As Guerras dos ‘deuses’ e dos homens (3) – Os Mísseis de Zeus e Indra

O homem nasceu para ser um guerreiro ou os “deuses” ensinaram a humanidade a guerrear ? Os “deuses” alienígenas/extraterrestres foram responsáveis pelos eventos mais cataclísmicos da história humana ? As guerras da Terra começaram nos “Céus” e os eventos celestes determinaram o futuro da humanidade na Terra ? Neste livro, Zecharia Sitchin apresenta uma evidência surpreendente de que os deuses [Anunnaki, Nefilins, et caterva] que vieram à Terra desde o planeta Nibiru, travaram uma série de batalhas ferozes pela supremacia e controle do nosso planeta, alistando os terráqueos nesses conflitos entre os “deuses”.

Fonte: As Guerras dos deuses e dos homens : Livro III das crônicas da Terra, de Zecharia Sitchin

Sitchin conta com um estudo meticuloso dos relatos antigos, desde as escritas sumérias em tabletes de argila e o Antigo Testamento até os mitos antigos dos ensinamentos canaanitas, egípcios, hititas, persas, gregos e hindus, para traçar a saga dos “deuses” e dos homens de um início criativo a um fim trágico. Ele usa então fontes modernas, como fotografias da Terra tiradas pela NASA desde o espaço, para revelar a evidência de uma enorme explosão nuclear ocorrida há cerca de 4 mil anos, mudando a vida na Terra para sempre. O novo exame dos mistérios antigos feito por Sitchin explica o Grande Dilúvio, a destruição de Sodoma e Gomorra [o primeiro grande núcleo da permissividade e corrupção da ideologia Transgênero e LGBTQ+] e outros eventos cataclísmicos do passado na história da humanidade, possibilitando a compreensão de nosso presente e um vislumbre do nosso futuro.


CAPÍTULO 3 – OS MÍSSEIS DE ZEUS E INDRA

Depois de visitar o Egito, no século V a.C., Heródoto se convenceu de que os gregos haviam adquirido suas noções e crenças divinas a partir das tradições daquele país. Escrevendo para seus compatriotas, ele empregou nomes de deuses gregos para descrever as deidades egípcias análogas. Além da analogia existente entre os atributos e os significados dos nomes dos deuses do Egito e da Grécia, um outro aspecto que levou o historiador a acreditar na origem egípcia da teogonia grega foram as semelhanças entre suas lendas. Uma dessas lendas, encontrada tanto entre os gregos como entre os egípcios, era a que narra a castração de um deus por outro numa disputa por supremacia. Heródoto deve ter ficado bastante intrigado, pois a história era peculiar demais para ser encarada como mera coincidência. Por sorte, as fontes gregas das quais Heródoto provavelmente extraiu seus relatos ainda existem. São várias obras literárias, escritas e bem conhecidas muito antes dele; como a Ilíada, de Homero, as Odes, de Píndaro de Tebas, e
principalmente a Teogonia (“Genealogia Divina”), de Hesíodo, um escritor nascido em Áscara, na Grécia central, e que viveu no século 8 a.C.

Sendo poeta, Hesíodo preferiu atribuir a autoria da Teogonia às Musas, as deusas da música, da literatura e da arte, que segundo ele o incentivaram a “celebrar em canções” as histórias da “reverenciada raça dos deuses, desde seu início… e cantar em seguida a raça dos homens e dos gigantes, para com isso alegrar o coração de Zeus no Olimpo”.

Diz Hesíodo que as Musas o procuraram num certo dia em que ele estava “apascentando suas ovelhas” perto da Montanha Sagrada em que elas habitavam. Apesar dessa introdução bucólica, a história dos deuses revelada a Hesíodo pelas Musas era cheia de paixão, revolta, astúcia, mutilação e sangrentas lutas. A despeito de toda a glorificação de Zeus, não existe nos relatos nenhuma
tentativa aparente de se encobrir a torrente de sanguinolenta violência que o levou à supremacia.
Hesíodo, transmitindo “as coisas que as Musas, nove filhas de Zeus, cantaram”, escreveu:

Em verdade, no começo existia o Caos, e em seguida veio Géia, de amplo seio… Então surgiu Tártaro, nas profundezas da Terra, e Eros, o mais belo entre os deuses imortais… De Caos saíram Érebo e a negra Nyx; e de Nyx nasceram Éter e Hemera.

Esse primeiro grupo de deuses celestiais ficou completo quando Géia (“Terra”) casou-se com seu próprio primogênito, Urano (“Céu Estrelado”), para poder incluí-lo na Primeira Dinastia dos deuses. Logo após ter dado à luz Urano, Géia teve uma filha, a graciosa Uréia, e um outro filho, “Ponto, a
infrutífera Profundeza, com sua maré furiosa”. A geração seguinte de deuses era constituída pelos descendentes de Géia e Urano:

Mais tarde ela deitou-se com Urano e gerou o turbulento Oceano; Coeus, Crius, Hiperíon e Iapeto; Téia e Réia, Têmis e Mnemosine; E Foebe, coroada de ouro, e a bela Tétis. Depois deles nasceu Cronos, o voluntarioso, o mais jovem e terrível de seus filhos.

Embora essas doze criaturas – seis homens e seis mulheres fossem resultado de uma união entre mãe e filho, eram perfeitas, com uma aparência que fazia jus a sua origem divina. Mas, à medida que Urano ia se entregando cada vez mais a sua ânsia por sexo, seus outros descendentes, apesar de muito fortes, exibiam várias deformidades. Os primeiros monstros a nascer foram os três Ciclopes: Brontes (“O Trovejador”), Steropes (“O que Faz Raios”), e Arges (“O que Produz Irradiação”). “Em tudo eles eram como deuses, mas possuíam um único olho no meio da testa”.

