Colapso do ‘Poder Político’: Moradores assumem tarefas do Poder Público em meio à Catástrofe no Rio Grande do Sul

Está chegando a hora dos “camponeses” cercarem os castelos de corrupção, inépcia, má gestão, incompetência e descaso dos políticos de todos os partidos e em todos os níveis de poder, local, estadual e federal. Após dias seguidos de chuvas torrenciais, “falta de informação” e “despreparo” dos governos, a situação de calamidade no Rio Grande do Sul afetou cerca de 73% dos 497 municípios, deixando 88 mortos, 134 desaparecidos, milhares ilhados e um “cenário de guerra” na região da Serra Gaúcha, dos Vales e na área metropolitana de Porto Alegre.

Colapso do ‘Poder Político’: Moradores assumem tarefas do Poder Público em meio à Catástrofe no Rio Grande do Sul

Fonte: Sputnik

Tudo começou com mais um dia de chuva forte, afirmaram à Sputnik Brasil os moradores do Rio Grande do Sul afetados pelo desastre diluviano dos últimos dias. “A gente não tinha noção da gravidade da situação. Até porque aqui é uma região bastante chuvosa, às vezes a gente fica 15 dias com chuva, semanas sem aparecer o sol” [Serra Gaúcha], disse o jornalista Bruno Caldart, morador de Caxias do Sul.

“Foi na quarta-feira, no feriado do dia 1º de maio, que as coisas começaram a fugir um pouco do controle”, afirmou Caldart. Mas foi na quinta-feira (2) que os resultados da chuva forte e constante começaram a aparecer, como a queda de pontes, os alagamentos, os deslizamentos de encostas e o soterramento de muitas casas com os seus moradores dentro.

Moradoras de Cachoeirinha, cidade da Região Metropolitana de Porto Alegre, localizada na margem do rio Gravataí, Greice Souza e Júlia Kubaszewski Piuco relataram que alagamentos do rio são normais e esperados em chuvas intensas, tanto que há bombas instaladas nas margens para escoar a água. “Quando ligam as bombas, é questão de uma hora até a água descer”, afirmou Greice.

“A gente sempre vê um alagamento quando tem uma chuva mais forte. Então achamos que era normal, que ia alagar, e que ia descer no próximo dia, quando eles ligassem as bombas”, disse Souza.

“Ninguém imaginou e não se alertou da proporção que ia tomar, porque estava todo mundo confiando muito nas bombas”, disse Júlia Piuco.

No entanto, essa confiança nas bombas foi parte do problema, afirma Piuco. “Grande parte da vida, meu avô conviveu com os alagamentos porque antes era um valão aberto, né? Mas fazia anos que isso não acontecia. E todas as vezes que teve essa proporção, ele falava que [na sua época] não havia tecnologia, então não iria encher”, contou ela.

O problema, apontam as entrevistadas, é que a infraestrutura estava abaixo da necessária para a situação inédita e excepcional. Das seis bombas, quatro estavam estragadas e duas foram desativadas para impedir a enchente nas partes mais atrás da cidade.

Foi na madrugada de quinta (2) para sexta-feira (3) que os alertas de evacuação da Defesa Civil começaram a chegar, lembra Souza. “Mas eles tinham muitas ruas pra avisar. Então eles passaram ali, e depois já foram pra outros lugares, pra tentar avisar, tentar retirar o máximo possível de pessoas.”

Veículo do Exército ajuda no resgate em Porto Alegre, no Rio Grande so Sul, nesta segunda-feira (6). — Foto: Diego Vara/Reuters

“Então para evitar que a água ficasse mais alta ainda no Anápio, eles acabaram desligando a luz do nosso bairro para as bombas se desligarem e igualar o nível. E aí foi que a água começou a subir de uma forma muito rápida”, detalhou.

Por volta das 11h, diz Souza, “a água começou a subir muito rápido”. “Havia a informação do pessoal de que rompeu um dique na ponte entre Cachoeirinha e Porto Alegre, então a água começou a subir muito rápido”.

Mesmo assim, a expectativa era de que a água não passasse do joelho. “A gente levantou tudo que podia […] os móveis, enfim, fogão, essas coisas, ficaram tudo dentro de casa.”

“Mas nesse mesmo dia, durante a noite, a situação foi, assim, foi o mais chocante possível, porque a água chegou no telhado de casa, e é assim que tá até hoje.”

Para Piuco, ainda que a Defesa Civil passasse alertando para uma zona de risco de 600 metros, faltou muito preparo por parte dos governantes. A população, por exemplo, não tinha consciência dos riscos reais que estavam enfrentando.

“Por mais que não seja uma coisa corriqueira que não vá acontecer todo dia, se mora próximo de rio é necessário ter essa educação.”

Ou seja, as instruções deveriam ter sido dadas com antecedência, “não somente no momento que a situação está se agravando”.

Além disso, diz, deveriam haver sirenes de alerta para esses casos, de forma que fique claro quando houver um perigo iminente desses.

“Muitos dos resgates que estão tendo que ser feitos agora e demandam toda a energia, não teriam existido se a comunidade já tivesse essa instrução da Defesa Civil no momento certo.”

Voluntários civis se organizam para ajudar seus semelhantes no Rio Grande do Sul

Em meio à extensão do desastre, a maior parte da ajuda recebida veio da população civil, comenta Souza, que tentam resgatar pessoas ilhadas, organizam e fazem doações. “A gente tem recebido bastante de amigos, muita doação, cesta básica, alimentos e alguns amigos fizeram uma campanha de Pix.”

