Embraer fecha mais vendas do C-390. Fruto de Qualidade Técnica em Aeronáutica e conquista diplomática do Brasil

Com uma crescente popularidade entre as forças aéreas mundo afora, a Embraer fechou mais uma venda do seu cargueiro C-390 Millennium. À Sputnik Brasil, especialistas detalharam as vantagens da aeronave brasileira frente a seus competidores e os amplos benefícios que o sucesso de vendas traz para o país, o terceiro maior polo da fabricação de aeronaves do mundo.

Fonte: Sputnik

Em sua visita ao Brasil na semana passada, a comitiva da Eslováquia assinou uma carta de intenções para iniciar a negociação de compra de três unidades do avião C-390 Millennium, avião cargueiro multimissão produzido pela Embraer.

A ocasião marca o sexto Estado-membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) a avançar na compra da aeronave brasileira. Além da Eslováquia, estão na lista de clientes:  Portugal (cinco pedidos, dois entregues); Hungria (dois pedidos, um entregue); Países Baixos  (cinco pedidos); Suécia (três pedidos); e República Tcheca (dois pedidos).

Áustria e a República da Coreia, que não pertencem à aliança mas possuem suas doutrinas militares alinhadas aos Estados Unidos e à Europa, também anunciaram suas compras. A nação europeia encomendou quatro unidades, enquanto o país asiático realizou o pedido de três.

Força Aérea Brasileira (FAB), que inicialmente comissionou o desenvolvimento da aeronave pela Embraer, já opera 7 de 19 unidades encomendadas à empresa.

O C-390 Millennium é um cargueiro de médio porte desenvolvido especificamente para atuar em variadas situações, como transporte de carga, evacuação aeromédica, combate a incêndios, envio de suprimentos e salvamentos.

Nesse ponto, diz o aviador Fernando De Borthole, o C-390 é uma das melhores aeronaves para o trabalho.

Não só ele é um modelo recente — sendo certificado na última década — e com sistemas digitais modernos e controle fly-by-wire, como suas especificações são de ponta. O avião é capaz de levar até 26 toneladas de carga, atinge uma velocidade de cruzeiro de até 870 km/h e possui um alcance de até 5 mil quilômetros.

A versão KC-390 também conta com a possibilidade de ser reabastecida e reabastecer outros aviões durante o voo, prolongando a autonomia das aeronaves.

Mas a grande vantagem do C-390 é a facilidade de transformação do seu interior, relata De Borthole. “Em questão de poucas horas eles conseguem transportar, transformar o avião inteiro.”

“Para transportar carga ele fica completamente vazio, para entrarem os pallets, e em poucas horas eles conseguem colocar todos os suprimentos para transporte de tropas. Isso traz uma vantagem operacional muito grande.”

O curioso é que nesses países o C-390 está substituindo o clássico e icônico Lockheed C-130 Hercules, produzido pelos Estados Unidos. Até mesmo nações que não operavam o modelo norte-americano, como Eslováquia e Hungria, também optaram pelo produto brasileiro.

Com seu baixo custo operacional, fácil manutenção e asa alta, permitindo sua operação em pistas mais rústicas e curtas e aeroportos mais precários, o C-390 vem ganhando espaço nos hangares das mais diversas aeronáuticas, tampouco se limitando às europeias.

A empresa brasileira do ramo da aviação negocia com a Arábia Saudita a criação da primeira linha de produção do avião de transporte multimissão KC-390, no Oriente Médio

A Arábia Saudita e a Índia também estão negociando a compra de dezenas de C-390. A nação árabe está de olho em cerca de 30 unidades, enquanto os indus pensam em adquirir entre 40 e 80 aeronaves.

Tamanha aceitação é fruto não só das qualidades técnicas do modelo da Embraer, mas também do esforço da diplomacia brasileira de “retomar sua posição de mediação e abertura para o diálogo multipolar”, diz João Victor Motta, doutorando e mestre em relações internacionais pelo Programa de Pós-graduação San Tiago Dantas.

“Isso dá a possibilidade de construir parcerias comerciais com países que os principais concorrentes da Embraer não podem, seja por questões de embargos ou questões geopolíticas.”

Em todo o mundo países estão buscando diversificar suas parcerias estratégicas, e, nesse cenário de crescente multipolaridade, o Brasil surge como um dos pontos focais em ascensão. Então, diz De Borthole, embora o Brasil não faça parte de nenhuma aliança, ele é próximo de muitos países e, nesse cenário, pesa o fato de a Embraer ser uma “fabricante consolidada, a terceira maior fabricante de aviões do mundo”.

Tecnologia brasileira

Para dar vazão a tantos pedidos, a Embraer terá que expandir suas capacidades de produção. Atualmente a empresa possui uma fábrica em Gavião Peixoto (SP) capaz de produzir cerca de seis aviões por ano. Até 2030, a expectativa é dobrar esse número.

Ainda assim, para alcançar os números necessários para as vendas, é de entendimento da empresa e dos países a necessidade de abrir linhas de montagem locais. Segundo De Borthole, essa expansão das capacidades da empresa é benéfica para o Brasil, uma vez que “facilita a transferência de tecnologia tanto do Brasil para outros países como o contrário”.

“Isso fortalece a capacidade tecnológica do Brasil.”

A própria expansão da fábrica no interior paulista já representa um benefício para todo o setor tecnológico nacional, argumenta o especialista em aviação. “A sede da Embraer em São José dos Campos criou um polo aeronáutico onde há várias empresas-satélites em volta trabalhando com o desenvolvimento dessa tecnologia”, disse.

Uma maior demanda, nesse caso, aumenta a necessidade de formar e contratar mais engenheiros aeronáuticos, retendo no país esses profissionais, que normalmente são cooptados por gigantes do exterior como a Boeing e a Airbus.

“Então não é um crescimento só da Embraer isoladamente”, afirma, “mas ela vai ter a necessidade de desenvolver e construir equipamentos através de outras empresas que talvez ainda nem existam e serão criadas para isso, ou já existam e aumentem junto da Embraer”.

“Isso é um efeito cascata positivo para o país como um todo, que posiciona o Brasil como um desenvolvedor de tecnologia. Não só um vendedor de commodities, mas um desenvolvedor de tecnologia.”


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