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As Digitais dos deuses: (15) BabeI Mexicana

Abandonando Tula na direção sudeste, contornamos a Cidade do México, percorrendo uma série de vias expressas que nos levaram, arrastando-nos, até as bordas da poluição da capital, que faz os olhos lacrimejarem e os pulmões arderem. Prosseguindo na viagem, chegamos às montanhas cobertas de pinheiros, deixando para trás o cume nevado do vulcão Popocatepetl e daí seguindo por pistas orladas de árvores através de campos e fazendas. Em fins da tarde, chegamos a Cholula, uma sonolenta cidadezinha de 11.000 habitantes e espaçosa praça central. Após virar para leste através de ruas estreitas, cruzamos trilhos de estrada de ferro e paramos à sombra da Tlachihualtepetl, a “montanha feita pelo homem”, que era o objetivo de nossa visita. Outrora consagrado ao culto pacífico de Quetzalcoatl, mas, nesse momento, tendo no alto uma ornamentada igreja católica, esse imenso edifício foi classificado entre os projetos de engenharia mais extensos e ambiciosos jamais empreendidos em qualquer local no mundo antigo.

Livro “AS DIGITAIS dos DEUSES“, uma resposta para o mistério das origens e do fim da civilização

Por Graham Hancock, livro “AS DIGITAIS DOS DEUSES”, Tradução de Ruy Jungmann, editora Record 2001.

CAPÍTULO 15 – BabeI Mexicana

Na verdade, com uma área de 18ha e altura de 64m, é três vezes mais maciço do que a Grande Pirâmide do Egito. Embora com os contornos tornados indistintos pela idade e os lados cobertos por relva densa, era ainda possível reconhecer que a construção fora outrora um zigurate imponente, que subia para os céus em quatro “degraus” de ângulos bem nítidos. Medindo quase meio quilômetro ao longo de cada lado da base, a estrutura conseguira, apesar de tudo, preservar uma beleza digna, ainda que violada. O passado, embora muitas vezes seco e lacônico, raramente é estúpido. Ocasionalmente, pode expressar-se em termos apaixonados. E me pareceu que isso acontecia nesse local, prestando testemunho da degradação física e psicológica imposta aos povos nativos do México quando Hernán Cortés, o conquistador espanhol, quase displicentemente, “decapitou uma cultura, da mesma forma que um transeunte pode cortar a flor de um girassol”.

Tlachihualtepetl, a “montanha feita pelo homem”, em Cholula, México

Em Cholula, que fora outrora um grande centro de peregrinação, com uma população de cerca de 100.000 almas por ocasião da conquista, a decapitação de tradições e estilos de vida antigos exigiram que um ato especialmente humilhante fosse praticado contra a montanha artificial de Quetzalcoatl. A solução foi achatar e profanar o templo que outrora se erguera no cume do zigurate e substituí-lo por uma igreja católica.

Embora Cortés e seus homens fossem poucos e os cholulanos muito numerosos, ao entrarem na cidade, o conquistador e sua gente contavam com uma grande vantagem: barbudos e de pele clara, usando armaduras brilhantes, eles pareciam a realização de uma profecia – não fora sempre prometido que Quetzalcoatl, a Serpente Emplumada, voltaria “do mar do Leste” com sua tropa de seguidores? Devido a tal expectativa, os ingênuos e confiantes cholulanos permitiram que os conquistadores subissem os degraus do zigurate e entrassem no grande pátio do templo, onde receberam as boas-vindas de moças alegremente vestidas, cantando e tocando instrumentos, enquanto outros nativos andavam de um lado para o outro trazendo travessas de pão e carnes finas cozidas.

Um dos historiadores espanhóis, testemunha ocular dos acontecimentos que se seguiram, menciona o povo da cidade, a adoração nos olhos de pessoas de todas as situações sociais, “desarmados, de rostos ansiosos e felizes, reunidos ali para ouvir o que os homens brancos iriam dizer”. Compreendendo à vista dessa inacreditável recepção que seus intuitos sequer eram objeto de suspeita, os espanhóis cerraram fileiras, colocaram guardas em todas as entradas, sacaram suas armas de aço e assassinaram seus anfltriões. Seis mil nativos morreram nesse massacre horripilante, comparável em selvageria aos rituais mais sanguinolentos dos astecas.

