Os Templários – História – (13)

Os seus costumes, os seus ritos, os seus segredos: Digam o que disserem determinados historiadores encastelados em sua erudição acadêmica, a criação da Ordem dos Cavaleiros Templários continua envolta em inúmeros mistérios; e o mesmo acontece com a realidade profunda da sua missão, não a que se tornou pública, mas a missão oculta. Inúmeros locais ocupados e ou de propriedade dos cavaleiros  Templários apresentam particularidades estranhas. 

OS TEMPLÁRIOS, ESSES GRANDES SENHORES DE MANTOS BRANCOS – OS SEUS  COSTUMES, OS SEUS RITOS, OS SEUS SEGREDOS.

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Atribuíram-se aos monges-soldados crenças heréticas, cultos curiosos e às suas construções, principalmente a Catedral de Chartres, significados e até poderes fantásticos. A seu respeito, fala-se de gigantescos tesouros escondidos (sendo o maior deles o CONHECIMENTO), de segredos ciosamente preservados e de muitas outras coisas. 

MORTE E RESSURREIÇÃO DA ORDEM DO TEMPLO – A PRISÃO

Dia 13 de Outubro de 1307, ao amanhecer

O destino da Ordem do Templo foi o de extinguir-se brutalmente quando parecia no cume da sua pujança. Teria falhado? É verdade que, nas coletividades, o espírito morre antes do corpo. Talvez a Ordem só se tenha extinguido porque a sua chama interior desaparecera. Vivera dois séculos e julgava-se, por certo, ao abrigo de qualquer golpe. Mas a 13 de Outubro de 1307, ao amanhecer, vários milhares de cavaleiros do Templo foram presos em toda a França. O próprio Grão-Mestre, Jacques de Molay, acompanhado pela sua guarda pessoal de sessenta homens, foi detido sem resistência por Guillaume de Nogaret, chanceler de França e alma danada do rei Filipe, o Belo.

O Grão Mestre dos Cavaleiros Templários, Jacques DeMolay, figura em primeiro plano.

Como foi que uma Ordem forte, com quinze mil cavaleiros, mais os escudeiros, os sargentos, etc., guerreiros corajosos e treinados, pôde deixar-se prender sem desferir um só golpe, desarmar, aprisionar, praticamente sem reação, na maior parte dos locais? Mesmo que muitas comendas apenas fossem defendidas por algumas pessoas, a resistência era possível: muitas casas da Ordem eram fortificadas e capazes de aguentar um cerco. A facilidade com que os Templários se deixaram agarrar é, sem dúvida, um dos maiores mistérios da Ordem, prenhe de significado.

A 14 e 20 de Setembro de 1307, séries de missivas haviam deixado a abadia de Sainte-Marie-de-Pontoise. Eram dirigidas aos bailios, senescais, prelados, barões e cavaleiros e a todos os agentes reais na província: transmitiam a ordem formal de prender todos os Templários que se encontrassem no território das diferentes jurisdições e de confiscar, em nome do rei, os seus bens móveis e imóveis. Essas cartas eram acompanhadas por um manifesto onde o rei se arvorava em defensor da fé católica, em fiel da Igreja horrorizado pelo que descobrira a respeito da Ordem do Templo. Nesse texto, Filipe, o Belo, não poupava as palavras, como mostram as passagens seguintes:

“Uma coisa amarga, uma coisa deplorável, uma coisa verdadeiramente horrível de pensar, terrível de ouvir, um crime detestável, um crime execrável, um ato abominável, uma infâmia horrível, uma coisa perfeitamente inumana, o que é mais, estranha a qualquer humanidade, soou, graças ao relato de várias pessoas dignas de fé, aos nossos ouvidos, não sem nos invadir de um grande estupor e nos fazer fremir com um violento horror […].”

Depois, o rei lembrava os «crimes soberanamente abomináveis que a sensualidade das próprias bestas irracionais abomina e rejeita». E insistia: “essa coisa «abandonou Deus, seu criador, separou-se de Deus, sua salvação, abandonou Deus que lhe deu a luz, esqueceu o Senhor, seu criador, imolou aos demônios e não a Deus, essa gente sem conselho e sem prudência.” Seguia-se um determinado número de acusações precisas que foram as expressas quando da instrução e do processo. A forma tomada pelo texto tornava-se quase lírica, em certas passagens: “Não só pelos seus atos e pelas suas obras detestáveis, mas até pelos seus discursos imprevidentes, conspurcaram a terra com a sua sujidade, suprimem os benefícios do orvalho, corrompem a pureza do ar e determinam a confusão da nossa fé.”

Filipe, o Belo, afirmava também ter-se rodeado de todas as precauções para verificar os rumores funestos que haviam chegado aos seus ouvidos. Fora como defensor da fé católica de Roma que tinha tomado a sua decisão «e decretado que todos os membros da referida Ordem do nosso reino fossem presos, sem exceção alguma, mantidos prisioneiros e reservados ao julgamento da Igreja e que todos os seus bens, móveis ou imóveis, fossem confiscados, postos sob a nossa mão (do rei que estava falido) e fielmente conservados».

Seguia-se um determinado número de instruções quanto ao modo de proceder: “Em primeiro lugar, quando chegarem e tiverem revelado a coisa aos senescais e aos bailios, farão uma informação secreta sobre todas as suas casas, e poder-se-á, por precaução, se tal for necessário, fazer também um inquérito nas outras casas religiosas e fingir que é por causa do dízimo ou por outro pretexto. Em seguida, o que for enviado com o senescal ou o bailio num dia marcado, cedo, escolherá segundo o número das casas e das quintas, homens bons e poderosos da região, acima de qualquer suspeita, cavaleiros, almotacés, conselheiros, e informá-los-á da tarefa sob juramento e secretamente tal como o rei dela é informado pelo papa e pela igreja: e, de imediato, serão levados a cada local para prenderem as pessoas, confiscarem os bens e organizarem a sua guarda […]. Depois, chamarão os comissários do inquisidor e examinarão a verdade com cuidado, pela tortura, se for necessário; e, se eles confessarem a verdade, reduzirão a escrito os seus depoimentos, depois de terem mandado chamar testemunhas.”

No que respeitava ao interrogatório, o modo de proceder era explicitado nestes termos: “Ser-lhes-ão dirigidas exortações relativas aos artigos da fé e dir-se-lhes-á como o papa e o rei foram informados, por vários testemunhos bem dignos de fé, membros da Ordem, do pecado e da heresia de que se tornam particularmente culpados no momento do seu ingresso, e da sua profissão, e prometer-lhes-ão o perdão se confessarem a verdade regressando à fé da “Santa Igreja de Roma”, ou que, caso contrário, serão condenados à morte […].”

Por meio deste texto, Filipe, o Belo, dava a entender que agia em pleno acordo com o papa e até quase a seu pedido. Por outro lado, as ordens que eram dadas são a prova da armadilha em que tencionava fazer cair os cavaleiros Templários. Em primeiro lugar, era-lhes anunciado que a investigação era realizada em nome do rei e do papa, dizia-se-lhes que alguns irmãos da Ordem tinham confessado estas e aquelas enormidades, prometiam-lhes a salvação da vida se fizessem o mesmo, caso contrário, eram a tortura e até a morte se persistissem na negação. Ainda por cima, só se chamavam testemunhas e se reduziam a escrito as suas declarações se fossem no sentido pretendido pela acusação.

