Os seus costumes, os seus ritos, os seus segredos: Digam o que disserem determinados historiadores encastelados em sua erudição acadêmica, a criação da Ordem dos Cavaleiros Templários continua envolta em inúmeros mistérios; e o mesmo acontece com a realidade profunda da sua missão, não a que se tornou pública, mas a missão oculta. Inúmeros locais ocupados e ou de propriedade dos cavaleiros Templários apresentam particularidades estranhas.
OS TEMPLÁRIOS, ESSES GRANDES SENHORES DE MANTOS BRANCOS – OS SEUS COSTUMES, OS SEUS RITOS, OS SEUS SEGREDOS.
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Atribuíram-se aos monges-soldados crenças heréticas, cultos curiosos e às suas construções, principalmente a Catedral de Chartres, significados e até poderes fantásticos. A seu respeito, fala-se de gigantescos tesouros escondidos (sendo o maior deles o CONHECIMENTO), de segredos ciosamente preservados e de muitas outras coisas.
Segunda Parte – A PRATA DO TEMPLO
OS NAVIOS DO TEMPLO
A Ordem organizara-se, pois, de modo a não depender de ninguém e até de forma a que fossem os outros a não poder passar sem ela. No entanto, tudo isso não teria servido para nada se os Templários tivessem estado à mercê de armadores para o transporte de mercadorias e pessoas por mar. Ademais, o transporte marítimo representava um aspecto estratégico importante em virtude do tráfego intenso que as cruzadas provocavam entre o Oriente e o Ocidente.
A Ordem do Templo não podia desinteressar-se deste aspecto. Logo, fez-se armadora, uma grande construtora e proprietária de navios, garantindo a sua independência nos mares e praticando o transporte de homens e mercadorias por conta de terceiros. Dotou-se de uma frota capaz de rivalizar com a da República de Veneza e tentou até apoderar-se do monopólio do comércio no Mediterrâneo. Não o conseguiu, no entanto, mas conseguiu reservar para si uma quota importante do mercado nos mais variados setores.
Para além das mercadorias, uma grande parte do tráfego provinha do transporte dos peregrinos. Somente a partir de Marselha, os Templários transportavam três a quatro mil por ano. Antes de os embarcarem, hospedavam-nos nas suas casas, como em Biot, Bari, Arles, Saint-Gilles, Brindisi, Marselha ou Barletta. Em Toulon, tinham mandado construir especialmente duas casas no bairro da carriero del Templo, ao lado das muralhas que protegiam a cidade de eventuais incursões de barbarescos.
Tinham inclusive mandado abrir uma pequena porta especial na muralha, para circularem livre e discretamente. Os peregrinos tinham confiança no Templo porque, tal como fez notar Demurger, não só os navios da Ordem eram escoltados, mas também não tinham o costume de venderem os seus passageiros como escravos aos muçulmanos, prática infelizmente demasiado frequente dos Pisanos e Genoveses. Os nomes de alguns navios templários foram conservados até aos nossos dias: a Rose du Temple, a Bénite, a Bonne Aventure, o Faucon du Temple. Havia-os de todos os tamanhos e de todas as especialidades.
Alguns, os «porteiros», estavam equipados especialmente para o transporte de cavalos. Era preciso construí-los de um modo muito especial, tomando muito cuidado com as juntas. A esse respeito, Joinville escreveu: “Abriram a porta do barco e metemos lá dentro todos os nossos cavalos que devíamos levar para o ultramar. Depois, fechamos de novo a porta, tapamo-la bem, como se estopa um tonel, porque, quando o navio está no mar, toda a porta se encontra na água.” Durante o transporte, os cavalos eram peados de tal forma que quase não podiam mexer-se.
Quanto à sua saída do barco, fazia-se quase segundo a técnica das atuais lanchas de desembarque, que permitem que se chegue o mais perto possível da margem. Cada navio porteiro apenas podia transportar entre quarenta e sessenta cavalos. Imaginamos facilmente a importância do tráfego permanente necessário para abastecer de cavalos o exército dos cruzados. A fim de acompanhar e proteger essas embarcações meridionais um pouco desajeitadas, mas capazes de transportarem volumes importantes, tinham adaptado, no Mediterrâneo, navios mais rápidos do que aqueles que habitualmente o cruzavam.
OS PORTOS TEMPLÁRIOS
Para garantirem a sua independência, os Templários fizeram questão em possuir portos privados. Foi o caso do Mônaco, Saint-Raphaêl, Majorque, Collioure e, sem dúvida, Martigues, Mèze, na bacia de Thau, que ainda não estava separada do mar, e Saint-Tropez. Perto da Mancha, temos de citar Saint-Valéry-en-Caux e Barfleur, bem como Saint-Valéry-sur-Somme. Na Bretanha, podemos referir também o porto templário da Ile-aux-Moines, particularmente bem protegido porque situado no golfo do Morbihan. Geralmente, embarcavam aí os peregrinos que se dirigiam a Santiago de Compostela.
No entanto, estes portos privados não chegavam para escoar a totalidade do seu tráfego. Assim, mantinham também pontões noutros portos importantes como Toulon, Marselha, Hyères, Nice, Antibes, Villefranche, Beaulieu, Menton. Nos portos provençais, beneficiavam de liberdades concedidas pelo conde da Provença, o que não deixava de levantar problemas. Os armadores locais, que geralmente não se beneficiavam de privilégios semelhantes, achavam essa concorrência um pouco desleal. A atmosfera era mesmo francamente pesada, em alguns casos.
