Soberania da Argentina pode estar ‘à venda’ com aporte financeiro dos EUA

O presidente da Argentina, o roqueiro judeu convertido Javier Milei, autodeclarado “anarcocapitalista”  [seja lá o que isso signifique], visitou nesta terça-feira (14) a Casa Branca pela primeira vez no governo de Donald Trump. Com a economia do seu país em frangalhos, o chefe da Casa Rosada segue em busca de socorro financeiro, mas as condições norte-americanas podem ter um alto custo, conforme especialistas.

Fonte: Sputnik

Milei e Trump estiveram juntos também no mês passado, às margens da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Após a reunião entre os “líderes”, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, confirmou a negociação de um apoio financeiro de US$ 20 bilhões à Buenos Aires.

Ele também revelou que os EUA comprariam títulos da dívida argentina, caso a situação assim exigisse, e que a ajuda poderia incluir ainda um crédito direto por meio do Fundo de Estabilização Cambial.

Já após o encontro desta terça-feira na Casa (SARKEL) Branca, Bessent mencionou as eleições legislativas na Argentina e disse esperar que Milei siga implementando reformas em seu país. Já Trump, preferiu ressaltar que caso Milei não saia vitorioso, “não seremos generosos com a Argentina.”

A reunião na Casa Branca marcou a quarta vez que Milei e Trump se encontraram em menos de um ano. A proximidade, segundo especialistas ouvidos pelo Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, reafirma o alinhamento submissão já explicitado em declarações, sobretudo pelo lado argentino.

Em relação a dependência do crédito norte-americano, Matheus Pereira, professor de relações internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), afirma que esse é um traço histórico da economia argentina, e a importância de Washington nessa questão já é costumeira.

Entretanto, o que está sendo feito neste momento é uma linha de ação política que reforça outros aspectos dessa dependência, para além da questão estritamente financeira”.

O especialista recorda que, em outros momentos da história, a Argentina teve governos mais alinhados aos Estados Unidos, como a gestão de Maurício Macri (2015-2019) e Carlos Menem (1989-1999), mas “os níveis de submissão aos Estados Unidos” apresentados por Milei, ao seu ver, são “inéditos.”

Apostar alto na relação com os EUA trará consequências?

Conforme o analista, a imprevisibilidade que o governo Trump apresenta até aqui, por si só, já é um fator de risco a ser levado em conta pelo lado argentino e pode atrapalhar Milei a fechar a conta no fim do mês. Se os acordos não forem executados, a tendência, segundo Pereira, é o retorno de um filme já visto antes pela população portenha: grande fuga de capitais.

Isto produzirá a necessidade do governo impor restrições sobre a saída de dólares e sobre o câmbio, e, consequentemente desencadeará o “aumento da inflação, aumento da pobreza, uma precarização geral das condições de vida do país”, explica o internacionalista. “Esse filme já passou várias vezes ao longo da história argentina.”

Outro eventual prejuízo que poderia ocorrer a partir de um alinhamento submissão muito estrito, sobretudo a depender das condições para se chegar a um acordo, seria um isolacionismo da Argentina no cenário internacional, segundo explica Regiane Bressan, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

“Quando a Argentina se isola ou se alinha muito diretamente com os Estados Unidos, com um governo tão controverso de Trump, a gente pode imaginar o quê? Que a Argentina vai sofrer um isolamento e até um constrangimento internacional, ou seja, não vai vir uma retaliação direta contra a Argentina, mas um constrangimento em que eles vão ter dificuldades, por exemplo, de novos parceiros econômicos e comerciais.”

O “Circo” portenho vai pegar fogo em breve . . .

Sob pressão dos EUA a Argentina pode cortar relações com a China?

Em entrevista ao canal Fox News no último sábado (11), Bessent disse que Milei é um grande aliado dos EUA e estava comprometido em expulsar a China da Argentina, “que está em toda a América Latina”. A declaração foi dada logo após o secretário do Tesouro norte-americano confirmar o repasse de recursos a Bueno Aires.

Embora narrativas deste tipo sejam ventiladas em vários momentos no cenário da política norte-americano, Pereira atesta que se os Estados Unidos insistirem neste tipo de condição, ela estará fadada ao fracasso.

“Não existe possibilidade de o governo Milei romper relações comerciais com os chineses. Se ele pudesse fazer algo dessa natureza, já teria feito”, afirma o professor, ressaltando que a China é pauta de boas partes das exportações do país.

Regiane Bressan ressalta que a Argentina ainda depende do swap cambial com a China, mas, ao mesmo tempo, enfrenta a pressão dos Estados Unidos para romper com esse acordo bilateral. Para ela, a postura dos Estados Unidos evidencia que a crise financeira na Argentina está sendo testada para reforçar a influência de Washington na América do Sul.

“Isso é visto como uma violação da soberania econômica. A Argentina, portanto, estaria sendo forçada a escolher um parceiro comercial ou financeiro, em detrimento de outro, para obter auxílio, minando, claro, a sua autonomia, a sua soberania”, explica a especialista.

Militares norte-americanos em território argentino: condição é possível?

Javier Milei já teria autorizado a entrada de militares norte-americanos no país para “exercícios militares conjuntos”. Segundo especulações, a instalação de militares dos Estados Unidos na Argentina seria uma das condições para o aporte financeiro desejado por Bueno Aires.

