A incrível tecnologia dos Antigos (1)

O Enigma da Tecnologia Antiga : A todos os cientistas-filósofos, de mente aberta, espalhados pelo mundo e que continuam a estudar, a aprender e a crescer. Possam eles nos levar até o infinito, e além. “E aqui, meu caro Watson, chegamos a um desses mundos da conjectura no qual as mentes mais lógicas podem falhar; cada um pode formular sua própria hipótese com base na evidência presente e, provavelmente, a sua será tão acertada quanto a minha”.  Sherlock Holmes

O Enigma da Tecnologia Antiga (livro: “A Incrível Tecnologia dos Antigos” de David Hatcher Childress)

Este livro revela fascinantes indícios de que civilizações há muito desaparecidas atingiram – ou até excederam – nosso ‘moderno’ estágio de desenvolvimento. Os ocidentais aprenderam que a humanidade progrediu ao longo de um caminho linear desde o passado primitivo até o presente, mas claras e gritantes evidências (literalmente escritas na pedra!) provam que os antigos dispunham de tecnologias que sequer podemos reproduzir hoje. David Hatcher Childress, um dos maiores especialistas no assunto, busca na literatura, nos monumentos e nos artefatos antigos as provas da existência de antigas civilizações avançadas, convidando os leitores a se desarmarem das ideias preconcebidas para decidirem, por si mesmos, o que é digno de credibilidade ou não.


Capítulo 1: O Egito herdou sua ciência de uma cultura anterior?

“Quando adquirimos conhecimento, as coisas não se tornam mais compreensíveis, e sim mais misteriosas”. Will Durant

Em minhas buscas por cidades perdidas e mistérios do passado, mui­tas vezes encontrei pistas que apontavam para a tecnologia dos antigos. Essas pistas podem ser traduzidas na forma como são representados anti­gos artefatos em pinturas ou entalhes na pedra (como os aparelhos elétri­cos do Templo de Hátor, no Egito) ou pequenos modelos de artefatos (como os aviões em miniatura, de ouro maciço, do Museu do Ouro em Bogotá) nas histórias dos textos antigos (como no Ramayana ou até na Bíblia).

vinamas-bolivia-aviões
Os aviões em miniatura, de ouro maciço, do Museu do Ouro em Bogotá

Neste livro, gostaria de recapitular algumas das evidências da tecno­logia antiga e de culturas avançadas do passado. O que é espantoso no confronto entre o mundo moderno e o mundo antigo, é que no primeiro o cidadão médio tem acesso a tecnologias avançadas, como eletricidade, um veículo pessoal, telefone, celular e computador. No mundo antigo, a tecnolo­gia avançada era, na maior parte, negada às massas. Na verdade, muitas vezes era usada em templos e cerimônias para dominar as pessoas, encantando-as ou assustando-as; isso era parte da adoração e do mistério.

O renomado escritor e apresentador do documentário “Mystery of the Sphinx”, John Anthony West, diz:

A ciência, a medicina, a matemática e a astronomia dos egípcios eram exem­plos de uma ordem de refinamento e sofisticação exponencialmente supe­riores, o que os estudiosos modernos irão admitir. Toda a civilização egípcia estava baseada em uma compreensão precisa e completa das leis univer­sais. E essa profunda compreensão se manifestou em um sistema consis­tente, coerente e inter-relacionado que fundia ciência, arte e religião em uma mesma unidade orgânica. Em outras palavras, era exatamente o oposto daquilo que encontramos hoje no mundo.

Além disso, cada aspecto do conhecimento egípcio parece ter sido completo desde o início. As ciências, as técnicas artísticas e arquitetônicas e o sistema hieroglífico não mostram praticamente nenhum sinal de um período de “desenvolvimento”; com efeito, muitas das realizações das primeiras dinastias nunca foram superadas, nem mesmo igualadas posteriormente. Esse fato espantoso é prontamente admitido por egiptólogos ortodoxos, mas a mag­nitude do mistério que isso representa é habilmente disfarçada, enquanto suas diversas implicações não são mencionadas.

Como uma civilização passa a existir já em plenitude? Observe um automó­vel de 1905 e compare-o com um moderno. Não há como deixar de notar o processo de “desenvolvimento”, mas no Egito não há paralelos. Tudo está lá desde o início. A resposta para esse mistério é óbvia, naturalmente, mas como é repulsiva para os moldes prevalentes do pensamento moderno, raramente é levada em conta. A civilização egípcia não foi um “desenvolvimento”, mas um legado (dos Atlantes).

Em “Mystery of the Sphinx” – especial da rede NBC apresentado em novem­bro de 1993 com grande audiência -, West e seus pesquisadores tentaram provar que a esfinge foi seriamente danificada pela água, e que tinha mais de 10 mil anos! 

“Por que você não escreve livros que as pessoas possam ler?”  – Nora Joyce (para seu marido, James)

biblioteca-alexandria
Como teria sido a biblioteca de Alexandria, no norte do Egito

A Destruição do Conhecimento

Com o avanço de nossa tecnologia, conseguimos vislumbrar o futuro e o espaço sideral com um olhar diferente do que tinham os cientistas e pen­sadores do início do século XX. Do mesmo modo, hoje podemos analisar o passado com maior percepção e conhecimento tecnológico, pois assim como pudemos imaginar um futuro diferente daquele que nossos avós consegui­ram idealizar, nós também podemos olhar o passado de forma distinta da­quela imaginada pelos cientistas e especialistas de um século atrás.

Assim como nosso escopo do universo foi forçado a recuar até os mais distantes pontos do espaço, temos hoje condição de recuar até os pontos mais remotos da história. E muitos pesquisadores estão fazendo exata­mente isso. A Atlântida, com sua cultura avançada, é mencionada em textos anti­gos. Para começar, é citada nos Diálogos de Platão (extraídos, segundo o texto, de antigos registros egípcios), e quase todas as antigas culturas do planeta têm mitos e lendas sobre um mundo anterior e sobre o cataclismo (o Dilúvio, afundamento do último remanescente de Atlântida, em 10.986 a.C.) que o destruiu.

Maias, astecas e hopis acreditavam na destruição de quatro mundos (ou mais) antes do nosso. Pode ser que a destruição da Atlântida não seja sequer o mais recente cataclismo a afligir a Terra.

