Os Cavaleiros Templários e a Arca da Aliança (5)

Os Cavaleiros Templários e a Arca da Aliança, parte  5. No Deserto

Parece que os acontecimentos bíblicos durante o período quando a Arca foi supostamente construída, até que ela foi instalada de forma permanente no Templo de Jerusalém, foram fatos históricos o suficiente — pelo menos em termos gerais. Embora muitos estudiosos tenham considerado por bastante tempo o relato da Bíblia dessa era da história dos israelitas como mitológica, estava agora diante de muitas evidências que mostravam que os fatos eram muito mais precisos do que se imaginava. 

Livro Os Cavaleiros Templários e a Arca da Aliança, de Graham Phillips, Editora Madras – Capítulo V – O Deserto

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Comprovações da erupção do vulcão da ilha de Thera (Santorini) corroboravam para com o relato da Bíblia das pragas que afligiram o Egito e o subseqüente Êxodo, e a arqueologia revelara que cerca de quarenta anos depois, os israelitas de fato conquistaram Jericó, e duas décadas mais tarde, saquearam Hazor. A unificação de Israel de Davi em um só reino com Jerusalém por sua capital, também parecia ser um fato  igualmente histórico, conforme sugerido pela existência do tanque de Gibeom e a fossa dentro da fonte de Gihon.

Quanto a Arca em si, muitos historiadores duvidavam de sua existência por duas razões principais. Primeiro, parecia não existirem evidências históricas para a existência da religião dos hebreus na época que dizem em que a Arca fora construída, e segundo, parecia não haver contexto ou precedente históricos dessa relíquia. Entretanto, ambas as hipóteses podiam ser seriamente questionadas. De acordo com a Bíblia, a Arca foi construída pouco depois que os israelitas fugiram de sua prisão no Egito, um acontecimento para o qual uma data bastante precisa pôde ser determinada a partir de uma série de diferentes perspectivas.

A data indicada pelos testes de radiocarbono dos grãos de cereais encontrados nas ruínas de Jericó indicava a queda da cidade como tendo se passado por volta de 1320 a.C, e com mais quarenta anos — o período que os israelitas passaram no deserto — uma data  de cerca de 1360 a.C. nos leva até o Êxodo. A erupção de Thera também pôde ser datada próximo a esse ano a partir de três peças evidenciais completamente separadas: as amostras dos núcleos de gelo, o jarro de alabastro encontrado em Amnisos, e as estátuas de Sekhmet erguidas por Amonhotep III. Havia provas de que, no mesmo período — pela primeira vez no mundo —, uma religião monoteísta passou a existir no Egito, a qual era extraordinariamente semelhante à religião dos israelitas conforme descrita no Antigo Testamento.

Além disso, nesse mesmo período no Egito, um recipiente religioso era usado como um altar portátil para transportar a imagem de um deus, assim como a Arca era usada pelos israelitas como um oráculo portátil de Deus. Até mesmo os nomes dos dois recipientes eram semelhantes demais. Embora a história da Arca da Aliança possa inicialmente ter parecido não pertencer à história, ela agora parecia se encaixar perfeitamente em um contexto histórico.

Embora não tivesse provas absolutas de que a Arca existiu, me parecia uma aposta segura acreditar que era algo real — ao menos como uma relíquia histórica, se não uma arma sobrenatural ou um “rádio para falar com Deus”. Encontrei evidências suficientes para dedicar meu tempo tentando descobrir o que pode ter acontecido com ela. Novas investigações no Santuário da Bíblia revelaram que há cinco principais episódios na antiga História dos hebreus durante a qual vários estudiosos acreditam que a Arca pode ter sido perdida: dois deles do período do Reino Unido de Israel e outros três de posteriores tempos dos judeus.

As primeiras teorias abrangem o período imediatamente após o Templo de Jerusalém ser construído, quando dizem que o filho de Salomão a roubou e levou para a Etiópia por volta de 950 a.C, ou quando os egípcios invadiram Jerusalém, cerca de trinta e cinco anos depois. As últimas teorias se referem às ocasiões quando o Templo foi saqueado:  pelos babilônios em 597 a.C, pelos gregos em 169 a.C, e pelos romanos em 70 d.C. Na época dessas últimas invasões, que se iniciou cerca de três séculos após a morte de Salomão, as tribos do norte de Israel tinham sido dizimadas pelos assírios do norte do Iraque. Dos primeiros israelitas, somente os habitantes da Judéia — os judeus — e seu reino de Judá, sobreviveram. Da mesma forma, aqueles que sustentam as primeiras teorias do período relativo ao desaparecimento da Arca se referem a ele como o “acampamento dos israelitas“, e aqueles que concordam com as últimas teorias chamam-no de o “acampamento dos judeus“.