Em Marselha, as autoridades tiveram de ceder em parte à pressão e limitaram os direitos dos navios templários apenas ao comércio realizado com a Terra Santa e a Espanha. Isto é particularmente interessante porque significa que esses dois pólos importantes do comércio mediterrânico estavam longe de ser os únicos que interessavam aos Templários. De qualquer forma, considerando inadmissível esta restrição, os Templários, em breve seguidos pelos Hospitalários, abandonaram o porto de Marselha e passaram a ancorar os seus navios em Montpellier.
Os Marselheses compreenderam rapidamente que esse desvio do tráfego lhes custava mais caro do que o que lhes rendia. A clientela do Templo era fiel e estava disposta a mudar de porto para fretar ou alugar os seus navios. Acabou por ser assinado um acordo, segundo o qual, duas vezes por ano, um navio templário e um hospitalário partiriam de Marselha sem pagarem qualquer taxa. Muito inteligentemente, a Ordem do Templo não se serviu desta possibilidade para embarcar as suas próprias mercadorias, que podia sempre carregar noutros portos que lhe pertencessem, mas apenas para encher os seus porões com produtos pertencentes a mercadores marselheses.
Eis algo que confirma, caso fosse preciso, que os Templários eram empresários especialmente sagazes e astutos. E como também eram uns organizadores natos, contribuíram tanto quanto se podia para os melhoramentos técnicos e a segurança dos portos. Assim, em Brindisi, deve-se-lhes a construção de um farol.
OS MISTÉRIOS DO PORTO DE LA ROCHELLE
Um porto parece ter merecido muito especialmente os cuidados da Ordem do Templo: La Rochelle. Por quê? Claro que se tratava de um ancoradouro especialmente bem protegido graças à ilha de Ré e à ilha de Oléron. Entre as duas, um canal que ainda tem o nome que lhe foi dado pelos Templários: o Pertuis d’Antioche.
Mesmo assim, isso não explica por que razão seis grandes estradas templárias terminavam em La Rochelle, e parece bastante louco quando sabemos que se considerava que esse porto apenas servia aos Templários para garantir a exportação dos vinhos de Bordéus para a Inglaterra. Em “Les Mystères Templiers”, Louis Charpentier descreve essas seis estradas templárias:
1. La Rochelle-Saint-Vaast-La Hougue-Barfleur, com estradas adjacentes em direção à costa atlântica e à Bretanha.
2. La Rochelle-baía do Somme, por Le Mans, Dreux, Les Andelys, Gournay, Abbeville.
3. La Rochelle-Ardenas, por Angers, região parisiense, e Haute-Champagne.
4. La Rochelle-Lorraine, por Parthenay, Chatellerault, Preuilly-en-Berry, Gien, Troyes; estrada com um desvio de Preully à floresta de Othe por Cosnes.
5. La Rochelle-Genebra [Suíça], pelo Bas-Poitou, Marca, Mâconnais, com derivação de Saint-Pourçain-sur-Sioule em direção a Châlon e Besançon.
6. La Rochelle-Valence du Rhône, pelo Bas-Angoumois, Brive, Cantal e Puy, com uma estrada de desvio que ligava La Rochelle a Saint-Vallier por Limoges, Issoire e Saint-Étienne.
Além disso, existia uma verdadeira rede de comendas para proteger La Rochelle, e isto num raio de cerca de cento e cinquenta quilômetros. Contavam-se cerca de quarenta comendas de proteção próxima, nas Charentes. A menos de cinquenta quilômetros, encontravam-se Champgillon, Sènes, Sainte-Gemme, Bernay, Le Mung, Port-d’Envaux. Duas dezenas de quilômetros mais além, poderíamos referir Saint-Maixent, La Barre et Clairin, Ensigne, Brêt, Beauvais-surMatha, Aumagne, Cherver, Richemont, Châteaubernard, Angles, Goux, Les Épaux, Villeneuve. Se juntarmos mais trinta quilômetros, encontramos novamente umas boas quinze comendas.
Muito bem! Poderíamos, sem dúvida, pegar numa boa quantidade de locais em França e encontrar, numa distância igual, um conjunto de comendas igualmente bem fornecido, sem que isso nos leve a conjecturas bastante aventureiras. No caso de La Rochelle, teremos, contudo, de acrescentar que os Templários tinham instalado lá, sem motivo aparente, uma casa provincial que tinha preponderância sobre inúmeras outras comendas e estabelecimentos. Está fora de questão atribuir a este porto uma importância qualquer em relação ao Oriente Médio.
Quando muito poderemos pensar que se tratava de uma paragem cômoda numa rota marítima que conduzia de Inglaterra a Espanha e Portugal. Mesmo isto está longe de ser evidente, dado que existem outras soluções que parecem mais cômodas. Com efeito, La Rochelle fica demasiado a sul para que as relações com a Inglaterra sejam muito rápidas e demasiado a norte para as mantidas com Portugal. Jean de La Varende foi, sem dúvida, o primeiro a avançar uma hipótese para tentar explicar a importância do porto aos olhos dos Templários, e escreveu:
“Os bens do Templo eram de PRATA. Os Templários tinham “descoberto” a América do Norte, o México e as suas imensas minas de prata.”