Os livros mais conhecidos do mundo, como a Bíblia, o Mahabharata, o Alcorão e até o Tao Te Ching mencionam cataclismos e antigas civiliza­ções destruídas. Antigas civilizações e histórias a respeito delas preen­cheram milhares, até centenas de milhares de volumes de livros que eram guardados em bibliotecas espalhadas pelo mundo na Antigüidade. Mui­tas das bibliotecas antigas eram tão vastas que ficaram famosas entre os historiadores locais. A Biblioteca de Alexandria é um exemplo conhecido.

Infelizmente, é fato que, ao longo da história, bibliotecas e arquivos imensos foram deliberadamente destruídos. Segundo o famoso astrônomo Carl Sagan, existiu um livro intitulado “A verdadeira História da Humanida­de” nos últimos 100 mil anos, e encontrava-se no acervo de Alexandria. Infe­lizmente, este livro, como milhares de outros, foi queimado por cristãos fanáticos no século III. Os exemplares que se salvaram foram queimados alguns séculos depois pelos muçulmanos para aquecer a água do banho.

serapeu-alexandria-biblioteca
Foi durante muitos séculos, mais ou menos de 280 a.C. a 416, uma das maiores e mais importantes bibliotecas do Planeta. Este valoroso centro do conhecimento estava localizado na cidade de Alexandria, ao norte do Egito.

Todos os textos chineses antigos foram destruídos em 212 a.C. por ordem do imperador Chin Shih Huang Ti, construtor da famosa Muralha da China. Enormes lotes de textos antigos – praticamente tudo que dizia respeito à história, à filosofia e à ciência – foram apreendidos e queima­dos. Bibliotecas inteiras foram destruídas, inclusive a biblioteca real, e algumas das obras de Confúcio e de Mêncio também desapareceram nessa devastação do conhecimento.

Felizmente, alguns livros sobreviveram porque algumas pessoas os ocultaram em cavernas subterrâneas, e muitas obras foram escondidas em templos taoístas, onde até hoje são religiosamente mantidas e pre­servadas.

Os conquistadores espanhóis destruíram todos os códices maias que encontraram na América Central. Dos muitos milhares de livros encontrados, tem-se conhe­cimento de apenas três ou quatro ainda existentes. Tal como as seitas cristãs fanáticas do século III e o imperador Chin Shih Huang Ti no sé­culo III a.C., os conquistadores espanhóis quiseram apagar todo e qual­quer conhecimento do passado e os registros que o preservavam.

A Europa e o Mediterrâneo mergulharam na infame Idade das Trevas, quando a igreja católica sofreu seu primeiro Cisma após uma série de concílios, a começar pelo de Nicéia, em 325. O último patriarca da igreja cristã primitiva, Nestório, foi deposto pelo Concílio de Éfeso em 431, sendo banido para a Líbia e provocando o deslocamento da igreja nestoriana para o Ori­ente. O conflito dizia respeito à antiga doutrina cristã da reencarnação, e à ideia de que Cristo teria natureza dupla: Jesus seria um Mestre, enquanto Cristo seria o arcanjo Melquisedeque.

No ímpeto desse conflito, todos os livros do império bizantino foram destruídos, exceto a nova versão da Bíblia, autorizada pela Igreja Católica de Roma. A Biblioteca de Alexandria foi destruída nessa época, quando a grande matemática e filósofa Hypatia foi arrastada de sua carruagem e dilacerada por uma multidão, que depois se dirigiu à biblioteca e incendiou-a. Assim teve início a supressão da ciência e do conhecimento, particularmente de nosso passado mais remoto.

O conhecimento tem sido suprimido ao longo dos últimos dois mil anos. Às vezes, diz-se que a história é escrita pelos vencedores das guer­ras, e não pelos perdedores; e tendo em vista a quantidade de propaganda política reconhecidamente bélica que ainda é tida como “história” popu­lar no século XX, deveríamos realmente examinar boa parte da história antiga sob esse prisma.

Sabendo dessa supressão, é espantoso que os poucos textos antigos que sobreviveram abordem, com efeito, civilizações avançadas e os cataclismos que as destruíram. Do mesmo modo, falam de sábios que viviam em harmonia com a Terra e com o funcionamento natural (a feminina natureza) de todas as coi­sas. Em algum momento do passado remoto, porém, o homem perdeu a harmonia com a natureza (e com o feminino), e uma catástrofe atingiu todo o planeta.

Vemos aqui um notável paralelo entre o antigo “mito” da Atlântida e a situação em que o homem moderno se encontra hoje. Será que o homem moderno irá sobreviver à sua própria tecnologia e tribalismo? Ou será que irá se destruir nos mecanismos naturais de suas práticas nocivas e em desarmonia com a Terra? 

“Tive muito mais pensamentos elevados, visões criativas e expansivas enquanto relaxava em confortáveis casas de banho em bem equipados banheiros americanos do que já tive em qualquer catedral”.  Edmund Wilson

Higiene antiga: banheiros dos deuses

Dizem que a marca de qualquer civilização avançada é a qualidade de seus encanamentos e sistemas sanitários. Banheiros e latrinas são con­veniências importantes. Encanamentos e sistemas sanitários são fruto da ciência da irrigação, algo desenvolvido há 25 mil anos, pelo menos.

Há mais de 3 mil anos, os nabateus, um povo árabe, mantinha seis cidades florescentes na desolada região do deserto do Negev, em Israel, incluindo a famosa Petra. Utilizando um engenhoso sistema de terraços e muros, es­ses engenheiros-agricultores conseguiam cultivar o solo com média pluviométrica anual de apenas 100 milímetros de chuvas. “Quanto mais examinamos os complexos sistemas dos nabateus, mais devemos nos impressionar com a precisão e o escopo de seu trabalho. Eles previam e resolviam cada proble­ma de modo que pouco poderia ser aprimorado hoje“. (Scientific Ameri­can, abril de 1956).

Petra-Al-Khazneh
Cidade escavada na rocha, em Petra, na Jordânia construída para gigantes

Há cerca de 3 mil anos, os antigos persas descobriram um método para escavar aquedutos subterrâneos que levavam água da base das mon­tanhas para suas planícies áridas. Ainda existentes e funcionais, os siste­mas de irrigação proporcionam 75% da água usada hoje no Irã. (Scientific American, abril de 1968).