“Três outros filhos nascidos da união entre Géia e Urano eram grandes e valentes de uma forma sem precedentes: Cotos, Briareu e Giges, crianças audaciosas.” Eram os Hecatônquiros (“Os de Cem Braços”), pois, como acrescenta Hesíodo, “de seus ombros saíam cem braços que não deixavam
ninguém se aproximar deles, e cada um possuía cinqüenta cabeças”.

Segundo conta a Teogonia, “Cronos odiava o pai devido a sua sensualidade exacerbada, mas Urano rejubilava-se com as próprias más ações”. “Então Géia confeccionou uma foice e explicou a seus queridos filhos o plano que elaborara”, pelo qual o “pai pecador” seria punido por suas “vilanias”. Ela cortaria a genitália de Urano, pondo fim a seus excessos sexuais. “O medo apoderou-se de todos; somente Cronos, o voluntarioso, mostrou coragem”. Vendo que Cronos era o único que teria a força suficiente para levar o plano adiante, Géia entregou-lhe a foice que confeccionara a partir de sílex cinzento e escondeu o filho em seus próprios aposentos, que ficavam à margem do
Mediterrâneo.

E Urano veio à noite, ansiando por amor; deitou com Géia, esparramando-se sobre ela. Então o filho saiu do esconderijo, estendeu a mão esquerda na direção do pai, enquanto na direita segurava a comprida foice de dentes como serra. Num movimento rápido, cortou os órgãos genitais do próprio pai e jogou-os para trás, atirando-os no mar.

A castração de Urano não pôs fim a sua linha de descendentes. O sangue esguichava pelo ferimento e algumas gotas penetraram Géia, que concebeu e deu à luz “as fortes Ennins” (“Fúrias da Vingança”), “os Gigantes de armaduras brilhantes, com longas lanças nas mãos, e as Ninfas chamadas Melíades, as protetoras das árvores”. Dos órgãos genitais decepados, que foram deixando atrás de si um rastro de espuma enquanto eram levados pela correnteza, “nasceu uma terrível e linda deusa… que homens e deuses chamam de “Afrodite”.

Urano, querendo se vingar, chamou pelos deuses-monstros. Seus primeiros filhos, alegou, tinham se transformado “numa outra linhagem”, os Titãs, que levados pela presunção tinham cometido o terrível crime. O assustado Cronos apressou-se a prender os Ciclopes e os outros gigantes monstruosos num local bem distante, para que nenhum deles pudesse atender ao chamado de seu pai.

Os outros deuses primordiais, além de Urano, também procriavam. Seus filhos recebiam nomes indicando seus atributos, e eles estavam longe de ser benevolentes. Depois da castração, Nyx atendeu o chamado do irmão e, para ajudá-lo na vingança, gerou as deidades do mal: “Ela deu à luz o Destino e as cruéis Parcas… a Destruição e a Morte… a acusação e a Dolorosa Aflição… a
Fome e o Sofrimento”. Nyx também trouxe ao mundo a Contenda e mais as Lutas, Batalhas, Assassinatos, Brigas, Mentiras, Disputas, Ilegalidade e Ruína. Finalmente nasceu Nêmesis (“Retribuição”).

Urano teve seu chamado atendido: lutas, batalhas e guerras passaram a existir entre os deuses.
Os Titãs também traziam a esse mundo perigoso a terceira geração de deuses. Temerosos da retribuição, mantinham-se muito unidos, e cinco dos irmãos casaram-se com cinco das irmãs. Desses casais divinos, o mais importante era aquele formado por Réia e Cronos, porque este, devido a sua audácia, assumira a liderança dos Titãs. Réia deu à luz três filhas e três filhos: Héstia,
Deméter e Hera; Hades, Poseidon e Zeus. Mas, como conta a Teogonia, assim que lhe nascia um descendente, Cronos o engolia. O motivo dessa atitude era uma profecia que vaticinava que ele seria derrotado por um de seus filhos, repetindo-se assim o que fizera com seu pai, Urano.

No entanto, o Destino não podia ser evitado. Para enganar Cronos, Réia escondeu o recém-nascido Zeus na ilha de Creta, e em lugar dele entregou ao marido “uma pedra envolta em coqueiros”. Sem perceber o engodo, Cronos engoliu a pedra. Logo depois começou a vomitar e devolveu ao mundo todos os filhos que tentara eliminar anteriormente.

“Com o passar dos anos, a força e os gloriosos membros do príncipe Zeus cresceram rapidamente”. Por algum tempo, sendo um neto digno do lascivo Urano, o jovem Zeus só pensou em aventuras amorosas, envolvendo-se com uma variedade de belas deusas, muitas vezes entrando em lutas com seus parceiros. Contudo, acabou chegando a hora de ele voltar sua atenção para os negócios de Estado. Havia dez anos os Titãs mais velhos, habitantes do monte Otíris, viviam em constante disputa com os mais jovens, “aqueles que Réia, a de longos cabelos, gerara em resultado de sua união com Cronos” e que moravam no monte Olimpo.

Se essa guerra era uma simples culminância de deterioração das relações entre colônias de deuses rivais, se uma explosão de ciúme entre deuses e deusas infiéis e amorais ou uma primeira etapa da perene rebelião dos jovens contra o antigo sistema, a Teogonia não nos esclarece. Mas as lendas e as peças de teatro gregas sugerem que tudo isso, em seu conjunto, criou uma prolongada e
“obstinada” disputa entre os deuses mais velhos e os mais jovens. Zeus viu nesse conflito a oportunidade de conquistar a supremacia sobre os deuses e, consciente ou inconscientemente, fez cumprir o destino de Cronos: ser derrotado pelo próprio filho.