Hipótese louca, certamente, tanto mais que não conseguimos encontrar qualquer prova irrefutável que vá nesse sentido. Todavia, merece ser examinada com um pouco mais de atenção. Por que razão, à primeira vista, esta hipótese parece tanto uma piada? O fato de a América ter sido descoberta, muito mais tarde, por Cristóvão Colombo, e, ainda por cima, por acaso, visto que ele procurava chegar às Índias pelo Ocidente. Certamente, porque esta última afirmação deve ser inserida no capítulo das imposturas da História. Cristóvão Colombo não descobriu coisa nenhuma e, na sua época, havia muito que o continente americano já era visitado regularmente por navegantes europeus.
A [RE]”DESCOBERTA” DAS AMÉRICAS
Sem sequer abordar a história mais ou menos lendária de São Brendan,* basta ir até aos Vikings para encontrar navegadores nórdicos que aportaram as costas americanas. Deram ao continente o nome de «Wineland» e criaram inclusive estabelecimentos ao longo das costas da América do Norte. Não se trata de uma lenda, dado que essas instalações já foram descobertas e examinadas por arqueólogos. *[A propósito de São Brendan, há que referir que São Malo, que o teria acompanhado na sua Viagem, acabou por se refugiar na ilha de Aix, mesmo a sul de La Rochelle.]
Convém lembrar também os Bascos que, havia muito, iam pescar perto da Terra Nova e no estuário do rio São Lourenço, no hoje Canadá. De cada vez, a sua campanha de pesca durava vários meses e tinham instalado no local uma espécie de campos de base onde preparavam o peixe para o conservarem. Para aqueles que ainda não estejam convencidos, citemos os mapas de Piri Reis, muito anteriores a Colombo, encontrados posteriormente e que representavam bastante bem as costas americanas. Simplesmente, aqueles que faziam essas descobertas, como não tinham, ao contrário de Colombo, uma missão a desempenhar, não iam bradá-lo a altos gritos.
Preferiam guardar o segredo e explorar, eventualmente, o lugar, sem ninguém lhes vir fazer concorrência, em vez de sacrificarem tudo pela glória. Para Jacques de Mahieu, é evidente: a Ordem dos Cavaleiros Templários conheciam a existência do continente americano. Iam regularmente ao México e, para tal, embarcavam em La Rochelle. Era essa também a opinião de Louis Charpentier que explicava assim a importância desse porto para a Ordem. Resta-nos, pois, acompanhá-lo para examinarmos, se não as provas, pelo menos os indícios susceptíveis de apoiarem a sua tese. Jacques de Mahieu refere que Motecuhzoma II Xocoyotzin, mais conhecido pelo nome de Montezuma, «o Imperador de barba loira», se dirigiu assim a Hernàn Cortés, depois da conquista do seu país pelos Espanhóis:
“Considero-vos como pais: porque, segundo o que diz o meu pai, que por sua vez ouvira do seu pai, os nossos antecessores, dos quais descendo, não eram naturais desta terra, mas recém-chegados, que vieram com um grande senhor que, pouco depois, regressou ao seu país; longos anos mais tarde voltou para os buscar, mas eles não quiseram mais ir-se embora porque se haviam instalado aqui e já tinham filhos e mulheres e uma grande autoridade neste país. Ele foi-se embora bastante descontente com eles e disse-lhes que mandaria os seus filhos para os governarem e garantir-lhes a paz e a justiça, e as antigas leis e a religião dos seus antepassados. É a razão pela qual sempre vos esperamos e pensamos que aqueles de lá viriam dominar-nos e comandar-nos e penso que sois vós, atendendo ao local de onde vindes.”
A exatidão desta tirada deve ser recebida com reservas. Isso não impede que os invasores espanhóis tenham, inicialmente, sido recebidos de braços abertos. Os indígenas esperavam, efetivamente, o regresso de homens brancos, barbudos, envergando armaduras e montados em cavalos, vindos em navios que se pareciam, mais ou menos, com os dos Espanhóis.
CAVALEIROS TEMPLÁRIOS NAS AMÉRICAS: PROVAS?
Com efeito, afirmações destas podiam referir-se tanto aos Vikings como aos cavaleiros do Templo. Aliás, é o que pensa Jacques de Mahieu. Vê nesse chefe vindo de alhures um Jarl Viking, sem dúvida chamado Ullrnan. Isto tem, de qualquer modo, a vantagem de lembrar que as rotas da América eram mais conhecidas do que nos é ensinado nas nossas escolas. A hipótese viking não impede, aliás, a vinda posterior dos Templários, tanto mais que existe um curioso documento a este respeito: a crônica de Francisco de San Anton Munon Chimalpahin Cuanhtlehnantzin, descendente dos príncipes de Chalco, que abraçou a religião cristã.
Ele escreveu a história do seu povo, um grupo étnico bastante especial: os Monohualcas Teotlixcas Tlacochcalcas que são muitas vezes designados pelo nome genérico de Chalcas. As pessoas desse povo, quando se instalaram no México, vinham do outro lado do Grande Mar, isto é, do oceano Atlântico. Diziam ter navegado em «coquillages» (conchas), palavra que faz lembrar «coques» (cascos), dos navios franceses. Eram «estranhos a este país, enviados de Deus e militares». Eis uma definição que corresponderia bem à dos monges-soldados. A hipótese merece ser examinada. A esses homens davam-se também um outro nome, o de Tecpantlacas. Ora, Tecpan significa templo, palácio.