Durante séculos, as condições sanitárias da Europa foram deplorá­veis. O tratamento descuidado dos dejetos humanos sustentou as horrí­veis pestes que quase dizimaram a população do continente em diversas ocasiões. No entanto, há mais de 5 mil anos, no Vale do rio Tigre, perto de Bagdá, a cidade de Tel Asmar tinha casas e templos com sofisticados dispositivos sanitários. Um dos templos encontrados em escavações tinha seis latrinas e cinco banheiros, com a maior parte da canalização “ligada a drenos que descarregavam em um esgoto central, com um metro de altura e 50 de comprimento […] Ao identificarem o dreno, os pesquisadores encontraram uma linha de canos de cerâmica. Uma das extremidades de cada seção tinha cerca de 20 centímetros de diâmetro, enquanto a outra se estreitava para 18, para que os canos pudessem se encaixar, como se faz com canos de drenagem no século XX” {Scientific American, julho de 1935).

O homem antigo fazia túneis através de montanhas para fins de irri­gação, e às vezes construía represas gigantescas ou realizava outros gran­des feitos de engenharia hidráulica. A grande represa construída pela rainha de Sabá em Marib, no Iêmen, é um bom exemplo. Imensas obras hidráulicas do homem antigo, até então desconhecidas, estão vindo à tona. A. D. Fernanado, arqueólogo do Sri Lanka, relata em um artigo no Journal of the Sri Lanka Branch of the Royal Asiatic Society (1982) as incríveis descobertas feitas quando engenheiros do Sri Lanka propuseram-se a cons­truir uma represa em Maduru Oya, alagando um grande vale. Quando os tratores começaram a trabalhar, encontraram tijolos que já estavam no solo. Para espanto de todos, os engenheiros pré-históricos tinham feito os mesmos cálculos e construíram uma represa no mesmo lugar!

Arqueólogos noruegueses que visitaram o local afirmaram que a grandiosidade dessas obras megalíticas pré-históricas teria impressio­nado um faraó. Thor Heyerdahl diz que boa parte do sistema hidráulico foi construída com blocos de pedra de 15 toneladas e 10 metros de altu­ra, dispostos na forma de túneis e muros quadrados. As represas tinham canais de drenagem com mais de 10 quilômetros de comprimento para controlar o fluxo de água até um conjunto de lagos artificiais. Milhões de toneladas de água foram canalizadas por meio dessa imensa e sofis­ticada represa.

Há cem anos, os historiadores supunham que, como as tribos nômades não tinham banheiros ou sistemas de esgotos formais, todos os outros povos deviam viver da mesma maneira. As tribos nômades costumavam desmontar as tendas e se mudar para outro local quando o lixo e o esgoto ficavam insuportáveis. No entanto, é muito mais difícil fazer isso com uma cidade. Os primeiros arqueólogos ingleses imaginavam que o homem anti­go não dispunha de sofisticados sistemas de esgoto e águas, e que apenas deixavam a água das chuvas levar o esgoto para algum rio ou córrego das imediações.

Entretanto, muitos dos banheiros do mundo antigo eram bastante so­fisticados, com belos vasos sanitários e banheiras, tal como hoje. Reginald Reynolds, em seu espirituoso livro sobre sistemas sanitários antigos, Cleanliness and godliness, alega que os antigos sabiam que era necessá­rio dispor dos dejetos, mas tinham dois sistemas nitidamente separados:

O senhor Ernest Mackay, eminente arqueólogo, é de opinião que esses drenos não eram usados para a eliminação do esgoto, e como prova disso ele menciona o Charaka-Samhita, obra presumidamente datada do segun­do século da Era Cristã, na qual se diz que as latrinas se destinavam apenas aos doentes e enfermos; para os demais, era preciso se afastar de casa a uma distância de uma flechada para fazer suas necessidades […] Às vezes as águas escorriam pelas paredes das casas, fato que seria nocivo caso contivessem dejetos.

Mas ele esquece que a proposição contrária teria sido, em uma cidade, ainda mais nociva do que uma fossa aberta; e como havia tanto descargas como drenos fechados nessas casas, seria mais razoável supor que esses dois sistemas tinham propósitos distintos, sendo um para levar a água das chuvas e dos banhos, e o outro para eliminar dejetos. Isso, pelo menos, não é questionado com relação aos moradores da Montanha dos Mortos [Mohenjo-Daro, no Paquistão], que dispunham de banheiros bem equipados, conjugados ao sistema de drenagem que mencionei […] como par­te da Vanguarda Sanitária da Humanidade.

Sir G. Maspero, que foi diretor-geral do Departamento de Antigüidades do Egito, falava muito bem dos excelentes dispositivos higiênicos e sanitários conhecidos no antigo Egito, especialmente do complexo banheiro descoberto na casa de um funcionário de alto escalão da 18a dinastia (a de Akhenaton). E comenta tam­bém que, no meio das ruas pavimentadas, eles faziam um canal de pedra para coleta de águas. E nesse mesmo banheiro de Tel el-Amarna foi desco­berto um vaso sanitário muito bem preservado e ocultado por um biombo, um vaso dotado de tampa de calcário de formas elegantes.

Heródoto considerava os egípcios o povo mais saudável de todos, distinguindo-os dos demais pela singularidade de suas instituições e de seus modos. Reynolds nos diz que “os egípcios – como os pitagóricos, que os imitavam – também evitavam comer feijão, produto que consideravam impuro, por motivos que não sei explicar muito bem; embora alguns di­gam que, nesse aspecto, Pitágoras foi mal compreendido por Aristóteles”. As pessoas já evitavam feijão há cinco mil anos.

Quanto aos vasos sanitários, Reynolds diz que os egípcios preferiam os “granulados”:

[Eles] geralmente usavam terra no lugar de água, mas ainda não sei se so­mos mais espertos do que os faraós; pois a higiene sanitária não deve ser confundida com qualquer conceito popular ou sistema corrente, mas deve ser analisada com relação à melhor e mais eficiente forma de eliminação dos dejetos, à redução das doenças e causas de infecção, à fertilidade do solo e muitas outras questões, como o clima e os meios à disposição do ho­mem. Mas sabemos, graças a essas observações gerais, que os sacerdotes-médicos que orientavam a saúde pública do Egito consideravam a limpeza algo próximo da divindade, e preocupavam-se em manter saudáveis pelo menos os bairros de classe alta de suas cidades.

Os egípcios conheciam inclusive a arte de confeccionar drenos em cobre martelado, e um desses foi encontrado, com 411 metros de comprimento, no Templo de Sakhara, embora servisse apenas para a coleta de água plu­vial. E sabemos que o fornecimento de água era considerado um problema relevante, chamando a atenção de um funcionário graduado do Estado, conforme se lê em inscrição que trata dos deveres do vizir da 18a dinastia. Nessa inscrição, diz-se do vizir: “Será ele quem despachará a equipe ofi­cial para cuidar do fornecimento de água para toda a Terra”; e “Será ele quem inspecionará o fornecimento de água no primeiro dia de cada período de dez dias”.

