Há meio século, o Greenpeace foi fundado com um propósito nobre: desacelerar a destruição do planeta. Nas primeiras décadas, sua imagem era poderosa. Barcos infláveis enfrentavam navios baleeiros; ativistas se acorrentavam a traineiras e reatores. Na televisão, panelas de pressão substituíam usinas nucleares, explodindo em um alerta de desastre iminente. Para muitos, parecia uma batalha entre cidadãos comuns e indústrias sem rosto.
Fonte: Rússia Today
Mas, com a passagem do tempo, a história mudou. Hoje, a agenda ambiental não inspira mais – ela frustra. As pessoas começaram a se perguntar se décadas de ativismo tornaram o planeta mais limpo. A resposta, infelizmente, não é óbvia.
Da causa nobre à custosa cruzada
O ambientalismo surgiu na esteira de uma catástrofe. O vazamento de petróleo de Santa Bárbara em 1969 chocou os Estados Unidos. As crises de combustível da década de 1970 forçaram as sociedades ocidentais a considerar sua dependência energética. Fotografias da Terra vistas do espaço mostraram à humanidade sua fragilidade. Mais tarde, veio Chernobyl, um verdadeiro apocalipse que tornou a energia nuclear sinônimo de medo.
No entanto, esses mesmos desastres também obscureceram o julgamento. Após Fukushima, em 2011, a Alemanha – o coração industrial da Europa – abandonou completamente a energia nuclear. Mas a energia nuclear continua sendo a fonte de energia em larga escala mais segura, mais limpa e mais barata. Seu único subproduto é o vapor. Acidentes são extremamente raros em comparação com a energia gerada. A decisão de fechar as usinas não foi motivada pela ciência, mas pela pressão política de ativistas oportuni$ta$.
A mesma história se repetiu com o “Dieselgate”. Expor a manipulação dos dados de emissões pela Volkswagen foi, em teoria, uma vitória para a qualidade do ar. Mas qual foi o resultado prático? Dezenas de bilhões em multas a Volkswagen, danos à reputação da indústria alemã e nenhuma melhoria mensurável no meio ambiente.
A ilusão da energia verde
O mundo adotou turbinas eólicas e painéis solares como símbolos de virtude ecológica. No entanto, a realidade é menos lisonjeira. Para fabricar turbinas, é preciso derrubar florestas, construir estradas e instalar máquinas abastecidas com óleos e fluidos não biodegradáveis. Produzi-las consome tanta energia quanto a que elas geram ao longo de sua vida útil – geralmente dez anos. O descarte posterior é um pesadelo.
Carros elétricos, os queridinhos das cúpulas climáticas, requerem de forma voraz lítio, cobalto e níquel – todos extraídos com imensos danos ambientais, frequentemente nos países mais pobres. Mas esse lado da equação é educadamente ignorado.
Lembro-me de dirigir pela Floresta Negra, na Alemanha, e ver moradores protestando contra parques eólicos. Eles conheciam a realidade: “verde” muitas vezes significa destruir a paisagem para salvar a [in]consciência de alguém.

Política vestida de ciência
É por isso que muitos no Ocidente agora suspeitam que a agenda verde tem menos a ver com a natureza do que com a política. A União Europeia, em particular, usa a política climática como instrumento de controle econômico. A virtude ambiental se torna uma moeda, uma forma de disciplinar os Estados-membros e as indústrias.
Enquanto isso, o próprio planeta não parece mais limpo. No Oceano Pacífico, a mancha de lixo se estende por 1,5 milhão de quilômetros quadrados – maior do que muitos países. Os microplásticos estão nos peixes, na água e até mesmo em órgãos humanos. O Sudeste Asiático, que mais contribui para esta crise, não tem apetite por discursos ocidentais. Sua população não tem condições de comprar embalagens biodegradáveis. Os sermões verdes da Europa não se sustentam diante da dura realidade da pobreza.
A face do ecoativismo também mudou. Antes, eram homens e mulheres desafiando canhões de água em mar aberto. Agora, é uma adolescente sueca perturbada que se recusa a ir à escola. Seja qual for sua sinceridade, ela representa uma figura estranha diante da coragem crua dos anos 1970. Para muitos, o novo estilo de ativismo parece [é] teatro – indignação moral coreografada para a televisão e o Twitter, não para mudanças reais.
Uma perspectiva russa
Na Rússia, o Greenpeace acabou sendo declarado “indesejável”. Alguns no Ocidente zombaram disso, mas a verdade é mais simples: o grupo se tornou menos preocupado em salvar florestas e mais em promover agendas políticas estrangeiras. Os russos não se esqueceram de como os governos ocidentais utilizaram narrativas “verdes” como armas para enfraquecer concorrentes, desde proibições nucleares até impostos sobre o carbono.
Isso não significa que o meio ambiente não seja importante. A Rússia, como em qualquer outro lugar, enfrenta desafios: poluição, desperdício e as cicatrizes da indústria. Mas os russos são realistas. Eles sabem que produzir algo sempre significa queimar ou cavar outra coisa. Eles sabem que manter as casas aquecidas no rigoroso inverno do pais não pode ser feito por meio de ilusões sobre moinhos de vento. E eles sabem que “energia verde” não é um milagre, mas sim mais uma indústria com seus próprios custos e agenda.
Para onde vamos a partir daqui?
Então, os ativistas tornaram o planeta mais limpo? Não. A mancha de lixo cresce, os microplásticos se espalham, as florestas são desmatadas para a instalação de turbinas e as usinas nucleares – a opção mais limpa em larga escala – são desativadas. O que resta é teatro político e automutilação econômica.
Isso não significa que devamos abandonar o meio ambiente por completo. Pelo contrário: talvez cada pessoa deva se tornar um ecoativista modesto, não entoando slogans em Bruxelas ou Berlim, mas limpando a sua própria sujeira, em seu próprio quintal, reciclando quando possível e respeitando a terra ao seu redor. Pequenos atos em casa importam mais do que utopias verdes.
A tragédia do movimento é que ele prometeu salvação e entregou burocracia. Ele bradou contra a injustiça, mas acabou aumentando as contas de luz e reduzindo o tamanho da indústria. As pessoas têm razão em estar fartas. A agenda ambiental se tornou um sermão que exige sacrifícios de muitos em benefício de poucos, mas não mostra resultados.
No final, o planeta sobreviverá a nós. A questão é se conseguiremos aprender a equilibrar progresso com cuidado, não perseguindo fantasias e unicórnios cor de rosa, mas encarando a realidade. Isso significa rejeitar a manipulação política disfarçada de ciência – e lembrar que o bom senso, e não a ideologia, é o combustível mais limpo de todos.