E se os próximos acordos globais de segurança fossem elaborados em Pequim, e não em Washington? E se Irã, Índia, Rússia e China estivessem à mesa? A recente reunião da Organização de Cooperação de Xangai (OCS) revelou algo dramático para o mundo ver e ouvir: o Irã essencialmente preparou o terreno para um bloco de segurança eurasiano — e o Ocidente [com Israel] não gostou do que ouviu e viu.
Fonte: Global Research
Parece que os interesses de segurança eurasianos não estão mais sendo considerados de uma perspectiva puramente teórica. Na reunião do Conselho de Ministros das Relações Exteriores da OCS, realizada na China em meados de julho, o Irã se manifestou com clareza.
Os nove países que compõe a OCS [Organização de Cooperação de Xangai] são os seguintes: Cazaquistão, China, Índia, Irã, Paquistão, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão e Uzbequistão
São três países observadores: Afeganistão, Bielorrússia e Mongólia.
São nove países Parceiros de Diálogo: Arábia Saudita, Armênia, Azerbaijão, Camboja, Catar, Egito, Nepal, Sri Lanka e Turquia.
São quatro convidados: ASEAN, CEI, Turcomenistão e as Nações Unidas
Teerã agora conceitua a OCS como algo mais do que um fórum regional; ela é um potencial contrapeso à OTAN/EUA/Khazares. Isso sinaliza o potencial para uma mudança estratégica – afastando-se de um sistema dominado pelo Ocidente/Israel e caminhando em direção a uma ordem eurasiana emergente.
A cúpula destacou a crescente resiliência da cooperação multilateral eurasiana diante do crescente desequilíbrio geopolítico global. A importância do evento foi demonstrada pelo encontro do Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, com o líder chinês Xi Jinping – um encontro que ressaltou a força do eixo Moscou-Pequim.
Paralelamente, Lavrov manteve reuniões bilaterais com os Ministros das Relações Exteriores da China, Paquistão, Índia e, notavelmente, do Irã. Suas conversas com o Ministro das Relações Exteriores iraniano Abbas Araghchi, concentraram-se em soluções diplomáticas para a questão nuclear, enfatizando o aprofundamento da cooperação estratégica.
O contingente iraniano aproveitou o evento com propósito. Araghchi expressou seu apreço pela solidariedade da OCS com o Irã em meio à recente agressão israelense, enfatizando que seu país não vê mais a organização como puramente simbólica; em vez disso, seus membros devem reconhecê-la como um “mecanismo” pragmático para manter a unidade regional e a soberania nacional de seus membros.

Um mecanismo para um novo Equilíbrio Geopolítico
A participação plena da Índia na cúpula foi de importância estratégica; isso contradisse as previsões do Ocidente de que “tensões geopolíticas” seriam um impedimento — se não uma paralisia — da OCS. Pelo contrário, Nova Délhi reafirmou seu compromisso com a organização. A implicação é evidente: ao contrário da OTAN, onde a unidade depende do cumprimento de uma autoridade central, a OCS demonstrou um mecanismo suficientemente flexível para acomodar interesses e necessidades diversos, ao mesmo tempo em que constrói consenso.
Para a Rússia, a OCS continua sendo fundamental para sua estratégia eurasiana. Moscou, por si só, serve como uma força de equilíbrio – fomentando relações mutuamente benéficas entre a China, a Ásia Meridional e Central e, agora, com um Irã mais assertivo. A abordagem da Rússia é (como frequentemente acontece) pragmática, multifacetada e orientada para a criação de um novo equilíbrio geopolítico.
O Discurso de Araghchi
O ponto central do evento foi o discurso de Abbas Araghchi – uma crítica assertiva e juridicamente fundamentada às iniciativas de política externa [agressões] israelense e americana. Ele citou o Artigo 2, Seção 4, da Carta da ONU, denunciou os ataques às instalações nucleares iranianas monitoradas pela AIEA e invocou a Resolução 487 do Conselho de Segurança da ONU. Na prática, a posição do Irã é que a agressão ocidental não tem fundamento jurídico e nenhuma narrativa ocidental alterará essa realidade.