Teriam, portanto, sido as «pessoas do templo». No entanto, parece espantoso que não tenham conservado a língua dos seus antepassados, a não ser que fossem em pequeno número e se tenham fundido num povo preexistente, tornando-se simplesmente a sua casta dirigente. A denominação intrigante de «pessoas do Templo» pode também querer dizer, simplesmente, que se tratava de um povo muito religioso. O americanista Mufloz Camargo, na sua História de Tlaxcala, considera como certo que esses homens não eram mais do que membros da Ordo Pauperum Commilitonum Christi Templique Salomonici ou, se preferirmos, a Ordem do Templo, os Cavaleiros Templários.
Com efeito, a organização social das elites desse povo parece-lhe corresponder perfeitamente à da hierarquia dos cavaleiros do Templo. A crermos em Chimalpahin, os Templários – se é que foram eles teriam chegado ao México em finais do século XIII, o que não teria podido dar a La Rochelle uma importância considerável durante muito tempo: no máximo, cerca de trinta anos. Ainda segundo as mesmas fontes, os Templários teriam explorado primeiro a região de São Lourenço e a Terra Nova. Tudo isso poderia explicar por que razão os Mexicanos, e sobretudo os Chalcas, esperavam o regresso de homens com barbas que deveriam governá-los, provenientes do outro lado do Grande Mar, onde se levanta o Sol.
Por outro lado, Jacques de Mahieu pensa ter encontrado vestígios da presença dos Templários na América num determinado número de símbolos. Em primeiro lugar, os homens de Pizarro admiraram-se por encontrarem cruzes erguidas no Peru. Mas a cruz é um símbolo tão recorrente em todo o mundo, mesmo fora da religião cristã, apesar de a cruz de braços desiguais não estar muito espalhada. Elemento mais interessante: encontramos no México inúmeras cruzes parecidas com as da Ordem do Templo. Descobrimo-las até no escudo de Quetzalcoatl, em vasos, em peitorais de bronze. Jacques Mahieu descreve também cruzes semelhantes a «cruzes cátaras» (se é que esta expressão tem algum sentido) e refere a presença de «signos de Salomão», no Paraguai.
Tudo isso não chegaria como prova, como acontece com a presença de algumas palavras parecidas com o francês nas línguas pré-colombianas. Para Jacques de Mahieu, não existe a menor dúvida de que os Templários carregavam, no porto de Santos e na baía de Parnaíba, lingotes de prata que lhes teriam permitido cunhar moeda e financiar a construção das catedrais. Ainda segundo o mesmo autor, em troca da prata que deu o nome ao rio de La Plata, os Templários teriam fornecido… conselhos, a sua tecnologia, as suas técnicas. Para Jacques de Mahieu: “Não se trata de uma simples suposição.
Vimos, aliás, que o edifício principal de Tiahuanaco, a que os indígenas chamam Kalasasaya, e que não estava terminado, em 1290, quando da tomada da cidade pelos Araucanos de Kari, era uma igreja cristã, cuja maquete o defunto padre Hector Greslebin pôde elaborar, reproduzindo em gesso, em escala reduzida, as ruínas atuais e os blocos de pedra trabalhada que se encontram a um quilômetro, no que constituía um estaleiro. Ademais, a estátua com dois metros de altura a que os índios chamam El Fraile, «O Frade», é a cópia exata, excetuando o estilo, da de um dos apóstolos do portal gótico de Amiens: o mesmo livro com fecho metálico, na mão esquerda, o mesmo ramo de «cabo» cilíndrico, na direita, as mesmas proporções do rosto.”
Refere também a existência, no mesmo local, de um friso que representa praticamente a Adoração do Cordeiro, tal como a vimos no tímpano da catedral de Amiens. O motivo central corresponde, nos seus mínimos pormenores, à descrição apocalíptica do Cordeiro. As quarenta e oito figuras das três filas superiores representam, com os seus respectivos atributos, os 12 apóstolos, os 12 profetas menores e os 24 anciãos portadores de cítaras e de taças de ouro, tal como São João os descreve.
Na fila inferior veem-se dois anjos a tocar trombeta, instrumento desconhecido na América pré-colombiana. Também encontramos, num escudo mexicano, um coração idêntico ao gravado pelos dignitários templários encerrados nas masmorras do Coudray, em Chinon. Mas isso são provas? Não, apenas indícios ainda insuficientes, mesmo que alguns sejam muito perturbadores. Ao fim e ao cabo, as provas tanto podem ser procuradas no Ocidente como no continente americano.
Alguns lembram, a esse respeito, umas curiosas esculturas que figuram no tímpano da basílica de Santa Madalena, de Vézelay, que data do século XII. Veem-se um homem, uma criança e uma mulher com umas orelhas imensas. O homem traz umas penas que o aproximam dos guerreiros mexicanos e Jacques de Mahieu julga ver, na cabeça, um capacete viking. A mulher tem o tronco nu e uma saia comprida. Tratar-se-ia, pois, da representação de uma família de Incas, com as orelhas distendidas por anéis. Na verdade, essas orelhas desmesuradas estão lá para representar a curiosidade.
Do mesmo modo, se alguns veem no selo secreto do Templo a representação de um índio com um arco, é sem dúvida porque viram mal ou não reconheceram no selo a reprodução gnóstica do abraxas que não parecem ter relação com as Américas. Então, os Templários mandaram representar índios no tímpano de Vézelay? É verdade que, não muito longe dali, em «Island», a sete quilômetros de Avalon, foi trazida à luz do dia uma escultura que representa um homem cujos traços lembram os dos índios. Essa escultura pertencia à capela da comenda templária chamada «Saulce-d’Island». Ademais, é muito semelhante a outras representações existentes na comenda de Salers. Pois bem, cada um que tire as suas conclusões.