Atual Ilha de Santorini, onde o vulcão Thera explodiu, deixando um vazio no centro da ilha.

Estudiosos do acampamento dos israelitas indicam que há cerca de duzentas referências à Arca da Aliança no Antigo Testamento, quase todas envolvendo o período entre o Êxodo e a construção do Templo. Nenhuma das poucas referências posteriores, eles afirmam, cita a Arca sendo usada de forma alguma. Se os israelitas ainda estavam de posse da Arca, eles sustentam, então por que não a usaram? Estudiosos do acampamento dos judeus, por outro lado, chamam nossa atenção para o fato de que a Arca parece ainda estar no Templo de Jerusalém, em um festival da Páscoa dos judeus durante o reinado do rei da Judéia, Josias, mais de três séculos após o tempo de Salomão. De acordo com o livro 2 das Crônicas

Então Josias celebrou a páscoa ao Senhor em Jerusalém; e mataram o cordeiro da páscoa no décimo quarto dia do primeiro mês. E estabeleceu os sacerdotes nos seus cargos, e os animou ao ministério da casa do Senhor. E disse aos levitas que ensinavam a todo o Israel e estavam consagrados ao  Senhor: “Ponde a arca sagrada na casa que edificou Salomão, filho de Davi, rei de Israel”. (2 Cr 35:1-3)

Fica claro que o escritor dessa passagem em particular, não tinha dúvidas de que os judeus ainda tinham a Arca em seu tempo. Mais adiante, no mesmo capítulo, lemos ainda, com precisão, quando isso se passou: 

No décimo oitavo ano do reinado de Josias se celebrou esta páscoa. Depois de tudo isso, havendo Josias já preparado o templo, subiu Neco, rei do Egito, para guerrear contra Carquemis, junto ao Eufrates; e Josias lhe saiu ao encontro. (2 Cr 35:19-20)

Registros egípcios das campanhas de Neco datam este evento de cerca de 622 a.C. Em bases lingüísticas, estudiosos bíblicos consideram essa parte do livro 2 das Crônicas como tendo sido escrita entre 600 e 550 a.C, e portanto, o fato pode ter sido, na verdade, um relato contemporâneo bastante próximo. Mesmo que tenha sido escrito no final de 550 a.C, ele pode ainda ter sido composto por um escriba que consultou testemunhas oculares dos acontecimentos. Assim, como o último período parecia uma opção mais provável para o desaparecimento da Arca na história, decidi me juntar aos defensores do acampamento dos judeus. No entanto, isso ainda me deixava diante de três possibilidades.

A última menção da Arca no Antigo Testamento está no livro de Jeremias e se refere ao período logo antes em que os babilônios saquearam o Templo, em 597 a.C. Imaginando que essas sejam as palavras de Jeremias, o principal profeta judeu da época, essa passagem diz: 

E sucederá que, quando vos multiplicardes e frutificardes na Terra, naqueles dias, diz o Senhor, nunca mais se dirá: A arca da aliança do Senhor, nem lhes virá ao coração; nem dela se lembrarão, nem a visitarão; nem se fará outra. (Jer 3:16)

Jeremias está se referindo às palavras de Deus, mas não se sabe ao certo se a passagem fala do passado ou do presente de Deus. Será que a Arca já tinha sido perdida, ou Jeremias estava predizendo que ela seria perdida em algum momento no futuro? Com base apenas nesse versículo, fica impossível dizer se os judeus ainda tinham posse da Arca no período em que os babilônios saquearam o Templo. Contudo, a maioria dos comentaristas judeus, cuja obra sobrevive dos tempos romanos, aceitavam que a Arca ainda estava no Templo logo antes da invasão dos babilônios.

Estudiosos do acampamento dos israelitas durante o Êxodo indicam que há cerca de duzentas referências à Arca da Aliança no Antigo Testamento, quase todas envolvendo o período entre o Êxodo e a construção do Templo.

