ATLÂNTIDA, A RAINHA das ONDAS dos OCEANOS
“O propósito desta história é relatar o que conheci pela experiência, e não me cabe expor idéias teóricas. Se levares algunspontos pequenos deixados sem explicação para o santuário interior de tua alma, e ali neles meditares , verás que se tornarão claros para ti, como a água que mitiga a tua sede. . .
“Este é o espírito com que o autor (Philos, o Tibetano) propõe que seja lido este livro. E chama de história o relato que faz de sua experiência. Que é história?. . . Ao leitor a decisão.
“Nunca pronuncies estas palavras: “isto eu desconheço, portanto é falso“. Devemos estudar para conhecer; conhecer para compreender; compreender para julgar“. – Aforismo de Narada.
Livro: “Um Habitante de Dois Planetas”, de Philos, o Tibetano – Livro Primeiro, CAPÍTULO 15 – O Abandono Materno
Fonte: https://www.sacred-texts.com
O ABANDONO MATERNO
Antes de sair de nossa casa de campo naquela manhã, eu tinha relatado todos os acontecimentos à minha mãe, avisando-a de que alguém viria buscá-la e levá-la até o palácio, onde, de acordo com as instruções de Menax, eu esperava que ela fosse morar, em virtude da recente reviravolta em minha sorte. Que situação anômala era aquela! Ali estava eu, transformado em filho adotivo de um dos Príncipes Imperiais, o que me fizera ser reconhecido como irmão de sua filha Anzimee e portanto também sobrinho do tio (o rei) dessa minha irmã, Rai Gwauxln. Minha mãe, por outro lado, não tinha parentesco com nenhuma dessas personalidades e nunca as tinha visto, exceto o Rai, o suficiente para poder reconhecê-las caso as encontrasse.
De qualquer forma, eu me sentia feliz ao pensar nas oportunidades que ela teria de estabelecer um relacionamento mais íntimo com todas elas. Tendo mandado um emissário ir buscá-la, conforme o combinado, qual não foi minha surpresa quando fui informado por meu pai de que ela não viera, mandando em seu lugar uma mensagem por escrito. Nervosamente rompi o lacre e li a simples ordem que ela escrevera em sua elegante escrita poseidana:
“Zailm vem me ver.” PREZZA NUMINOS
Obedeci com uma sensação gelada na alma, com um pressentimento angustioso. Quando cheguei em casa, minha mãe, que me pareceu bastante pálida, disse: “Meu filho, não posso ir morar no palácio, nem o desejo. Estou contente com teu bom êxito: deves usufruir de tua alta posição. Mas não posso ir contigo. Estás à vontade entre os nobres, mas eu não o conseguiria. Talvez penses em dizer que renunciarás ao palácio e continuarás morando aqui comigo, mas não deves fazê-lo. Para que não tenhas essa ideia, é melhor que sofras a dor de uma nova realidade agora e não mais tarde. Ouve: cuidei de ti em tua infância e adolescência, até alcançares a idade adulta. Não precisas mais de meus cuidados. Pretendo voltar para nossa casa nas montanhas.”
“Não podes falar dessa forma, mamãe!” “Ouve o que tenho a dizer, Zailm! Voltarei para a casa das montanhas com meu marido, alguém que não conheces; é um bom homem que foi meu namorado antes de eu desposar teu pai. Casamo-nos esta manhã e a notícia certamente já é de domínio público. Um Incala que passou por nós no momento oportuno realizou a cerimônia, que foi muito simples. Eu não amava meu primeiro marido, teu pai; na verdade o detestava, pois aquele foi um casamento arranjado por meus pais contra a minha vontade, embora com o meu consentimento, tola que fui em dá-lo! És o fruto de uma união que não desejei. Eu detestava, até odiava teu pai, mas ao morrer ele te deixou como uma herança, não do meu desgosto, pois isso seria injusto, mas de minha indiferença.
Não fui uma mãe relapsa porque, por uma questão de orgulho, ocultei meus sentimentos. De certa forma te amo como amo meus amigos e não de uma forma profunda. Devo, pois, despedir-me de ti, tendo dito o que precisava dizer para. . . ” Não ouvi mais nada, pois tinha desfalecido e caído ao chão. Era aquela a mãe que eu havia idolatrado? Por quem tinha eu lutado quando pequeno e depois em Caiphul, antes que uma nova motivação surgisse e aumentasse minha determinação na forma de um duplo ideal, o amor filial e o amor por Anzimee? Ó meu Deus! Ó meu Deus! Finalmente, sem recobrar a consciência, passei do horrível sonho em que mergulhara para o pesadelo de uma febre cerebral. “Mamãe!”
