens o obrigava a intervir para os colocar de novo no caminho reto. Cada uma dessas encarnações dava origem a uma luta entre Al-Bar e os anjos das trevas instalados na terra. Nerval diz-nos:

Assim, na história do mundo que os Druzos escrevem, vemos cada um dos sete períodos apresentar o interesse de uma ação grandiosa, em que esses eternos inimigos se procuram sob a máscara humana, e se reconhecem pela sua superioridade ou pelo seu ódio.

Para os Druzos, Pitágoras teria sido uma dessas encarnações. Por outro lado, acreditavam na transmigração das almas que se efetuaria em função dos méritos adquiridos ou não na vida precedente. O califa Hakem teve dois grandes discípulos: Hamza-Ben-Ali-Ben Hamad e Mohaminad-Ben Ismail-el-Derrzi. É do nome deste último que provém o termo «Druzo». Derrzi sofreu algumas contrariedades: depois de ter suscitado um tumulto numa mesquita do Cairo, fugiu para a Síria, onde fundou a seita e a organizou sobre bases sólidas. Hamza sucedeu-lhe e codificou a sua cosmogonia sob a forma de sete obras sagradas. Quando Baha-Al-Din Al-Muktana tomou a Ordem em mãos, fechou-a e impôs aos iniciados o katin, segredo inviolável em relação aos profanos, reforçado pelo kakkya, a maior prudência mesmo em relação aos Druzos não iniciados. Os Templários foram acusados por vezes de adorarem um bezerro, o que era manifestamente falso, embora se trate de um ponto apresentado quando da investigação. Gérard de Nerval que, no decurso da sua viagem ao Oriente, encontrou muitos Druzos, conta-nos que eles lhe falaram do horse, pedra negra talhada segundo a forma de um animal e que os Druzos traziam sempre consigo. Servia-lhes de sinal de reconhecimento.

Algumas dessas pedras, encontradas em mortos, teriam levado a pensar que adoravam um bezerro. Não seria esse vínculo que os inquisidores queriam pôr em evidência? Não podemos deixar de pensar que, no Parsifal de Wolfram von Eschenbach, o pagão Flégétanis adorava um bezerro, no qual via um deus. Se acrescentarmos que o Djebel-Druzo foi, segundo algumas lendas, o último refúgio do Graal, levado para lá por Galaad, no final da sua busca, o círculo parece fechar-se. Nerval pretendia dar garantias do seu nível iniciático ao xeque druzo, mas não dispunha da pedra negra do reconhecimento. Explicou então que «dado que os Templários franceses haviam sido queimados, não tinham podido transmitir as suas pedras aos franco-maçons que se tornaram os seus herdeiros espirituais». É verdade que esse bezerro-boi virá a ser encontrado, com o bucrânio, nos iniciados do renascimento que utilizavam o Songe de Poliphile como formulário.

As torres do Diabo

O bezerro adorado pelos Druzos pode funcionar como ponto comum com determinados costumes dos Yézidis que ocupavam as montanhas vizinhas de Singar, na Mesopotâmia, ou seja, mais ou menos a zona de ocupação dos Curdos. O seu nome era herdado do califa Yézid. Também eles praticavam uma religião fortemente dualista mas, ao contrário dos Cátaros e da maior parte dos gnósticos, concediam a superioridade ao princípio do mal sobre o do bem. Isto equivale a dizer que as cerimônias rituais acumulavam todo o gênero de horrores. Mazdeístas, haviam conservado o culto do sol e do fogo mas, acima de tudo, adoravam o sexo da mulher, considerando que fora através dele que viera o Mal absoluto.

As suas cerimônias terminavam em orgias, no decurso das quais os participantes se misturavam ao acaso. Nelas, veneravam também (como os Druzos) Tawus e Melek, o anjo pavão, por detrás do qual se escondia Satã. Lançavam desafios a Deus e afirmavam que Lúcifer tivera razão em se inclinar perante Adão, apesar da ordem do Criador. Segundo os Yézidis, há lugares privilegiados, verdadeiros centros de projeção das influências satânicas no mundo. Estão assinalados. Nomeadamente, existiriam sete torres, uma das quais na zona que ocupavam. Ligadas entre si, assemelhar-se-iam a uma projeção das estrelas da Ursa Maior.