Não é de espantar que as confissões tenham sido numerosas. Quanto à prisão em si mesma, Filipe, o Belo, não estava na primeira experiência de operações relâmpago. Em 1291, procedera do mesmo modo com os banqueiros lombardos e, em 1306, com os mutuários judeus. E, de ambas as vezes, o móbil fora a rapina, o confisco dos bens, a anulação das dívidas reais. No plano financeiro, as relações entre a Ordem e a realeza eram bastante boas. Em 1190, Filipe Augusto, antes de partir para a cruzada, exigira que o tesouro real fosse confiado à guarda do Templo. A Ordem detinha inclusive as chaves do seu cofre pessoal. Filipe, o Ousado, concedeu-lhes a mesma confiança.

Henrique III de Inglaterra, que viera visitar São Luís, pedira para se hospedar na «mansão do Templo» como «o local mais seguro de Paris». Luís VI, Luís VII, tinham favorecido a implantação da Ordem. Só Luís IX se mostrara um pouco enfadado com eles, mas a inteligência política não era a principal característica desse monarca. As relações entre o Templo e a realeza pareciam, pois, desprovidas de nuvens. Em Julho de 1303, o próprio Filipe, o Belo, ordenara a todos os seus contabilistas que enviassem as suas receitas para o tesouro do Templo. Então, porquê esta reviravolta?

Na verdade, ela corresponde aos graves problemas financeiros do rei, depois da sua guerra na Flandres, cujos resultados haviam sido desastrosos. Após a derrota de Courtrai, em 1302, o rei começara por recorrer a um determinado número de expedientes: nomeadamente a quebra de moeda, que o transformava num verdadeiro vigarista. Ademais, Filipe, o Belo, não podia deixar de saber que o poderio militar da Ordem, que já não era empregado no Oriente, poderia eventualmente representar um perigo para a autonomia do poder real. Os monges-soldados ruminavam algumas amarguras desde a dramática perda de São João de Acre. Depois desse acontecimento, no decurso do qual, aliás, o Grão-Mestre Guillaume de Beaujeu perdera a vida, os barões, que nem sempre haviam combatido como deviam, aliviaram as consciências acusando os Templários e os Hospitalários de todos os males e tornando-os responsáveis pela perda de Jerusalém e da Terra Santa. Fora Chipre que servira de base de retirada à Ordem, mas, na verdade, era a partir de Paris que a Ordem era dirigida.

O Grão Mestre Jacques de Molay e os últimos anos da Ordem

Após a morte de Thibaud Gaudin, que sucedera a Guillaume de Beaujeu, a direção da Ordem recaiu, em 1295, sobre Jacques de Molay. Tinha cinquenta anos e não era considerado um gênio. Nascera, sem dúvida, em Molay, no Yonne. Os Templários possuíam lá uma casa e a quinta de Saint-Blaise onde haviam instalado uma leprosaria e um hospital. Segundo uma lenda local, após a sua morte, o seu fantasma teria voltado para se fixar na região e assombraria o castelo de Moutot, entre Molay e Noyers. Pertencia, ao que parece, ao ramo da família de Longwy da Borgonha (em francês: Bourgogne) e de Raon.

Jacques de Molay foi recebido na Ordem do Templo de Beaune, em 1265, por Humbert de Payraud, visitador de além-mar e tio daquele Hugues de Payraud que será visitador de França. Aliás, o capítulo hesitou longamente entre este último e Jacques de Molay, quando se tratou de escolher o Grão-Mestre, tanto mais que Molay nunca ocupara um posto importante. O início do desempenho das suas funções de Grão-Mestre foi marcado por um golpe de audácia. Em 1298, os Templários lançaram uma expedição contra o Egito e, em seguida, apoderaram-se de novo de Jerusalém, depois de uma verdadeira guerra-relâmpago. Se os reis cristãos e as outras ordens os tivessem seguido, talvez tivessem conseguido reconquistar a Terra Santa.

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Infelizmente, aqueles que estavam sempre prontos para criticar os cavaleiros Templários não estavam dispostos a pagar com as suas vidas e, em 1300, os monges-soldados tiveram de ceder de novo a cidade aos Turcos. Mesmo assim, Jacques de Molay não desesperou. Em 1303, lançou uma nova expedição contra Tortosa. Depois dessa, muito menos frouxo e fraco do que foi narrado, lançou mais uma operação, mas foi censurado por causa dela. Com efeito, Charles de Valois, irmão de Filipe, o Belo, tendo desposado a neta do rei de Constantinopla, herdeira do império, reclamava-o em nome da mulher. O papa aprovou e apoiou uma expedição contra Andronico II, que não queria submeter-se. Os Templários foram os principais participantes nessa cruzada levada a cabo contra outros cristãos. Apoderaram-se de Tessalônica e, em seguida, as tropas desembarcaram na Trácia e na Moreia, onde tiveram demasiada tendência para se entregarem à pilhagem. Este episódio talvez tenha feito meditar Filipe, o Belo.

Os cavaleiros Templários, ociosos, não correriam o risco de se transformarem numa tropa ao serviço do papa, ou em mercenários capazes de levar a cabo guerras contra os príncipes cristãos e – por que não? – contra o rei de França? De qualquer forma, parece bem que Jacques de Molay, embora não sendo brilhante, foi bem menos néscio do que se afirmou. Compreendera que eram necessárias operações militares para ocupar os seus soldados, porque, ao fim e ao cabo, que outra coisa se poderia fazer? O policiamento das estradas não era um encargo suficiente para aqueles guerreiros de escol. E estes aborreciam-se ao ponto de procurarem no vinho o esquecimento para a sua inatividade, dando origem à expressão francesa «boire comme un templier» (beber como um Templário).

O imenso poderio militar do Templo estava inativo. Ademais, lembremo-nos de que a Ordem era um enorme proprietário de terras e se encontrava à frente de um poder financeiro determinante. Este último aspecto não era partilhado pelos Hospitalários. Enquanto a Ordem travara o combate na Terra Santa, tivera necessidade de meios importantes mas, agora, como iriam utilizá-los? Não iria comprar cada vez mais terras, aumentar o seu patrimônio até construir um verdadeiro reino, ainda por cima totalmente isento da maior parte dos impostos? Os privilégios da Ordem não se tornavam exorbitantes a partir do momento em que já não subvencionava as necessidades das guerras do Oriente? Não poderia o Templo tornar-se uma força armada ao serviço exclusivo do papa? Ainda por cima, o orgulho dos Templários tornava-os, por vezes, insuportáveis. M. Lavocat resume muito bem a situação:

“A Ordem do Templo era detestada pelo clero, pela nobreza, pelo terceiro estado e pelo povo: pelo clero, por causa dos seus privilégios fiscais, da sua independência, da sua isenção de toda a jurisdição eclesiástica; pela nobreza, porque a Ordem detinha, na sua mão-morta, bens consideráveis, em relação aos quais não devia qualquer serviço feudal, real ou pessoal; pelo terceiro estado, devido ao seu orgulho e do fausto que exibia em todo lado, em Paris, no meio da miséria geral da época e sobretudo porque o terceiro estado e o povo amavam o rei, que detestava a Ordem do Templo.”