Quando pronunciei o amado nome, Astika Menax, que estava sentado ao lado de meu leito, virou o rosto, com os olhos marejados de lágrimas. “Não, Zailm, não te atormentes! Estiveste muito doente com febre cerebral nas últimas duas semanas e quase morreste. Amanhã talvez te conte tudo. Chegaste muito perto de ires me esperar na Terra das Sombras. Não terias de esperar muito, minha luz, pois eu logo iria juntar-me a ti, meu filho!” A história não é longa. Minha mãe, informada de que eu receberia toda a ajuda necessária para cuidarem de mim, respondera que não ficaria para me tratar, pois não duvidava de que os cuidados especializados do médico particular de Menax seriam tão bons ou melhores que os dela.
Então partira com o seu novo marido para seu lar nas montanhas. Desde o instante em que Menax me relatou esses fatos, à custa de muito sofrimento calei sobre o assunto e nunca mais toquei nele para quem quer que fosse. Certa vez, ao passar perto do lugar onde tinha nascido, mandei um mensageiro perguntar se eu seria recebido; o pajem voltou até meu vailx e disse que um homem o atendera. A mensagem tinha sido transmitida a ele, que respondera: “Diz a teu amo que minha esposa o receberá”. Fui até lá e logo percebi que ela preferia que eu não o tivesse feito. Minha mãe me estendeu a mão mas não mostrou o desejo de beijar-me, como as mães costumam fazer. Sua atitude. . . Mas poupa-me da lembrança daquele encontro com minha mãe poseidana, daquela última vez em que a vi. Ela tinha agido sabiamente não se mudando para o palácio, sendo como era. Mas este é um assunto doloroso e prefiro não continuar.
Logo que minha saúde permitiu que eu pudesse viajar em minha missão para Suern (ÍNDIA), o que só ocorreu no inicio de um novo período no Xíoquithlon, que eu fora proibido de frequentar até o próximo ano, o Príncipe Menax me chamou ao seu gabinete particular. “O Xiorain decidiu com sabedoria” disse o principe Menax. “Ah! Essas mentes jovens cheias de promessas para o futuro; nenhum esquema é melhor do que esse em que o estudante governa a si mesmo, inclusive a palavra deles é lei em todas as questões educativas mesmo às que se referem ao uso e distribuição dos fundos providos pelo governo e à escolha dos instrutores”.
Sobre a mesa de Menax havia um adorável vaso de vidro maleável em cujo interior, mediante um dispositivo de fusão, foram misturados ouro em pó, prata e outros metais de cor, em conjunto com certos produtos químicos que conferem à totalidade dos vários graus de translucidez, a partir do quase opaco à transparência perfeita, o que afeta as várias gama de metais, bem como o vidro, e aparecendo em diferentes partes do mesmo objeto. A beleza não estava segundo o valor dos vários metais e produtos caros usados. Menax apontou para o vaso alto, e eu li sobre ele esta inscrição, formado com rubis:
“Para Ernon, Rai de Suern, de Gwauxln, Rai de Poseid, como sinal de amizade dos poseidanos.”
Se qualquer um tivesse vontade de ver um facsímile das palavras originais escritas em quirografia poseidana, eis tua vontade satisfeita:
Desviando os olhos do belo objeto, perguntei: “Quando devo partir para cumprir esta missão, meu pai?” “Assim que tua saúde e as conveniências permitirem, Zailm.” “Então que seja depois de amanhã.” “Está bem. Podes levar os acompanhantes que desejares. Nenhum aluno deixará de obter uma licença do Xiorain, creio, caso queiras levar colegas teus como acompanhantes; a dispensa será de um mês no máximo, mas não acredito que queiras te ausentar por mais que trinta e três dias. Leva este anel com meu sinete, pelo qual te nomeio meu representante, pois sei que o usarás com discrição. Ele te dá poderes de Ministro dos Negócios Estrangeiros. Leva também uma comitiva de cortesãos.”