“Os moradores de Cholula foram tomados de surpresa. Sem armas ou escudos, receberam os espanhóis. Ainda que desarmados, foram massacrados sem aviso. Foram assassinados em um ato de pura deslealdade.”

Era irônico, pensei, que os conquistadores, no Peru e no México, tivessem tirado proveito, da mesma maneira, de lendas locais que profetizavam a volta do deus barbudo, de pele clara. Se esse deus era realmente um ser humano deificado, como parecia provável, ele deveria ser originário de uma civilização altamente evoluída e dotado de um caráter exemplar – ou, com maior probabilidade ainda, duas pessoas diferentes da mesma origem, o primeiro trabalhando no México e servindo de modelo para Quetzalcoatl, e o segundo no Peru, como Viracocha. A semelhança
superficial dos espanhóis com os antigos estrangeiros de pele clara abriu numerosas portas que, de outra maneira, teriam permanecido fechadas. Mas, ao contrário de seus sábios e benevolentes predecessores, Pizarro, nos Andes, e Cortés, na América Central, eram lobos famintos. Devoraram as terras, os povos e as culturas que atacaram. Destruíram quase tudo…

Lágrimas pelo Passado

Com os olhos velados pela ignorância, fanatismo religioso e cobiça, os espanhóis, ao chegarem ao México, apagaram uma herança preciosa da humanidade. Ao assim proceder, privaram o futuro de qualquer conhecimento detalhado sobre as civilizações brilhantes e notáveis que outrora floresceram na América Central. Qual, por exemplo, a história real do “ídolo” resplandecente que repousava em um santuário sagrado em Achiotlán, a capital misteca? Sabemos da existência desse curioso objeto graças a uma testemunha ocular do século XVI, o padre Burgoa:

O material era de maravilhoso valor, pois era uma esmeralda do tamanho de um polpudo cacho de pimenta [capsicum], sobre a qual uma pequena ave fora gravada com a maior habilidade possível e, com a mesma perícia, uma pequena serpente, enroscada e pronta para dar o bote. A pedra era tão transparente que brilhava a partir de dentro com o fulgor de uma chama de vela. Era uma jóia muito antiga e não há qualquer tradição remanescente sobre a veneração e o culto que lhe eram propiciados.

O que não aprenderíamos se pudéssemos examinar hoje essa jóia “antiqüíssima” E qual, realmente, sua antiguidade? Jamais saberemos, porque frei Benito, o primeiro missionário a chegar a Achiotlán, tomou-a dos índios. “Ele mandou moê-la, embora um espanhol lhe oferecesse três mil ducados pela pedra, dissolveu o pó em água, derramou-a na terra e pisou em cima…”.

Igualmente característico do desperdício criminoso das riquezas intelectuais ocultas no passado mexicano foi o destino compartilhado por dois presentes dados a Cortés por Montezuma, o imperador asteca. Foram dois calendários circulares, do tamanho de rodas de carroça, um de prata maciça e, o outro, de ouro, também maciço, detalhadamente gravados com belos hieróglifos que podem ter contido material de grande interesse. Cortés, na hora, mandou derretê-los e transformá-los em lingotes. De forma ainda mais sistemática, em toda a América Central, imensos repositórios de conhecimentos acumulados desde tempos antigos foram laboriosamente reunidos, empilhados e queimados por religiosos fanáticos.

Tenochtitlan na época da chegada de Cortés ao México. Não havia nada parecido na “civilizada” Europa

Em julho de 1562, por exemplo, na praça principal de Mani (que se situa imediatamente ao sul da moderna Mérida, na província de Yucatán), frei Diego de Landa queimou milhares de códices, histórias ilustradas e hieróglifos maias inscritos em pergaminhos de pele de cervo. Destruiu também incontáveis “ídolos” e “altares”, todos os quais descreveu como “obras do demônio, criados por Satanás para enganar os índios e impedir que aceitassem o cristianismo… Em outro contexto, voltou a discorrer sobre o mesmo tema:

Descobrimos grande número de livros [escritos nos caracteres usados pelos índios], mas, como eles nada continham, exceto superstições e falsidades do demônio, queimamos todos, o que os nativos receberam muito mal e lhes causou grande dor.