O primeiro ato de Zeus foi “libertar os irmãos de seu pai, os filhos de Urano que Cronos, em sua tolice, mandara prender”. Em sinal de gratidão, os três Ciclopes lhe deram as armas divinas que Géia escondera do marido lascivo: “O Trovão, o Raio e o Relâmpago que Irradiava”. Os dois irmãos de Zeus também receberam presentes: Hades ganhou um capacete mágico, que o tornava invisível, e Poseidon um tridente milagroso, capaz de fazer o céu e a terra estremecerem. Para restaurar a disposição dos Hecatônquiros depois do longo cativeiro, devolvendo-lhes o antigo vigor, Zeus mandou servir-lhes “néctar e ambrosia, a mesmo que os deuses comem”. Em seguida, dirigiu-se a
eles dizendo:

Ouvi-me, ó brilhantes filhos de Géia e Urano, para que eu possa dizer o que meu coração pede.
Faz muito tempo que nós, os nascidos de Cronos, e os Titãs lutamos diariamente uns com os outros, para obtermos a vitória e prevalecermos. Quereis agora mostrar vossa grande força e poder e enfrentar os Titãs nessa amarga contenda?

Cotos, um dos que possuíam cem braços, respondeu: “Divino, falas bem o que sabemos… por causa de tuas tramas voltamos da escuridão, nos libertamos de cruéis grilhões. E agora, com firme propósito e numa decisão conjunta, aumentaremos teu poder nessa guerra terrível e lutaremos contra os Titãs em duras batalhas”.

Assim, “todos os que nasceram de Cronos, junto com os temidos poderosos de inigualável força que Zeus devolvera à luz… todos, machos e fêmeas, atiçaram a odiosa batalha”. Os Titãs mais velhos “ansiosamente arranjaram suas fileiras” para enfrentar os olímpicos. A guerra envolveu toda a Terra e também os céus:

O mar ilimitado rugia, a terra explodia; Os céus estremeciam e gemiam, o alto Olimpo balançou em suas bases sob a carga dos deuses imortais. O trovejar dos pés dos deuses e o aterrador ataque de seus duros mísseis criaram um terremoto que atingiu até o Tártaro.

Num verso que nos faz lembrar o texto da profecia dos Manuscritos do Mar Morto, a Teogonia fala dos gritos de guerra dos deuses em batalha:

Eles lançaram seus atrozes raios uns contra os outros. O clamor dos gritos dos dois exércitos chegou ao céu estrelado enquanto eles se enfrentavam com grande furor.

Zeus entrara na luta com todo o seu poderio, usando ao máximo as Armas Divinas que possuía: “Dos céus, pelo outro lado do monte Olimpo, ele desceu, atirando seus raios. As faíscas voavam espessa e rapidamente de suas mãos. Trovões e raios juntos, rodopiando como uma chama aterradora. A terra fértil incendiou-se e vastas florestas estalaram com o calor. O solo fervia também a água doce dos rios e o salgado mar”. Então Zeus lançou uma Pedra do Trovão contra o monte Otíris. Pelo que lemos no texto da Teogonia, entendemos que houve nada mais nada menos do que uma explosão atômica.

O vapor quente lambeu os Titãs nascidos de Géia; Chamas incalculáveis ergueram-se para o mais alto ar. O fulgor flamejante da Pedra do Trovão, suas faíscas cegaram olhos, tão fortes eram. Um calor terrível envolveu Caos… Era como se a Terra e o amplo Céu acima tivessem se juntado. Houve um estrondo violento, como se a Terra tivesse sido atirada a sua ruína.

Esse enorme estrondo aconteceu enquanto os deuses estavam engalfinhados em sua luta. Além do ruído apavorante, da explosão e do tremendo calor, o lançamento da Pedra do Trovão também deu origem a uma violenta tempestade de vento [radioativo]:

Os ventos também foram trazidos e chegaram rugindo; terremoto e tempestades de areia, trovões e raios.

Quando os dois lados viram e ouviram os efeitos da Pedra do Trovão do grande Zeus, “houve um período de terríveis lutas; grandes feitos foram realizados, mas a batalha começou a amainar”. A guerra estava terminando porque os deuses tinham superado os Titãs em armamentos.

“Não saciados com a guerra”, os três Ciclopes caíram sobre os Titãs, derrotando-os com seus mísseis portáteis. “Eles os prenderam em tristes grilhões” e os levaram para o distante Tártaro. “E lá, pela vontade de Zeus, que cavalga as nuvens, os Titãs estão ocultos sob uma espessa névoa, num lugar úmido dos confins da Terra”. Os Ciclopes permaneceram no Tártaro na qualidade de “fidedignos guardiões de Zeus”, para vigiarem os prisioneiros. Quando Zeus estava para exigir a “égide”, ou seja, a suserania sobre todos os deuses, um inesperado adversário surgiu em cena para desafiá-lo.

“Quando Zeus expulsou os Titãs do céu, a grande Géia, com o auxílio da dourada Afrodite, deu à luz seu filho mais novo, Tifeu, fruto de seu amor com Tártaro”. Tifeu ou Tífon era um monstro: “A força de suas mãos estava em tudo o que fazia, e os pés desse poderoso deus eram incansáveis. De seus membros cresciam uma centena de cabeças de serpente e um apavorante dragão, todos com línguas negras e sibilantes.