A CRUZ TEMPLÁRIA NAS CARAVELAS
O mais interessante é que a herança do Templo milita no sentido de uma presença templária além-atlântica. Com efeito, após o desaparecimento da Ordem, os Templários de Espanha e Portugal integraram-se noutras ordens religiosas, tendo algumas delas sido inclusive criadas para essa circunstância a fim de lhes servirem de refúgio e, em certa medida, lhes darem oportunidade para prosseguirem a sua obra. Um grande número deles encontrou-se, assim, na Ordem de Calatrava, em Espanha.
A criação desta ordem, embora anterior à queda do Templo, não deixa de estar relacionada com ela. Em 1147, o rei de Castela apoderara-se da fortaleza de Calatrava e confiara a sua guarda aos Templários. Estes, porque não dispunham, considerando os outros pontos que mantinham, um número suficiente de homens para afetar à guarda daquele local bastante exposto, tiveram de renunciar a ela. Fora então criada uma ordem especial com essa finalidade sem se saber que, mais tarde, iria recolher os monges-soldados, daí em diante órfãos do Templo. Em Aragão, a mesma finalidade foi atribuída à Ordem de Montesa.
Em Portugal, foi a Ordem dos Cavaleiros de Cristo que desempenhou essencialmente esse papel. Foi criada para esse fim em 1320. Recebeu no seu seio, não só a maior parte dos Templários portugueses mas também muitos dos cavaleiros templários franceses, que tendo escapado à razia de Filipe, o Belo, haviam conseguido chegar à fortaleza templária de Tomar. O reino português foi, para eles, um refúgio perfeitamente seguro. É preciso dizer que Portugal devia muito aos Templários e, sobretudo, a um deles cuja figura se tornara quase lendária. Tratava-se de um prior provincial da Ordem, Gualdim Pais, que comandara a reconquista de Santarém e de Lisboa aos muçulmanos.
Como recompensa, o rei D. Afonso Henriques oferecera à Ordem a vila de Tomar, para que nela fundassem uma fortaleza em redor da qual se havia criado uma dezena de comendas. Também lhes fora dado um porto na costa atlântica, em Serra d’El Rei. Depois da abolição do Templo, Tomar tornou-se sede da Ordem de Cristo e todos os navios templários do Mediterrâneo que não haviam sido capturados vieram refugiar-se no porto da Serra d’El Rei.
Os cavaleiros de Cristo juraram nunca fazerem nada «pública ou secretamente» que fosse de natureza a prejudicar Portugal, o seu rei e a sua família adotaram a mesma regra que os cavaleiros de Calatrava e o hábito que lhes foi dado era idêntico ao do Templo: manto branco e cruz vermelha. Apenas uma pequena cruz branca inscrita no interior da cruz vermelha fazia a diferença. Ademais, os dignitários da Ordem do Templo conservaram a sua posição nas novas estruturas. Antes de partir em busca da rota das Índias pelo Ocidente, Cristóvão Colombo consultou os arquivos da Ordem de Calatrava. Alguns autores acusam-no até de ter ido, pura e simplesmente, a Portugal roubar documentos.
Depois disso, comandou uma expedição, singrando em direção à América à frente de três caravelas que ostentavam, nas suas velas, a cruz da Ordem do Templo. Seria uma maneira de se fazerem reconhecer, ao longe, quando da chegada? De mostrarem «carta branca» a serem bem recebidos? Refiramos, para a pequena história, que, em 1919, uns oficiais americanos compraram o pórtico da capela de Santiago, em Beaune. Mandaram-no desmontar e embarcaram-no para ser instalado no museu de Boston, nos Estados Unidos.
Ora, a capela de Santiago era a antiga igreja da comenda templária de Beaune e os soldados em questão pertenciam à seita secreta dos Cavaleiros de Colombo que pretendiam ter ligações com a antiga Ordem do Templo. Quanto a Salvador de Madariaga, biógrafo de Cristóvão Colombo, pensava que o objetivo secreto da conquista das Américas era encontrar lá metais preciosos suficientes para ter com que subvencionar a reconstrução do Templo de Salomão, em Jerusalém. Os navios portugueses que se lançaram à conquista de terras desconhecidas arvoravam, coincidência perturbadora, o pavilhão da Ordem de Cristo, o dos Templários refugiados. Foi, pois, sob o signo do Templo que se efetuou a epopeia dos grandes descobrimentos de terras.
Era mesmo o pavilhão dos Templários que ornava o navio de Vasco da Gama. É preciso lembrar também o nome que se davam, por vezes, a si mesmos os artesãos companheiros do Dever de Liberdade, descendentes dos «Filhos de Salomão» protegidos pelos Templários. Entre si, tinham o costume de se tratarem por índios e uma das suas canções tradicionais evocava «a Rochelle das Américas para a Jerusalém do Templo». Outra peça a juntar ao processo é a carta de Opicinus de Canestris, datada de 1335-1337. Jeanne Franchet examinou as figuras que nela se encontram.