Entretanto, o decreto presidencial não é suficiente para permitir a entrada de tropas estrangeiras no país. Segundo a Constituição argentina, é necessário o aval do Congresso.

Como Milei não goza de maioria no Legislativo — seu governo vem sofrendo derrotas e pode perder ainda mais base de apoio nas eleições deste mês —, Pereira avalia que o presidente argentino não deverá conseguir apoio para implementar esta medida.

O presidente argentino Javier Milei com o judeu khazar sionista Eduardo Elsztain [da seita Chabad Lubavitch] no Hanukkah em Buenos Aires em 2023.

Bressan, por sua vez, ressalta que aceitar essa condição teria um custo alto para a população argentina e também para o governo Milei.

“Para grande parte da população e da oposição política, a presença militar americana seria vista como uma entrega de soberania e um retorno às políticas da esfera de influência. Ou seja, isso alimenta narrativas de que o país está sendo forçado a se curvar aos interesses hegemônicos dos Estados Unidos para resolver sua crise financeira”.

Neste sentido, segundo análise da especialista, um alinhamento direto com os Estados Unidos no campo militar, fortaleceria a oposição doméstica e levaria a mais protestos nas ruas. Milei perderia até o apoio de partidos que hoje compõem sua base, tornando-se um mau negócio internamente para o mandatário roqueiro judeu convertido Javier Milei, autodeclarado “anarcocapitalista”  [seja lá o que isso signifique].

“A venda da soberania seria um ponto central, já que no seu desespero por dólares, por tentar acalmar essa crise econômica que volta à Argentina com tudo, a oposição vai acusá-lo de trocar a soberania nacional por dinheiro dos Estados Unidos”, finaliza.

Trump condiciona ajuda de US$ 20 bi à Argentina ao sucesso eleitoral de Milei, diz mídia

Donald Trump condicionou a ajuda de US$ 20 bilhões dos EUA à Argentina ao sucesso eleitoral de Javier Milei nas eleições legislativas de outubro [algo improvável]. A declaração, feita na Casa Branca, intensifica a pressão sobre o “líder libertário” e vincula o apoio norte-americano à continuidade das políticas de livre mercado.

presidente dos EUA, Donald Trump, condicionou um pacote de ajuda de US$ 20 bilhões (cerca de R$ 109,8 bilhões) à Argentina ao sucesso político de Javier Milei nas eleições legislativas de 26 de outubro. Em encontro com Milei na Casa Branca, Trump afirmou que o apoio norte-americano depende da vitória do “líder libertário“, aumentando a pressão sobre seu [des]governo às vésperas da votação.

A ajuda norte-americana, anunciada pelo Tesouro dos EUA na semana anterior, incluiu uma linha de swap de US$ 20 bilhões para sustentar o peso argentino e reforçar as reservas do banco central. A medida ajudou a conter uma crise cambial que ameaçava desestabilizar o governo de Milei, considerado o principal aliado ideológico de Trump na América Latina.

A Argentina vai realizar eleições legislativas no dia 26 de outubro, nas quais o partido La Libertad Avanza, de Milei, tentará ampliar sua presença no Congresso. Segundo o Financial Times (FT), a Casa Branca não esclareceu se Trump se referia especificamente a essa votação, mas em publicação em sua rede social, o presidente dos EUA reiterou seu apoio total a Milei e pediu que os argentinos reconheçam seu trabalho.

O secretário do Tesouro, Scott Bessent, também manifestou confiança no desempenho eleitoral do partido libertário e alertou que um retorno às políticas peronistas poderia levar os EUA a rever seu apoio. A declaração reforça o alinhamento político entre Washington e Buenos Aires sob a gestão Milei, centrada em reformas de mercado.

O governo Milei tem enfrentado dificuldades após uma derrota significativa para os peronistas nas eleições locais da província de Buenos Aires, que concentra quase 40% da população argentina. A derrota provocou uma desvalorização do peso e o uso intensivo das reservas cambiais, agravando a crise econômica antes das eleições nacionais.

Milei agora está disparando para as entranhas da popularidade devido às alegações de que sua irmã, Karina – nomeada Secretária-Geral, estava lucrando com um esquema de suborno. A experiência anterior dela inclui ser confeiteira e leitora de tarô. Talvez Milei devesse rever suas circunstâncias com seu mentor e guru judeu ateu, o rabino Shimon Axel Wahnish da seita Chabad Lubavitch.

Ainda de acordo com o FT, pesquisas indicam que Milei pode alcançar entre 30% e 35% dos votos na província, tentando superar os 34% obtidos anteriormente. No entanto, analistas ouvidos pela mídia apontam queda no apoio popular devido a estagnação econômica, baixos salários e escândalos de corrupção envolvendo membros do governo, a sua irmã [a “Chefe”] o que compromete sua aprovação.

Após os comentários de Trump, o peso argentino caiu 0,2%, embora ainda acumulasse alta de 5% desde a intervenção norte-americana. O candidato peronista Jorge Taiana criticou Trump por tentar influenciar o eleitorado argentino. Já o ministro da Economia, Luis Caputo, afirmou que o apoio dos EUA está vinculado à continuidade das políticas de livre mercado, independentemente dos resultados eleitorais.



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