Segundo a historiografia tradicional, a Queda da Bastilha em 14 de julho de 1789 [há 233 anos] marca o início da Revolução Francesa. Não há dúvida de que o movimento popular em Paris tenha grande significado, porém a Revolução deve ser vista como um processo, onde é necessário analisar toda a situação vigente à época na França, os interesses de classes envolvidos e os interesses dos demais países europeus. A importância da Queda da Bastilha reside no fato de que a partir desse momento a revolução conta com a presença das massas trabalhadoras, deixando de ser apenas um movimento onde deputados julgavam que poderiam eliminar o Antigo Regime apenas fazendo novas leis.
Queda da Bastilha: A doutrina armada e os filhos da Revolução
Por Alex Catharino – Fonte: https://sensoincomum.org/
A Queda da Bastilha, celebrada em 14 de julho na França, é um evento simbólico que traçou os rumos do Ocidente (Europa e Américas) e moldou o mundo (ocidental) em que vivemos atualmente. Cercado de parentes e amigos em seu leito de morte, o pensador e estadista irlandês Edmund Burke (1729-1797), conclamou que a luta contra o que se referia como a “doutrina armada” não fosse abandonada. De acordo com o biógrafo James Prior (1790-1869), a exortação foi proferida com as respectivas sentenças:
“Nunca sucumbam ao inimigo; trata-se de uma luta pela vossa existência como nação; e, se for necessária a morte, morram com a espada à mão; há um notável e ativo princípio de força na mentalidade pública da Inglaterra que apenas precisa de direcionamento adequado para capacitá-la a resistir a esse ou a qualquer outro adversário feroz; perseverem, até que tal tirania termine”.
A expressão “doutrina armada” diz respeito ao tipo de fanatismo político que atualmente chamamos de ideologia. Em pleno século XVIII, o pensador e estadista irlandês reconheceu que visões utópicas oriundas de raciocínios abstratos, tal como propostas por diferentes concepções ideológicas, não devem ser confundidas com os princípios morais, políticos e econômicos fundados nas normas da Lei Natural, apreendidos pelas experiências históricas concretas ou desveladas pela reta razão. Mantendo-se na mesma trilha do pensamento burkeano, no livro The Politics of Prudence [A Política da Prudência], o historiador e literato norte-americano Russell Kirk distinguiu as duas posturas ao afirmar que:
“‘A política é a arte do possível’, diz o conservador: ele pensa nas políticas de Estado como as que intentam preservar a ordem, a justiça e a liberdade. O ideólogo, ao contrário, pensa na política como um instrumento revolucionário para “transformar a sociedade e até mesmo a natureza humana. Em sua marcha para a utopia, o ideólogo é impiedoso”.
Tal como expresso por Eric Voegelin (1901-1985), “a IDEOLOGIA é uma existência em rebelião contra Deus e o homem. É a violação do primeiro e do décimo mandamentos”. Em nosso livro Russell Kirk – O Peregrino na Terra Desolada, tentamos diagnosticar a doença espiritual de nossa época com as respectivas palavras:
“A mazela que afeta os adolescentes perpétuos de nossa ‘Civilização do Espetáculo’ criou gerações de criaturas que temem encontrar a Verdade e não reconhecem, deliberadamente ou por ignorância, a existência do Bem e do Belo, preferindo a ilusão confortante oferecida tanto pelas falsas promessas de ideólogos ou demagogos quanto pelos ilusórios confortos medíocres. Entorpecidos pelo ópio da ideologia ou embriagados pelo absinto do hedonismo relativista, os homens (e mulheres) ocos de nossa época são netos da ‘Idade da Razão’ e filhos da ‘Era da Informação’. Fundado nas percepções reducionistas da ideologia do cientificismo, durante a Idade da Razão houve um gradativo processo de substituição do ideal de sabedoria proposto pela Filosofia Clássica por um tipo de conhecimento prático que deu ensejo para que esse mesmo saber utilitário, posteriormente, fosse subjugado pela informação, que veio a se tornar o instrumento de dominação dos manipuladores e o entretenimento dos manipulados. Na Era da Informação a promessa de aproximar as pessoas por meio das novas tecnologias, paradoxalmente, está afastando os seres humanos ao criar o novo vício de indivíduos conectados ao mundo virtual, mas desconectados da realidade.