Mas não foram apenas os “nativos” que sofreram essa dor, mas todos – na ocasião como agora – que gostariam de saber a verdade sobre o passado. Numerosos outros “homens de Deus”, alguns ainda mais implacavelmente eficientes do que Diego de Landa, participaram da satânica missão espanhola de apagar os bancos de memória da
América Central. Entre eles, destacou-se Juan de Zumárraga, bispo do México, que bravateava ter destruído 20.000 ídolos e 500 templos índios. Em novembro de 1530, condenou à fogueira um aristocrata asteca cristianizado por ter ele supostamente voltado à adoração do “deus da chuva”, e mais tarde, na praça do mercado em Excoco, mandou construir uma imensa fogueira de documentos sobre astronomia, pinturas, manuscritos e textos hieroglíficos que os conquistadores haviam confiscado dos astecas nos onze anos precedentes.

Enquanto esse tesouro insubstituível de conhecimentos e história subia nas chamas, a humanidade perdia para sempre uma oportunidade de sacudir, pelo menos, parte da amnésia (ignorância) coletiva que ora turva nossa compreensão. O que resta dos registros dos povos antigos da América Central? A resposta, graças aos espanhóis, é menos de vinte códices e pergaminhos originais. Ouvimos nas lendas que numerosos documentos reduzidos a cinzas pelos frades continham “registros de passadas eras”. O que diziam esses registros perdidos? Que segredos guardavam?

Gigantes de Desmesurada Estatura

Enquanto continuava a orgia de queima de livros, alguns espanhóis começaram a compreender que “uma civilização realmente grandiosa existira no México, antes dos astecas”. Estranhamente, um dos primeiros a agir, ao compreender esse fato, foi Diego de Landa. Aparentemente, ele passou por uma “experiência de conversão, do tipo experimentado por Paulo na estrada para Damasco” após ter montado seu auto-da-fé em Mani. Anos depois, decidido a salvar o que pudesse da sabedoria antiga, que tanto fizera para destruir, tornou-se colecionador apaixonado das tradições e histórias orais dos povos nativos do Yucatán. É grande nossa dívida para com Bernardino de Sahagun, frade franciscano e historiador da época. Consumado lingüista, conta-se que ele “procurou os nativos mais cultos e, freqüentemente, os mais velhos, e lhes pediu que, utilizando a escrita pictográfica, contassem tudo de que pudessem lembrar-se com clareza da história, religião e lendas astecas”.

Dessa maneira, Sahagun conseguiu acumular informações detalhadas sobre a antropologia, a mitologia e a história social do antigo México, que mais tarde transcreveu em uma culta obra em doze volumes, obra esta destruída pelas autoridades espanholas. Por sorte, sobreviveu uma cópia, embora incompleta. Diego de Durán, colecionador consciencioso e corajoso de tradições indígenas, foi outro franciscano que lutou para recuperar o conhecimento perdido do passado. Visitando Cholula no ano 1585, em uma época de mudança rápida e catastrófica, entrevistou um ancião, venerado na cidade, que se dizia contar mais de 100 anos de idade, e que lhe contou a história seguinte sobre a construção do grande zigurate:

No começo, antes de ser criada a luz do sol, este lugar, Cholula, era coberto por escuridão e trevas, todo o terreno era plano, sem uma colina ou elevação, cercado d’água por todos os lados, sem árvores ou qualquer coisa criada. Imediatamente depois de surgir a luz e subir o sol no leste, apareceram gigantes de estatura desmesurada, que se apossaram da terra. Apaixonados pela luz e a beleza do sol, resolveram construir uma torre tão alta que chegasse ao céu. Tendo reunido materiais para este fim, descobriram uma argila e betume fortemente adesivos e começaram a construir rapidamente a torre… Tendo eles levado a construção à maior altura possível, conseguindo que ela tocasse o céu, o Senhor dos Céus, enfurecido, disse aos habitantes do céu: “Observastes como eles da terra construíram uma alta e arrogante torre para chegar até aqui, tendo ficado apaixonados pela luz do sol e sua beleza? Vinde e destruam-nos, porque não é certo que eles da terra, vivendo na carne, devam misturar-se conosco.” Imediatamente, os habitantes do céu atacaram como se fossem raios, destruíram o edifício e dividiram e espalharam os construtores por todas as partes da terra.