A atitude dos estados gerais de 1308 e 1311 fornecerá a prova do ódio que todos tinham pela Ordem. Acusavam-na abertamente de ter sido a causa da perda da Terra Santa. O objetivo da instituição gorara-se e a Ordem enriquecera: censuravam-lhe a sua dureza em relação ao lucro, a utilização de certos modos de aquisição, o emprego de contratos usurários. É verdade que os Templários, por vezes, celebravam contratos que, no mínimo, não eram equilibrados, mas sim a manifestação da sua posição dominante. E, depois, três ordens militares não seriam demais? Já se levantara o problema de as fundir numa única. Em 1274, no concílio de Lyon, o papa Gregório X fizera uma tentativa nesse sentido.

Os Hospitalários e os Templários havia alguns anos que estavam na mira. Em 1292, Rámon Llull aconselhara vivamente Nicolau IV a proceder a uma fusão. Sugeria que o Grão-Mestre da ordem assim formada fosse feito rei do Santo Sepulcro. Em 1238, os Hospitalários tinham sido obrigados a dobrar a espinha, acusados por Gregório IX de traição contra a causa de Deus na Palestina, de luxúria e de servirem de abrigo aos heréticos. Como vemos, se era preciso limpar o Templo, isso também se aplicava ao Hospital. Fundir as duas ordens numa só teria podido proporcionar a ocasião para reorganizar tudo. No entanto, a tarefa era impossível de se realizar porque as duas ordens não gostavam nada uma da outra e os seus interesses eram, amiúde, totalmente opostos. Não se viu, quando do conflito entre Gênova e Veneza, os Hospitalários tomarem o partido de uma cidade e os Templários da outra? Pouco faltou para as duas ordens se defrontarem.

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No entanto, esses conflitos foram bastante raros e Templários e Hospitalários souberam, de um modo geral, marchar juntos para o combate. Quando estava em jogo o essencial, terminavam as querelas. Souberam também dirimir os seus diferendos por meio da negociação. Para além do papa Gregório X, mais alguém pensara reunir as ordens militares, mas em seu proveito. Tratava-se do imperador Frederico II de Hohenstaufen. Opôs-se ao papado e foi excomungado. Dele, dizia Gregório IX: «Vejam o animal que sobe do fundo do mar.» Recebia, na sua corte, sábios e literatos muçulmanos, cuja cultura apreciava, considerando-se muito acima dos preconceitos. Escrevia a El-Kamil, sultão do Egito: «Sou teu amigo. Não ignoras quão acima estou dos príncipes do Ocidente» e pedia-lhe a devolução de Jerusalém. Teve alguns diferenças com os Templários.

Temos de dizer que este «místico do Sol» via essencialmente no Templo uma ordem que teria gostado de ter ao seu serviço a fim de se tornar Imperator Mundi e de estender o seu império a toda a cristandade e mais além ainda. Imaginara reunir, mediante um pacto secreto, as três Ordens: Hospitalários, Templários e Teutônicos. Mas não conseguiu fazê-lo. Após a queda de Acre, o papa Nicolau IV convocara um concílio para Salzburgo, a fim de decidir quais os meios a utilizar para retomar a Terra Santa. O concílio decretou também que convinha reunir as três ordens sob uma regra uniforme. Mas, quando Nicolau IV morreu, o problema ainda não avançara nada.

O papa Clemente V, por sua vez, quis reunir Hospitalários e Templários. Viu-se confrontado com uma recusa cortês, mas firme e irônica, por parte de Jacques de Molay. O Grão-Mestre sublinhava as diferenças entre as regras que regiam as duas ordens e aproveitava para criticar os Hospitalários: “Era preciso que os Templários levassem uma vida mais à larga, ou que os Hospitalários fossem submetidos a restrições: daí poderia provir um perigo para as almas porque são raros, segundo penso, aqueles que quereriam mudar a sua vida e os seus costumes habituais.”

Ademais, era preciso ver nesta passagem uma ironia, para não dizer uma ameaça velada ao soberano pontífice, que levava uma vida que estava longe de ser regrada e que parecia não querer mudar. Jacques de Molay afirmava assim, de forma muito clara, que não tinha lições a receber de um papa que era conhecido por utilizar o dinheiro da Igreja em proveito próprio e do seu clã familiar, e que parecia mais preocupado em cobrir a sua amante de presentes do que em dedicar a sua vida à espiritualidade. Esta fusão talvez tivesse podido salvar a Ordem do Templo, mas isso não é certo porque, nessa eventualidade, Filipe, o Belo, tencionava nomear o seu filho para comandar as ordens reunidas. Depois disso, teria abdicado em seu proveito e tornado hereditário o cargo de Grão-Mestre. Então, a nova ordem militar não seria mais do que um instrumento nas mãos do rei de França.

As relações de Filipe, o Belo, com a Igreja

Antes de abater a Ordem, o rei tentara utilizá-la em seu proveito. Se agia para a defesa da fé, como afirmava, e se tivera conhecimento de todas as abominações que acusara o Templo de cometer, por que razão ele próprio pedira para nela ser admitido, na qualidade de membro honorário? O que é certo é que deve ter sentido algum azedume quando essa honra lhe foi recusada, enquanto fora concedida ao papa Inocêncio III. Em Janeiro de 1307, apenas alguns meses antes da detenção, quando era suposto saber tudo sobre as aberrações da Ordem, solicitava, sem êxito, o ingresso no Templo do seu segundo filho. Então, considerava heréticos os Templários e, nesse caso, teria ignorado o fato procurando apenas pôr o poderio da Ordem ao seu serviço? Ou, então, só inventou as acusações para abater o Templo que se recusava a servi-lo? Seja como for, é melhor que alguns «historiadores» que fazem de Filipe, o Belo, um rei exemplar ou um defensor da fé deixem de contar patranhas.

Tudo prova que, para ele, o fim justificava os meios, e que não se detinha com qualquer escrúpulo. Diziam-no pio. Observava regularmente os jejuns e fora marcado com ferrete dominicano. Durante a sua infância, tivera como professor Egidio de Rome, dominicano, e o seu confessor, Clément Pâris, pertencia à mesma Ordem. Foi esta influência que o transformou em fornecedor de pretensos heréticos para Inquisição, acarinhada pelos dominicanos? Eles, que tinham torturado os Cátaros e feito uma sangria desatada no Languedoc, eram, portanto, os formadores do rei que ia mandar torturar os Templários. Todavia, em 1301, Filipe, o Belo, erguera-se contra as práticas do inquisidor Foulques, que castigava no Languedoc. Protestara violentamente: “Pois esse inquisidor comete a injustiça de iniciar processos por meio de prisões, de torturas, de tormentos inauditos contra as pessoas que lhe apraz acusar de heresia! Pois, pela violência da dor, esse padre obriga-as a confessar que renegaram Cristo…”

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A Congregação Templaria em Paris. Pintura do século 19.

Eis uma crítica que não deixa de ter interesse quando pensamos nas instruções dadas por este monarca a respeito do modo de tratar os Templários. Decididamente, este rei foi, sem dúvida, um dos maiores exemplos de duplicidade da nossa história, tendo apenas como teoria e como religião aquilo que poderia convir-lhe num determinado momento. Em 1304, o «rei de ferro» concedera novos privilégios ao Templo e afirmara: “As obras de piedade e de misericórdia, a liberalidade magnífica que exerce no mundo inteiro, a todo o tempo, a Santa Ordem do Templo, divinamente instituída há longos anos, a sua coragem que merece ser incentivada a velar ainda mais atentamente pela defesa perigosa da Terra Santa, levam-nos precisamente a dar sinais de um favor muito especial em relação à ordem e aos cavaleiros, pelos quais temos uma sincera predileção.”