Das três possíveis épocas em que a Arca pode ter sido perdida durante o período judeu, o ataque dos romanos no Templo parecia ser o menos provável, como o historiador judeu Josephus, que viveu quando o evento se passou, afirma, categoricamente, que o Sagrado dos Sagrados fora deixado vazio no novo Templo de Herodes. Isso me deixava com duas possibilidades, que pareciam ser igualmente possíveis. A primeira opção, quando os babilônios saquearam o Templo, está incluído em relatos do Antigo Testamento que se referem aos babilônios como tendo levado todos os artigos sagrados que estavam no Templo (2 Reis 25:13-15 e Jer 52:17-22).

Se o Antigo Testamento estiver certo, então todos os itens roubados  foram posteriormente devolvidos ao Templo cerca de setenta anos depois, após a queda da Babilônia para o Império Persa. Os objetos estão listados em Esdras 1:7-11, mas não há menção da Arca. No entanto, isso não quer dizer, necessariamente, que a relíquia tenha sido perdida para sempre para os judeus na época da invasão dos babilônios. Ela pode ter sido escondida dos babilônios, e mais tarde recuperada.

Depois que os persas derrotaram os babilônios, o Templo de Jerusalém foi reconstruído, mas se a Arca foi posteriormente colocada de volta nele, não nos mostra o Antigo Testamento, visto que a narrativa termina neste período. Com base em fontes de registros gregos e romanos e no trabalho de Josephus, porém, sabemos que os gregos saquearam o Templo de Jerusalém em 169 a.C.

Nenhum inventário sobreviveu listando tudo o que foi levado: tampouco algum registro de quais itens restaram depois que uma revolta de grandes proporções dos judeus fez com que os tesouros roubados do Templo fossem devolvidos. Decidi que o melhor curso de ação a ser seguido seria traçar um estudo do ataque dos gregos no Templo, visto que havia mais fontes históricas acerca dessa época do que do período anterior dos babilônios. Talvez, em algum lugar, houvesse evidências que  pudessem determinar se a Arca ainda estava ou não no Templo de Jerusalém quando ele foi saqueado pelos gregos.

O interior do Tabernáculo, contendo o Menorah sagrado, a Arca da Aliança e as oferendas.

Quando falei novamente com David Deissmann, ele me colocou em contato com um homem que era um dos expoentes mais importantes da teoria de que a Arca fora retirada de Jerusalém na mesma época em que os gregos saquearam o Templo. Seu nome era Dr. Otto Griver, um filólogo israelense aposentado da Universidade Hebraica que passara anos procurando pela Arca no Deserto da Judéia. Esse território hostil, escabroso e cheio de montanhas — com aproximadamente vinte quilômetros de largura por setenta quilômetros de  comprimento — fica a dezesseis quilômetros ao leste de Jerusalém, na lateral ocidental do Mar Morto.

Como um queijo suíço, a área é cheia de poços com centenas de cavernas, nichos e vãos, alguns dos quais foram usados como esconderijos para os famosos Pergaminhos do Mar Morto. Se esses antigos pergaminhos puderam ficar ali sem serem descobertos por quase dois mil anos, Dr. Griver indagou, por que o mesmo não teria acontecido com a Arca? Desde que os primeiros pergaminhos foram descobertos, por volta de 1940, uma série de expedições também vasculharam o Deserto da Judéia em busca da Arca da Aliança, e a mais sofisticada de todas fora chefiada pelo Dr. Griver. David me garantiu que ele era uma das principais autoridades mundiais empenhado no estudo do misticismo hebraico antigo e que, provavelmente, sabia tanto sobre a Arca quanto qualquer outro ser humano vivo. Naquele mesmo dia, ele me recebeu com grande entusiasmo.

“Eu duvido que ele vá lhe dizer onde acha que ela está escondida,” David me disse. “Mas tenho certeza que ele irá compartilhar das idéias que tem a respeito de suas teorias gerais acerca da Arca.”

O Dr. Griver foi um dos especialistas que ajudaram na tradução dos Pergaminhos do Mar Morto na década de 80, e seu trabalho o fez desenvolver algumas teorias únicas e controversas a respeito da Arca. Ele acreditava que a relíquia tinha estado sob custódia de uma seita judia chamada de os Essênios. O historiador do século I, Josephus, descreve como os Essênios fizeram parte do sacerdócio do Templo de Jerusalém que se separaram para formar uma comunidade monástica ascética no Deserto da Judéia no tempo em que os gregos saquearam o Templo, na metade do século II a.C.

Baseados em Qumran, na extremidade noroeste do Mar Morto, os Essênios sobreviveram em um verdadeiro  isolamento por dois séculos, até que foram chacinados pelos romanos durante a Revolta dos Judeus, em 68 a.C. Pouco se sabia sobre suas crenças até a descoberta dos Pergaminhos do Mar Morto, que vieram a ser uma completa coleção de textos sagrados dos Essênios que foi escondida antes do massacre romano.