Em seu boletim Science Frontiers (no 123, maio-junho de 1999), William Corliss conta que os antigos egípcios não apenas dispunham de avançados toaletes e banheiros, como também usavam cosméticos em abundância. As mulheres das classes altas, bem como muitos homens, preferiam maquiagem verde, branca e preta. Esses pós-cosméticos, data­dos de 2.000 a.C., foram excepcionalmente bem preservados em seus fras­cos originais de alabastro, de madeira ou de cerâmica.

egito-antigo-deusa-guepardos-feminino

Uma equipe de químicos franceses liderada por P. Walter não se sur­preendeu quando a análise desses pós detectou galena e cerussita moídas (dois minérios de chumbo). Contudo, eles quase derrubaram seus tubos de ensaio quando encontraram compostos químicos extremamente raros na natureza, especialmente laurionita (PbOHCI) e fosgenita (Pb2CI2CO3). Na verdade, esses compostos são tão raros na natureza que os pós egíp­cios devem ser artificiais.

  1. Walter et. al. escreveram: “Juntos, esses resultados indicam que a laurionita e a fosgenita devem ter sido sintetizadas no antigo Egito por meio de química úmida. Os egípcios fabricavam compostos artificiais à base de chumbo, adicionando-os a produtos cosméticos. As reações químicas envolvidas são simples, mas o processo como um todo, incluin­do diversas operações repetitivas, deve ter sido bastante complicado de se executar”.

Admitiu-se anteriormente que, 500 anos antes, em 2.500 a.C., os químicos egípcios usavam tecnologia à base de fogo para fabricar pigmento azul. A química úmida representou outro passo tecnológico para a frente (Nature, no 397,1999). Corliss comenta que “sem se deixarem intimidar pelos sucessos dos antigos químicos egípcios, os químicos da Nissan sintetizaram excrementos artificiais de ave para uso em testes de pintura automoti­va. Como se sabe, o produto natural apresenta inconsistências de lote para lote”.

Banheiros de qualidade precisam de bons sabonetes, e a própria pala­vra sabonete – soap, em inglês – vem da antiga palavra egípcia swab. Em 1931, o doutor Rendei Harris, egiptólogo inglês, afirmou que as palavras swab e swabber – “grumete”, “pessoa que usa esfregão” – derivam da lín­gua egípcia e são muito antigas. Diz ele que wdb, para os antigos egíp­cios, significava “puro”, e dessa palavra deriva o nome da seita dos wahabis que são os atuais puritanos do Islã. Além disso, ele afirma que a letra S expressa causa, de modo que ankh, palavra que significa “vida”, transforma-se, com a adição de s, em S-ankh, “dar a vida”.

A partir daí ele conclui que, se wdb é puro, S-wdb seria “tornar puro”, ou seja, limpar ou esfregar (swab). E como o doutor Harris acreditava que os egípcios eram um povo de bons navegado­res, ele afirmava que a palavra swab chegou à língua inglesa graças às via­gens dos marinheiros, cuja gíria pode ser, em parte, mais antiga do que as línguas hoje faladas na Europa. Para comprovar o uso náutico da palavra, ele invoca Shakespeare, que escreveu: The master, the swabber, the boatswain and I… ( “0 comandante, o contramestre e eu, e o grumete também…”. Cf. edição Virtual- Books. [n.t.] 

A habilidade náutica dos egípcios era considerável, e não se discute que eles tinham grandes frotas de navios. Aparentemente, esfregar (swabhing) o convés vem do egípcio antigo, e a palavra inglesa soap deriva de swab – “aquilo que torna limpo”. Higiene adequada, água limpa, sabonetes e sistemas de esgotos são necessários para o progresso de qualquer civilização tecnológica. Quando se trata da tecnologia dos deuses, a limpeza se aproxima da divindade.

Muitas das invenções de hoje são invenções de ontem

Os antigos gregos construíam caldeiras a vapor que funcionavam, mas eles as usavam apenas em brinquedos, e não como fontes práticas de energia. Um desses brinquedos era uma esfera que girava graças à ação de dois jatos de vapor, “inventada” no Egito ptolomaico em 200 a.C., apro­ximadamente.

Além disso, no segundo século antes de nossa era, os templos egíp­cios tinham máquinas acionadas por moedas para liberar água benta. A quantidade de água que saía da torneira era regulada pelo peso da moeda jogada em uma ranhura. 0 Templo de Zeus, em Atenas, tinha uma máqui­na similar, também controlada automaticamente. Jogava-se em um frasco selado uma moeda, que acionava uma bóia, liberando uma quantidade específica de líquido. O famoso inventor greco-egípcio Heron de Alexan­dria criou esse conhecido dispositivo em 120 a.C. Com esse exemplo, fica evidente que os sacerdotes e os templos estavam envolvidos com a tecno­logia desde o começo e empenhados sempre em ganhar uns trocados.

Muitas das invenções comuns do mundo moderno – motores a vapor, relógios, máquinas automáticas, bombas hidráulicas – eram conhecidas no mundo antigo. Ferramentas e instrumentos sofisticados, como a má­quina de Antikythera (que será comentada mais tarde), eram comuns na Antigüidade, mas os arqueólogos sempre se surpreendem ao descobri-los!

A máquina de vendas por inserção de moedas, usada há 1.900 anos pelos egípcios.

A ginecologia era uma ciência desconhecida até a segunda metade do século XIX. Nesse período, segundo a edição da Scientific American, de 20 de outubro de 1900, escavações em Pompéia revelaram que a ginecologia era apenas uma “reinvenção no mundo da cirurgia”. Instrumentos soter­rados no Templo das Virgens Vestais desde a erupção do Vesúvio, no ano 79 de nossa era, demonstram que a “ginecologia era uma ciência que flo­rescia, perfeita, muito antes daquela data […] todos os exemplares indi­cam que esses instrumentos eram, nos seus mínimos detalhes, duplicatas exatas daqueles usados pelos mais modernos cientistas de hoje […]. O aca­bamento era tão bom quanto o de qualquer objeto produzido no século XX. Os instrumentos eram feitos manualmente, os parafusos eram finos e pas­síveis de manipulação delicada, tal como os modernos”.