Distingue-se um ancião barbudo que poderia ser o Grão-Mestre do Templo e que agarra o ábaco, bastão de comando, na mão esquerda. O ancião segura uma pomba na outra mão e pode ler-se, mesmo ao lado, o nome do vale do fim dos tempos: Josaphat. O olho da pomba encontra-se na localização de Chipre, local que se tornara o centro oriental do Templo, depois da perda da Terra Santa. Distingue-se também a imagem do leão britânico, junto do qual aparecem umas letras que lembram Rocela: La Rochelle. Não esqueçamos que Leonor de Aquitânia dera, aos Templários, terras nessa região, quando era rainha de França, e que confirmou essas doações quando foi rainha de Inglaterra. No mapa, podemos também distinguir a inscrição apage indicu. Segundo Jeanne Franchet, temos de ver aí uma alusão a uma viagem longínqua ao país dos índios, tendo apage o significado de longe daqui e querendo indicus dizer índio.
O TRÁFICO DE METAIS PRECIOSOS (PRATA)
Segundo aqueles que pensam que os Templários foram à América, os monges-cavaleiros trouxeram dessas viagens carregamentos completos de metais raros, essencialmente de prata, tão abundante no México. É um fato que os Templários parecem ter possuído quantidades consideráveis de metais preciosos e sem dúvida mais prata do que ouro. Esse metal sempre foi muito raro na Europa. Deveremos pensar que a ordem o obtinha além-Atlântico? Nessa época, a emissão de moeda nova passava muitas vezes por uma menor quantidade de metal precioso na composição das moedas: uma depreciação monetária que correspondia a uma desvalorização camuflada.
Isso devia-se não só a uma falta de liquidez, mas também à raridade dos metais preciosos. Em 1294, em virtude dessa penúria, foi emitida uma ordenação que proibia a exportação da prata e obrigava todas as pessoas que possuíssem baixelas em ouro ou prata a entregarem-nas às oficinas moedeiras do reino de França. Imagina-se facilmente o interesse que os Templários poderiam ter em ir procurar esse metal na América. As moedas de prata em circulação eram ainda mais raras que as de ouro e uma boa parte remontava ao império romano onde haviam sido refundidas a partir de moedas antigas.
Ora, na Europa, não havia qualquer mina de prata em exploração, dado que ainda não eram conhecidas as jazidas mais tarde encontradas na Rússia e na Alemanha. Claro que os Templários exploraram eles próprios algumas minas. Assim, no Razés, a sul de Carcassonne, perto de Rennes-le-Château, mandaram vir trabalhadores alemães para explorarem a mina de ouro de Blanchefort. Com efeito, neste caso preciso, tratava-se talvez menos de explorar os filões já trabalhados pelos Romanos do que de recuperar um depósito de metal precioso que poderia estar escondido na mina. Na verdade, os trabalhadores alemães (discretos, porque não falavam a língua local) eram todos fundidores e não Mineiros.
A extrema raridade da prata é uma certeza no que se refere a este período e, no entanto, durante o lapso de tempo em que existiu o Templo, começaram a circular moedas de prata, sem explicação aparente. Ora, este metal também era bastante raro no Oriente. De onde provinha então? Quem o trazia? Quem o fundia? Quem o comerciava? O que é certo é que os Templários não tinham falta desse metal. No seu regresso da Terra Santa, repatriaram dez cargas de mulas, isto é, cerca de quinhentos quilos. A chave do enigma talvez tenhamos de ir procurá-la mais tarde no tempo: na época de Carlos VII, durante a Guerra dos Cem Anos. E a personagem que possuiu essa chave foi Jacques Coeur.
SEMELHANÇAS ENTRE JACQUES COEUR E OS TEMPLÁRIOS
Jacques Coeur foi, tal como os Templários, um financista, um proprietário de terras, um comerciante, um armador, um exportador, um explorador de Minas de metais preciosos. Tal como eles, foi abatido quando se tornou demasiado poderoso. Começou como mercador em Bourges, no setor das peles e tecidos. Soube comprar peles a preços interessantes, arranjá-las, e revendê-las. Assim, começou a fazer fortuna e pôde adquirir, por adjudicação, o direito de cunhagem das moedas reais na casa da moeda de Bourges.
A sua primeira experiência na matéria teria podido sair-lhe cara porque esteve mais ou menos implicado num caso de fraude. Isso não o impediu, posteriormente, de assumir o controle da casa da moeda da capital, em 1436. Foi também banqueiro e praticou o câmbio de moedas, os empréstimos, etc., tal como os Templários. Tudo isso iria levar Jacques Coeur a moedeiro do rei, mas também comissário real junto dos Estados do Languedoque, junto dos Estados de Auvergne, membro da Comissão real dos tecidos, comissário do rei encarregado da instalação do Parlamento de Toulouse, visitador geral das gabelas, sem falar das inúmeras e importantes missões diplomáticas que lhe foram confiadas. Jacques Coeur interessou-se pelo comércio para o Oriente.
No mês de Maio de 1432, embarcou com a intenção de fazer um estudo de mercado no Oriente. Juntou-se com um mercador narbonês chamado Jean Vidal e embarcou na galera de Narbonne. O trajeto de ida foi bom e Jacques Coeur fez, sem dúvida, negócios, mas, no regresso, o navio afundou-se. Os passageiros foram salvos e capturados por marinheiros de Calvi que acabaram por lhes roubar tudo quanto não tinham perdido no naufrágio. Na época, existiam sistemas de seguros e Jacques Coeur recebeu uma indenização parcial. Experiência não coroada de êxito mas, mesmo assim, rica de ensinamentos para o nosso financista porque, em Damasco, na Síria, avaliara as possibilidades que um comércio bem organizado com o Oriente podia oferecer.