Nesse momento, incensava o templo em nome da fé. Que bom cristão! O que o não impedia de lançar na prisão os bispos que lhe não agradavam, como o de Pamiers. Isso também não o impediu, com a cumplicidade do seu chanceler, Guillaume de Nogaret, de mandar fabricar cartas falsas do papa Bonifácio VIII, de modo a pôr uma parte do clero contra o soberano pontífice. Em Março-Abril de 1300, Nogaret chefiara uma embaixada a Roma. A sua insolência valera-lhe ser posto duramente no seu lugar por Bonifácio VIII e ficara com um ódio mortal ao prelado. E como Bonifácio VIII continuava a opor-se-lhe, Filipe, o Belo, reuniu prelados e barões, no Louvre, em Junho de 1303. Nessa ocasião, Nogaret pronunciara uma verdadeira acusação, não hesitando em acrescentar: “Bonifácio tem um demônio particular que consulta em todas as ocasiões. Julga que os Franceses são todos Cátaros… É sodomita. Mandou matar vários clérigos, na sua presença. Obrigou padres a revelarem o segredo da confissão. Oprime os cardeais, os monges negros, os monges brancos, os menores e os pregadores… O seu ódio contra o rei de França vem-lhe do seu ódio contra a fé, de que o rei é a ilustração e o vivo exemplo.”

Nogaret declarava o papa: “Ilegítimo, herético, simoníaco, e empedernido nos seus crimes. A sua boca está cheia de maldições, as suas garras estão prontas para espalhar o sangue: destrói as igrejas que deveria alimentar, rouba o bem dos pobres… atrai a guerra, detesta a paz, é a abominação predita pelo profeta Daniel.” É preciso dizer que Bonifácio pedia a todos os senhores do reino de França que desobedecessem ao rei. Apesar dos excessos, o concílio, incluindo os representantes do Templo, aderiu aos ataques lançados contra o papa. Depois, Nogaret foi a Itália. Soube que Bonifácio devia excomungar Filipe, o Belo, a 8 de Setembro. Apoiado pelos cardeais da família dos Colonna que o papa destituíra e expulsara, Nogaret dirigiu-se ao palácio pontifício de Anagni, acompanhado por mil e seiscentos mercenários.

Entraram à força na residência e encontraram o papa na sua capela privada. Nogaret teve a audácia de lhe ler as acusações pronunciadas contra ele e anunciou-lhe que estava detido. Devia levá-lo consigo para França, a fim de ser julgado pelo concílio. Todavia, no quarto dia do seu cativeiro, a multidão interveio e libertou o papa, levando-o triunfalmente para Roma. A provação marcara o soberano pontífice que morreu quatro semanas mais tarde, a 11 de Outubro de 1303. Esse «atentado de Anagni» inquietou, mesmo assim, os próximos do rei, porque o clero começava a murmurar. O sucessor no trono de São Pedro, Bento XI, denunciou a maquinação concebida contra Bonifácio VIII e intimou Nogaret a comparecer na sua presença. Teve pouca sorte: morreu vinte e quatro horas antes de pronunciar a excomunhão, depois de ter comido figos frescos, sem dúvida envenenados. E Nogaret teve a audácia de dizer: “Deus, mais poderoso que todos os príncipes eclesiásticos e temporais, atingiu o citado senhor Bento de tal modo que já lhe não foi possível condenar-me.” Foi o mesmo Nogaret que montou, na companhia de Filipe, o Belo, toda uma maquinação contra a Ordem do Templo.

A maquinação urdida por Guillaume de Nogaret

Guillaume de Nogaret nascera em Saint-Félix-de-Caraman, na diocese de Agen. Estudara e fora professor de direito em Montpellier e, em seguida, lugar tenente do senescal em Beaucaire e Nilmes. Juntara-se ao rei quando este se rodeara de um areópago de conselheiros jurídicos. Passou a pertencer ao Conselho do Rei, a partir de 1296. Filipe, o Belo, armou-o cavaleiro na Páscoa de 1299. Era um homem ambicioso, de temperamento violento. Expulsara os banqueiros lombardos e os judeus do Languedoc, depois de ter confiscado os seus bens para dourar de novo o combalido tesouro real. A 22 de Setembro de 1307, o rei nomeara-o chanceler e guarda dos selos. Não tinha o hábito de se deixar tolher por escrúpulos. Quanto mais as acusações que fazia eram enormes, horríveis, mais hipóteses tinham de ser espalhadas por toda a parte e, finalmente, alvo de crédito.

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Guillaume de Nogaret

Dispunha de uma espécie de gênio midiático e sabia perfeitamente como fazer espalhar as piores calúnias. Conspurcar o mais possível aquele que queria abater, era esse o seu método, e, infelizmente, tinha ótimos resultados. Demonstrara, em relação ao bispo de Panúers e a Bonifácio VIII, que não havia patifaria que não conhecesse. Não deveria privar-se de utilizar o mesmo tipo de táctica contra o Templo. Em primeiro lugar: perder os Templários junto do povo, difamando-os, servindo-se de tudo o que pudesse alimentar as invejas. Em segundo, encontrar testemunhos, independentemente da sua credibilidade.

E Nogaret teceu toda a intriga a partir de denúncias duvidosas. Em 1303, um templário de Béziers, chamado Esquin de Floyrano (ou de Florian), tendo perdido a sua comenda por crime, dirigira-se ao governador provincial de Monte Carmelo para obter outra. Perante a recusa que lhe fora oposta, apunhalara o governador, na sua casa de campo, perto de Milão. Tudo isto apresenta algumas reservas, porque o crime também é atribuído a outro templário renegado: Noffo Dei, um florentino. Acontece que, a seguir ao crime, Esquin se refugiou em Paris. Nogaret soube da história. Mandou trazer o indivíduo à sua presença e montou com ele uma denúncia da Ordem baseada, sem dúvida, numa parcela de verdade um pouco maquiada. Prometeu a Esquin que teria a vida salva, sob condição de seguir as suas instruções, e ordenou-lhe expressamente que, em primeiro lugar, encontrasse testemunhas de acusação contra a Ordem, entre a escória dos cavaleiros expulsos do Templo por faltas graves.

Nogaret enviou também Esquin de Florian junto do rei de Aragão, grande amigo dos Templários, a fim de tentar miná-lo. Em 1309, iremos encontrar o mesmo Esquin dedicando-se a um interrogatório musculado dos irmãos da Ordem. Guillaume de Nogaret conseguiu reunir algumas testemunhas de acusação suplementares: Géraud de Lavema de Neyzol, ex-Templário de Gizors; Bernard Pelet, ex-prior do Mas-d’Angenias, etc., todos renegados. A partir de então, precisava de desencadear uma ação do papa, o único capacitado para, eventualmente, julgar a Ordem do Templo. Mas, por esse lado, depararam-se-lhe sérias resistências. Enviou, portanto, um dossier ao grande inquisidor de França que, sem pestanejar, assinou a ordem de detenção dos Templários. Como não contavam com o acordo do papa, contentar-se-iam com o do inquisidor que estava pronto a obedecer ao rei de França.