Nesta terra desolada, em que a mente dos homens (e mulheres) ocos é inebriada por ideologias ou pelo relativismo, não há possibilidade de compromisso intelectual com a Verdade, apenas com a opinião da maioria; aí a informação pode ser apropriada e manipulada como melhor aprouver aos desejos subjetivos. Nesse contexto, a moralidade perde qualquer relação com os absolutos morais, com as noções de certo e errado cuja aplicação passa a ser uma mera questão de preferência e de escolhas individuais; a linguagem perde o sentido, transforma-se na ‘novafala’ do politicamente correto, em que palavras passam a significar o que deseja o arbítrio de quem as profere, fazendo com que os debates sobre qualquer temática não mais se submetam à razão e aos fatos objetivos, que são substituídos por opiniões subjetivas expressas em jargões; e, também, a lógica argumentativa, na maioria das vezes, cede espaço às ofensas pessoais e ao sentimentalismo. Nessas circunstâncias, vemos desvencilhados, na produção artística, os padrões estéticos objetivos da ‘grande arte’, acusados de elitismo, são substituídos por critérios subjetivos, justificados ideologicamente pela nova classe dos críticos de arte ou pelas demandas mercadológicas das massas, muitas delas criadas artificialmente. Guiado pelo reformismo pedagógico, o propósito da educação deixa de ser a busca pelo autoconhecimento e pelo entendimento do sentido das coisas, essenciais ao ordenamento da alma e da comunidade política, e passa a assumir, confusamente, um caráter ideológico de adestramento voltado à promoção pessoal, treinamento técnico, sociabilidade, socialização, certificação profissional e interesses dos políticos governantes. Igualmente, os bons costumes aprendidos no exercício disciplinado das virtudes, sustentadas pelo senso religioso e pelo espírito de cavalheirismo, nutridos pela imaginação moral e pela educação liberal, são descartados como moda ultrapassada e dão lugar ao barbarismo. O necessário equilíbrio político entre direitos e deveres bem como a meritocracia são substituídos pela ideologia do democratismo, que transforma a comunidade de cidadãos num aglomerado massificado de indivíduos apáticos, preocupada, apenas, com as mesquinhas vantagens da barganha com o Estado, transformado num poder onipotente, controlado por políticos corruptos e inescrupulosos e pela burocracia opressora, que passa a regular todos os aspectos da vida social”.
Acompanhando essa mesma linha de raciocínio, podemos afirmar que, sem dúvida, a Revolução Francesa foi um marco divisor no processo relatado, sendo o evento histórico mais superestimado nos aspectos positivos e mais subestimado nos efeitos negativos. Na tarde de 14 de julho de 1789, uma multidão entre seiscentos e dez mil insurgentes liderada por Pierre-Augustin Hulin (1758-1841), um antigo sargento da Guarda Suíça e futuro general do exército de Napoleão Bonaparte (1769-1821), tomou a Bastilha. A velha prisão abrigara no passado alguns presos políticos, sendo vista como um símbolo das arbitrariedades praticadas na França durante o Antigo Regime.
No entanto, durante esse acontecimento o local mantinha apenas sete presos, que foram libertados como heróis nacionais. O mais famoso dentre os cativos era o escritor libertino Donatien Alphonse François de Sade (1740-1814), o Marquês de Sade. Contudo, a despeito de ser uma figura muitas vezes pouco analisada pelos críticos do pensamento esquerdista, de nossa parte acreditamos que o aristocrata libertino francês deva ser tomado, ao lado de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), como um dos principais ícones do tipo de imaginário corrompido que prevalece em nossa época.
O pensamento rousseauniano é a expressão arquetípica do tipo de mentalidade igualitária, sentimentalista, anárquica e utópica denominada por Irving Babbitt (1865-1933) de “imaginação idílica”. Esta é uma forma corrompida de imaginação por ser caracterizada como um impulso pérfido para romper com as tradições e para substituir a obrigação moral pelo culto de um egoísmo temerário, fundado paradoxalmente em ideais coletivistas.
No livro Democracy and Leadership [Democracia e Liderança], lançado originalmente em 1924, o crítico literário norte-americano expressa que sua preocupação “é com a relação desse tipo de imaginação com o moderno idealismo político”, pois “o agitador apela principalmente a ela quando instiga a multidão com suas imagens da felicidade que deverá sobrevir depois da destruição da ordem social vigente” (um grande apelo de todos os partidos de esquerda e de seus membros).