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As sete torres em questão (que não excluem outros locais) ficariam situadas no Níger, no Sudão, no Ural, no Turquestão, numa ilha a norte da Sibéria, no Iraque e na Síria. Os Yézidis temiam a torre situada no seu território, perto das margens de Ninive. Os seus padres abstinham-se de a frequentar com medo de não saberem dominar as forças que poderiam desencadear. Em contrapartida, eram frequentadas por magos errantes. Geralmente, passavam lá vários dias. William Seabrook descreveu-a. Com efeito, fez uma visita ao santuário de «Cheik-Adi». Por detrás do Templo, construída no flanco da montanha e continuando-se por redes de subterrâneos, Seabrook viu «sobrepujando uma outra eminência mais elevada, uma torre branca, parecida com a ponta finamente aparada de um lápis e donde partiam raios de uma luz ofuscante».

Essa torre elevava-se no teto plano de uma abóbada de pedra, branqueada a cal, e o topo brilhante, donde partiam, em todas as direções, raios de luz, era constituído por uma bola de cobre cuidadosamente polida. Assim, pensava-se que essas torres se situavam em locais onde seria possível a comunicação com as forças subterrâneas, o mundo do mal. Mundo do mal onde forças tão potentes como elas seriam um perigo permanente a ser controlado. [Nota: Existe, em França, uma montanha oca que tinha o nome de Pic de La Tour e que poderia bem ser considerada no âmbito do mesmo esquema.]

De certo modo, as nossas centrais nucleares não poderiam ser assimiladas a modernas torres do diabo? Quando pensamos que o dilúvio de fogo devido à estrela Absinto deve, no Apocalipse, ser um dos sinais do fim dos tempos, e quando sabemos que Tchernobyl, em russo, significa absinto… Mas isso é outra história. Voltemos à vaca fria (ou ao bezerro de ouro). Locais perigosos cujas portas se abrem aos iniciados, locais cujas «portas se não abrem para aqueles que estão no centro da Terra, mas se abrem para Hórus», como diziam os Egípcios. Ora, em antigos textos sírios, fala-se de uma pedra preciosa assimilável ao Graal e que seria a base ou o centro do mundo, escondida nas «profundezas primordiais, perto do templo de Deus». Está relacionada com um local montanhoso inacessível. Quão perigoso é esse lugar, disse Jacob a Béthel, lá onde a pedra sagrada lhe indicou o caminho para a cidade subterrânea de Luz. Lugar onde uma escada liga a terra, tanto ao céu como ao mundo infernal. Terribilis est locus iste.

Porque esse local é a casa de Deus e esta é a porta do céu. Como diz Julius Evola: “Jacob é aquele que luta contra o anjo e lhe impõe que o abençoe, que consegue ver Elohim cara a cara e salvar a vida, combatendo contra o próprio divino.” A propósito de Jacob, Evola lembra o rei do Graal, também ele coxo e que foi ferido na coxa. Tudo gira em redor de um local onde é possível o contato tanto com o céu como com os infernos. Lembra-nos uma cena que se passou quando da iniciação de Hassan-Ibn-Sabbah, segundo ele próprio contou. Um guarda perguntou ao homem que acompanhava Hassan: «Velho guia, oh tu, o que vela na montanha, que queres de nós agora?» E o homem respondeu: – A Luz, oh meu irmão, a luz para este homem que vem da cidade submetida aos ocupantes malditos. – Entra, velho guia, e recita, para tal, a grande oração; será para ele um primeiro passo de fato em direção à luz que provém das trevas.

A pedra de Béthel, tal como as torres do diabo, em ligação com a Luz que vem das trevas (é uma cidade subterrânea) deverá ser aproximada das lendas referentes a Satã. Foi então que um anjo se apoderou de Satã, o cobriu com pesadas cadeias e o atou durante mil anos. Deus veio verificar que Satã estava bem amarrado no fundo de um abismo e ele próprio fechou a pedra que fecha o precipício. Que aprenderam os Templários, no Oriente, em contato com todas essas seitas? Quais foram, desde logo, as suas relações com Seth-Satã? Que aprenderam sobre o que permite, em determinados locais, comunicar com forças que nos transcendem? Cada um poderá imaginar, em função das suas próprias crenças, mas algumas implantações templárias analisadas a partir de lendas locais fazem-nos pensar que não foram indiferentes ao espírito dos locais e, muitas vezes, brincaram com o fogo.

Mais informações sobre os Templários:

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