Dessas impressionantes cabeças saía fogo e havia voz em todas elas, cada uma emitindo sons incríveis”. Esses sons podiam ser o de um homem falando, o berro de um touro, o rugido de um leão ou o latir de um cachorro. Segundo Píndaro e Ésquilo, Tífon era gigantesco, e “sua cabeça tocava as estrelas”.

As Musas revelaram a Hesíodo: “Algo inevitável teria acontecido naquele dia; Tífon acabaria reinando sobre mortais e imortais”. No entanto, Zeus percebeu o perigo a tempo e não demorou a atacar. A série de combates que se seguiu não foi menos impressionante que as batalhas entre os deuses e os Titãs, pois Tífon, o deus-serpente, possuía asas e, tal como Zeus, era capaz de voar. “Zeus trovejou com todo o seu poderio, e a terra em volta foi sacudida de forma impressionante, o mesmo acontecendo com o céu, o mar e os rios de todas as partes do mundo”. As Armas Divinas voltaram a ser empregadas – e por ambos os combatentes.

Por causa dos dois, por causa de seus trovões e raios. O calor envolveu os mares azuis; Por causa do fogo do Monstro, dos ventos escaldantes e do Trovão fulgurante, toda a Terra ferveu como ferveram céu e mar. Grandes ondas estouraram nas praias… Houve um tremor interminável.

No Mundo Inferior, “Hades estremeceu em seus domínios”. Tremeram também os Titãs presos nos confins da Terra. Os dois combatentes perseguiam-se por todo o céu da Terra. Zeus foi o primeiro a atingir o adversário, e usou para isso seu “lúgubre Trovão”. A arma “queimou todas as extraordinárias cabeças do monstro e tudo que estava a sua volta”, abatendo o impressionante aparelho de Tífon.

Quando Zeus o venceu, fulminando-o com seus golpes, Tifeu foi atirado contra o solo e espatifou-se. A imensa Terra gemeu. Uma chama saltou do deus atingido, no inóspito, escuro e recôndito vale do Monte, onde ele tombara. Uma grande parte da imensa Terra foi calcinada pelo terrível vapor, derretendo-se como derrete o estanho quando aquecido pelas artes do homem… Na incandescência de um fogo resplandecente, a Terra derreteu.

Apesar de o aparelho que pilotava ter se estatelado no chão, Tífon saiu vivo do desastre. Segundo a Teogonia, Zeus, como fizera com os Titãs, “atirou-o no amplo Tártaro”. O vencedor, agora com seu reino seguro, voltou sua atenção para a importante tarefa de procriar, gerando descendentes com esposas e concubinas.

Embora a Teogonia descreva um único combate entre Zeus e Tífon, outros textos gregos garantem que essa luta foi a luta final. Houve várias outras, em que Zeus foi o primeiro a ser ferido. De início ele combateu corpo a corpo, usando a foice que sua mãe confeccionara, para executar “o maldoso
instrumento”; pois seu propósito era castrar Tífon. Mas este defendeu-se atirando sua rede, e Zeus ficou preso nela. Tífon então pegou a foice e com ela cortou os tendões dos pés e das mãos de Zeus. Em seguida depositou seu indefeso inimigo, seus tendões e armas numa caverna distante.

Os deuses Egipano e Hermes encontraram a caverna, ressuscitaram Zeus refazendo seus tendões e devolveram-lhe as armas. Ele então retornou ao Olimpo voando numa “Carruagem Alada” e lá obteve um novo suprimento de raios para sua Arma Divina. Assim preparado, renovou seus ataques contra Tífon e conseguiu impeli-lo para o monte Nissa, onde as Parcas enganaram seu inimigo, fazendo-o comer o alimento dos mortais, o que o enfraqueceu em vez de torná-lo mais forte. Em seguida houve uma nova batalha nos céus do monte Hemo, na Trácia, que prosseguiu sobre o monte Etna, na Sicília, e foi terminar no monte Casio, na costa asiática do Mediterrâneo. E ali Zeus, usando seus raios, abateu Tífon.

A similaridade entre os relatos sobre as batalhas e as armas empregadas, as lendas sobre castração, mutilação e ressurreição – todos relacionados com uma luta pela sucessão – convenceram Heródoto e outros historiadores gregos clássicos de que os gregos tinham emprestado sua teogonia dos egípcios. O deus Zeus dos gregos, por exemplo, seria o deus Amon africano, e Hermes tinha muitos paralelos com Thoth. A própria Teogonia conta que, quando Zeus partiu à procura da bela mortal Alcmene com a intenção de gerar o herói Héracles, ele se esgueirou do Olimpo à noite, sem ser notado, e foi para o país de Tifaônia, descendo no alto de Fíguion (a Montanha da Esfinge).

A propósito, “a letal Esfinge, que destruiu os cadmeus (‘Os Antigos’)”, mencionada nas lendas sobre Hera, a consorte oficial de Zeus, também estava ligada a Tífon e seus domínios. Além disso, o escritor Apolodoro contou que, quando Tífon começou a crescer, atingindo um tamanho gigantesco, os deuses apressaram-se a ir ao Egito para conhecer o impressionante monstro. A maioria dos eruditos afirma que o monte Casio, cena da última batalha entre Zeus e Tífon, ficava localizado perto da foz do rio Orontes, na atual Síria.

Mas como Otto Eissfeldt mostrou num importante estudo (Baal Zaphon, Zeus Kasios und der Durchgang der Israeliten durches Meer), na Antiguidade existia um outro monte com esse nome – um promontório no lago salgado Serbônico, que avançava da península do Sinai para o Mediterrâneo. Ele sugere que esse seria o local mencionado nas lendas. Mais uma vez, só nos resta confiar nas informações que Heródoto recebeu no Egito. Descrevendo a rota terrestre entre a Fenícia e o Egito, passando pela Filistéia, ele escreveu (História, Livro III, 5) que as terras asiáticas
“estendem-se até o lago Serbônico, perto do local onde o monte Casio avança para o mar.