O guarda dos selos, Gilles Aiscelin, recusara ligar o seu nome a esta infâmia. Foi destituído de imediato e Nogaret nomeado para o substituir. Para anestesiar as desconfianças dos Templários, fingiram mostrar a maior consideração pela Ordem. Na véspera da detenção, a 12 de Outubro de 1307, Jacques de Molay assistia, com a corte, às exéquias de Catherine de Courtenay, mulher de Charles de Valois. No entanto, ao mesmo tempo que as cartas de Filipe, o Belo, eram encaminhadas para todo o reino, o inquisidor de França mandava correios aos seus colegas de Toulouse e Carcassonne (o que prova que era sobretudo nessa região que se esperava encontrar casos de heresia no seio da Ordem) bem como aos dominicanos de determinado nível. Nessas missivas, apoiava a ação do rei, dizendo mesmo ser o instigador dela e precisava o modo de proceder.

Na madrugada pálida

Na quinta-feira 12 de Outubro, por quase toda a França, as instruções foram abertas e, na madrugada de sexta-feira 13, as tropas dirigiram-se a todas as casas francesas da Ordem (ou quase) a fim de prenderem os Templários. Por vezes, as coisas correram bastante mal, como em Arras, onde os soldados do rei degolaram metade das pessoas que lá se encontravam. Em Paris, Jacques de Molay foi arrancado da cama. Mal os Templários foram presos, Filipe, o Belo, dirigiu-se à Torre do Templo e instalou-se lá. Que ia lá procurar assim, sem perda de tempo? Um indício pode, sem dúvida, pôr-nos na pista: levou consigo o seu parco «tesouro pessoal» o que lhe permitiu, evidentemente, juntá-lo ao que se encontrava no local (quase nada pois os templários já haviam retirado quase tudo dias antes e levado para local, até hoje ignorado-provavelmente PORTUGAL e ESCÓCIA) e pertencia à Ordem.

Ao unir as duas somas de dinheiro, atribuía-se a faculdade de recuperar tudo em seu proveito, metendo a mão na parte do tesouro do Templo que pudesse encontrar-se lá. Imediatamente após a detenção dos Templários, procurou-se aterrorizá-los pela ameaça e prometendo-lhes, ao mesmo tempo, a liberdade, caso confessassem tudo o que se pretendia. Foram-lhes até apresentados salvo-condutos providos do selo do rei. Era preciso andar depressa e obter as primeiras confissões. Foram-lhes recusados os sacramentos, preveniram-se os moribundos de que não poderiam ser enterrados em terra da Igreja, foram torturados. Só em Paris, trinta e seis templários faleceram sob os tormentos, vinte cinco em Sens, etc., sem citar aqueles que ficaram deficientes para o resto das suas vidas ou humanamente destruídos. Mas não bastava aniquilar a Ordem. Filipe, o Belo, enviou cartas aos soberanos estrangeiros para que agissem como ele.

Que aconteceria se o Templo se mantivesse poderoso nos outros reinos? Não correria o risco de se formar uma coligação contra ele? As reações dos países vizinhos foram diversas. Voltaremos a esse ponto. Ao mesmo tempo, era preciso justificar esse golpe de força junto da opinião pública. Nogaret organizou uma reunião de esclarecimento, em Nossa Senhora de Paris, para os corpos constituídos, bem como um verdadeiro comício popular, nos jardins do Palais-Royal. Dominicanos e funcionários reais tomaram a palavra, uns a seguir aos outros, para conspurcarem a Ordem do Templo. Foram elaborados libelos acusatórios, distribuídos por aqui e por ali, inclusive no estrangeiro: uma verdadeira campanha de difamação pela imprensa, muito atual para aquela época, mais de setecentos anos passados.

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O Templo em Paris, sede da organização Templaria Europeia em que Philip imaginou que os tesouros fabulosos dos templários estivessem.

O papel do papa Clemente V

Os Templários não dependiam da jurisdição real, mas sim do papa. A reação deste era, pois, de primordial importância. O soberano pontífice, o francês Bertrand de Got, ex-arcebispo de Bordeaux, tomara o nome de Clemente V. Devia a sua eleição a Filipe, o Belo. Ainda por cima, viera instalar-se em Avignon, em vez de Roma, o que fazia dele um quase cativo do rei da França. É provável que tenha sido posto, muito cedo, ao corrente do projeto de detenção, mas Clemente V não tinha a coragem de Bonifácio VIII. A sua forma de resistência não era mais do que uma maneira de enganar, de ganhar tempo. Fora, sem dúvida, isso que o levara a convocar os Grão-Mestres do Templo e do Hospital para lhes pedir que fundissem as suas duas Ordens. Nessa altura, talvez tenha até prevenido Jacques de Molay dos perigos que rondavam o Templo. Molay respondera a essa advertência exigindo uma investigação à Ordem. Isso não viria a ser suficiente.

O papa Clemente V era um fraco, fortemente prisioneiro dos seus sentidos, um sibarita que tinha necessidade de viver na opulência. Esse gosto coadunava-se mal com a divisa familiar: Par infimis (igual aos mais humildes). Provinha da família dos viscondes de Lomagne, de origem visigótica. Ilustre família, mas sem tostão. Foi bispo de Comminges, «o bispado do unicórnio». Foi nessa qualidade que mandou construir Saint-Bertrand-de-Comminges, verdadeira jóia alquímica. Fino letrado, fundou cátedras de hebreu e de árabe em várias universidades. Contratou os serviços de um alquimista célebre: Arnaud de Villeneuve. Ironia do destino: a sua mãe, Ida de Blanchefort, era sobrinha de Bertrand de Blanchefort, Grão-Mestre da Ordem do Templo.

Logo após a sua eleição, dirigira-se a Bordeaux, passando por Mâcon, Bourges e Limoges, acompanhado por uma chusma de cortesãos e criados. Por onde passava, exigia que o recebessem suntuosamente e só partia depois de as reservas locais estarem esgotadas. A sua corte comportava-se como uma força de ocupação e passava largamente as medidas. As exações foram tantas que provocaram queixas. Para se defender, Clemente V afirmou: “Somos homens, vivemos entre os homens, não podemos ver tudo. Não temos o privilégio da adivinhação.” Mesmo assim, como refere Lavocat: “No entanto, havia uma coisa que Clemente devia saber, que, durante a sua estada em Lyon, extorquira somas enormes aos abades e aos bispos de França que, por necessidades dos seus cargos, se haviam dirigido à corte.

Há uma unanimidade em todos os cronistas desse tempo: «Foram feitos muitos roubos nas igrejas, tanto laicos como de religião, por ele e pelos seus ministros.»” Um luxo custava-lhe especialmente caro: a sua amante, a bela Brunissende Talleyrand de Périgord. As más-línguas diziam até que ela lhe custava mais caro do que a Terra Santa. Escrevia-lhe versos: “És mais bela do que o dia; A neve não é mais branca. Para atravessar o regato do amor; Não desejaria outra barca.” Clemente era ambicioso. Bispo aos trinta anos, cardeal aos trinta e seis, considerava normal ser papa aos quarenta. Ora, a luta entre os clãs Colonna e Orsini bloqueou o conclave durante dez meses e as chaves da eleição encontravam-se, em boa medida, nas mãos do rei de França. Foi realizado um acordo entre os dois homens.

