Como último grande evento enquanto ainda estava em solo saudita, e antes de embarcar para o Catar, o presidente Donald Trump se encontrou com o presidente sírio, Ahmed al-Sharaa. Isso representa uma mudança monumental e histórica em toda a [des]ordem regional do Oriente Médio. Estamos testemunhando os efeitos finais da culminação do que foi estabelecido em “The Redirection”, de Seymour Hersh, uma política que começou ainda no governo Bush.
Fonte: Zero Hedge
Sharaa, também conhecido como Abu Mohammed al-Jolani, começou sua carreira no início da guerra na Síria como emissário do líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, e mais tarde tornou-se fundador da Al-Qaeda síria, chamada Jabhat al-Nusra. O grupo terrorista passou por várias mudanças de nome e agora é o Hayat Tahrir al-Sham (HTS), após a deposição de Bashar al-Assad do comando da Síria em dezembro.
Ontem, em discurso no Fórum de Investimentos EUA-Arábia Saudita, Trump descreveu que o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, lhe pediram que removesse as sanções contra a Síria, que vigoravam há muito tempo. Trump expressou esperança de que o país pudesse se estabilizar novamente sob seus novos governantes.
“As sanções foram brutais e paralisantes e, mesmo assim, desempenharam um papel importante — realmente importante — na época. Mas agora é a hora deles [a Síria] brilharem”, disse ele. “Então, eu digo: ‘Boa sorte, Síria’. Mostre-nos algo muito especial.” Quanto a ‘especial’…
De fato, Jolani/Sharaa passou de chefe terrorista do HTS, ligado à AQ, na província de Idlib, regida pela Sharia, para ocupar o cargo em Riad, ao lado do presidente dos Estados Unidos. Ele ainda não foi removido da lista de terroristas dos EUA, embora a recompensa de dez milhões de dólares por sua cabeça tenha sido retirada meses atrás.
Trump descreveu o elefante branco do terrorismo ao dizer aos repórteres a bordo do Força Aérea Um, logo após a reunião, que Sharaa era um “cara jovem e atraente — um cara durão” com um “passado forte” e que agora ele tem a oportunidade de estabilizar a Síria.
“Ele tem uma chance real de se recompor”, acrescentou Trump. Trump teria instado Sharaa a fazer a paz com Israel e aderir aos Acordos de Abraão. Washington também tem pressionado Damasco a proteger e respeitar as minorias religiosas após os recentes assassinatos em massa de alauítas, drusos e cristãos – especialmente ao longo da costa, no sul e em alguns subúrbios de Damasco.
A publicação conservadora National Review tem razão ao dizer o seguinte :
O encontro de Trump com Ahmed al-Sharaa é ainda mais extraordinário do que um presidente americano se encontrando com algum ramo repugnante da família Assad. Até o final de dezembro, o governo americano estava disposto a pagar US$ 10 milhões por informações sobre a localização de al-Sharaa, pois ele estava na lista de “terroristas globais especialmente designados”.
A ironia é que a reunião de Sharaa aconteceu à margem da cúpula dos Estados Unidos e dos membros do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), em Riad. Foi o CCG que, no início da guerra por procuração na Síria, teve um papel importante no financiamento da insurgência jihadista anti-Assad, que incluía o ISIS e a Al-Qaeda.
O Catar, em especial, foi um grande financiador dos islamitas na Síria, que decapitaram civis, massacraram cristãos e escravizaram mulheres como escravas sexuais. O Catar chegou a sediar campos de treinamento do “Exército Sírio Livre” (ELS), em coordenação com a CIA e os serviços de inteligência ocidentais e do Golfo. Os comandos do ELS, então, frequentemente, recém-formados, levavam suas armas para a Síria e lutavam ao lado do ISIS. Já documentamos isso inúmeras vezes.
“Parece que Erdogan participou da reunião Trump-Sharaa-MbS por teleconferência”.
Quanto aos destaques da leitura da reunião Trump-Sharaa :
Trump disse a al-Sharaa que ele tinha “uma tremenda oportunidade de fazer algo histórico em seu país”, segundo o comunicado. Ele instou o líder sírio a assinar os Acordos de Abraham, uma estrutura para que os Estados árabes reconheçam a soberania israelense, mediada pelos EUA durante o primeiro mandato de Trump.
Ele também aconselhou al-Sharaa a pedir aos terroristas estrangeiros que deixassem a Síria, deportassem os terroristas palestinos, ajudassem os EUA a impedir o ressurgimento do grupo terrorista Estado Islâmico e assumissem a responsabilidade pelos centros de detenção do ISIS no nordeste da Síria.
Al-Sharaa afirmou seu compromisso com o desligamento da Síria de Israel em 1974 e convidou empresas americanas a investirem no petróleo e gás sírios, disse o comunicado.
Na quarta-feira, Trump desembarcou no Catar, onde, como explica a Al Jazeera, “paz regional, investimentos, cooperação energética e de segurança estão na pauta enquanto o presidente dos EUA, Donald Trump, se reúne com o emir do Catar, Sheikh Tamim bin Hamad Al Thani, na capital do Catar, Doha, durante a segunda etapa de sua visita ao Golfo”.
Um presidente americano não visitava o Catar há mais de 20 anos. Mas certamente os dois lados se aproximaram no contexto da tentativa secreta de derrubar Assad e de travar uma guerra por procuração contra o “eixo pró-Irã” na região. O Catar também abriga importantes instalações militares e navais regionais dos EUA.
Quanto a outro tema que Trump deve continuar a abordar, ele disse na quarta-feira: “Isso é bom para Israel” — depois que repórteres perguntaram se o governo Netanyahu estaria sendo marginalizado em sua viagem ao Golfo. “Ter um relacionamento como o que tenho com esses países… acho que é muito bom para Israel.”
Quanto à atual crise em Gaza, pouco foi dito publicamente, mas provavelmente é uma prioridade a portas fechadas. Afinal, a Casa Branca quer “poder dizer que fez um home run nos três reinos – que foi capaz de construir relacionamentos que transcenderão sua presidência. Ele quer inundar a imprensa americana com uma lista de sucessos”. Trump está em negociações com o Emir do Catar.
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