Nas conferências Page-Barbour, ministradas na University of Virgina em Charlottesville no ano de 1933 e publicadas no início de 1934 no livro After Strange Gods: A Primer of Modern Heresy [Em Busca de Deuses Estranhos: Uma Cartilha das Heresias Modernas], o poeta, dramaturgo e ensaísta T. S. Eliot (1888-1965) encontra na obra de diversos literários modernos a presença de um tipo de imaginário decaído que se deleita no perverso e no sub-humano.
Na biografia intelectual Eliot and His Age: T. S. Eliot’s Moral Imagination in the Twentieth Century [A Era de T. S. Eliot: A Imaginação Moral do Século XX], denominou esse tipo de mentalidade de “imaginação diabólica”. Essa forma de imaginário corrompido se caracteriza pela perda do conceito de pecado e pela adoção de uma concepção voluntarista de natureza humana infinitamente maleável e mutável (e muito permissiva), que se expressa na moralidade pluralista e na mentalidade relativista do multiculturalismo de nossa época, ao entender as morais como valores atinentes às preferências individuais subjetivas ou à transitoriedade dos diferentes contextos culturais, defendendo, assim, a abolição de qualquer norma objetiva.
Os escritos filosóficos de Jean-Jacques Rousseau, apresentam, assim a matriz da imaginação idílica que se manifestaria posteriormente nos escritos de todos os autores progressistas de diferentes matizes, dentre os quais podemos citar como exemplos os nomes de:
- Thomas Paine (1737-1809),
- Jeremy Bentham (1748-1832),
- Mary Wollstonecraft (1759-1797),
- Johann Gottlieb Fichte (1762-1814),
- Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831),
- Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865),
- John Stuart Mill (1806-1873), Karl Marx (1818-1883),
- John Dewey (1859-1952),
- Maria Montessori (1870-1952),
- Herbert Marcuse (1898-1979),
- Jean-Paul Sartre (1905-1980),
- Ayn Rand (1905-1982),
- Louis Althusser (1918-1990),
- Murray N. Rothbard (1926-1996),
- Paulo Freire (1921-1997),
- John Rawls (1921-2002),
- Jacques Derrida (1930-2004) e
- Richard Rorty (1931-2007).
Por outro lado, as obras literárias do Marquês de Sade foram permeadas pela imaginação diabólica, que em diferentes graus esteve presente nos escritos de Charles Baudelaire (1821-1867) e de D. H. Lawrence (1885-1930), dentre outros, predominando, também, na maior parte da ficção popular de nossos dias, bem como em algumas produções televisivas e cinematográficas.
Nos romances do Marquês de Sade vemos ênfase na moralidade invertida de homens que sentem prazer na dor de seus semelhantes, principalmente mulheres e crianças (de seu nome deriva o termo SADISMO). Os escritos do autor são marcados pelo ateísmo e enfatizam a atuação perversa de nobres devassos que, muitas vezes, na busca do prazer desenfreado seduzem ou estupram mulheres e crianças raptadas, em narrativas que enaltecem práticas violentas ou grotescas como as mutilações corporais, a sodomia, a coprofagia (PRÁTICA DA INGESTÃO DE FEZES) e os assassinatos.
Um dos autores mais influentes no pensamento esquerdista de nossa geração é o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984), que, de acordo com o biógrafo Didier Eribon, leu as obras do Marquês de Sade com prazer e proclamou “em alto e bom som seu desprezo pelos que não são adeptos das ideias do marquês”. Em uma entrevista publicada originalmente em 1984, o filósofo pós-moderno francês defendeu que por intermédio de Sade “o mundo ocidental recolheu a possibilidade de ultrapassar na violência sua razão de reencontrar a experiência trágica além das promessas da dialética”.
Sustentado no ideal de libertinagem presente nos escritos do Marquês de Sade, no materialismo histórico de Karl Marx, no niilismo de Friedrich Nietzsche (1844-1900) e na psicanálise de Sigmund Freud (1856-1939), o pensamento foucaultiano propõe um novo triunfo da loucura sobre o mundo da normalidade.