O Egito começa no lago Serbônico, onde, segundo a lenda, Tífon foi se esconder”. Novamente as lendas gregas e egípcias se cruzam, dando a península do Sinai como a cena da batalha final.
Apesar das inúmeras conexões encontradas pelos gregos entre seus deuses e os egípcios, foi num local muito distante desses dois países – a Índia – que os eruditos europeus descobriram paralelos ainda mais impressionantes entre as duas teogonias.

Foi somente no final do século XVIII, quando o sânscrito – a língua da antiga Índia – começou a ser compreendido pelos estudiosos, a Europa passou a se encantar com traduções de textos que até então lhe eram desconhecidos. De início, o estudo da literatura, da filosofia e da mitologia sânscritas foi um campo dominado pelos britânicos. No entanto, por volta de meados do século XIX, ele se tornou um dos grandes preferidos dos intelectuais alemães, pois descobriu-se que o
sânscrito era a língua-mãe dos idiomas indo-europeus (aos quais pertence o alemão) e que fora levado à Índia por migrantes saídos das margens do mar Cáspio – os arianos -, que seriam também os ancestrais dos alemães.

A peça central da literatura sânscrita são os Vedas, escrituras sagradas que, segundo a tradição, foram redigidas pelos deuses em épocas muito remotas. Os Vedas foram levados para o subcontinente asiático por migrantes arianos em algum ponto do segundo milênio antes de Cristo, através da tradição oral. Com o passar dos séculos, grande parte das centenas de milhares de versos se perdeu.

Mas, por volta de 200 a.C. um sábio reuniu os que restaram, dividindo-os em quatro partes: o Rig Veda (“Veda de Versos”), composto por dez livros; o Sammaveda (“Vedas Cantados”); o Yajurveda (basicamente preces sacrificiais); e o Atharvaveda (mágicas e encantamentos). Com o tempo, os vários componentes dos Vedas e a literatura auxiliar deles originada – Mantras, Bramanas, Aranyakes, Upanishads – ampliaram-se com os Puranas (manuscritos antigos) não-védicos. Junto com os grandes épicos hindus do Mahabharata e do Ramayana, eles constituem as fontes das “lendas” sobre o Céu e a Terra, sobre deuses e heróis.

Devido ao amplo período em que foram transmitidos oralmente e à enorme quantidade de textos escritos, copiados e recopiados ao longo dos séculos, os nomes, atributos e epítetos das deidades – aspectos agravados pelo fato de os nomes e termos originais não serem na verdade arianos -, não se pode confiar na consistência e na precisão da literatura védica, como bem reconhecem os
estudiosos. No entanto, alguns fatos e eventos emergem como princípios básicos do legado hindu-ariano.

No princípio, segundo essas fontes, havia apenas os corpos celestes, “Os Primevos que Fluem”. Ocorreu uma comoção nos céus e o “Dragão” foi partido em dois pelo “Tempestuoso”. Dando às duas partes nomes de origem não ariana, as lendas afirmam que Rehu, o pedaço superior do planeta destruído, continuou atravessando os céus em busca de vingança. A parte inferior, Ketu (“O Cortado”), juntou-se aos “Primevos” em seu fluxo (órbitas). Muitas eras se passaram, e então surgiu
uma Dinastia de Deuses do Céu e da Terra. O celestial Mar-Ishi, que os chefiava, teve sete (ou dez) filhos com sua consorte Prit-Hivi (“A Ampla”), que personificava a Terra. Um deles, Kashyapa (“O do Trono”), tornou-se chefe dos Devas (“Os Luminosos”), conquistando o título de Dyaus-Pitar (“Pai do Céu”) – um indubitável paralelo com o nome-título grego de Zeus (“Dyaus”) e seu correspondente romano Júpiter (“Dyauspiter”).

Muito prolífico, Kasyapa gerou um grande número de deuses, gigantes e descendentes monstruosos com várias esposas e concubinas. Deles, os mais preeminentes, conhecidos e reverenciados desde a era védica são os Adityas – alguns deles filhos da consorte oficial Aditi (“ilimitada”). De início os Adityas eram sete: Vishnu, Varuna, Mitra, Rudra, Pushan, Tvashtri e Indra. Mais tarde veio juntar-se a eles Agni, filho de Kasyapa com Aditi ou, como sugerem alguns textos, com sua própria mãe, Prithivi. O número dos Adityas acabou chegando a doze, o mesmo dos componentes do círculo olímpico dos gregos.

Entre eles estava Bhaga, que os estudiosos acreditavam ser o deus eslávico conhecido como Bogh. O último dos Adityas a nascer foi Surya, mas não se sabe com certeza se ele era mesmo filho de Kasyapa. Tvashtri (“O Fabricante”), em seu papel de “Faz-Tudo”, o artífice dos deuses, forneceu armas mágicas e carros voadores a todos os deuses. Usando um fulgurante metal celestial, ele construiu um disco para Vishnu, um tridente para Rudra, uma “arma de fogo” para Agni, um “trovejante arremessador” para Indra e uma “clava voadora” para Surya. Nas antigas figuras hindus,
todas essas armas se parecem com mísseis portáteis, tendo as mais variadas formas. Além dessas armas, os deuses obtiveram outras com os assistentes de Tvashtri. Indra, por exemplo, recebeu uma “rede aérea”, com a qual podia capturar os inimigos durante combates no céu.