Respondi que não levaria tal comitiva, pois tendo ouvido a história de Lolix, concluíra que o Rai Ernon olharia com desdém para tão supérflua escolta. Isto agradou Menax, que disse, cheio de orgulho: “Zailm, tuas palavras me alegram! Vejo que és sabiamente diplomático e consideras com inteligência as idiossincrasias daqueles com quem deves tratar.” Enquanto eu estivera enfermo, Anzimee tinha se mostrado muito solícita e, pelo que me contaram as enfermeiras regulares, não tinha deixado ninguém cuidar de mim a não ser quando estava excessivamente fatigada, o que nunca durava muito tempo.
No decorrer de minha convalescença ela passou a me visitar apenas uma vez por outra. Tirei proveito de uma dessas visitas para lhe dizer que sabia do desvelo com que me tratara em meu delírio. Ela enrubesceu e disse: “Sabes que estou estudando a ciência da terapia. Que melhor oportunidade de treinamento teria uma aluna interessada na cura do que a que me proporcionaste?” “Sim, é verdade” – respondi, sentindo que havia uma razão mais profunda do que um simples desejo de aprender e que sua atitude com relação a isso tinha sido extremamente, amorosamente solícita!
Esbocei para Anzimee o plano que tinha traçado para tirar o máximo prazer de minha viagem, depois que o negócio de estado em Ganje, capital de Suern, tivesse sido finalizado. Já fazia três anos que eu não me afastava de Caiphul a não ser para ir até minha casa de campo em Marzeus. Mostrei o roteiro que pretendia seguir, juntos analisamos o mapa. Mostrei que, partindo de Caiphul pelo extremo oeste do cabo de Poseid, o curso me levaria para o leste, atravessando o norte do continente, o oceano além, e de lá para outras terras. Em seguida, eu atravessaria Necropan, hoje o Egito, a Abissínia, etc, abrangendo todo o continente da África, com um governo similar ao de Suern e um povo com poderes semelhantes, embora não tão avançados.
A África de então não tinha mais que a metade de suas atuais dimensões, enquanto Suern, que também abrangia a Ásia, era bem diferente do que é hoje; o nome Suern distinguia principalmente a península do Hindustão. Deixando Necropan, minha rota iria pelo mar até a índia ou, em nosso modo de falar, pelas “Águas da Luz” (devido à sua fosforescência) até Suern. De Ganje, sua capital, o curso continuaria para o leste pelo Oceano Pacífico, como hoje é chamado, até alcançar nossas colônias na América, chamada “Incalia” porque naquela terra antípoda o Sol (Incal) tinha o seu leito, segundo a fábula épica já citada anteriormente como a base do folclore atlante.
Da Incalia do Sul (hoje Sonora) eu pretendia ir para o norte e visitar as desoladas geleiras das regiões árticas. O que hoje se chama Idaho, Montana, Dakota, Minnesota e o Domínio do Canadá, era uma região com vastas geleiras, a retaguarda da era glacial que estava se retraindo muito lentamente por um atraso geológico, como que relutando em encerrar seu frígido reinado. A viagem poderia, com esse itinerário, oferecer novos e satisfatórios contrastes de paisagens: tropical, sub-tropical, temperada e fria. “Achas que nosso pai faria objeção a que eu também fosse, Zailm?” -perguntou Anzimee ansiosamente. “Faz cinco anos que não saio de Caiphul”. “Claro que não, minha menina. Ele me deu liberdade de convidar quem me agradasse e não sei de outra pessoa que mais me agradaria levar do que tu. Já convidei um bom grupo de amigos comuns nossos.” Anzimee, pois, viajou conosco.
Quando tudo estava organizado, nossa comitiva consistia de quase dez jovens que se entendiam muito bem, dois oficiais do pessoal de Menax, mais os serviçais, somados às conveniências para um mês de ausência. Nosso vailx era do tipo médio. Essas espaçonaves eram construídas em quatro tamanhos padrão: número um, com cerca de vinte e cinco pés (7,62 metros); número dois, com oitenta pés (24,39 metros); número três, com perto de cento e cinqüenta e cinco pés (cerca de 47,24 metros), e o maior com duzentos pés a mais do que o número três (cerca de 109 metros). Essas longas espaçonaves eram, na realidade, agulhas ocas feitas de de alumínio, formadas por um casco exterior e outro interior, entre os quais havia milhares de suportes em T, um sistema que produzia grande rigidez e resistência.