“Polícia, bombeiro, exército… tudo muito burocrático para ajudarem e a pessoa comum saiu imediatamente e foi ajudar.”

Mas mesmo esse tipo de resgate despreparado pode trazer riscos, comenta Piuco. “Fui acompanhar em alguns momentos, fui passar para ver se precisavam de alguma coisa, e tivemos muitos voluntários de bermuda sem camisa nas águas contaminadas”, disse a moradora, que tem um amigo internado no hospital com leptospirose.

“Sinto que as comunidades estão muito jogadas e por conta própria, os voluntários aqui em Cachoeirinha é que estão fazendo o trabalho.”[no lugar do poder público] Enquanto os poderes  públicos, local, estadual e federal não chegam a região, outras pessoas se organizam para enviar auxílio aos locais afetados.

A moradora de Pelotas Hyatt Omar, ativista brasileira-palestina formada em psicologia pela York University no Canadá, utiliza sua experiência arrecadando em doações de alimentos e medicamentos ao povo da Faixa de Gaza para ajudar os brasileiros afetados pelas chuvas. Até agora a ativista já conseguiu arrecadar R$ 38 mil através das redes sociais.

Pelotas, no sul do estado, também foi bastante afetada pelas chuvas, “mas não está debaixo d’água como Canoas, São Leopoldo e Lajeado”. As doações de alimentos vão para os abrigos de Pelotas, diz Omar, já as principais de medicamentos, colchões, travesseiros “vão ser direcionadas para o município de Guaíba”.

Segundo a ativista, a caridade já faz parte do seu dia a dia. Um dos cinco pilares do Islã, sua fé, é o Zacate, a doação. “Anualmente o muçulmano tem a obrigação de fazer essa doação, de acordo com a sua realidade”. Além disso, sua ascendência palestina a permite se colocar “no lugar do oprimido, de quem não tem voz”.

Quando a “incompetência” de todos os escalões se reúne a população paga um preço maior ainda do que dentro da normalidade.

“Muitas vezes, as pessoas, por não saberem exatamente o que é o Islã acham […] que são pessoas ruins, porém, é essa mesma cultura e tudo isso que sempre me ensinou a ajudar o próximo.”

Omar, contudo, destaca que embora muita ajuda esteja vindo neste momento, o problema não vai ser “solucionado de um dia para o outro”. “As pessoas vão precisar de ajuda daqui a semanas, meses, para conseguir reconstruir uma infraestrutura completa”.

“Tiveram pessoas que perderam tudo, fazendeiros que perderam todos seus animais, suas casas, plantações, a gente tem inúmeras pessoas desaparecidas, pessoas que estão sem roupa, que perderam tudo.”

Carlos Justen, prefeito de Campina das Missões, cidade localizada na região noroeste do Rio Grande do Sul, está atento para essas necessidades a longo prazo. Ainda que tenha sido afetada pelas chuvas, Campina das Missões “não está na condição trágica que vive muitos municípios do estado”, disse Justen. “Nossos problemas aqui se resumem a estradas e danos em algumas pontes.”

Por conta disso, o município está organizando doações que visam justamente possibilitar que “as pessoas possam reiniciar suas vidas”, como colchões, fogões a gás e outros eletrodomésticos, detalha o prefeito.

“É o momento mais grave que o nosso estado vive nos últimos 50, 60 anos e neste momento o abraço carinhoso de cada cidadão pode fazer uma grande diferença na reconstrução das vidas que permaneceram.”


3 respostas

  1. Não me espantaria se começares a surgir vozes dizendo que isso são as “mudanças climáticas” CAUSADAS pelas atividades humanas. O que um total despautério…
    – Rio assoreados são culpa dos humanos;
    – Desmatamento, especialmente a mata ciliar;
    – Construções muito próximas a corpos d’água;
    – Falta de planos de contingência;
    – Etc…
    Mas o clima muda sim e nada podemos fazer quanto a isso…

  2. É muito pior do que qualquer cena que possam ter visto em qualquer mídia, é o sistema em colapso total, corpos de animais e pessoas boiando, pessoas saqueando as residências e comércios que foram deixados pra trás, sociedade sem luz e sem água potável, pessoas com fome, crianças sobreviventes perdidas de seus pais… Sou de Porto Alegre mas moro em SC, acompanho de muito perto os relatos das pessoas, conhecidos e amigos de lá. Infelizmente é a guerra híbrida, experimentos geopáticos. Podem dizer “ah conspiracionista, ah negacionista das mudanças climáticas causada pelas emissões de gases, bla bla bla”, não duvido que a raça humana emita gases que causam efeito estufa, mas isso não é de Deus nem da natureza não. É a mãozinha do homem sim, mais um experimento aí custando vidas. É que nem na covid, disseram que não eram experimentos as vacinas e depois se confirmou. Mais cedo ou tarde vão confirmar os experimentos de alteração do clima. É que nem na situação do vírus, existem patentes, basta fuçar nas instituições de registros de propriedade intelectual.

  3. Gustavo Dodt Barroso (Historiador)(Diretor do Museu Historico Nacional por decadas)(3 vezes Presidente da Academia Brasileira de Letras)-1939 ” Os Governos são caixeiros cobradores de Banqueiros”. (Vide -> Divida Pública Federal)

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