Os veículos celestes, ou “carros aéreos”, eram invariavelmente descritos como luminosos e radiantes feitos ou folheados a ouro. O Vimana (carro aéreo) de Indra tinha luzes brilhantes nas laterais e movia-se “mais rápido que o pensamento”, atravessando grandes distâncias com muita facilidade. Os cavalos invisíveis que o puxavam possuíam “olhos de sol”, que emitiam raios
de um tom avermelhado, às vezes mudando de cor. Em algumas lendas os carros aéreos dos deuses são descritos como tendo vários andares, e outras afirmam que além de voar eles podiam viajar sob a água. No conto épico Mahabharata, a chegada dos deuses a uma festa de casamento numa frota de veículos aéreos é descrita da seguinte forma (com base na tradução de R. Dutt
em Mahabharata, The Epic of Ancient India):

Os deuses, em carros transportados por nuvens, vieram assistir a cena tão bela; Luminosos Adityas em seu esplendor, Maruts no ar corrente; Suparnas alados, Nagas escamosos, Rishis Devas puros e elevados; os Gandharvas, famosos por sua música, e as belas Apsaras do céu… Brilhantes naves celestes em comitiva, deslizavam pelo céu sem nuvens.

Os textos também falam nos Ashvins (“Condutores”), deuses especializados em dirigir os carros aéreos. “Rápidos como jovens falcões”, eles eram “os melhores condutores que já atingiram os céus”, e sempre guiavam seus artefatos em duplas, acompanhados de um navegador. Seus veículos, que às vezes surgiam em grupos, eram feitos de ouro, sendo “luminosos e radiantes…
confortáveis de sentar e com um macio ondular”. Esses carros aéreos eram construídos com base num princípio triplo, pois tinham três andares, três poltronas, três varas de apoio e três rodas giratórias. O Hino 22 do Livro VIII do Rigveda diz, ao louvar os Ashvins: “Sua carruagem possuía bancos triplos e rédeas de ouro – o famoso carro que atravessa Céus e Terra”. Parece que as
rodas giratórias tinham várias funções. Uma erguia a nave, outra a direcionava, e a terceira a impulsionava. “Uma das rodas de seu veículo está girando rapidamente; a outra acelera para colocá-lo em seu curso para a frente”.

Como acontece com os deuses das lendas gregas, os dos Vedas também mostram pouca moralidade e restrição em assuntos sexuais. Às vezes eles eram malsucedidos, como aconteceu com Dyaus, que por ter violado sua neta Ushas, irmã dos Adityas, tomou-se alvo da vingança destes, que encarregavam Rudra (“O Três-Olhos”) de matá-lo. Dyaus salvou-se fugindo para um distante corpo celeste. Tal como aconteceu com os deuses gregos, posteriormente os hindus começaram a se envolver nas guerras e nos amores dos reis e heróis mortais. Nesses combates, os veículos aéreos dos deuses desempenhavam um papel mais importante que suas armas. Assim, quando um herói afogou-se, os Ashvins apareceram numa esquadrilha de três carros aéreos, “navios auto-impulsionados, hermeticamente fechados, que cruzavam o ar”, e com eles mergulharam no mar, tiraram o herói das profundezas e “o levaram para a terra, além do oceano líquido”.

Há também a lenda de Yayati, um rei que se casou com a filha de um deus. Quando o casal gerou filhos, o feliz avô presenteou o genro com uma “fulgurante nave celestial feita de ouro que podia ir a qualquer lugar sem interrupção”. Sem perder tempo, o rei “subiu no carro e, com ele, sendo imbatível em batalha, conquistou a Terra inteira em seis noites”.

Como na Ilíada, as tradições hindus também falam de guerras de homens e deuses e por causa de belas heroínas. A mais conhecida dessas lendas é o Ramayana, o longo épico de Rama, o príncipe cuja encantadora esposa Sita foi raptada pelo rei de Lanka (a ilha de Ceilão). Entre os que apareceram para ajudar Rama a resgatá-la estava Hanuman, o deus com cara de macaco que se envolveu em combates aéreos com o alado Garuda, um dos monstruosos filhos de Kasyapa. Em outra ocasião, Sukra, um deus “maculado pela imoralidade”, raptou Tara, a bela esposa do condutor de Indra. Rudra e outros deuses apareceram para ajudar o marido ofendido. Houve então, “por causa de Tara, uma terrível batalha em que tombaram deuses e monstros”.

Apesar de seu impressionante armamento, os deuses levaram a pior e tiveram de procurar refúgio com a “Deidade Principal”. Foi preciso o avô dos deuses vir à Terra para pôr fim à guerra, devolvendo Tara ao marido. Quando a mulher deu à luz um filho, “cuja beleza superava a dos celestiais”, os deuses, desconfiados, “exigiram saber quem era o verdadeiro pai do menino: o marido legítimo ou o deus raptor”. Tara então anunciou que o bebê era filho de Soma, a
“Imortalidade Celestial”, e lhe deu o nome de Budah.

No entanto, esse envolvimento dos deuses nos assuntos dos homens foi algo que só aconteceu depois de muito tempo: em épocas mais primitivas, eles guerreavam entre si por causas mais importantes, como a supremacia, o governo da Terra e a administração de seus recursos naturais. Devido à grande quantidade de filhos de Kasyapa com uma série de esposas e concubinas, mais os descendentes dos outros deuses, o conflito era inevitável. O domínio dos Adityas irritava especialmente os Asuras, deuses mais velhos, gerados por Kasyapa com outras mulheres antes de os Adityas nascerem. Tendo nomes não arianos, com clara origem no Oriente Médio (lembrando as divindades supremas da Assíria, da Babilônia e do Egito: Assur, Asar, Osíris), esses Asuras acabaram assumindo, nas tradições hindus, o papel de deuses malignos ou “demônios”.