Todas as repartições formavam outros suportes que aumentavam ainda mais a resistência da nave. A partir da parte mediana, elas se afilavam para as extremidades, formando pontas aguçadas. A maioria dos vailx eram dotados de um dispositivo que permitia a abertura para uma espécie de convés em uma das extremidades. Janelas de cristal de enorme resistência se perfilavam como escotilhas nos lados e havia algumas na parte superior e no piso, o que permitia ver em todas as direções. Devo também mencionar que o vailx que escolhi para aquela viagem tinha quinze pés e sete polegadas (cerca de 4,60 metros) de diâmetro em sua parte mais larga.
Na hora aprazada (a primeira hora do terceiro dia, conforme combinado com Menax) meus convidados se reuniram no palácio, de cujo teto iríamos decolar. Como cerquei de cuidados minha encantadora irmã e como me sentia orgulhoso de sua beleza! A princesa Lolix, que tínhamos tratado sempre como hóspede do Menaxithlon, veio até a plataforma onde estava estacionada a nave, curiosa para ver nossos preparativos de viagem. Para ela, parecia novidade ver uma nave aérea deixar a terra firme; não que ela demonstrasse espanto – para Lolix era uma questão de orgulho não demonstrar surpresa por coisa alguma, por mais nova, maravilhosa ou desconhecida que fosse. Seu temperamento, na verdade, era calmo e equilibrado, difícil de se perturbar (dissimulado ao extremo).
Nas cinco ou seis semanas decorridas desde que eu ouvira sua história, não a vi demonstrar qualquer emoção como a daquela noite em que minhas atenções para com Anzimee a deixaram nervosa, conforme eu notara; eu sabia que essa emoção devia ter sido profunda visto que ela não tinha conseguido ocultá-la totalmente. Considerando que nosso destino era Suern, Lolix não fora convidada para ir conosco, como o teria sido em outras circunstâncias. Mas não esqueci de oferecer-lhe minhas cordiais e respeitosas despedidas.
A corrente foi ligada e, no momento em que o vailx estremeceu de leve antes de decolar, Menax correu para o convés, o que me causou grande espanto, pois eu não tinha idéia de que ele pretendia nos acompanhar. Na verdade não era esse o seu plano, mas ele respondeu minhas perguntas com um sorriso e com o silêncio. Embora nossa agulha (Vailx) prateada fosse bastante longa, em pouco tempo tínhamos subido tanto que parecíamos ser apenas um pontinho para as pessoas que tinham ficado em terra. Voamos por meia hora a uma velocidade moderada, quando uma jovem chamou atenção para outro vailx que se aproximava por trás do nosso.
O Príncipe Menax, sentado ao meu lado numa cadeira no convés, olhou para baixo pela amurada, para a terra que já estava mais de duas milhas abaixo; envolveu-se melhor com sua capa de pele, olhou para trás contemplando as duzentas milhas que já tínhamos percorrido na última meia hora e observou o outro vailx que estava nos alcançando rapidamente. “Devo dar ordens ao piloto para aumentar a velocidade para fazermos uma corrida?” – perguntei aos meus companheiros que, vestidos com roupas quentes, passavam o tempo observando a paisagem.
“Não, não é o caso, meu filho”, disse Menax. Calei-me, pois naquele momento compreendi que o vailx que nos perseguia estava cumprindo ordens do príncipe. Menax se levantou, despediu-se de meus companheiros e, como Anzimee tinha se colocado de pé, colocou um braço em seu ombro e aproximou-se de mim, abraçando-me também; assim ficamos os três unidos por alguns momentos. Soltando-nos, ele ordenou a dois serviçais que lançassem as amarras para a outra nave, que já tinha encostado na nossa. No momento seguinte Menax passou para o outro vailx e deu ordem de partir. Assim nos separamos, duas milhas acima da terra; ele para voltar, nós para continuarmos nossa jornada.
Continua no XV Capítulo…
Em época por vir, uma glória refulgente,
A glória de uma raça feita livre e pujante.
Vista por poetas, sábios, santos e videntes,
Num vislumbre da aurora ainda distante.
Junto ao mar do Futuro, uma praia cintilante
Onde cada homem e mulher seus pares ombreará,
Em condição de igualdade, e a ninguém o joelho dobrará.
Desperta, minh’alma, de dúvidas e de medos te desanuvia;
Contempla da face da manhã toda a Magia
E ouve a melodia de prodigiosa suavidade
Que para nós flutua de remota e áurea graça;
E o canto como um coral da Liberdade
E o hino lírico da vindoura Raça.” (Philos, o Tibetano)
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