Naufrágios localizados no Mediterrâneo dão idéia das máquinas que os antigos gregos, os antigos romanos e outras culturas marítimas da re­gião possuíam. A revista Chemical Engineering, em artigo de 27 de julho de 1959, relatava sobre uma válvula de 34 quilos que foi resgatada de um dos veleiros do imperador Calígula. A válvula era feita de bronze sem zin­co, rico em chumbo, anti-corrosivo e à prova de atrito.

Diz o artigo: “A válvula de Calígula foi encontrada no fundo do lago Remi, em Roma. Embora tenha dezenove séculos de idade, ainda apresen­ta superfícies altamente polidas e se mantém bem fechada”. Apesar da moda e das tendências sexuais modernas simplesmente imitarem a Anti­güidade, os cientistas costumam se surpreender com o elevado nível de conhecimento técnico e científico do homem antigo.

Familiarizar-se com a ciência antiga é um bom ponto de partida para o leigo, e dois livros encontrados com facilidade sobre o assunto são Tech­nology in the ancient world, de Henry Hodges, e Engineering in the ancient world, de J. Landels. Nesses livros, vê-se que a ciência clássica pode ser muito similar à nossa.

Se nós, seres humanos, quisermos nos sentir humildes, não será preciso contemplar o infinito estrelado sobre nós. Será suficiente observar as culturas que existiram no mundo milhares de anos antes de nós, que foram grandiosos antes de nós e que pereceram antes de nós.  C.W. Ceram, em Deuses, túmulos e sábios

As espantosas invenções da China

Dizem que muitas invenções antigas teriam se originado na China, embora seja possível que a maioria tenha vindo de culturas ainda mais antigas. Os chineses tinham máquinas com engrenagens desde seus primórdios – alguns dizem que datariam dos últimos séculos antes de Cristo, se não de antes. Embora os historiadores modernos prefiram situar a ori­gem da China na dinastia Chou, em 1.122 a.C., os próprios chineses princi­piam a história nos semimíticos “Cinco Monarcas”.

Os textos chineses mais antigos dizem que a primeira das dinastias foi a dos Cinco Monarcas, na qual houve – o que é confuso – nove gover­nantes cujos reinos combinados duraram de 2.852 a 2.206 a.C. Confúcio atribuiu a um rei, Yao, cujo reino começou por volta de 2.357 a.C., “bonda­de, sabedoria e senso de dever”. Foi sucedido por Shon, que construiu uma ampla rede de estradas, passagens e pontes pelo imenso território, e mui­tos estudiosos atribuem a ele a construção da Rota da Seda.

Pergaminho encontrado em 1900 em uma biblioteca secreta de Dunhuang, no Deserto de Gobi, por sir Aurel Stein, que trabalhava para o Museu Britânico. A linguagem é desconhecida. A maioria dos livros antigos foi destruída na China por ordem oficial do governo comunista.

Todos os textos chineses antigos, especialmente os de Lao Tse e Confúcio, bem como o I Ching, falam dos antigos e da glória de sua civili­zação. Presume-se que se referissem ao povo que vivia na época dos “Cin­co Monarcas”, ou até antes. O lendário povo chi-kung teria, pelo que contam, “carruagens voadoras” nesse período.

Como dito anteriormente, pouco antes de sua morte, em 212 a.C., o imperador Chin Shih Huang Ti ordenou que toda a literatura pertinente à China antiga fosse destruída. Enorme quantidade de textos antigos – pra­ticamente tudo o que dizia respeito à história, astronomia, filosofia e ciên­cia – foi apreendida e queimada. Bibliotecas inteiras, inclusive a biblioteca real, foram destruídas. Algumas das obras de Confúcio e Mêncio estavam no meio dessa destruição do conhecimento.

Felizmente, alguns livros foram salvos por pessoas que os esconde­ram, e muitas obras foram guardadas em templos taoístas, onde até hoje são religiosamente mantidas e preservadas. Sob nenhum pretexto são mos­tradas, sendo mantidas ocultas tal como há milhares de anos. A persegui­ção e o fechamento de templos religiosos pelos comunistas indicam que os lamas ainda têm motivos para manter escondidos seus livros antigos.

Sem dúvida, boa parte da história relativa aos primeiros dias da Chi­na e sua tecnologia foi perdida. Mas o que fez o imperador Chin desejar destruir qualquer registro relativo ao passado pouco antes de morrer? Seria ele um megalomaníaco que queria que a história principiasse nele, ou te­ria sofrido a influência das mesmas forças malignas que inspiraram Gengis Khan e Hitler a também queimar livros?

  • Ouvimos dizer que no passado distante os reis tinham títulos, mas não nomes póstumos.
  • Em tempos recentes, os reis não apenas tinham títulos como também, após a morte, recebiam nomes com base em sua conduta.
  • Isso significa que os filhos julgaram seus pais, os súditos seu soberano. Isso não pode ser tolerado.
  • Títulos póstumos ficam doravante abolidos. Somos o Primeiro Imperador, e nossos sucessores deverão ser conhecidos como o Segundo Imperador, o Terceiro Imperador, e assim por diante, por incontáveis gerações.(Chin Shih Huang Ti, 212 a.C.)

Malgrado alguns governantes despóticos, a invenção e a inovação pro­grediram na China antiga e na Ásia Central. Com efeito, foram os chine­ses que inventaram o tipo móvel (impressão); o inventor foi um indivíduo chamado Bi Sheng, que começou a usar essa tecnologia em 1.045, quatrocentos anos antes de Gutenberg ter impresso a Bíblia na Europa. Atribuem-se ainda aos chineses a invenção do papel de escrita e de embrulho, dos guardanapos de papel, das cartas de jogo e do papel-moeda! O papel higiênico também foi um produto de sua indústria de papel, há mais de dois mil anos. Provavelmente, todas essas invenções tinham existido no seu passado.

Dispositivo detector de terremotos da China, aproximadamente 200 d.C.

Os chineses conheciam muito bem os terremotos e as mudanças geo­lógicas; projetaram casas resistentes a terremotos há sete mil anos. O pri­meiro sismógrafo conhecido para detecção e registro de terremotos distantes foi inventado por Zhang Heng em 132 d.C. Esse engenhoso apa­relho tinha 2,40 metros de altura e oito dragões de bronze que seguravam esferas de bronze entre suas mandíbulas. Quando um terremoto distante inclinava o objeto, um pêndulo interno abria a boca do dragão que estava voltado para a direção do tremor e a esfera caía na boca de um sapo de bronze situado sob o dragão.

Atribui-se o primeiro relógio mecânico a dois inventores chineses por volta de 725 d.C., e a pólvora era conhecida na China pelo menos desde o século IX, se não antes. Usada apenas em fogos de artifício e diversão, ser­viu de combustível para os primeiros canhões – construídos pelos holan­deses e alemães – depois de ter sido levada para a Europa no século XIII.