O primeiro dos Pergaminhos do Mar Morto foi encontrado em 1947, descoberto por acaso em uma caverna, a cerca de oitocentos metros ao norte de Qumran, por meninos pastores beduínos. Ao que parece, eles se aventuraram nas cavernas à procura de uma ovelha perdida, quando encontraram uma série de jarros de armazenamento de cerâmica meio enterrados, que guardavam sete dos pergaminhos. Escritos em hebraico e aramaico (um dialeto local), descobriu-se que se tratavam de comentários a respeito dos livros do Antigo Testamento e de outras escrituras dos judeus, junto com um ensinamento religioso específico da seita dos Essênios. Todos foram traduzidos e encontram-se expostos ao público no Templo do Livro no Museu Israel de Jerusalém.

Entretanto, esses foram apenas os primeiros das dezenas de pergaminhos encontrados em outras cavernas na região durante a década seguinte. Apenas um desses outros pergaminhos foi colocado em exposição; os outros permanecem guardados no prédio do Museu Rockefeller em Jerusalém, as dependências da Jurisdição das Antiguidades de Israel. A tradução desses pergaminhos vem sendo feita há anos, e somente algumas delas chegaram a ser divulgadas ao público. Na realidade, muitos dos pergaminhos ainda estão sendo traduzidos, visto que somente agora a ciência moderna tem conseguido recuperar a tinta apagada, tornando-os legíveis.

Os Manuscritos do Mar Morto são uma coleção de centenas de textos e fragmentos de texto encontrados em cavernas de Qumran, no Mar Morto, no fim da década de 1940 e durante a década de 1950. Foram compilados por uma seita de judeus conhecida como Essênios, que viveram em Qumran do século II a.C. até aproximadamente 70 d.C.. Porções de toda a Bíblia Hebraica foram encontradas, exceto do Livro de Ester e do Livro de Neemias.

Na mesma época em que os pergaminhos estavam sendo encontrados, as ruínas do mosteiro dos Essênios em Qumran também foram descobertas. Em um terraço de pedras entre os penhascos irregulares ao lado do Mar Morto, um labirinto  de pedras fundamentais, com cerca de 100 metros quadrados, foi tudo o que restou da antiga comunidade. Visitei o local em uma outra viagem que tinha feito a Israel e, ao caminhar pelas ruínas, achei difícil acreditar que qualquer ser humano pudesse ter vivido ali. O sol brilhava de maneira impiedosa, e o chão era tão quente que as solas de minhas botas começavam a exalar um cheiro de borracha queimada toda vez que eu subia sobre uma rocha e ficava parado por apenas alguns segundos.

Contudo, apesar das condições áridas, apesar do fato de que menos de cinco centímetros de chuva cai durante qualquer ano, a comunidade que viveu ali há dois mil anos, tinha toda a água de que necessitava. Quando o lugar foi escavado pelo arqueólogo francês Roland de Vaux, na metade da década de 1950, sua equipe descobriu que uma série elaborada de aquedutos, alinhados com uma camada de cerâmica engenhosa que evitava vazamentos, fornecia água abundante à comunidade das fontes das colinas adjacentes.

A água não apenas atendia às necessidades vitais, mas era também essencial para as práticas religiosas do mosteiro. Enormes depressões retangulares foram encontradas na escavação, que são remanescentes de grandiosas banheiras comunitárias, nas quais os habitantes regularmente mergulhavam para purificações rituais. A principal característica do lugar fora uma torre de três andares que proporcionava uma vista panorâmica de um pátio central, cercado de todos os lados por construções de tamanho considerável: oficinas onde utensílios do dia-a-dia eram feitos, um grande salão onde a comunidade se reunia para encontros e refeições comunitárias, e um escritório onde os manuscritos sagrados dos Essênios — os Pergaminhos do Mar Morto — eram escritos. Isso pôde ser determinado porque peças de cerâmica encontradas ali eram idênticas aos recipientes que guardavam os pergaminhos. 

