Há 78 anos, Bomba Atômica dos EUA Incinerou Hiroshima instantaneamente

Hiroshima foi o palco da explosão da primeira bomba atômica no planeta em um trágico episódio de guerra que tirou as vidas de um terço de sua população de forma instantânea. Em 6 de agosto de 1945, pouco depois das oito da manhã, ocorreu a primeira detonação de uma bomba atômica na história da humanidade.  Detonada sobre a cidade de Hiroshima, uma área civil, a arma de destruição em massa, apelidada de “Little Boy” (“Garotinho”, em tradução livre) explodiu em pleno ar, criando uma bola de fogo que calcinou o céu acima da cidade. 

Há 78 anos, Bomba Atômica dos EUA Incinerou Hiroshima instantaneamente

Fonte: aventurasnahistoria.uol.com.br

Para dar uma ideia do poder da explosão, vale mencionar que no centro dela a temperatura chegou a 1 milhão de graus Celsius, e, mesmo a três quilômetros de distância, foi cerca de cem vezes mais luminosa que o próprio Sol. 

Cerca de 13 quilômetros quadrados foram destruídos em questão de instantes por conta das temperaturas altas e da onda de choque que varreu Hiroshima, de acordo com o portal Campaign for Nuclear Disarmament.

No exterior de algumas construções que sobreviveram à bomba, ficaram manchas de formato humano no concreto — essas marcas perturbadoras eram o único vestígio deixado por indivíduos incinerados no momento da explosão.

Fotografia de marca da sombra deixada pelo corpo de uma pessoa em concreto de escada após a explosão / Crédito:  Yoshito Matsushige-Domínio Público

Cerca de 100 mil pessoas morreram instantaneamente, e milhares de outras perderam a vida mais tarde, de queimaduras, choque ou envenenadas pela radiação”, explicou o historiador Antony Beevor, segundo repercutido pelo National Geographic.

Especula-se que um terço dos 350 mil habitantes da cidade morreram como consequência direta da arma despejada pelo exército dos Estados Unidos sobre o local. As fatalidades indiretas, por sua vez, como aquelas causadas por doenças desenvolvidas mais tarde pelos sobreviventes, são difíceis de ser estimadas.

Tecnologia militar

A Little Boy foi criada pelo Projeto Manhattan, uma iniciativa norte-americana ultrassecreta que teve o físico J. Robert Oppenheimer como chefe do projeto. O mecanismo interno da bomba atômica dependia de apenas duas cargas de urânio 235, um material radioativo tem o potencial de entrar em fissão nuclear — nome da reação em cadeia responsável pela sua devastadora explosão.

Já a Fat Man (ou “Homem Gordo”, em tradução livre), que foi lançada sobre Nagasaki, outra área civil, apenas três dias depois de Hiroshima, usava plutônio 239 para alcançar o mesmo resultado.

Contexto histórico

Na época, a Alemanha nazista já havia sido dominada pelos Aliados (França, Inglaterra, EUA e URSS), com a morte de Hitler tendo ocorrido meses antes.

O Japão era a única potência do Eixo a prosseguir resistindo, sendo apenas após os dois episódios trágicos de Hiroshima e Nagasaki que os governantes do país finalmente declararam sua rendição, levando ao fim da Segunda Guerra Mundial.

Hiroshima depois da bomba – Foto: Domínio público

Após perder o conflito, a nação asiática precisou não só assinar um acordo de paz através do qual concordava em deixar de possuir um Exército e cedia territórios que estavam sobre seu domínio, mas também lidar com as consequências da destruição em massa causada por Little Boy e Fat Man.

Hoje, ambas as cidades japonesas a terem sido bombardeadas com armas atômicas foram totalmente reconstruídas, e não estão mais contaminadas com radioatividade, de forma que não fornecem nenhum risco à saúde de seus habitantes.

O HOMEM QUE PRESENCIOU E FOTOGRAFOU O BOMBARDEIO DE HIROSHIMA HÁ 78 ANOS

Yoshito Matsushige foi responsável por fazer as únicas fotografias tiradas logo após a devastadora explosão.

Existem muitas informações a respeito do que aconteceu com Hiroshima em 6 de agosto de 1945, quando a bomba atômica Little Boy (“Garotinho”, em tradução livre), desenvolvida pelos Estados Unidos, explodiu sobre a cidade japonesa.

Hiroshima destruída após o lançamento da bomba atômica pelos Estados Unidos. À frente, a Cúpula Genbaku (ou Cúpula da Bomba Atômica), uma das poucas construções a se manter de pé após a explosão. Crédito: AFP/Hiroshima Peace Memorial Museum.