Falou-se, a esse respeito, de um encontro que se teria realizado numa floresta, perto de Saint-Jean-d’Angély. Apesar de haver uma crônica que a relata, é materialmente impossível. Em contrapartida, enviados dos dois homens podem muito bem ter combinado as coisas. Filipe, o Belo, teria garantido a Bertrand de Got que seria eleito papa, desde que subscrevesse seis cláusulas. Cinco estavam determinadas: reconciliá-lo com a Igreja e lavar a nódoa da prisão de Bonifácio VIII; levantar a excomunhão que lhe dizia respeito; conceder-lhe os dízimos do clero de França, durante cinco anos, a fim de ajudar a pagar as despesas feitas durante a guerra da Flandres; destruir a memória de Bonifácio VIII; devolver todos os privilégios e títulos aos cardeais da família Colonna e a seus aliados, que Bonifácio combatera. A última cláusula teria ficado «em branco». Só deveria ser-lhe comunicada mais tarde.

Tratar-se-ia da destruição da Ordem do Templo. Fora por isso que Clemente declarara: “No tempo da nossa promoção, antes mesmo de nos termos dirigido a Lyon para sermos coroados, ouvimos falar, em segredo, dos desmandos da Ordem do Templo.” Tendo concordado com as cláusulas reais, Bertrand de Got tornara-se papa. Esse pontificado não se iniciava, verdadeiramente, sob auspícios de santidade. A coroação de Clemente V, em Lyon, a 14 de Novembro de 1305, foi, aliás, marcada por acontecimentos trágicos, como se se tratasse de sinais do destino. Quando da passagem do cortejo pontifical, uma parede carregada de curiosos desmoronou-se. Filipe, o Belo, querendo mostrar a sua humildade de uma forma mais demonstrativa do que real, ia a pé, segurando a brida do cavalo montado por Clemente V. Mas não seria também simbolicamente (e talvez inconscientemente) uma forma de mostrar que levava o papa pela rédea? De qualquer modo, o rei sofreu escoriações no acidente, o duque de Borgonha morreu, o papa caiu do cavalo. Morreram mais onze pessoas, entre as quais o cardeal Mathaeo d’Orsini e Gaillard de Got, irmão do papa. Outras ficaram gravemente feridas. Como Charles de Valois. A tiara rolou pelo chão e a mais bela pedra, um rubi de seis mil florins, soltou-se, prefigurando esse belo ornamento da Igreja que era o Templo e que o papa, em breve, deixaria de ter ao seu serviço.

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Bertrand de Got, papa Clemente V

No dia seguinte, quando de um banquete oferecido por Clemente V, estalou uma rixa entre partidários do papa e dos cardeais florentinos. O segundo irmão do pontífice foi morto nessa altura. Decididamente, a sorte não parecia nada favorável ao novo sucessor de São Pedro. O primeiro ato de governo de Clemente V foi nomear quatro cardeais escolhidos entre o séquito real: Béranger Frédol, bispo de Béziers; Étienne de Suisy, chanceler; Pierre de La Chapelle-Taillefer, bispo de Toulouse, e Nicolas de Freauville, ex-confessor do rei. Aproveitou também para nomear algumas pessoas da sua família e do seu clã. Ademais, absolveu o rei do atentado de Anagni. No entanto, não se pronunciou sobre o caso de Guillaume de Nogaret e recusou-se mesmo a recebê-lo. Fez o que prometera ao rei de França e empenhou-se, nessa qualidade, a vilipendiar a memória de Bonifácio VIII.

O ódio de Filipe, o Belo, pela Ordem do Templo

O rei de ferro tinha a jogada ganha. Não seria Clemente V quem o impediria de pôr em execução os seus desígnios contra os cavaleiros templários. Mas por que razão tinha um tal ódio à Ordem do Templo? As razões eram, sem dúvida, múltiplas. Em primeiro lugar, a Ordem apenas reconhecia Deus como senhor e só o papa tinha um poder – limitado – sobre ela. A sua organização interna era a de uma república aristocrática, exemplo incômodo para a realeza hereditária. Não pedira o rei que a Ordem fosse reformada e que o cargo de Grão-Mestre se convertesse em apanágio hereditário da sua linhagem? Do seu palácio, podia ver as Torres do Templo que o afrontava, cidade dentro da cidade, e que não tinha contas a prestar-lhe.

O Templo tinha as suas liberalidades, os seus privilégios, o seu direito de asilo, a sua alta, média e baixa justiça. Daí a prontidão com que o rei tomou posse da Torre do Templo na própria manhã em que os monges-soldados foram detidos. Depois do concílio de Sens, em 1310, Filipe, o Belo, mandou desenterrar e queimar as ossadas do tesoureiro que mandara construir essa Torre do Templo, um século antes. Que ódio acumulado deveria ter o rei para chegar a esse ponto? E talvez, também, que decepção por não ter encontrado lá o que procurava: um tesouro importante. Como poderia não lhes ter ódio, ele que conhecera a humilhação de ter de  pedir, várias vezes, a ajuda financeira dos Templários? Ademais, o rei fazia sem dúvida um cálculo político. Qual seria o poder dos reis que quisessem opor-se ao Templo? Não iriam os Templários construir um império na Europa e, sobretudo, em França, onde estavam melhor implantados?

Filipe, o Belo, decidira resolver essa questão à sua maneira. O rei de França, orgulhoso, tinha outras razões para se sentir humilhado pela Ordem. Houvera aquela recusa de lhe concederem o título de membro honorário. Tinham-se recusado a acolher o seu filho. Ainda por cima, na sequência de malversações monetárias de Filipe, o Belo, em Dezembro de 1306, houvera tumultos em Paris. O rei encontrara-se em perigo: tivera de pedir asilo ao Templo que o acolhera na sua Torre de Paris. Teve de lá ficar durante vários dias, à espera de que a revolta fosse sufocada. Como deve ter odiado os seus salvadores! Essa humilhação lembrou-lhe, sem dúvida, a que sofrera na infância e que o marcara. Acompanhara então o seu pai, Filipe, o Ousado, numa viagem ao Languedoc. Nessa altura, haviam visitado os Voisins, senhores de Rennes-de-Château, e, sobretudo, os Aniort. Raymond d’Aniort, o chefe de família, senhor no Razès, a sul de Carcassonne, era parente do rei. O seu jovem irmão, Udaut, simpatizou com o futuro Filipe, o Belo.

Os dois primos, em alguns dias passados juntos, descobriram gostos comuns. Divertiram-se, caçaram com o falcão… E, depois, havia lá uma prima de Udaut, Aélis, que agradava muito ao jovem delfim. Tudo isso transformava a sua estada num momento muito agradável. O futuro rei teria desejado que Udaut se tornasse seu companheiro de armas, mas este recusou: decidira entrar para a Ordem do Templo. Assim, desde a sua juventude, Filipe vira-se rejeitado em proveito da Ordem e, quando deixou a região, o azedume acompanhara-o.

Um caso sórdido de dinheiros

Tudo isso não era de molde a predispor Filipe, o Belo, em favor do Templo. No entanto, o verdadeiro motivo que decidiu o rei a abater a Ordem era, sem dúvida, mais sórdido. Tratava-se de rapinar, roubar, se apopriar dos seus vastos tesouros, para encher as «arcas» do fisco, de submeter bens ao imposto e, sobretudo, de se livrar de duas dívidas notórias que ele tinha com os templários. Filipe, o Belo, devia à Ordem quinhentas mil libras e duzentos mil florins, sem falar de todas as dívidas da sua família. O rei manifestou o seu despeito por não ter descoberto «o» tesouro do Templo, mas queimou todos os cartuchos, mandando vender todos os objetos encontrados nas comendas templárias, incluindo os de culto. Não podia esperar. Passara o tempo a contar os tostões. Claro que era preciso que a Ordem não saísse limpa da armadilha que lhe fora preparada, ou teria de ser reembolsada do que lhe fora pilhado.