Foi o estudo do Dr. Griver de um dos pergaminhos que o fez chegar à conclusão de que os Essênios foram os guardiões da Arca e a levaram do Templo quando ele foi saqueado pelos gregos. Ele também acreditava que a Arca jamais fora devolvida ao Templo quando após o fim dos problemas com os gregos porque aquele não era mais considerado um lugar seguro para guardar a relíquia sagrada. O Dr. Griver se ofereceu para me buscar em meu hotel em Jerusalém e me levou até a caverna onde o pergaminho foi encontrado. No caminho me explicou algumas das antigas crenças dos hebreus com relação à Arca. Ele ficou muito satisfeito por poder falar abertamente a respeito de suas teorias, e não ficou nem um pouco incomodado por eu ter gravado nossa conversa.

O Dr. Griver explicou que, ao que parece, os israelitas precisavam de doze pedras sagradas para usar a Arca. De acordo com o Antigo Testamento, Deus disse a Moisés como construir a Arca e lhe deu instruções para seu uso.

Primeiro, ela só poderia ser transportada por membros do sacerdócio — os levitas. Segundo, a única pessoa além de Moisés que poderia, na verdade, usar a Arca era o sacerdote superior Aarão (e após sua morte, seus sucessores). Terceiro, o poder da Arca só poderia ser invocado quando o sacerdote superior estivesse usando um peitoral sagrado (também feito com pedras preciosas específicas), geralmente chamado de Peitoral do Julgamento.

As ruínas do mosteiro dos Essênios em Qumran.

Ele está descrito com detalhes no livro do Êxodo como um projeto quadrado feito de linho dourado torcido e ornado com doze pedras preciosas dispostas em quatro linhas: 

Conforme a obra do éfode o farás; a primeira ordem será um sárdio, de um topázio, e de um carbúnculo… e a segunda ordem será de uma esmeralda, de uma safira, e de um diamante… e a terceira ordem será de um jacinto, de uma  ágata, e de uma ametista… e a quarta ordem será de um berilo, e de um ônix, e de um jaspe. (Ex 28:15-30)

Às vezes chamado de “as jóias de ouro“, porque foram originalmente feitas de ouro, acreditava-se que essas pedras preciosas sagradas tinham um poder divino, porque foram ditadas pelo próprio Deus no sagrado Monte Sinai. O livro de Ezequiel do Antigo Testamento, que se refere a elas como as Pedras de Fogo, descreve-as como tendo pertencido a Lúcifer, mas que foram, por Deus, tiradas dele, após sua desgraça (Ez 28:13-16). Elas foram, mais tarde, entregues a Moisés porque, aparentemente, era fatal olhar dentro da Arca sem sua proteção. Como 1 Samuel 6:19 diz, uma comunidade inteira de curiosos morreu ao tentar fazer isso:

E o Senhor feriu os homens de Bete-Semes, porquanto olharam para dentro da arca do Senhor; feriu do povo cinqüenta mil e setenta homens; então o povo se entristeceu, porquanto o Senhor fizera tão grande estrago entre o povo. 

Durante gerações, a Arca foi mantida fechada, até que foi finalmente aberta no Templo de Jerusalém por ordens do Rei Salomão, cerca de três séculos e meio após o tempo de Moisés. Evidentemente, não havia nada dentro com exceção de duas tábuas de pedra que apresentavam os Dez Mandamentos (1 Reis 8:9). No entanto, no momento em que foi aberta,“forças divinas” foram liberadas: 

E sucedeu que, saindo os sacerdotes do santuário, uma nuvem encheu a casa do Senhor. E os sacerdotes não podiam  permanecer em pé para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do Senhor enchera a casa do Senhor. (1 Reis 8:10-11) 

Por volta dessa época, parece que o próprio éfode, ou peitoral, já tinha desaparecido e as pedras foram guardadas em um cofre ou uma caixa, que parece ter sido guardada pelo sacerdote superior quando a Arca foi usada. De acordo com 1 Samuel,

os levitas desceram a arca do Senhor, como também o cofre que estava junto a ela, em que estavam os objetos de ouro” (1 Sm 6:15).

A Bíblia não diz o que aconteceu com essas pedras sagradas, mas podemos imaginar que ficaram junto da Arca até seu misterioso desaparecimento da história. “Você acredita que a Arca de fato possuía o poder que a Bíblia diz?” Eu perguntei. “Os antigos israelitas acreditavam que ela era capaz de invocar os anjos,” respondeu o Dr. Griver, sem se comprometer. “Diferente da idéia cristã de anjos como delicados e pequenos querubins ou belos seres com asas de penas, para os antigos hebreus, os anjos eram instrumentos poderosos e destrutivos da ira de Deus. Foi um anjo quem matou o primogênito egípcio quando o faraó se recusou a soltar os escravos israelitas, e foi um outro anjo quem desatou as torrentes do dilúvio do tempo de Noé. Dizem que quando um dos anjos de Deus foi enviado para destruir as cidades corruptas de Sodoma e Gomorra, a devastação foi tão terrível que tudo o que restou foi um imenso buraco no chão e um solo árido no qual nada podia frutificar ou viver.”

