Centenas de pessoas afluíram em massa a um porto na ilha grega de Santorini nas primeiras horas desta terça-feira (04/02) na esperança de embarcar em uma balsa para um local seguro, em meio a temores de que os recentes abalos sísmicos no popular destino turístico sejam sinais da iminência de uma erupção vulcânica ou de um grande terremoto (ou ambos).
Fonte: DeutscheWelle
Milhares de pessoas deixaram popular destino turístico no Mar Egeu nos últimos dias em razão dos tremores. Apesar do medo de uma catástrofe iminente, autoridades dizem que não há razão para pânico.
Desde sexta-feira, centenas de tremores foram registrados entre as ilhas vulcânicas de Santorini e Amorgos, no Mar Egeu, levando moradores e turistas a abandonarem também as ilhas vizinhas de Anafi, Ios e Amorgos — todos populares destinos de férias de verão.
De acordo com o Instituto de Geodinâmica de Atenas, somente nos últimos três dias foram registrados na região cerca de 550 terremotos moderados, com magnitudes entre 3 e 4,9. O cálculo não considera os inúmeros abalos menores.
Na manhã desta terça, terremotos regulares, com intervalos de apenas alguns minutos, continuaram a abalar a ilha. Segundo a agência de notícias dpa, cerca de um terço dos 16 mil moradores de Santorini já deixaram a ilha temporariamente. Voos especiais e balsas adicionais também serão disponibilizados para o embarque de mais pessoas ao longo do dia.

“Não durmo há dias; crianças e mulheres estão chorando; tudo treme a cada cinco minutos”, disse à agência de notícias Reuters um homem que conseguiu deixar Santorini de balsa.
“Tudo está fechado. Ninguém trabalha no momento. A ilha inteira está esvaziando”, disse Dori, um morador local de 18 anos, antes de embarcar na balsa.
Autoridades alertam sobre deslizamentos e fecham escolas
Como medida de precaução, autoridades enviaram equipes de resgate para Santorini e três ilhas próximas, além de ordenarem o fechamento das escolas.
Na segunda-feira, o primeiro-ministro da Grécia, Kyriakos Mitsotaki, pediu que as pessoas se mantivessem calmas e seguissem as instruções das autoridades. As pessoas também foram solicitadas a evitar grandes aglomerações em ambientes fechados e a se manterem fora das áreas costeiras devido ao risco de deslizamentos de terra.
Nos hotéis e nas casas, a orientação foi de esvaziar as piscinas, pois grandes volumes de água podem desestabilizar os edifícios no caso de um grande terremoto.
“Sem motivo para pânico”
Até agora, o terremoto mais forte registrado atingiu uma magnitude de 4,9 na escala Richter na tarde de segunda-feira. “Estamos monitorando a situação de perto, mas, neste estágio, não há motivo para pânico”, disse Efthymios Lekkas, presidente da Organização de Planejamento e Proteção contra Terremotos da Grécia, ao site de notícias grego eKathimerini.
“Embora esses terremotos sejam preocupantes, eles ainda não indicam nenhuma erupção vulcânica iminente ou evento catastrófico”, disse ele.

Já o especialista em sismologia Manolis Skordilis, da Universidade Aristóteles de Tessalônica, chamou a intensa atividade sísmica observada em Santorini de “extremamente séria”, informou a agência grega de notícias Amna. Ele apontou sobretudo para o fato de que terremotos com magnitude superior a sete na escala Richter já desencadearam tsunamis e causaram danos significativos no passado na região.
O super Vulcão Tera de Santorini
Há cerca de 3.600 anos, um vulcão destruiu Tera, a ilha do mar Egeu atualmente conhecida como Santorini. A cidade de Akrotiri, na extremidade meridional da ilha, ficou sepultada sob um metro de cinzas e pedra-pomes. Foi uma das maiores erupções vulcânicas de todos os tempos.
Há escavações arqueológicas aqui há vários anos. Agora, pela primeira vez, os investigadores criaram uma representação virtual do quotidiano naquela civilização florescente. Para alguns, Tera até foi a mítica Atlântida. Seus habitantes sabiam que enfrentavam um poder invisível, inimaginável, impossível de conter, que emanava das profundezas do mar e dominava as alturas.