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O rei Filipe, o Belo não conseguiu por as mãos no tesouro dos Cavaleiros Templários

Nesse campo, o déspota desconfiava do papa. A vontade de destruir era conhecida de Clemente V, mas a operação de comando sem dúvida que o apanhou desprevenido. Pareceu furioso por ter sido posto assim perante o fato consumado com a cumplicidade de uma parte do seu clero e, em especial, dos dominicanos. Reagiu escrevendo ao rei:

“Enquanto estávamos longe de vós, estendestes a vossa mão sobre as suas pessoas e os seus bens: fostes ao ponto de os lançar na prisão e – o que leva ao cúmulo a nossa dor – não os haveis libertado. E até, indo mais longe, haveis acrescentado à aflição do cativeiro uma outra aflição, que por pudor para com a Igreja e para com nós todos, achamos próprio deixar passar atualmente em silêncio.”

Sem dúvida que Clemente V hesitava referir a tortura por que era praticada com a cumplicidade dos inquisidores. Na sua carta lembrava, por outro lado, que o rei não tinha poder para julgar os eclesiásticos e que só ele era competente na matéria. Filipe, o Belo, fez-lhe saber de imediato que Deus detestava os tíbios e que qualquer demora na repressão dos crimes pode ser considerada uma forma de cumplicidade com os criminosos. Eis algo que estava cheio de ameaças, tanto mais que o rei lembrava discretamente ao papa que não teria o apoio de toda a Igreja. Os interrogatórios e a tortura continuaram de vento em popa. Clemente V, provisoriamente, achou mais prudente para a sua própria segurança não insistir.

A 27 de Novembro, pela bula Pastoralis praeminentiae, pediu a todos os soberanos que procedessem à detenção dos Templários. Mesmo assim, conseguira que os principais dignitários da Ordem lhe fossem entregues para serem interrogados mas, na verdade, já abdicara de todo o poder. Manifestamente, Clemente V não acreditava na culpabilidade dos Templários, mas apenas se mostrava capaz de ganhar tempo. As confissões feitas, sob tortura, por setenta irmãos não o tinham convencido e pedira aos cardeais Étienne de Guisy e Bérenger Frédol que levassem a cabo uma contra-investigação. Esta mostrara que inúmeros Templários já tinham falecido. Então, Clemente V retirou todos os poderes à Inquisição, o que implicava a anulação de todo o processo. Durante esse tempo, o rei e Nogaret procuravam pôr a opinião pública do seu lado e, em 25 de Março de 1308, Filipe, o Belo, reuniu os Estados Gerais, em Tours.

O texto da carta convocatória era de uma duplicidade familiar ao rei de ferro. Uma vez mais, escolhera o estilo lírico, com passagens como: “O Céu e a Terra revolvem-se com tantos crimes: os elementos perturbaram-se. […] Contra uma peste tão celerada, as leis e as armas levantar-se-ão, e os próprios animais irracionais e os quatro elementos com eles!” As acusações feitas eram descritas como fatos «provados». Tudo fora feito para provocar horror e indignação e para fazer passar o rei pelo defensor mais zeloso da fé católica. É claro que os Estados Gerais caíram na esparrela.

Astuciosamente, o rei mandou inclusive redigir, aos Estados Gerais, uma súplica que o livrava da iniciativa contra o Templo: “O povo do reino de França suplica insistentemente e com devoção a Sua Majestade real que considere qualquer das seitas e heresias, em relação às quais são alegados direitos para o senhor papa relativamente ao diferendo que se levantou entre vós e ele, relativamente à punição dos Templários, fazia profissão de conservar a fé católica e a conservava, exceto que, num ponto ou em vários, diferia e separava-se da observância completa da Igreja romana… Que ele se lembre de que o chefe dos filhos de Israel, Moisés, ele, amigo de Deus, que lhe falava cara a cara, gritou, numa circunstância semelhante, contra os apóstatas que haviam adorado o bezerro de ouro: «Que cada um se arme com o gládio e atinja o seu parente mais próximo…»

Por que razão o rei muito cristão não procederia do mesmo modo, mesmo contra todo o clero se, Deus o não permita, o clero caísse em erro ou apoiasse e favorecesse os que nele caíram?” O papa estava prevenido: Filipe IV iria até ao fim. Seria o braço secular de Deus, pelo menos aos olhos do povo, e não restava mais nada a um papa prestes a ser eliminado. Clemente cedeu uma vez mais e restabeleceu os tribunais eclesiásticos. Procurou apenas infletir-lhes o rumo juntando franciscanos aos dominicanos, constituindo comissões de inquérito nacionais e reservando para si o julgamento dos dignitários. Clemente V estava cada vez mais inquieto, tanto mais que Nogaret fazia circular libelos difamatórios a seu respeito e perguntava-se o que ele andaria a preparar. Bloqueado em Poitiers, não estava em segurança.

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Os Templários capturados imediatamente caiam nas mãos dos torturadores dominicanos.

Em Março de 1309, conseguiu fugir dos agentes reais e chegar a Avignon. Quando de uma primeira tentativa, fora apanhado e trazido de volta sob escolta, como um prisioneiro, para Poitiers. Desta vez, julgou-se livre, mas o rei enviou para junto dele, em Avignon, o capitão Raynaldo de Supino, que fora lugar-tenente de Nogaret quando do atentado de Anagni. Clemente já não estava mais seguro em sua casa do que no reino de França.

Surpresa e evasões

Entre os mistérios ligados à prisão, há um particularmente irritante: como é que os Templários foram capturados tão facilmente? E sobretudo, houve muitos que conseguiram escapar? Primeiro ponto que levanta problemas, não se apanhou praticamente nada com interesse nas comendas templárias, no momento da detenção. Isso pode significar que os Templários não possuíam praticamente nada, para além dos instrumentos necessários à cultura, e das suas armas. Mas isso não poderia ser válido para todas as comendas. Também pode querer dizer que, nas casas do Templo, existiam esconderijos que os homens do rei não descobriram. Mas então, como é que os irmãos não falaram neles, sob tortura? Podemos, por fim, imaginar que alguns responsáveis da Ordem estavam ao corrente da próxima detenção, que mandaram evacuar todos os tesouros e demais objetos de valor e que, sem dúvida, se puseram a si próprios a salvo.

De qualquer modo, seria muito de espantar que nenhum dos funcionários reais tivesse aberto as instruções antes da data. Sabemos que alguns, amigos do Templo, ou que tinham membros da sua família na Ordem, preveniram discretamente os irmãos. Foi, o caso, nomeadamente, no Razès. Lembremo-nos também de que Jacques de Molay fora convocado pelo papa e que, nessa altura, ele próprio pedira uma investigação. Não há dúvidas de que, neste contexto, tudo o que pudesse levantar qualquer problema, tudo o que era especialmente precioso por uma razão ou por outra, fora necessariamente evacuado. Quanto a maioria dos homens, parecem ter sido realmente apanhados de surpresa.