Conseguira aperceber-se de que a venda de têxteis e de peles, nos países do Levante (Oriente Médio), lhe permitiria trazer, no regresso, a seda tecida com fios de ouro, especiarias, etc., e que tudo isso deveria constituir um bom lucro. Então, Jacques Coeur organizou as suas lojas ocidentais e montou a sua «empresa» sob a forma de uma holding que controlava diversas companhias, hierarquizadas, dirigidas com mão de mestre. Periodicamente, fazia concentrações horizontais e verticais destinadas a aumentar a eficácia do seu império comercial e, por vezes, a eliminar a concorrência. Possuía lojas quase em toda a parte, na França, mas, para conseguir organizar o seu comércio internacional, chegou à mesma conclusão que os Templários: precisava de uma frota de navios que fosse apenas sua.
Utilizou, é claro, os portos de Marselha e Collioure, que já tinham servido aos Templários, mas achava que, para se beneficiar de um máximo de vantagens, seria melhor fixar-se num porto menos frequentado, menos importante, mas que poderia vir a sê-lo. Assim, obteria liberalidades e vantagens mais substanciais. Escolheu Montpellier. Este porto o beneficiava de vários pontos positivos: uma jurisdição especial no plano econômico, rápida e eficaz para o comércio, mas também a inestimável autorização para comerciar com os Sarracenos, com a única condição de que não se tratasse de artigos estratégicos como as armas, o ferro e a madeira, de que os infiéis poderiam servir-se contra os cristãos.
O porto da cidade ficava em Lattes. Era um pouco estreito e Jacques Coeur mandou executar obras que permitiram garantir, de forma permanente, um canal com quatro a seis metros de largura e com um metro e vinte e cinco de profundidade. O financista podia, assim, embarcar as suas mercadorias e expedi-las até Aigues-Mortes, onde os seus navios de alto mar esperavam a carga. Encontravam-se lá a galera Saint-Michel, a Notre-Dame-Saint-Denis, a Notre-Dame-Saint-Michel, a Notre-Dame-Saint-Jacques, La Rose, o Navire de France e a Notre-Dame-Sainte-Madeleine.
Estes navios distribuíam-se pelos portos onde Jacques Coeur possuía pontões e, pelos seus nomes, provavam a sua devoção à Virgem. A partir de 1445-1446, conseguiu organizar o seu negócio com o Oriente. Comércio frutuoso e rentável, mas também ocasião para estabelecer verdadeiras relações nos países do Levante, o que levaria a que lhe fossem confiadas missões diplomáticas importantes. No entanto, quando do seu processo, o Oriente viria a ter um grande peso nas acusações. Em primeiro lugar, uma história de um escravo cristão evadido que Jacques Coeur teria devolvido aos infiéis, no âmbito das suas boas relações com eles e, sobretudo, um tráfico de armas com os muçulmanos. O financista não negou verdadeiramente, mas invocou um acordo tácito com Carlos VII e uma dispensa pontifícia.
JAQUES COEUR E O TRÁFICO DE PRATA
A acusação mais grave relacionava-se com a exportação para o Oriente de grandes quantidades de prata, apesar das proibições. Isto era passível da pena capital. O financista dera-se conta de que esse metal ainda era mais raro no Oriente do que no Ocidente e que, ali, obtinha um preço muito mais elevado. Em contrapartida, o ouro era lá relativamente mais abundante do que na Europa. Podiam, portanto, obter-se grandes lucros exportando prata para o Oriente e trazendo ouro em troca para a Europa. Lá, a prata era paga muito mais cara que no Ocidente e o ouro custava apenas metade do preço.
Quando do seu processo judicial, atacado em relação ao problema da exportação da prata, Jacques Coeur procurou defender-se: «Diz que há benefícios em levar prata branca para a Síria, porque vale seis escudos por aqui, e vale sete lá […] diz que mostrará bem que por um marco de prata, fez vir um marco de ouro para o reino.» Só que, para exportar prata, era preciso tê-la. Logo, Jacques Coeur decidiu explorar minas. Adquiriu a concessão de minas de chumbo argentífero em Pampailly, no vale do Brévanne, perto de Lyon, na França. Obteve os direitos de exploração sem dificuldades, porque estavam ao abandono. Jacques Coeur mandou escavar galerias que mergulhavam até uma profundidade de duzentos e cinquenta metros e que, nalguns casos, se estendiam lateralmente durante quinhentos metros.
Mandou reparar tudo, instalou um sistema de ventilação com chaminés e galerias de drenagem para evacuar a água. Deu ao seu pessoal uma espécie de convenção coletiva que organizava o trabalho mas também um determinado número de regalias sociais. Mandou plantar trigo e explorar uma vinha perto das minas para facilitar a subsistência dos mineiros. Certificava-se de que os seus homens eram bem alimentados, bem albergados, bem cuidados e um padre estava encarregado de vir dizer a missa, todos os domingos. Essas minas estavam situadas a cerca de trinta quilômetros de Lyon, mas possuía mais algumas em Saint-Pierre-la-Palud e Chissien, bem como no Beaujolais, em Joux-sur-Tarare. Eis, portanto, a proveniência dessa prata que Jacques Coeur exportava para o Oriente, exceto que… a galena argentífera dessas minas era de um teor em metal muito inferior ao limiar de rentabilidade da época.