Liberto por uma força misteriosa, um inquietante vento vindo do Norte fustigava a ilha. Os habitantes de Tera sentiam frequentemente que o solo tremia sob os seus pés, como se um monstro subterrâneo quisesse anunciar a sua chegada.
Porém, os habitantes daquele pequeno recanto do mar Egeu ignoravam o poder de destruição das forças desconhecidas. Aproximadamente no ano 1600 a.C., a atividade sísmica desencadeou um terremoto que destruiu várias casas da ilha. Os habitantes do porto de Akrotiri conseguiram sair para a rua a tempo. Durante dias, foram obrigados a acampar ao ar livre, enquanto retiravam escombros e resgatavam as pedras ainda inteiras para erguer novas habitações.
O sismo, porém, foi apenas o prelúdio do que viria a acontecer semanas depois: o vulcão entrou em erupção plena, arrancando o topo da ilha numa gigantesca explosão . Situada no chamado arco Helénico, Santorini encontra-se numa zona de intensa atividade sísmica. Entre 150 e 170 quilómetros abaixo da ilha, a placa tectônica africana mergulha sob a euro-asiática. O magma acumula-se na crosta terrestre como consequência deste processo de subducção. Naquela ocasião, a acumulação foi de tal forma elevada que a pressão abriu as portas do inferno.
Naquele dia apocalíptico, de pouco serviu aos habitantes do Mediterrâneo todo o conhecimento acumulado ao longo da história sobre as forças primitivas que dominavam o seu mundo.
Tudo começou com um rugido surdo e uma escura nuvem cinzenta, quase negra, elevando-se das profundezas da caldeira, aberta há cerca de vinte mil anos por outra erupção vulcânica na região ocidental daquilo que era então uma ilha circular. Uma chuva de cinzas e pedra-pomes começou a cair sobre Akrotiri. Quem pôde agarrou apressadamente alguns objetos pessoais antes de fugir.
Foi então que se ouviu um estrondo ensurdecedor. Uma coluna de cinzas e rochas vulcânicas, provavelmente com mais de trinta quilómetros de altura, subiu até ao céu. Fluxos piroclásticos incandescentes varreram a ilha e a câmara magmática esvaziou-se num abrir e fechar de olhos. Como resultado, o teto do vulcão desabou e formou-se uma caldeira que poderá ter 400 metros de profundidade.
O mar que banhava a ilha começou a borbulhar como uma cafeteira à beira de transbordar. A enorme quantidade de material vulcânico ejetado formou depósitos de até 60 metros de espessura, tal como hoje se observa nas falésias de Santorini, que são as paredes da antiga caldeira. Tudo ficou sepultado: pessoas, casas e praticamente todos os seres vivos das imediações.
É possível que alguns ilhéus tentassem dirigir-se ao porto e fugir de barco. No entanto, na opinião do arqueólogo grego Christos Doumas, que há cerca de meio século investiga o sítio arqueológico, esse cenário é bastante inverosímil. “Não houve seguramente sobreviventes. É provável que o caminho até ao porto seja um rosário de cadáveres enterrados sob a cinza vulcânica.”

Foi uma das maiores catástrofes vulcânicas de que se há conhecimento, aquilo que hoje denominamos como erupção supervulcânica, muito mais violenta do que a erupção do Vesúvio no ano 79 da nossa era, que destruiu Pompéia e Herculano instantaneamente e semelhante à do Krakatoa indonésio em 1883. Os investigadores tentam calcular o que teria acontecido no Mediterrâneo em seguida ao evento cataclísmico.
Estima-se que o estrondo se fez ouvir em locais tão distantes como a Escandinávia. Num raio de 400 quilômetros em redor, a escuridão reinou durante dias inteiros. Tera partiu-se em três partes e emergiram as ilhas menores da Terásia e Aspronisi. A flora e a fauna foram aniquiladas, escreveu o geólogo Walter L. Friedrich, da Universidade de Åarhus. Só sobreviveram ao cataclismo algumas espécies de caracol e de serpente e alguns lagartos e insetos que ocupavam a cota máxima do local, o monte Profitis Ilias, a 565 metros de altitude. Os rios e as fontes ficaram envenenados. O solo permaneceu estéril durante muitas gerações.
Akrotiri, uma das mais antigas cidades da Europa, quase 17 séculos anterior a Pompeia e com uma civilização desenvolvida, desapareceu sob o manto de cinza e pedra-pomes.
O vento de oeste arrastou a nuvem de cinzas até à Ásia Menor, onde caiu e cobriu a terra com uma camada de dez centímetros de espessura. As ondas com mais de dez metros do consequente maremoto fustigaram todas as outras ilhas do Egeu. Durante meses, a cinza vulcânica e a pedra-pomes flutuaram no mar, empurradas pela corrente para sudeste. A navegação e o comércio marítimo ficaram paralisados. Passaram-se séculos até Tera (Santorini) voltar a ser habitável novamente.