O Dr. Griver apontou sua mão pela janela do carro em direção ao Mar Morto, ao lado do qual estávamos agora passando: “É aqui que dizem ter existido Sodoma e Gomorra.”  Montanhas vermelhas queimadas se erguiam com severidade das plataformas de pedras rachadas que cercavam as águas esverdeadas, e a atmosfera era densa por causa do cheiro forte de sal. Aquele não era o perfume conhecido e saudável do beira-mar, mas um odor químico pungente, como o dos gases produzidos por uma fornalha de resíduos industriais. O chamado Mar Morto possui uma quantidade de sal sete vezes acima dos demais oceanos da Terra — um nível tão elevado que impede a vida marinha de sobreviver.

O enorme lago, com quase oitenta quilômetros de comprimento por 16 de largura, fica a uma marca incrível de quatrocentos metros abaixo do nível do mar — o lugar mais baixo na terra em qualquer parte do mundo (situado em uma enorme FALHA GEOLÓGICA). Com isso, as águas do Rio Jordão, que alimentam o Mar Morto vindo do norte, literalmente, não têm para onde ir. Elas simplesmente evaporam em uma proporção de cinqüenta e cinco polegadas por ano em temperaturas abrasadoras que chegam a centenas de graus vários meses. O sal recebido pelas rochas no norte simplesmente erguem-se sobre as águas, ano após ano, deixando não somente o Mar Morto, mas também a terra adjacente, quase totalmente despojada de vida. Eu nunca estive em um lugar tão absolutamente estéril. Era como um vasto oceano tóxico em um mundo sem vida e pósapocalíptico.

Era fácil de ver por que a história de Sodoma e Gomorra existiu. “Você diz que Lúcifer tinha essas Pedras de Fogo. Não é verdade que ele era um anjo antes de se transformar no Demônio?” Eu disse, sem ter certeza se o Dr. Griver acreditava em anjos ou não. Percebi que ele era um judeu devoto, mas não sabia se sua fé pessoal fazia com que aceitasse a existência de anjos de forma literal.

Localização de Sodoma e QUMRAN no Mar Morto.

O Dr. Griver explicou que dizem que Lúcifer era o chefe dos anjos antes de desagradar a Deus e ser expulso do paraíso. A história da desgraça de Lúcifer  não é contada no Antigo Testamento, mas foi incluída no antigo Tanak hebraico, de onde o Antigo Testamento foi compilado. Por diversas razões, incluindo os anjos, a Igreja não se sentia à vontade com alguns dos livros do Tanak. Considerados mitológicos, e não históricos, referiam-se a eles como Apócrifos, que significa de autenticidade duvidosa (da mesma forma, a maioria deles não é aceita pelos principais cristãos, embora a Bíblica católica romana aceite sete livros a mais do que os protestantes como canônicos). Os Essênios, porém, confiavam nos Apócrifos e viam-se como seguidores dos sucessores de Lúcifer no paraíso.

De acordo com os Apócrifos, quando Lúcifer foi expulso do paraíso, ele foi substituído por dois anjos chefes, Miguel e Gabriel, que ficaram conhecidos como os ‘reis do paraíso’. Eram os dois querubins representados sobre a Arca“, disse o Dr. Griver. “A palavra anjo, usada na Bíblia cristã, vem da palavra grega angelus, que quer dizer mensageiro — aquele que traz mensagens de Deus. A palavra hebraica é malakh, que significa o ‘lado sombrio’ de Deus. Os anjos fazem o trabalho sujo de Deus. No entanto, assim como na palavra grega, eles também eram mensageiros e são muitas vezes indicados pela palavra hebraica or, que quer dizer “luz“.

O Dr. Griver explicou que os anjos eram chamados de luzes porque acreditava-se que estrelas cadentes eram anjos que estavam a caminho da Terra para executar serviços de Deus. “Miguel e Gabriel também eram representados no céu por duas luzes permanentes: as duas estrelas com cauda da constelação da Ursa Maior — a Grande Ursa — as estrelas que hoje chamamos de Benetnasch e Mizar. Os antigos nomes hebraicos dessas estrelas eram Reysh, que quer dizer cabeça, visto que Miguel era o líder, ou o supremo dentre todos os anjos, e a outra era chamada de Kos, que quer dizer a taça, porque diziam que Gabriel segurava a taça da salvação do homem.”