Os chineses sempre tiveram ampla visão em seus projetos. A Mura­lha da China não foi seu único empreendimento colossal, mas o Grande Canal da China, que liga o rio Amarelo ao Yang Tzé, tem comprimento vinte vezes maior que o Canal do Panamá – mas os chineses o construíram sem equipamento moderno há mais de 1.300 anos! Há outros projetos grandio­sos ainda desconhecidos ou aguardando descoberta, como a maior pirâ­mide do mundo, perto de Xian. Até a versão chinesa da máquina de escrever, chamada de máquina Hoang, tem 5.700 caracteres em um tecla­do com 60 centímetros de largura e 42 de altura!

Em The genius of China: 3.000 years of science, discovery and invention, o autor Robert Temple (que usou como fonte as obras de Joseph Needham na Universidade de Cambridge) afirma que os chineses conhe­ciam e usavam gás venenoso e gás lacrimogêneo no século iv a.C., 2.300 anos antes de o Ocidente conhecê-los! Os chineses fabricaram ferro fundi­do no século IV a.C. (1.700 anos antes do Ocidente) e faziam aço a partir de ferro fundido no século ii a.C. (dois mil anos antes do Ocidente). A primei­ra ponte pênsil foi construída na China no século 1 (pelo menos 1.800 anos antes do Ocidente), e os chineses inventaram os fósforos em 577, mil anos antes do Ocidente.

china-piramide3
Pirâmide na China

Na introdução do livro de Needham sobre o avançado estágio da civi­lização na China, o autor diz: “Primeiro, por que eles estiveram tão à fren­te de outras civilizações? Segundo, por que eles não estão hoje séculos à frente do resto do mundo?” Talvez a China tenha herdado seus conheci­mentos de uma civilização (muito) mais antiga. Suas descobertas, como as nos­sas, são apenas o reencontro de uma tecnologia antiga na montanha-russa da história.

Em seu livro We are not the first, Andrew Tomas relata:

A cibernética é uma ciência antiga. Na China, era conhecida como a arte de khwai-Ahuh, pela qual se dava vida a uma estátua para que servisse a seu criador. A descrição de um homem mecânico está contida na história do imperador Ta-chouan. A imperatriz considerou o robô tão irresistível que o ciumento governante do Império Celeste deu ordens ao construtor para quebrá-lo, apesar da admiração que o próprio governante tinha pelo robô que andava.

Uma das primeiras máquinas de calcular foi, naturalmente, o ábaco chinês, com mais de 2.600 anos. Só recentemente é que as calculadoras modernas conseguiram fazer cálculos mais rapidamente do que o simples, mas eficiente, ábaco. 

Isso pareceria fantástico. Poderíamos pensar que os engenheiros modernos teriam explorado essas forças até o enésimo grau, mas a verdade é que, excetuando-se o aríete, ou a turbina, esses antigos podem nos ensinar algumas coisas.  Júlio Verne – em resposta à declaração de que a exploração das forças naturais teria se esgotado

Dispositivo lança-chamas chinês, feito aproximadamente em 1040. Usava petróleo refinado, que era bombeado de um tanque retangular.

Os maravilhosos relógios chineses

Os maravilhosos relógios da China antiga são um bom exemplo da complexidade a que as máquinas antigas podem chegar. Embora o relógio mecânico exista há milhares de anos, o problema da precisão ao longo de períodos como semanas ou meses é difícil de se resolver. Os chineses so­lucionaram-no com um dispositivo chamado escape, que permitiu a regulagem adequada da velocidade de um relógio, imprimindo-lhe mar­cha com fonte de energia relativamente pequena.

O primeiro relógio com escape de que se tem notícia foi construído por volta de 724 d.C. por Lyang Lingdzan, embora pareça que a tecnologia já fosse conhecida antes. Esse objeto incluía uma esfera celeste que girava junto com os céus, um modelo de sol e de lua que circulavam ao redor da esfera, tal como os orbes de verdade parecem fazer, e valetes que golpea­vam sinos e tambores para assinalar a passagem do tempo.

O sino do relógio de Lyang marcava a “hora” chinesa, ou shi, que tem o dobro da duração da hora ocidental. O tambor marcava um período me­nor, o ko, que corresponde a um centésimo do dia solar, ou seja, 14 minu­tos e 24 segundos em nossa escala de tempo. Como os povos ocidentais, antes os chineses dividiam o dia e a noite em intervalos, que aumentavam ou diminuíam com as estações. Mais tarde, por volta do ano 1.100, os chi­neses adotaram um sistema de períodos iguais, permanentes, que perma­neciam os mesmos independentemente das variações do ocaso e da auro­ra. Essa mudança facilitou a produção de relógios.

Seção da Grande Muralha da China

No relógio de Lyang, “A água, fluindo [para dentro de conchas], aciona­va automaticamente uma roda, que fazia uma revolução completa em um dia e uma noite”. O mecanismo do relógio incluía “rodas e eixos, ganchos, pinos e varas entrelaçadas, sistemas de enxugamento e travas recíprocas”.

As palavras “pinos e varas entrelaçadas” descrevem o escape, que era necessário para fazer a roda girar lentamente. Presume-se que o escape fosse um sistema simples de travas que impedia a roda de água de girar até a concha ficar cheia, permitindo-lhe, depois, mover-se apenas o sufi­ciente para que a colher seguinte se posicionasse. O relógio de Lyang era mais preciso do que qualquer coisa já vista, embora, sem dúvida, fosse absurdamente impreciso pelos padrões atuais.

Após a morte de Lyang, a corrosão das partes de bronze e ferro tira­ram o relógio de circulação, e ele foi para um museu. Mecânicos construí­ram depois relógios mais grandiosos. Em 976, Jang Sz-hsun construiu um relógio que ocupava uma torre – semelhante a um pagode – com mais de 10 metros de altura. Tinha dezenove valetes, que não só acionavam sinos e tambores, como saíam de pequenas portas com cartazes nas mãos, indi­cando a hora. Outras partes mostravam o movimento do céu, do sol, da lua e dos planetas. Para impedir que seu relógio parasse no inverno, quando a água congelava, Jang o refez usando mercúrio, e não água, como fluido operacional.