E foi essa história, parecida mas não idêntica à história bíblica da Torre de Babel (em si a refundição de uma tradição mesopotâmica muito mais antiga), que me trouxe a Cholula. Essas lendas da América Central e do Oriente Médio guardavam, evidentemente, uma estreita relação. Na verdade, ninguém podia deixar de notar as semelhanças, mas havia também diferenças importantes demais para ser ignoradas. Claro, as semelhanças poderiam ser devidas a contatos pré-colombianos, não registrados em quaisquer anais, entre culturas do Oriente Médio e do Novo Mundo, embora houvesse maneira de explicar, em uma única teoria, as semelhanças e as diferenças. Suponhamos que as duas versões da lenda evoluíram separadamente durante vários milhares de anos, mas que, antes disso, ambas provieram do mesmo ancestral muito antigo.

Sobreviventes

Vejamos o que o Livro do Gênesis diz sobre a “torre que chegou ao céu”:

Ora em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar. Sucedeu que partindo eles do Oriente, deram com uma planície na terra de Sinear; e habitaram ali. E disseram uns aos outros: “Vinde, façamos tijolos e queimemo-Ios bem”. Os tijolos serviram-lhes de pedra e, o betume, de argamassa. Disseram: “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade, e uma torre cujo topo chegue até os céus, e tornemos célebre nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra”. Então desceu o Senhor [lavé, o Deus hebreu] para ver a cidade e a torre, que os filhos dos homens edificavam, e disse: “Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem. Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer. Vinde, desçamos, e confundamos ali sua linguagem, para que um não entenda a linguagem do outro”. Destarte, o Senhor os dispersou dali pela superfície da terra.

O versículo que mais me interessava sugeria, com grande clareza, que os antigos construtores da Torre de Babel queriam construir um monumento duradouro a si mesmos, de modo que seu nome não fosse esquecido – mesmo que isso acontecesse com sua civilização e linguagem. Seria possível que as mesmas considerações se aplicassem a Cholula? Segundo os arqueólogos, apenas um punhado de monumentos no México tem mais de 2.000 anos. Cholula era indiscutivelmente um deles. Na verdade, ninguém podia dizer com certeza em que época remota seus contrafortes começaram a ser construídos. Durante milhares de anos, antes que o desenvolvimento e prolongamento da estrutura começassem a todo vapor no século 300 a.C., parecia que alguma outra estrutura, mais antiga, poderia ter existido no local em que, nesse momento, estava sendo construído o grande zigurate de Quetzalcoatl.

Um precedente reforçava ainda mais a intrigante possibilidade de que restos de uma civilização realmente antiga pudessem estar ainda ocultos na América Central, à espera de descoberta. Imediatamente ao sul do campus da universidade, na Cidade do México, ao lado da estrada principal que liga a capital a Cuernavaca, existe uma pirâmide escalonada circular de grande complexidade (com quatro galerias e uma escadaria central). Parcialmente escavada, sob um manto de lava, na década de 1920, geólogos foram chamados ao local para ajudar a datar a lava e efetuar um exame detalhado do sítio. Para surpresa geral, concluíram eles que a erupção vulcânica que cobrira inteiramente três lados da pirâmide (e que se espalhara e cobrira cerca de 155 quilômetros quadrados do terreno em volta) deveria ter ocorrido há pelo menos sete mil anos. Aparentemente, a prova geológica foi ignorada (mais uma vez) por historiadores e arqueólogos, que não acreditam que qualquer civilização capaz de ter construído uma pirâmide possa ter existido no México em data tão remota.