Uma bola de fogo tomou e consumiu o céu, produzindo uma nuvem de fumaça, radioatividade e destroços em formato de cogumelo. A destruição causada pelo calor e pela onda de choque se estendeu por cerca de 13 quilômetros quadrados à partir do epicentro, mas a região mais afetada foi a um raio de 2,5 quilômetros do epicentro, onde quase nada sobreviveu.

Cerca de 100 mil pessoas morreram instantaneamente, e muitas outras faleceram no decorrer das horas seguintes, vitimadas por queimaduras extensas e outros ferimentos resultantes da detonação da bomba.

Em contraste com a vastidão de detalhes a respeito do que aconteceu naquele dia, existem apenas 5 imagens que mostram como, de fato, era estar em Hiroshima logo após o desastre. Todas elas foram tiradas por Yoshito Matsushige, um fotojornalista nascido na própria cidade que estava em sua casa quando se deu a explosão — ocorrida a apenas 2,7 quilômetros de distância dele.

Em um relato arquivado pelo site Atomic Heritage Foundation, o homem relembrou como foram os seus primeiros momentos após a detonação de Little Boy:

Eu tinha terminado o café-da-manhã e estava me arrumando para ir ao jornal quando aconteceu (…) Eu não ouvi nenhum som, mas, como eu posso dizer, o mundo ao meu redor se tornou branco brilhante. E eu fui momentanemanete cegado como se uma lâmpada de magnésio [usada para tirar fotografias antigas] tivesse se acendido na frente dos meus olhos. Imediatamente depois disso, veio a explosão”, disse ele.

Memorial da Paz de Hiroshima, chamado de Cúpula Genbaku ou Cúpula da Bomba Atômica pelos japoneses, localiza-se em Hiroshima, Japão. O edifício foi originalmente projetado pelo arquiteto tcheco Jan Letzel. O  epicentro da explosão atômica de 6 de Agosto de 1945 situou-se a apenas a 150 metros de distância do edifício, que foi a estrutura mais próxima a resistir ao impacto.

“Eu estava nu da cintura para cima, e a explosão foi tão intensa que eu senti como se centenas de agulhas estivessem me perfurando de uma vez só. A explosão criou enormes buracos nas paredes do primeiro e do segundo andar. Eu mal podia ver meu quarto em meio à poeira”, acrescentou Matsushige.

O sobrevivente entrou procurou sua câmera fotográfica e algumas roupas, e saiu na rua, onde a cidade que existia ali mais cedo havia sido reduzida a ruínas.

Ainda de acordo com o testemunho do fotojornalista, outro acontecimento chocante foi quando ele passou pela Ponte Miyuki, e encontrou um grupo de adolescentes em idade escolar que estavam na rua no momento da detonação.

Eles foram mobilizados para evacuar edifícios e estavam do lado de fora quando a bomba caiu. Tendo sido expostos diretamente aos raios de calor, eles ficaram cobertos de bolhas, do tamanho de bolas, nas costas, no rosto, nos ombros e nos braços. As bolhas estavam começando a estourar e suas peles se penduravam como tapetes. Algumas das crianças tinham até queimaduras nas solas dos pés. Eles perderam os sapatos e correram descalços pelo fogo ardente”, relatou o homem.

Matsushige ergueu sua câmera a fim de capturar as cenas de terror, mas precisou de cerca de 20 minutos para criar coragem de fazer o registro fotográfico. O motivo para sua hesitação é que ele apenas tinha ferimentos superficiais causados por estilhaços de vidro, enquanto as pessoas à sua frente “estavam morrendo”.

“Era uma visão tão cruel que não consegui me obrigar a apertar o obturador (…) Ainda hoje, lembro-me claramente de como o visor estava nublado com minhas lágrimas. Senti que todos estavam olhando para mim e pensando com raiva: ‘Ele está tirando uma foto nossa e não vai nos ajudar em nada’”, explicou ele.

Fotografia de sobreviventes / Crédito: Yoshito Matsushige/ Domínio Público

Suas fotografias seguintes seriam tão difíceis quanto a primeira. Graças ao trabalho de Yoshito Matsushige, no entanto, existem documentos históricos hoje que nos permitem visualizar a Hiroshima de 78 anos atrás, logo após o desastre provocado pelo homem.

Caminhei pela parte da cidade mais atingida. Caminhei por quase três horas. Mas não consegui tirar nem uma foto daquela área central. Havia outros cinegrafistas no grupo de transporte do exército e também no jornal. Mas o fato de nenhum deles ter conseguido tirar fotos parece indicar o quão brutal foi o bombardeio. Não me orgulho disso, mas é um pequeno consolo ter conseguido tirar pelo menos cinco fotos”, concluiu o japonês ainda.


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