O Dr. Griver saiu com seu jipe da Auto-Estrada 90, que percorre toda a lateral do Mar Morto, e entrou em uma pista de areia estreita. “E é por isso que acredito que os Essênios eram os guardiões da Arca“, ele disse. “A Bíblia mostra Lúcifer como o primeiro possuidor das Pedras de Fogo, portanto, como devotos de Miguel e Gabriel, os substitutos de Lúcifer, os Essênios  estavam insinuando que eram agora os donos das pedras. Se eles estavam com as pedras, que eram inseparáveis da Arca, eles, então, devem ter ficado com a Arca em si.” “O que faziam essas pedras?” perguntei. O Dr. Griver explicou que os antigos israelitas acreditavam que no início do mundo, quando ainda era o chefe dos anjos de Deus, Lúcifer morava no Monte Sinai, de onde comandava os outros anjos. “As pedras sagradas foram colocadas nas vestes de Lúcifer para protegê-lo do poder de seus anjos amigos“, ele disse. “Por que eram chamadas de Pedras de Fogo, e por que eram doze?” perguntei.

O Tora (ou Pentateuco) — os primeiros cinco livros do Antigo  Testamento — nos conta que elas representavam as doze tribos de Israel, mas por que eram chamadas de Pedras de Fogo é algo misterioso. No entanto, deve ter sido pelo fato de poderem controlar o fogo divino que emanava da Arca. Também acreditava-se que elas garantiam proteção contra o terrível poder dos anjos, e é por isso que o sacerdote superior as colocava em seu peitoral“. Enquanto o Dr. Griver falava, eu não pude deixar de visualizar a cena do filme Caçadores da Arca Perdida, quando a Arca é aberta: lindos anjos saem voando e transformam-se em criaturas demoníacas que devoram os bandidos. “Então, acredita-se que Lúcifer era o dono da Arca?” eu perguntei.

Não, isso não aconteceu até muito tempo depois. Quando os israelitas estavam andando pelo Deserto após o Êxodo do Egito, Deus conduziu Moisés até o Monte Sinai onde lhe mandou construir a Arca e lhe entregou as pedras sagradas para protegê-lo de seu poder.” “O pergaminho que você encontrou diz, especificamente, que os Essênios estavam de posse da Arca?” Eu perguntei.

O Dr. Griver fez uma pausa antes de responder: “não com todas essas palavras”  Tínhamos chegado ao pé do penhasco, na metade do caminho de onde ficava a caverna onde o pergaminho fora encontrado. Ao sair do jipe, segui o Dr. Griver por um caminho estreito, entremeado por degraus feitos sobre as pedras. Eu achava que já tinha me acostumado com as elevadas temperaturas de Israel, mas estava enganado. No instante em que deixei o conforto do carro com ar condicionado, o calor ardente me deixou sem respiração. A temperatura estava acima de 40 graus. “O Deserto da Judéia é um dos lugares mais quentes na Terra“, disse o Dr. Griver, notando meu desconforto enquanto subíamos com dificuldade.

Finalmente, depois de cerca de quinze minutos, chegamos à caverna, que não era propriamente uma caverna, mas sim um recesso profundo na lateral do penhasco, aberto por tempestades de areia durante vários milênios. O Dr. Griver explicou que antes dos degraus de pedra serem entalhados por arqueólogos, o único caminho para chegar até a montanha era descendo do topo do penhasco. Ele me mostrou o lugar onde o jarro com o pergaminho fora encontrado, no fundo da caverna, enterrado. “Se os Essênios estavam com essas relíquias, e elas de fato funcionavam, por que não usaram-nas contra os romanos?” eu perguntei.

O Dr. Griver sorriu. “Boa pergunta“, ele disse. “Talvez tenham esquecido como usá-las.” “Então você acredita que os Essênios estavam com a Arca e as Pedras de Fogo. O que você acha que aconteceu com elas?” perguntei. David me disse para não esperar que o Dr. Griver revelasse qualquer coisa a respeito de suas idéias sobre o paradeiro da Arca, mas achei que deveria perguntar mesmo assim. “Quando os romanos destruíram Qumran, chacinaram todos os membros da comunidade,” ele disse. “Os Essênios deviam estar esperando que isso acontecesse, porque esconderam sua coleção de textos. Se tiveram tempo suficiente para esconder os pergaminhos, também tiveram tempo suficiente para esconder outros artefatos, inclusive a Arca. O eventual massacre do povo deve ter sido total, porque os Pergaminhos do Mar Morto jamais foram recuperados. As pedras e a Arca da Aliança devem ainda estar em algum lugar por aqui“. O Dr. Griver balançou uma de suas mãos na direção do interior do Deserto da Judéia, com suas montanhas áridas e sem vida que víamos ao longe sob o calor e a neblina, até onde nossos olhos podiam alcançar.