A vitória da insanidade e a destruição dos costumes civilizatórios tradicionais, foram sustentados durante gerações pelo espírito religioso e pelo sentimento de cavalheirismo, foi uma tragédia prevista em 1790 por Edmund Burke, que descreveu de modo profético e dramático as consequências da atuação dos revolucionários na seguinte passagem do livro Reflections on the French Revolution [Reflexões sobre a Revolução em França]:
“Agora, no entanto, tudo está para mudar. Todas as ilusões agradáveis que tornaram o poder moderado e a obediência generosa, que harmonizavam os diferentes matizes da vida e que por assimilação suave incorporaram na política sentimentos que embelezam e amenizam a sociedade privada estão para ser suprimidos por esse novo império conquistador de luz e razão. Toda a roupagem decente da vida está para ser rudemente arrancada. Todas as ideias ajuntadas, oferecidas no guarda-roupa de uma imaginação moral que o coração possui e o entendimento ratifica como necessária para esconder os defeitos de nossa natureza árida e corrompida e para erguê-la à dignidade de nossa estima, estão para ser rebentadas como uma moda ridícula, absurda e antiquada”.
O aristocrata austríaco e pensador católico Erik von Kuehnelt-Leddihn (1909-1999), no livro Leftism: From de Sade and Marx to Hitler and Marcuse [Esquerdismo: De Sade e Marx a Hitler e Marcuse], descreveu o trágico percurso intelectual do pensamento esquerdista, que, originário no racionalismo dos iluministas franceses e no igualitarismo romântico de Jean-Jacques Rousseau, é a causa das principais mazelas de nossas sociedades ocidentais, desde a época do Marquês de Sade até os nossos dias.
Além do famoso escritor libertino francês, as biografias de mais dois prisioneiros da Bastilha são relativamente conhecidas. Um deles foi Hubert de Solages (1746-1825), o Conde de Solages, libertino acusado e condenado pelo crime de incesto, mas poupado misericordiosamente da pena capital. O outro era Anne-Gédéon de La Fitte de Pelleport (1754-1807), um militar libertino e aventureiro, que fora preso por deserção e por inadimplência, mas que após a libertação acabou servindo ao regime revolucionário como diplomata, espião e burocrata. Por fim, os quatro cativos restantes eram apenas falsários internacionais notórios. A “imaginação idílica” dos revolucionários franceses, de fato, libertou a “imaginação diabólica”.
Formada em sua maioria por veteranos imbuídos com os ideais humanitários do iluminismo, a guarnição de cento e quatorze guardas do Regimento dos Inválidos decidiu não atirar contra a população civil que atacava a fortaleza. Tal atitude complacente dos militares foi recompensada pela turba enfurecida com o extermínio de quase todos os soldados, incluindo o governador da prisão, Bernard-René Jourdan (1740-1789), o Marquês de Launay, que, assim como os seus comandados, teve a cabeça decepada e fincada em um bastão, sendo utilizadas como estandartes na procissão triunfal feita pelos revolucionários nas ruas de Paris.
O edifício da Bastilha foi demolido em um único dia e as pedras da construção foram espalhadas ao redor do mundo como símbolo do “novo período democrático de liberdade, igualdade e fraternidade”, que, guiado pela razão (com ausência total do Coração), fora inaugurado com esse “glorioso” acontecimento.
O evento entrou para a história como a Queda da Bastilha ou Tomada da Bastilha, marcando o início da Revolução Francesa. As consequências nefastas desse acontecimento histórico devem ser melhor compreendidas por todos que desejam preservar os princípios de Ordem, Liberdade e Justiça. Além da paradigmática obra supracitada de Edmund Burke, recomendamos a leitura, dentre outras, das clássicas:
- Considérations sur les principaux événemens de la Révolution française [Considerações sobre os Principais Eventos da Revolução Francesa] de Anne-Louise Germaine Necker de Staël-Holstein (1766-1817), a Madame de Staël,
- Histoire de la civilisation en France [História da Civilização em França] de François Guizot (1787-1874),
- Histoire de la Révolution française [História da Revolução Francesa] de Jules Michelet (1798-1874),
- L’Ancien Régime et la Révolution [O Antigo Regime e a Revolução] de Alexis de Tocqueville (1805-1859), e
- Origines de la France contemporaine [Origens da França Contemporânea] de Hippolyte Taine (1828-1893).