Segundo L. Sprague de Camp, em seu livro The ancient engineers, o maior desses relógios de água imperiais foi o construído por Su Sung, em 1.090. O memorial preparado por Su Sung para o imperador Shen Dzung descreve seu relógio com diagramas, de modo que, se alguém quisesse, poderia reconstruí-lo hoje com razoável exatidão.

Nessa época, a dinastia Sung governava a maior parte da China, em­bora uma tribo nômade, os kitan, tivesse conquistado algumas das pro­víncias do norte. Su Sung tinha uma carreira respeitável na burocracia imperial. Sua lista de títulos incluía o de Oficial do Segundo Escalão Titu­lar, Presidente do Ministério de Pessoal, Tutor Imperial do Príncipe Co­roado, Grande Protetor do Exército e Marquês Kai-gwo de Wu-gung.

Quando Su foi enviado em missão à corte dos kitan, para felicitar o khan pela passagem do solstício de inverno, ele descobriu que chegou um dia antes do previsto. Os astrônomos de Sung erraram o momento exato do solstício por quinze minutos. Su contornou a situação para seu sobera­no, e para si mesmo, fazendo um discurso sobre a dificuldade de se calcu­lar tais eventos com exatidão.

Mas quando Su voltou para a capital dos Sung, Kaifeng, pediu que o imperador autorizasse a construção de um relógio preciso o suficiente para que esses contratempos fossem evitados. Ao receber a aprovação, Su, como qualquer engenheiro competente, construiu um par de modelos em madeira, um pequeno e outro em tamanho natural, para fazer os ajustes no projeto antes da montagem final.

A máquina pronta ocupou uma torre de 12 metros de altura, pelo me­nos, incluindo a cobertura. A água, fluindo por uma série de frascos, en­chia as 36 conchas de uma roda de água, uma de cada vez. Uma engrenagem de escape permitia que a roda girasse à razão de “um intervalo de concha” de cada vez. No total, dava uma volta completa a cada nove horas, enquanto a água caía das conchas sobre uma bacia situada sob a roda.

A roda acionava um eixo de madeira apoiado em rolamentos de ferro. O eixo, por meio de uma coroa, movia um longo eixo vertical, que acionava todo o restante do mecanismo ao qual estava ligado por engrenagens. O mecanismo incluía uma esfera armilar (um conjunto de anéis graduados e entrecruzados, correspondendo ao horizonte, à eclíptica e ao meridiano) na cobertura. Depois, havia uma esfera celeste, com pérolas no ligar das estre­las, e cinco grandes rodas horizontais sustentando valetes.

Como um todo, o relógio de Su deve ter sido um espetáculo impressio­nante, com o barulho contínuo das águas, o ruído do escape, o guincho dos eixos sobre os rolamentos e os freqüentes surtos de tambores, sinos e gongos. Uma falha desse relógio era sua localização, que não permitia acionamento por curso de água natural. Por isso, era preciso dar-lhe “corda” de vez em quando. Isso era feito com rodas de água movidas manualmente, que leva­vam a água da bacia e enchiam as conchas da roda principal. Estas, por sua vez, enchiam o reservatório situado sobre essa roda.

Em 1.126, aproximadamente, um povo tártaro, os jurchens, cujos reis governavam com o nome dinástico de Gin, conquistaram a terra dos kitan e também algumas províncias dos Sung. Após capturarem Kaifeng, levaram para sua capital, Beijing, o relógio de Su e alguns mecânicos para mantê-lo. Os relojoeiros cativos fizeram uma nova torre e conseguiram acionar o reló­gio, após ajustarem as engrenagens astronômicas à nova latitude.

Após alguns anos, porém, as partes móveis desgastaram-se, o relógio parou e um raio destruiu a parte superior da torre. Os imperadores Gin abandonaram o relógio quando os mongóis invadiram a região, em 1.260, e ele desapareceu. Mais tarde, os imperadores Sung desejaram outro relógio imperial. Mas Su Sung já havia morrido, e não foi possível encontrar ninguém que dominasse suficientemente o assunto para construir tal mecanismo.

Relógios semelhantes continuaram a ser fabricados sob a dinastia mongol ou Yuan. O último imperador Yuan teve como passatempo a enge­nharia mecânica, e participou da construção de dragões que mexiam a cau­da e outros autômatos. Mas quando os Ming destronaram os Yuan em 1368, todos os relógios, os dragões mecânicos e outras máquinas feitas para os imperadores mongóis foram sucateados como “extravagâncias inúteis”.

Considera-se que o relógio moderno – do qual derivam instrumentos como relógios de pedestal ou de bolso – teria surgido em 1.364, quando Giovanni di Dondi, de uma família de relojoeiros italianos, publicou a des­crição de um relógio acionado por pesos e regulado por escape, que, exceto por melhoramentos nos detalhes, é basicamente o mesmo até hoje. Dondi ficou famoso, e astrônomos estrangeiros iam visitá-lo para co­nhecer seu relógio maravilhoso. Mais tarde, Galileu substituiu a roda de balanço de Dondi em forma de coroa por um pêndulo, mas em relógios de pulso e de bolso e em pequenos relógios de mesa ainda usamos a invenção de Dondi.

Por volta de 1.502, Peter Henlein, de Nuremberg, inventou o relógio acionado a mola. Foi chamado em inglês de watch – “vigiar” – porque ori­ginalmente era usado por vigias. O “ovo de Nuremberg” de Henlein era pouco maior que um despertador moderno, tinha apenas um ponteiro e pendia do pescoço por uma corrente.

Os primeiros relógios de bolso davam muito trabalho a seus proprie­tários; como dizia Maximilano I da Bavária, “se quiser ter problemas, com­pre um relógio”. Relógios de pulso (criado por Santos Dumont) e de bolso, ou relógios em geral, provavelmente têm causado problemas à humanidade há milhares de anos.

O curioso crânio de cristal

Parte do enigma da tecnologia antiga está em objetos ou aparelhos singulares e claramente artificiais. No entanto, é o modo como tais artefa­tos poderiam ter sido feitos que intriga os cientistas. Um desses objetos curiosos é o famoso crânio de cristal Mitchell-Hedges, encontrado nas ruínas da antiga cidade da cultura Maia de Lubaantun, na atual Belize, América Central. Lubaantun, no dia­leto maia local, significa “lugar das pedras caídas”, mas o verdadeiro nome da cidade ainda é desconhecido.