A inveja, rivalidade e outros motivos para atrito acabaram resultando em guerra quando a Terra, “que de início produzia alimentos sem necessidade de cultivo”, foi assolada por uma escassez geral, que trouxe a fome. Os deuses sustentavam sua imortalidade bebendo o Soma, uma ambrósia que era trazida da Morada Celestial e ingerida misturada ao leite. O gado que eles criavam também lhes fornecia a carne para os “sacrifícios” ou os assados que tanto apreciavam. Com a escassez, as dificuldades começaram a surgir. O Satapatha Brahmana descreve os eventos que se seguiram:

Os deuses e os Asuras, nascidos do Pai dos Deuses e Homens, combateram pela superioridade. Os deuses venceram os Asuras, mas, mais tarde, estes voltaram para perturbá-los… Os deuses e os Asuras, nascidos do Pai dos Deuses e Homens, estavam novamente combatendo pela superioridade. Dessa vez os deuses encontraram a derrota. Os Asuras pensaram: “A nós, sem dúvida, pertence este mundo!”. Em seguida disseram: “Então dividamos este mundo entre nós. Feito isso, nele subsistiremos”. Conseqüentemente, começaram a dividir o mundo do Ocidente ao Oriente. Ao tomarem conhecimento do que estava acontecendo, os Adityas foram pedir aos irmãos que lhes dessem parte dos recursos da Terra. Quando ouviram isso, os deuses disseram: “Os Asuras estão mesmo dividindo esta Terra! Venham, vamos até onde eles estão fazendo a partilha, pois o que será de nós se não conseguirmos nossa parte da Terra”? Colocando Vishnu à frente, eles foram até os Asuras.

Arrogantes, os Asuras ofereceram aos Adityas apenas a porção da Terra que pudesse ser coberta pelo corpo de Vishnu quando ele estivesse deitado. Mas os deuses empregaram um estratagema. Puseram Vishnu num “recinto fechado” que podia “andar em três direções”, e assim conseguiram recuperar três das quatro regiões da Terra. Os Asuras, frustrados, iniciaram um ataque a partir do sul. Os deuses perguntaram a Agni “como poderiam vencê-las para sempre”. Agni sugeriu uma manobra em formato de pinça: “Darei a volta pelo norte, e vocês avançarão sobre eles daqui; quando os fecharmos, os arrasaremos”.

Segundo está registrado no Satapatha Brahmana, depois de vencerem os Asuras “os deuses estavam ansiosos, preocupados em como poderiam reabastecer-se para seus sacrifícios”. Muitos trechos dos textos antigos que relatam essa batalha falam da recaptura do gado e da volta do fornecimento do Soma. Essa guerra ocorreu em terra, no ar e no fundo do mar. Os Asuras, segundo o Mahabharata, construíram fortalezas de metal no céu, de onde atacavam as três regiões da Terra. Seus aliados podiam ficar invisíveis e usavam armas também invisíveis; alguns deles atacavam de uma cidade submarina que tinham capturado dos deuses.

Quem mais se distinguiu nessa guerra foi Indra (“Tempestade”), que destruiu 99 fortalezas terrestres dos Asuras, matando um grande número de seus seguidores. Nos combates aéreos ele usou um carro voador para lutar com os inimigos que se escondiam em “fortalezas de nuvens”.
Os hinos dos Rigveda citam grupos de deuses e deidades individuais derrotadas por Indra (R. T. Griffith, The Hymns oficial the Rig-Veda):

Matas com teu raio os Sasyu… Longe do assoalho do céu, em todas as direções, os antigos, sem ritos, fugiam para a destruição… Os Dasyu queimaste dos céus. Eles se envolveram em batalha com o exército dos sem culpa; então os Navagvas lançaram todo seu poderio. Como emasculados em combate com homens, eles fugiram tomando trilhas íngremes, escapando da presença de Indra. Indra invadiu as fortalezas de Ilibsa e com seus chifres cortou Sushna em pedaços… Mataste teu inimigo com teu trovão… A arma de Indra, feroz, abateu-se sobre os inimigos, e com seu agudo estampido ele fez suas cidades em pedaços. Intrépido, vais de luta em luta, destruindo castelo após castelo com tua força. Tu, Indra, com teu amigo que faz o inimigo se curvar, afastas para longe os astuciosos Namuchi. Levaste à morte Karanja, Parnaya… Destruíste as cem cidades de Vangrida. Os cumes do altíssimo céu sacudiste quando sozinho, ousaste exterminar Sambara.

Depois de vencer os inimigos, tanto em batalhas como em combates individuais, fazendo-os “fugirem para a destruição”, Indra voltou sua atenção para a libertação do gado dos deuses. Os “demônios” o haviam escondido no interior de uma montanha, onde ficavam guardados por Vala (“O que Cerca”).

Auxiliado pelos Angirases, deuses jovens que podiam emitir chamas divinas, Indra irrompeu no esconderijo e soltou os animais. Alguns estudiosos, como J. Herbert em Hindu Mythology, afirmam que o objetivo de Indra era libertar ou recuperar um Raio Divino, e não o gado, pois a palavra sânscrita go serve para designar as duas coisas.