Dentre os estudos mais recentes disponíveis em português sugerimos os livros:
- Penser la Révolution française [Pensando a Revolução Francesa] François Furet (1927-1997),
- Les révolutions de France et d’Amérique: De la violence à la sagesse [As Revoluções da França e da América: A Violência e a Sabedoria] de Georges Gusdorf (1912-2000) e
- O Brasil e a Revolução Francesa de João de Scantimburgo (1915-2013), bem como
- The Cultural Origins of French Revolution[As origens Culturais da Revolução Francesa] de Roger Chartier,
Nosso ex-professor em um seminário durante o período em que na década de 1990 cursávamos a Faculdade de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Pintada em óleo sobre tela no ano de 1789, por Jean-Pierre Houël (1735-1813), a obra Prise de la Bastille, a imagem que ilustra o presente artigo, é uma das muitas representações desse acontecimento histórico elaborada por artistas franceses do período. As diversas pinturas desse acontecimento guardam um elemento marcante em comum entre si, que é a figuração da violência da “massa revolucionária”, retratada em meio à fumaça. Convém lembrar aqui as fotografias e vídeos dos protestos de 2014, analisados de modo detalhado por nosso amigo Flavio Morgenstern no livro Por Trás da Máscara: Do Passe Livre aos Black Blocks, as Manifestações que Tomaram as Ruas do Brasil. As similitudes entre as imagens não são meras coincidências.
As causas e os desdobramentos dos fatos históricos podem ser diferentes, mas o espírito é o mesmo, sendo descrito com propriedade e brilhantismo em 1929 pelo filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955) no livro La rebelión de las masas [A Rebelião das Massas]. De acordo com a perspectiva orteguiana, o perigo de orientarmos a ação política por uma nova forma de jacobinismo existe, e não é característica exclusiva da mentalidade esquerdista.
Em nossos dias, entretanto, acreditamos que há um risco grande dos defensores da liberdade na luta contra o agigantamento dos poderes estatais ou contra a corrupção serem tragados, a exemplo dos esquerdistas, pelo mesmo espírito jacobino do democratismo, oriundo da Revolução Francesa, que o fator responsável por alguns militantes esquerdistas agirem como massa de manobra de uma causa que, no geral, não compreendem muito bem, mas seguem como parte de um rebanho acrítico.
No caso da política norte-americana o problema foi analisado por nosso amigo Claes Ryn, renomado autor conservador e professor da Catholic University of America (CUA), na trilogia formada pelos livros Democracy and the Ethical Life: A Philosophy of Politics and Community [Democracia e a Vida Ética: Uma Filosofia da Política], The New Jacobinism: America as Revolutionary State [O Novo Jacobinismo: Os Estados Unidos como Estado Revolucionário] e America the Virtuous: The Crisis of Democracy and the Quest for Empire [Estados Unidos o Virtuoso: A Crise da Democracia e a Busca pelo Império].
Animados por novo modo de jacobinismo, alguns grupos do chamado conservadorismo popular nos Estados Unidos se tornam presas de alguns formadores de opinião que pontificam nos meios de comunicação, bem como passam a depositar as esperanças em políticos demagógicos [meros marionetes e fantoches], acreditando que os problemas da sociedade poderão ser resolvidos pela mera pressão de movimentos organizados, fora das instituições representativas. O problema já havia sido apontado no final da década de 1980 por Russell Kirk em alguns ensaios incluídos na já citada obra A Política da Prudência.
Os movimentos democráticos que ocuparam as ruas do Brasil na luta contra a corrupção do governo de plantão são legítimos e cumpriram importante papel em nossa sociedade. No entanto, as reflexões de Edmund Burke, de José Ortega y Gasset, de Russell Kirk e de Claes Ryn devem servir como advertência para os líderes desses grupos para que não assumam, de algum modo, as práticas do democratismo revolucionário dos esquerdistas.
A trilha correta a ser seguida para que não se tornem filhos da revolução, defendendo uma outra “doutrina armada”, passa pela adoção de princípios morais, políticos e econômicos fundados nas normas da Lei Natural, apreendidos pelas experiências históricas concretas ou desveladas pela reta razão.
Se não entendermos os erros do passado, corremos o risco de repeti-los (AD NAUSEAM). Porém, como já dito por inúmeros autores, da primeira vez é tragédia, mas da segunda é farsa. Os desfechos trágicos da revolução iniciada em 14 de julho de 1789 e as análises de eminentes pensadores acerca desse fato histórico ainda guardam um pouco de sabedoria para o atual contexto de nosso país.
“A exposição à verdade muda a tua vida, ponto final – seja essa verdade uma revelação sobre a honestidade e integridade pessoal ou se for uma revelação divina que reestrutura o teu lugar no Universo. Por esse motivo é que a maioria (a massa ignorante do Pão e Circo) das pessoas foge da verdade, em vez de se aproximar dela”. {Caroline Myss}
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