‘Sionismo se Aproveita dos cristãos para Angariar Apoio’, diz rabino sobre Aproximação com Israel

Durante visita ao Brasil, o rabino ortodoxo David Weiss afirmou que o sionismo instrumentaliza símbolos religiosos para angariar apoio de setores cristãos [fanáticos ignorantes] e legitimar um projeto político desvinculado do judaísmo. “O sionismo se aproveita da pauta cristã para angariar apoio. Isso é proposital”, disse.

Fonte: Sputnik

Questionado pela Sputnik Brasil sobre a aproximação da direita brasileira com Israel, o rabino David Weiss, da organização judaica Neturei Karta International, afirmou que a aliança é sustentada por interesses ideológicos.

“O sionismo se aproveita da pauta [fanatismo e ignorância] cristã para angariar apoio. Isso é proposital”, disse ele.

Durante visita ao Brasil, o rabino criticou como setores cristãos conservadores se tornaram base política e simbólica do apoio ao Estado de Israel — algo que, segundo ele, também é explorado por Jair Bolsonaro e aliados, por exemplo.

“Infelizmente, é dessa fonte que eles tiram seu poder. Os sionistas entenderam, desde o início, que precisavam da simpatia do mundo para criar um Estado. Eles perceberam que, ao se apropriar de símbolos bíblicos, como o nome ‘Israel’ e a estrela de Davi, conseguiriam apoio dos cristãos evangélicos.”

Weiss explicou que o movimento sionista, surgido no fim do século XIX, não tinha ligação com a religião judaica. “Os primeiros sionistas queriam fundar seu Estado em lugares como Uganda ou Patagônia. Eles não estavam interessados na Terra Santa — era uma questão de conveniência. Só mudaram de ideia quando perceberam que poderiam mobilizar [manipular] os cristãos, que acreditam que os judeus devem retornar à terra de Israel como parte do plano divino.”

Para ele, essa instrumentalização da fé cristã é “repugnante” e desrespeitosa com a própria história do povo judeu. “Eles usam o sofrimento do Holocausto para justificar roubo, assassinato e ocupação. Meus avós morreram em Auschwitz por seguirem a Torá. Usar as cinzas deles para justificar a criação de um Estado é se rebelar contra Deus.”

“Pedimos aos líderes do mundo que, mesmo com a pressão, não ignorem o sofrimento do povo palestino. Assim como o apartheid caiu, esse regime também pode cair. O Estado de Israel é uma entidade criminosa. Deve haver uma Palestina livre, do mar ao rio.”

Qual é a diferença entre judaísmo e sionismo?

O rabino David Weiss alerta que, ao confundir judaísmo com sionismo, os próprios cristãos caem em uma armadilha perigosa.

“O judaísmo é uma religião. O sionismo é um movimento político, nacionalista e materialista. Um não tem nada a ver com o outro. Apoiar o sionismo não é apoiar o povo judeu, é apoiar um regime criminoso que desrespeita a própria Torá.”

Segundo ele, o verdadeiro judaísmo sempre se opôs à criação de um Estado judeu. “Estamos em exílio espiritual. A Torá proíbe que os judeus criem um Estado próprio antes da chegada do seu Messias. Criar esse Estado foi um pecado, e usá-lo para explorar a boa-fé [a ignorância] dos cristãos é um pecado ainda maior.”

“Se realmente querem apoiar os judeus religiosos, deveriam estar do lado da Palestina. O Estado de Israel não representa o povo judeu — representa uma ideologia moderna e perigosa que se apropria da religião para cometer crimes.”

Por que Israel e o Irã são inimigos?

Segundo Weiss, apesar do escalonamento do conflito entre os países, o Irã é um exemplo histórico de convivência. “Nós judeus vivemos bem lá por séculos. Conheço sinagogas em Teerã que funcionam até hoje.”

“O aiatolá [Ali] Khamenei deixou claro que respeita o judaísmo, mas rejeita o sionismo. Eles se recusam a chamar aquilo de ‘Estado de Israel’, e com razão. Até nisso são mais fiéis ao judaísmo do que muitos judeus.”

Como foi o surgimento de Israel?

Weiss critica a cena histórica da declaração de independência de Israel, em 1948. “Naquela foto famosa com [David] Ben-Gurion e o retrato de Theodor Herzl acima dele, quase nenhum deles está cobrindo a cabeça. Chamam aquilo de Estado judeu, mas não seguem a Torá. Alegam, em nome de Deus, o direito de tomar a terra da Palestina. Contam com a ignorância das massas, que não sabem que a Torá nos proíbe disso.”

Ele reforça que a criação de um Estado judeu é contrária às leis religiosas judaicas.

“Esperamos um tempo em que Deus, com compaixão, acabará com o exílio. Ele trará uma mudança metafísica, um milagre em que toda a humanidade acreditará em um só Deus. E então Deus construirá um templo sem intervenção humana. Até lá, é proibido estabelecer um Estado judeu.”

Weiss também denunciou repressão por parte do governo israelense contra judeus ortodoxos que se opõem ao sionismo. “Há 77 anos, judeus religiosos protestam nas ruas de Jerusalém e são brutalmente espancados pelo exército. Velhos rabinos, jovens e crianças são atacados. Recusam-se a servir ao exército porque é contra a nossa religião. Dizem que é porque querem estudar, mas a verdade é que o serviço militar é proibido pela Torá.”

“O mundo tem medo de se opor ao massacre em Gaza porque será acusado de antissemitismo, mas os sionistas são os verdadeiros antissemitas. Eles causam ódio contra os judeus ao confundirem o mundo, usando a estrela de Davi e o nome ‘Israel’ para dar aparência de santidade a seus crimes.”

Weiss relata ter se encontrado com diversos líderes do Oriente Médio, incluindo figuras do Irã, do Hamas e do Hezbollah. “Queremos mostrar que as vítimas são os palestinos e os judeus, e os vilões são os sionistas.”

“Em Gaza, levamos ajuda médica, fomos recebidos por Ismail Haniyeh, que repetiu várias vezes que não tem nada contra os judeus. Em Beirute, estivemos com o xeique Naim Qassem, do Hezbollah. Também encontramos o presidente [Mahmoud] Abbas para declarar que os sionistas não representam os judeus.”


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