Vale lembrar, porém, que Byron Cummings, o arqueólogo americano que inicialmente escavou o sítio por conta da National Geographical Society, convenceu-se, à vista de estratificação claramente demarcada de camadas acima e abaixo da pirâmide (depositadas antes e depois da erupção vulcânica), que aquele era “o templo mais antigo até agora descoberto no continente americano”. E foi ainda mais longe do que os geólogos, declarando que esse templo “transformou-se em ruínas há cerca de 8.500 anos”.

Pirâmides sobre Pirâmides

Entrar na pirâmide de Cholula dá realmente a impressão de que penetramos em uma montanha construída pelo homem. Os túneis (e havia mais de 9,5km deles) não eram antigos, mas deixados ali pelas equipes de arqueólogos que haviam escavado laboriosamente o local desde 1931 e até que os recursos financeiros acabassem em 1966. De alguma maneira, esses corredores estreitos, de teto baixo, haviam tomado de empréstimo, da vasta estrutura circundante, uma atmosfera de antiguidade. Úmidos e frios, ofereciam ao visitante uma escuridão convidativa e misteriosa. Seguindo o feixe de uma lanterna, penetramos profundamente na pirâmide. As escavações arqueológicas haviam revelado que a obra não fora produto de uma única dinastia (como se pensa que aconteceu com a pirâmide de Gizé, no Egito), mas que prosseguira durante um período muito longo de tempo – dois mil anos, mais ou menos, em uma estimativa conservadora.

Em outras palavras, a obra era um projeto coletivo, criado por uma força de trabalho que englobava gerações, e recrutada em muitas e diferentes culturas, tais como olmecas, teotihuacanos, toltecas, zapotecas, mistecas, cholulanos e astecas, que haviam passado por Cholula desde os primórdios da civilização no México. Embora não se soubesse quem haviam sido os primeiros construtores, o imponente edifício mais antigo, tanto quanto foi possível apurar, existente no sítio fora uma alta pirâmide cônica, com a forma de um balde invertido, nivelado no topo, onde se construíra um templo. Muito tempo depois, outra estrutura semelhante foi construída sobre o cume desse monte inicial, isto é, um segundo balde invertido de argila e pedra compacta fora construído diretamente sobre o primeiro, elevando a plataforma do templo para mais de 60m acima da planície em volta. Daí em diante, durante os 500 anos seguintes, mais ou menos, umas estimadas quatro ou cinco outras culturas contribuíram para a aparência final do monumento. Fizeram isso prolongando-lhe a base, em vários estágios, mas nunca mais elevando a altura máxima. 

Dessa maneira, quase como se um plano diretor estivesse sendo implementado, a montanha artificial de Cholula ganhou gradualmente suas características de zigurate em quatro níveis. Atualmente, os lados na base medem quase 450m – cerca de duas vezes o comprimento dos lados da Grande Pirâmide de Gizé -, tendo seu volume total sido estimado em uns estonteantes três milhões de metros cúbicos. Essas proporções, disse sucintamente uma autoridade no assunto, transformam-na “no maior edifício jamais erigido na terra”. Por quê? Por que todo esse trabalho? Que tipo de nome esses povos da América Central estavam tentando criar para si mesmos? Andando pela rede de corredores e passagens, inalando o ar frio e recendendo a argila, senti-me desagradavelmente consciente do grande peso e massa da pirâmide acima de mim. Ali estava o maior edifício do mundo e fora construído nesse local em homenagem a uma divindade centro-americana sobre a qual quase nada se sabe.

Temos de agradecer aos conquistadores e à Igreja Católica por nos deixarem em escuridão tão profunda sobre a verdadeira história de Quetzalcoatl e seus seguidores. A demolição e profanação desse templo antigo, a destruição de seus ídolos, altares e calendários e as grandes fogueiras alimentadas com códices, pinturas e pergaminhos com hieróglifos haviam quase conseguido silenciar as vozes do passado. As lendas, porém, nos ofereciam uma peça convincente e vívida de imagística: a recordação dos “gigantes de estatura desmesurada”, que diziam ter sido os primeiros construtores.


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