Mas o ministro das Relações Exteriores do Irã foi além de sua crítica à agressão ocidental. Araghchi propôs uma série de ações destinadas a reforçar a OCS como um mecanismo de segurança coletiva e soberania nacional. Essas ações incluem um acordo de segurança coletiva para responder a agressões externas; um mecanismo de coordenação para documentar e combater atos subversivos; um mecanismo para proteger os estados membros contra medidas punitivas ocidentais; um fórum para coordenação de defesa e inteligência; e cooperação para combater a guerra cognitiva e de informação.
É importante ressaltar que essas medidas não são mera retórica em resposta ao recente ataque khazar/EUA à soberania iraniana – elas constituem um projeto programático de reorganização institucional. O Irã propõe uma nova doutrina de segurança baseada na multipolaridade, na defesa mútua e na resistência a medidas [sanções] econômicas punitivas.
SCO e OTAN – Uma diferença inerente
Pela própria natureza da estrutura da OTAN — uma hierarquia rígida dominada a partir [do Deep State] de Washington — a OCS incorporaria uma visão pós-hegemônica: soberania, igualdade e pluralidade civilizacional. Seus Estados-membros representam mais de 40% da população global, possuem vasta capacidade industrial e mais de 50% do território do planeta – contribuindo com mais de US$ 23 trilhões para o PIB global – e compartilham o desejo coletivo de se libertar das restrições unipolares ocidentais.
A premissa de Teerã é clara: a OCS não é apenas um enclave geopolítico, mas um mecanismo para promover uma nova “lógica global” – gerada pela autonomia estratégica – em vez da dependência. A minúcia e a especificidade das iniciativas de Araghchi sugerem que Teerã está voltada para o longo prazo.

Araghchi tornou essa visão explícita :
“A OCS está gradualmente fortalecendo sua posição no cenário mundial… Ela deve adotar um papel mais ativo, independente e estruturado.”
Em outras palavras, o Irã está buscando reorganização institucional e realinhamento.
O Ocidente estava ouvindo atentamente
A reação do Ocidente foi imediata. Poucas horas após as propostas do Irã, a UE impôs novas sanções a oito indivíduos e uma organização iraniana – citando alegações irracionais de “graves violações dos direitos humanos”. Até o momento, não há medidas impostas a Israel por sua agressão ao Irã e ao genocídio sendo executado contra os palestinos em Gaza.
A geopolítica é evidente. O desejo de Teerã de reorientar a OCS para um bloco voltado para a ação é percebido por Bruxelas e Washington como uma ameaça à atual “[des]ordem mundial”. Mas não se enganem: quanto mais coerente e proativa a OCS se tornar, mais severa será a pressão [dos psicopatas do hospício woke ocidental].
No entanto, parece que a reação do Ocidente à cúpula corrobora a posição do Irã. A ordem ocidental baseada em regras não é mais “baseada em regras” – é “baseada em poder bruto”. Para países como o Irã (e há muitos), a única maneira de manter o controle sobre sua soberania é por meio da resistência multilateral (se não do desafio real) e da integração em seus próprios termos.
O Irã busca promover o desenvolvimento de uma ordem de segurança “pós-ocidental”. Sua visão para a OCS é moldar um sistema internacional em que nenhum bloco possa dominar o equilíbrio do mundo por meio de sanções econômicas, guerra de informação, ingerência em seus assuntos internos ou diplomacia coercitiva.
Uma coisa é certa: o Ocidente não está desconsiderando os esforços do Irã na cúpula da OCS. Se fosse esse o caso, sanções contra organizações e indivíduos iranianos não teriam sido a primeira — e imediata — resposta da UE à cúpula. Além disso, Trump não estaria ameaçando aplicar medidas punitivas contra países que comercializam com a Rússia e demais membros do BRICS.