No início dessas guerras, os Adityas designaram Agri (“Ágil”) para ser o Hotri, ou seja, o chefe das operações. Com o passar do tempo – alguns textos sugerem que o conflito durou mais de mil anos -, Vishnu (“O Ativo”) assumiu o cargo. No entanto, com o fim das hostilidades, Indra, que tanto se
distinguira nas batalhas, exigiu a supremacia. Tal como na Teogonia dos gregos, um de seus primeiros atos foi matar o próprio pai. O Rigveda (Livro IV; 18,12) pergunta ao jovem deus: “Indra, quem fez de tua mãe uma viúva?”. A resposta vem também em forma de pergunta: “Que deus estava presente na refrega quando mataste teu pai, agarrando-o pelo pé?”. Para castigar Indra pelo seu nefando crime, os deuses proibiram-no de beber o Soma, pondo em perigo sua imortalidade, e “ascenderam aos céus” deixando o irmão com o gado que recuperara. Mas Indra foi atrás deles “com a arma do trovão erguida”.

Temerosos, os deuses gritaram: “Não atire!”, e concordaram em deixá-lo compartilhar dos alimentos divinos. Indra conquistou a Liderança, mas houve quem o desafiasse. O contestador
foi Tvashtri, que em alguns hinos é chamado “primogênito”, o que pode explicar por que ele se achava no direito de reivindicar a posição. Rapidamente Indra exterminou-o com a arma-trovão, a mesma que ganhara de presente dele. A luta, contudo, foi retomada por Vritra (“O Obstrutor”), que
alguns textos dizem ser o primogênito de Tvashtri, mas vários eruditos o vêem como um monstro artificial, pois em pouco tempo ele atingiu um tamanho imenso. Nos primeiros combates Indra levou a pior e fugiu para um canto distante da Terra. Todos os deuses o abandonaram, exceto os Maruts, um grupo de 21 condutores que pilotavam os carros voadores mais ligeiros, “que rugem como o vento e fazem sacudir as rochas das montanhas quando sobem”.

Essas verdadeiras maravilhas, de tons avermelhados, Aceleram-se em seu curso como um rugido, sobrevoando os cumes do céu… Espalham-se como fachos de luz… Brilhantes, celestiais, como raios em suas mãos e capacetes de ouro na cabeça.

Contando com o apoio dos Maruts, Indra voltou a combater Vritra. Os hinos que descrevem as lutas, em termos entusiasmados, podem ser encontrados em Original Sanskrit Text, de J. Muir.

O valente deus em seu carro ascende, levado por sua fervente velocidade. Para o céu o herdi avança. Os Maruts, impetuosos espíritos da tempestade, formam sua escolta. Eles viajam em carros-relâmpagos e cintilam em guerreira pompa e orgulho… Suas vozes ressoam como urros de leões, seus dentes consomem com força de ferro. Os morros, a própria Terra eles sacodem, em seu avanço fazem estremecer todas as criaturas.

Enquanto a terra tremia e as criaturas corriam para se esconder, Vritra observava calmamente a aproximação de seus inimigos:

Empoleirada a grande altura, brilhava a imponente fortaleza de Vritra. No alto da muralha, em atitude marcial, o valente e gigantesco demônio esperava, confiante em suas artes mágicas e armado com um arsenal de dardos de fogo.

“Sem alarme, desafiando o poder da arma de Indra”, sem medo “dos terrores do vôo mortal”, Vritra continuou esperando.

Então formou-se uma visão aterradora quando deus e demônio engalfinharam-se em luta. Vritra lançou seus dardos afiados, raios e relâmpagos escaldantes, que atirava como chuva espessa, o deus desafiava sua cólera; as armas eram lançadas contra Indra em vão, passando de lado.

Quando Vritra gastou todos os seus mísseis, Indra pôde partir para a ofensiva:

Então os raios começaram a cintilar, luminosos trovões a estourar, por Indra orgulhosamente arremessados. Os próprios deuses imobilizaram-se, apavorados; o terror apoderou-se do
mundo universal…

Os raios atirados por Indra, “forjados pela mão de mestre de Tvashtri” a partir de ferro divino, eram mísseis complexos, fulgurantes:

Descarregados pela vermelha mão direita de Indra, os raios com cem juntas, as lanças de ferro com mil pontas, que ardem e sibilam por todo o céu. Rápidos, sem erro, voam para o alvo e fazem curvar o mais orgulhoso dos inimigos. Seu simples som põe em fuga os tolos que ousam desafiar o poder do Trovejador.

Os mísseis teleguiados atingiram o alvo:

E logo o dobrar dos sinos da condenação de Vritra soou impulsionado pelo clamor da chuva de ferro de Indra. Perfurado, pisoteado, esmagado, com um horrível grito, o demônio moribundo caiu de sua torre feita de nuvens.

Depois de cair “como troncos de árvores derrubados pelo machado”, Vritra jazia, prostrado. No entanto, embora estivesse “sem pés e sem mãos, continuou desafiando Indra”. Este então desferiu o golpe de misericórdia – “exterminou-o atirando um raio entre seus ombros”. Indra venceu, mas o destino não quis que os frutos da vitória fossem apenas dele. Quando reivindicava o trono de Kasyapa, seu pai, surgiram dúvidas sobre sua verdadeira origem.

Todos sabiam que sua mãe o escondera da cólera de Kasyapa por ocasião de seu nascimento. Por que isso? Existiria um fundo de verdade nos boatos que afirmavam que seu próprio irmão mais velho Tvashtri era seu verdadeiro pai? Os Vedas não erguem totalmente o véu do mistério. No entanto, contam que Indra, apesar de ser um grande deus, não governou sozinho. Ele teve de
dividir seus poderes com Agni e Surya, seus irmãos, exatamente como Zeus teve de repartir os domínios com Hades e Poseidon.


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