Alguns foram até massacrados no local, sem terem tempo de se defender, como em Carentoir ou perto de Gavarnie. Mas não foi o que aconteceu em todo o lado. Inúmeros cavaleiros conseguiram fugir. Na Flandres, a maior parte deles desapareceu na natureza e depois, quando as coisas se acalmaram, abrigaram-se discretamente noutras ordens religiosas. Plaisians, homem de Filipe, o Belo, reconheceu, aliás: “Porque uns, presos como suspeitos de heresia e sujeitos a acusação, fugiram da prisão; porque outros, embora citados, não compareceram; porque outros ainda, que o próprio soberano pontífice mandara capturar, fugiram; que alguns deles são salteadores nas florestas, outros ladrões de estrada, outros assassinos, outros ainda ameaçam com a morte, pela espada ou pelo veneno, os juízes e os ministros empenhados neste caso… e que… muitos deles que habitavam nos reinos de Espanha passaram inteiramente para os Sarracenos.”

Embora possamos ter algum ceticismo quanto àquilo em que se transformaram determinados Templários, mesmo assim não deixa de ser uma confissão de que o lançar de rede fora muito incompleto. Alguns Templários parecem pura e simplesmente ter criado um movimento de resistência. Foi o que aconteceu no Puy-de-Dôme. A dez quilômetros para nordeste de Besse, à saída de Cheix, encontram-se as grutas de Jonas. Ligam-se em sete andares numa parede rochosa, a trinta ou quarenta metros do solo. Foram escavadas pelo homem, num período indeterminado. Contam-se sessenta e uma e o conjunto é muito impressionante com os seus caminhos talhados na pedra e providos de parapeitos, as suas escadas em caracol esculpidas na rocha, os seus corredores de ligação, o seu refeitório, a sua «sala dos cavaleiros», a sua cozinha com pia de despejos, as suas cavalariças, etc.

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As Grutas de Jonas, em sua parte interna

Os Templários da região refugiaram-se nelas. Organizaram até uma capela que decoraram com frescos, representando, entre outras coisas… a negação de São Pedro. Pode ver-se também uma descida da cruz. Jesus a falar com a mãe, ou perante Pilatos, a visita das santas mulheres ao sepulcro e a aparição de Cristo a Maria Madalena. A capela era dedicada a São Lourenço. Estava provida de colunas e de capitéis. Uma sala por cima dela estava talhada de modo a fazer entrar o sol e orientar a luz no santuário. A organização destas grutas e a vida de um grupo de Templários naquele lugar só poderia ter acontecido com a cumplicidade ativa da população local. Não se trata de um caso isolado. Não muito longe de Coubon e do Puy, ficava a casa de La Roche-Dumas. Estava colocada sobre uma rede de grutas e de subterrâneos e serviu também de refúgio a Templários.

No Cantal, inúmeros cavaleiros refugiaram-se no castelo de Toursac, onde foram abastecidos pelos camponeses. Ficaram lá durante muitos anos. Na Picardia, os Templários da comenda de Doulens fugiram e refugiaram-se num bosque perto de Longuevilette. Perto de Saint-Flour, um monge-soldado refugiou-se na gruta chamada «do cavaleiro». Quando do concílio de Vienne, nove cavaleiros apresentaram-se espontaneamente para defender a Ordem. Donde vinham? De qualquer modo, comunicaram a todos que 1.500 cavaleiros Templários em armas ocupavam as alturas que dominavam o Ródano, entre Vienne e Lyon. O número era, sem dúvida, exagerado.

Em Paris, na véspera de serem detidos, os cavaleiros teriam ido refugiar-se nas pedreiras de Montmartre, o que deixaria supor que estavam prevenidos da prisão iminente. Em Provins, um determinado número de Templários deixou a Ordem alguns dias antes de 13 de Outubro. Sabiam o que ia passar-se? Por outro lado, no estrangeiro, os Templários nem sempre foram inquietados. Quase com a única exceção do príncipe de Magdeburgo, os alemães mostraram-se favoráveis à Ordem e não prenderam os seus membros. Mesmo assim, o arcebispo de Mainz reuniu um concílio para julgar os Templários. Estes últimos compareceram a cavalo e armados, conduzidos pelo comendador da Renânia, Hugo de Salm. Protestaram a sua inocência. O arcebispo tomou nota do fato e não insistiu. Depois, convocou um novo concílio para livrar a Ordem de todas as suspeitas.

Na Provença, Carlos II esperou pelo dia 24 de Junho de 1308 para mandar prender os Templários. Mandou-os torturar e matar mas, antes desse dia, inúmeros irmãos tinham tomado as suas precauções e passado à clandestinidade. Aliás, quando os archeiros vieram à comenda de Montfort-sur-Argens para proceder à detenção, só lá encontraram um velhote. Em Toulon, prevenidos pelo bispo, sete Templários tinham-se sumido na natureza e o ninho estava vazio, quando da chegada dos archeiros. Em Inglaterra, a prisão realizou-se em Dezembro de 1307, mas a maior parte dos irmãos não foi encarcerada, apenas ficaram sujeitos a prisão sob palavra, e, de um modo geral, os inquisidores recusaram a utilização da tortura. Aliás, o rei Eduardo II tivera o cuidado de escrever aos reis de Portugal, de Castela, de Aragão e de Nápoles para dizer que as acusações contra a Ordem do Templo tinham, sem dúvida, sido suscitadas pela inveja e a cupidez de Filipe.

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Finalmente, uma vez abolida a Ordem, os irmãos foram geralmente acolhidos em mosteiros. Na Escócia e na Irlanda, os cavaleiros nunca foram maltratados. Em Espanha, fecharam-se nos seus castelos e só de lá saíram depois de terem recebido garantias de que seriam julgados com equidade. O concílio de Salamanca, a 21 de Outubro de 1310, declarou unanimemente que os acusados de Castela, de Leão e de Portugal estavam livres e absolvidos de todas as acusações e delitos que lhes haviam sido imputados. Do mesmo modo, em 1312, o concílio de Tarragona declarou inocente o Templo. E foram fundadas novas ordens que recolheram os bens e onde os irmãos fugitivos puderam ingressar. Foi o caso da Ordem de Nossa Senhora de Monteza, criada e colocada sob a tutela da Ordem de Calatrava, que acolhera ela própria Templários.

Do mesmo modo, foi criada em Portugal a Ordem Militar da Milícia de Cristo e os cavaleiros conservaram até o manto branco e a cruz vermelha do Templo. Em 1321, a Ordem de Cristo contava mais de cento e sessenta comendas e todos os seus membros eram Templários portugueses ou franceses. Trinta e cinco anos mais tarde, a sede da nova ordem, primeiro fixada em Castro Marim, foi transferida para o CCastelo de Tomar, na antiga comenda provincial portuguesa da Ordem do Templo.

Na Itália, os irmãos recusaram-se, de um modo geral, a comparecer às citações dos inquisidores. No Roussillon, na Catalunha, dependente do rei de Aragão, inúmeros Templários tiveram tempo para entrar na clandestinidade ou de colocarem os seus castelos em estado de defesa. Na Catalunha, recusaram apresentar-se às convocações e fecharam-se nas suas fortalezas de Miravet, Ascon, Montco, Cantavieja, Villel, Castellot e Chalamera. Quando foram buscá-los, defenderam-se vigorosamente, com o apoio ativo da população. Assim, a Ordem não fora de modo algum aniquilada. Nem sequer na França. A sobrevivência era possível, a encobertos dentro de outras ordens, ou na sombra. Dado que não podia suprimir todos os vestígios dela, Filipe, o Belo, empenhou-se pelo menos em liquidar o seu poderio.

Continua . . .


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