Parecia que o Dr. Griver tinha perdido as esperanças de algum dia encontrar a Arca. Ele explicou que sua expedição, que contava com alguns dos mais importantes arqueólogos de Israel, passou duas temporadas vasculhando centenas de cavernas como aquelas onde os pergaminhos foram encontrados. Nem todos os membros da expedição esperavam achar a Arca; a maioria deles esperava encontrar outros pergaminhos. Embora tenham procurado por dois longos anos, nada foi encontrado.

Se a Arca está escondida em algum lugar no Deserto da Judéia, como acredito que esteja, eu duvido que seu esconderijo esteja acessível“, ele disse, balançando sua cabeça. “Não consigo imaginar que haja uma só caverna aqui que não tenha sido vasculhada por alguém. Um único fragmento de um manuscrito dos Essênios valeria uma fortuna. Não somente arqueólogos, mas também os árabes locais, passaram mais de meio século varrendo essa área. O problema é que muitos esconderijos disponíveis para os Essênios há dois mil anos, são agora lugares impossíveis de ser alcançados. O enorme contraste entre o calor do dia e das condições de frio extremo da noite faz com que as montanhas se desgastem, formando enormes aterros de cascalho“. Ele apontou para a base do penhasco onde um monte gigantesco de rochas e cacos de pedras alcançava metade da lateral da rocha. “Há milhões de toneladas dessas pedras por aqui no Deserto da Judéia que devem cobrir milhares de cavernas e outros esconderijos. Na década de 1980, uma equipe de arqueólogos ingleses demorou três anos para remover apenas um desses montes. Se a Arca está aqui, receio que jamais será encontrada.”

Ainda não sabia ao certo se o Dr. Griver de fato acreditava em anjos ou no poder da Arca, mas ele fora, certamente, uma mina de informações a respeito dos antigos pensamentos judeus com relação à relíquia. Para mim, porém, a pergunta mais importante ainda permanecia sem resposta. Quando a Arca tinha sido perdida para os Judeus? Se a Bíblia estivesse certa a respeito de ela ainda estar no Templo de Jerusalém durante o reinado de Josias, por volta de 662 a.C., e o historiador do século I, Josephus, estivesse certo quanto a ela não estar no Templo quando este foi reconstruído por Herodes restavam, então, apenas dois momentos óbvios de quando ela fora perdida: no tempo em que os babilônios saquearam o Templo em 597 a.C., ou quatro séculos depois, quando os gregos o atacaram.

O Dr. Griver estava pessoalmente convencido de que a Arca fora retirada de Jerusalém durante o período em que os gregos saquearam o Templo, mas eu ainda precisava ser persuadido. Ele se mostrou um tanto vago com relação a referências específicas dos Pergaminhos do Mar Morto com o fato de os Essênios estarem, na realidade, de posse da sagrada relíquia israelita. Até o que pude perceber, o Dr. Griver baseava sua teoria em evidências puramente circunstanciais. Os Essênios podem ter se sentido obcecados pela Arca da Aliança, mas será que eles, em algum momento, chegaram a afirmar que estavam com ela? Decidi que a melhor coisa a fazer era visitar o Santuário da Bíblia em Jerusalém, onde alguns dos Pergaminhos do Mar Morto estão expostos, e buscar uma segunda opinião quanto ao fato de os Essênios realmente estarem de posse da Arca sagrada.

Fim do capítulo.

Capítulos anteriores em:

  1. https://thoth3126.com.br/os-cavaleiros-templarios-e-a-arca-da-alianca-parte-1/
  2. https://thoth3126.com.br/os-cavaleiros-templarios-e-a-arca-da-alianca-parte-2/
  3. https://thoth3126.com.br/os-cavaleiros-templarios-e-a-arca-da-alianca-parte-3/
  4. https://thoth3126.com.br/os-cavaleiros-templarios-e-a-arca-da-alianca-parte-4/

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