A primeira notícia sobre Lubaantun foi dada ao governo colonial britânico no final do século XIX pelos povoadores do assentamento Toledo, perto de Punta Gorda, e em 1903 o governador da colônia nomeou Thomas Gann para investigá-la. Gann explorou e esca­vou as principais estruturas ao redor da praça central e concluiu que a população do lugar deve ter sido numerosa. Seu relatório foi publicado em 1904, na Inglaterra.

cranio_de_cristal-mitchel
O enigmático crânio de cristal de Mitchell-Hedges. Seria uma relíquia da Atlântida?

Em 1915, R. E. Merwin, da Universidade de Harvard, estudou o sítio e lo­calizou muitas outras estruturas, identificou uma quadra de jogo de bola e esboçou uma planta baixa. A escavação da quadra revelou três marcadores de pedra escavada, cada um mostrando dois homens jogando bola. Curiosa­mente, essas são as únicas pedras escavadas encontradas em Lubaantun.

Foi só em 1924 que F. A. “Mike” Mitchell-Hedges chegou em Lubaantun para ajudar Thomas Gann na escavação da cidade. Em 1927, ao cavar perto de um altar desmoronado e de uma parede adjacente, a filha adotiva de Mitchell-Hedges, Anna, descobriu o crânio de cristal em tamanho natural no dia de seu 17º aniversário. Três meses depois, a uns 7,5 metros do altar, foi encontrado um maxilar que se ajustava perfeitamente ao crânio. Foi assim que um dos objetos mais estranhos do mundo antigo passou a ser conhecido do público.

A idade do crânio é desconhecida. O cristal de rocha não pôde ser da­tado por meios convencionais. Os laboratórios Hewlett-Packard, que es­tudaram o crânio, estimaram que sua confecção teria exigido, no mínimo, 300 anos de trabalho de diversos artesãos extremamente hábeis. Na escala de dureza, o cristal de rocha fica pouco abaixo do diamante.

O mistério em torno do crânio aumentou ao se descobrir que o osso da mandíbula foi extraído do mesmo bloco de cristal, e que quando as duas peças se encaixavam, o crânio se mexia sobre a base da mandíbula, dando a impressão de que falava quando se abria e fechava sobre a boca. Dessa maneira, o crânio pode ter sido manipulado pelos sacerdotes como um oráculo do templo.

Propriedades ainda mais incríveis são atribuídas ao crânio. Dizem que o lobo frontal fica turvo, chegando, às vezes, a ficar leitoso. Ocasio­nalmente, o crânio emitiria uma aura luminosa, “forte e com leve traço de cor de palha, como um halo ao redor da lua”.

Segundo Frank Dowland, cristalógrafo da Hewlett-Packard, às vezes formam-se “figuras” dentro do crânio, como, por exemplo, imagens de dis­cos voadores e de algo que parece ser o observatório Caracol do sítio maia-tolteca de Chichén Itzá. Nos últimos anos, o crânio ficou famoso porque tem sido exibido em festivais místicos nos Estados Unidos e no Canadá. O crânio está hoje nas mãos de Anna “Sammy” Mitchell-Hedges, em Kitchener, Ontário (Canadá), ou em sua casa no sul da Inglaterra.

Baixo-relevo maia de um crânio de cristal.

A. Mitchell-Hedges foi uma pessoa fascinante e, de certo modo, sua vida serviu de modelo para personagens tipo Indiana Jones. Nascido em 1882, “Mike” Mitchell-Hedges estava predestinado ater uma vida de aven­turas. Ele relata muitas delas em seu livro Danger my ally, publicado em 1954. Mitchell-Hedges foi para a América do Norte em 1899, conheceu o bilionário J. P. Morgan, ganhou fortuna em um jogo de cartas e rumou para o México. Foi capturado e feito prisioneiro por Pancho Vila, com quem depois cavalgou pelo norte do país.

Mais tarde foi à América Central. Na companhia de sua namorada, a rica senhora Richmond Brown (que na época era casada), atravessou o Caribe, explorou as ilhas Bay, perto de Honduras, as ilhas San Blas, ao largo do Panamá, e a região próxima à Jamaica.

Ele achava que os artefatos que encontrou nas ilhas Bay apontavam para uma civilização avançada que hoje estaria sob as águas do oceano, e supôs que fosse a Atlântida. Mitchell-Hedges tinha inclinação pelas ciên­cias místicas e por sociedades secretas, e defendeu a ideia da existência de civilizações perdidas e de Atlântida. Chegou finalmente a Lubaantun, onde o cristal foi “descoberto” em 1927.

Curiosamente, ele dedica apenas três parágrafos de seu livro ao fa­moso crânio de cristal, e esses poucos parágrafos foram retirados da edi­ção americana de seu livro, publicado posteriormente.

O crânio do destino é feito de puro cristal de rocha e, segundo os cientistas, deve ter levado mais de 150 anos para ser esculpido, geração após geração de artesãos trabalhando diariamente, avidatoda, esfregando pacientemente com areia um imenso bloco de cristal de rocha, até emergir dele o crânio perfeito. Ele tem pelo menos 3.600 anos de idade e, segundo a lenda, foi usado pelo sumo sacerdote maia em rituais esotéricos. Dizem que quando ele jurava alguém de morte com o auxílio do crânio, a morte era inevitável. Já foi descrito como a materialização de todo o mal. Não quero tentar explicar esse fenômeno.

Mike Mitchell-Hedges (esquerda), a senhora Richmond Brown Thomas Gann em Lubaantun em 1927.

Hoje, o crânio continua a maravilhar plateias do mundo todo, e fre­qüentemente aparece na televisão. Nós também usamos cristais de quartzo nas mais avançadas formas de tecnologia, como em relógios com mostrador a led e computadores. Aparentemente, o crânio de cristal, como outros objetos, é um instru­mento antigo de alta tecnologia. O enigma da tecnologia antiga é que acre­ditamos [somos induzidos a acreditar] que as sociedades do passado eram primitivas, mas sabemos que motores a vapor, relógios com engrenagens e crânios de cristal existiram. Que outros segredos de alta tecnologia o passado nos reserva?


“O indivíduo é [TÃO] deficiente mentalmente [os zumbis], por ficar cara a cara, com uma conspiração tão monstruosa, que nem acredita que ela exista. A mente americana simplesmente não se deu conta do mal que foi introduzido em seu meio. . . Ela rejeita até mesmo a suposição de que as [algumas] criaturas humanas possam adotar uma filosofia, que deve, em última instância, destruir tudo o que é bom, verdadeiro e decente”.  – Diretor do FBI J. Edgar Hoover, em 1956


0 resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Receba nosso conteúdo

Junte-se a 4.286 outros assinantes

compartilhe

Últimas Publicações

Indicações Thoth