E temos absoluta certeza quanto a isso. Com efeito, na sequência do processo de Jacques Coeur, Dauvet foi encarregado de avaliar e fazer uma peritagem aos bens do moedeiro. Homem de uma grande integridade, muito escrupuloso e metódico, Dauvet fez o seu trabalho com uma consciência profissional notável. Dado que ele próprio não era um especialista em minas, não hesitou em mandar vir especialistas alemães para realizarem a peritagem às jazidas que pertenciam a Jacques Coeur. O veredito foi inapelável: a exploração das minas de Jacques Coeur era deficitária e não podia ser de outro modo. Isso era verdade mesmo que se tomasse em conta o tráfico com o Levante porque, ainda por cima, as quantidades produzidas eram extremamente baixas.
No entanto, arriscando, e por pensarem que Jacques Coeur devia lá ter encontrado lucro, de uma forma ou de outra, foi retomada a exploração das minas. Foi uma catástrofe e, em breve, tiveram de interromper-se os trabalhos. As minas de Pampailly eram capazes apenas de fornecer duzentos e dez quilos de prata por ano e estava-se muito longe de cobrir os custos de produção. E então? Há uma enorme distância entre a realidade e os boatos que corriam na época e que faziam dessas minas a fonte mirífica da fortuna do moedeiro, lenda que ele próprio alimentava. Deixava acrescentar inclusive que lhe pertencia «o governo e a administração de todas as minas de ouro e de prata deste reino», quando isso era falso.
Precisava mesmo de explicar a procedência dessas quantidades bastante consideráveis de metal que transitavam nos seus navios. Jacques Coeur tinha muito interesse em que se julgasse que as suas minas eram muito produtivas, a ponto de continuar a explorá-las e a investir nelas, na ausência de qualquer rentabilidade. Quando conhecemos a forma expedita, e sem problemas de consciência, como se livrava das filiais que não apresentavam resultados suficientes, somos mesmo obrigados a duvidar acerca da sua atitude em relação a estas minas.
Podemos perguntar-nos legitimamente se não lhe serviam simplesmente de cobertura para justificar os seus transportes de prata. Mas então, se era esse o caso, de onde vinha então a prata de Jacques Coeur? De onde provinha esse metal de que fazia um comércio tão frutuoso? Da América? Alguns dos seus navios singrariam através do Atlântico, na esteira dos do Templo? Foi para isso que Jacques Coeur construiu edifícios no porto de La Rochelle? Nada permite afirmálo, mas pode sonhar-se.
JAQUES COEUR, os TEMPLÁRIOS e a ALQUIMIA
Em relação a Jacques Coeur, foi formulada uma outra hipótese que permitiria explicar as quantidades de metal que ele manipulou. Trata-se da alquimia, essa arte que permite transformar metais vis em prata e em ouro. Não vamos espraiar-nos no simbolismo alquímico das casas construídas por Jacques Coeur. É incontestável e prova, pelo menos, o interesse que o moedeiro tinha por essa estranha ciência. A propósito de Jacques Coeur, Petrus Borel escrevia, no século XVIII, no seu “Trésor des recherches et antiquités gauloises”: “Muitos pensaram que ele tinha a pedra filosofal e que todos os comércios que tinha no mar, aquelas galeras e as moedas que governava, não eram mais do que pretextos para se esconder, a fim de que não suspeitassem de si, e esse boato foi muito difundido, como assinalou Lacroix du Maine na sua biblioteca.”
Aliás, Jacques Coeur não se limitou a dar um sentido alquímico à decoração dos seus edifícios, também redigiu escritos alquímicos. Um «livro inteiro manuscrito» pela sua mão teria pertencido ao senhor de Rudavel, conselheiro em Montpellier, mas desapareceu e nunca foi encontrado. Falou-se também de uma amizade entre Jacques Coeur e Rámon Llull, que tinha fama de ser alquimista. Infelizmente, o moedeiro nasceu quase um século depois da morte do doutor iluminado. A visita de Jacques Coeur a Damasco, cidade ligada à história dos Rosacruzes e capital dos alquimistas árabes, é mais interessante. Que teria ido procurar ali?
Numa das suas cartas, Jacques Coeur dizia: «Sei bem que a conquista do Santo Graal não pode fazer-se sem mim.» E, na porta central da sua casa, encontramos um vaso alquímico sem gargalo com um coração ornado com uma concha e sobrepujado por uma cruz templária. No caso dos Templários, guardiões do Graal segundo Wolfram, também se falou em alquimia. Roger Bacon faz-nos notar: “O príncipe dos mercadores quis dizer-nos que a sua busca do hermetismo o fizera seguir a via úmida (concha), antes de ser recebido na sociedade fechada (matrás) do Templo (cruz) e que não teria chegado lá de outro modo.”
A cruz dos Templários figura também na chaminé do quarto de Jacques Coeur. Acontece que, depois do seu processo, tendo conseguido evadir-se, Jacques Coeur foi protegido pelo papa. O sumo pontífice confiou-lhe mesmo o encargo – ou quase – de comandar uma cruzada. Na verdade, foram sobretudo a organização e o comando dos navios que lhe foram confiados, dado que o verdadeiro comando ficou nas mãos do arcebispo de Tarragona. O moedeiro não pôde terminar a sua viagem. Parou na ilha de Quios, em 1456, e aí morreu. Tantos pontos comuns entre Jacques Coeur e a Ordem do Templo, sendo sem dúvida o mais importante aquele que mais suscitou a sanha contra estes financeiros geniais, como ocorrerá mais tarde em relação a Nicolas Fouquet.