O presidente indonésio Prabowo Subianto foi o convidado de honra de Putin durante o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, em meados de junho. O privilégio que lhe foi concedido por Putin não foi surpreendente, visto que os laços bilaterais Rússia/Indonésia se fortaleceram significativamente desde o ano passado, como documentado aqui em janeiro. 

Fonte: De autoria de Andrew Korybko via Substack

A Rússia prevê que a Indonésia desempenhe um papel fundamental em seu equilíbrio na Ásia, papel que só se fortalecerá após o recém-assinado acordo de parceria estratégica. O presente artigo detalhará algumas das formas como isso acontecerá.

Para começar, a Rússia ajudou a Indonésia a concluir sua adesão acelerada ao BRICS como membro de pleno direito, algo pelo qual Prabowo agradeceu a Putin  durante o encontro e em declarações à imprensa posteriormente. 

Na noite anterior, Putin disse aos chefes de agências de notícias internacionais, durante seu encontro com eles, que os quase 300 milhões de habitantes da Indonésia permitem que ela desempenhe um papel maior na economia global, com a insinuação de que isso a levará também a desempenhar um papel maior na governança global.

É aqui que entra em jogo a relevância da adesão da Indonésia ao BRICS, com o apoio da Rússia. Embora a cooperação dentro do BRICS seja puramente  voluntária, o grupo BRICS ainda pode contribuir coletivamente para acelerar os processos de multipolaridade financeira e, posteriormente, para reformas graduais na governança global. Assim, dado o crescente peso econômico e político da Indonésia no mundo, aliado aos seus laços tradicionalmente amigáveis, a Rússia espera que eles possam cooperar mais estreitamente para esse fim.

Na busca por esse objetivo, considerado a força motriz por trás de sua parceria estratégica, ambos os países priorizam a expansão abrangente de seus laços econômicos, políticos e militares. Da perspectiva da Rússia, a dimensão econômica pode abrir novos mercados para todos os tipos de energia e exportações do setor imobiliário; laços mais estreitos com a Indonésia, líder de fato da ASEAN, podem dar à Rússia uma presença mais forte no bloco; e uma maior cooperação técnico-militar pode fortalecer o equilíbrio da Indonésia.

A propósito, a Indonésia se alinha entre potências rivais, assim como a Índia, e uma cooperação técnico-militar mais estreita com a Rússia poderia ajudá-la a evitar o crescente dilema de soma zero entre se comprometer com a China ou os EUA. 

Afinal, uma cooperação mais estreita com qualquer um deles poderia desestabilizar o outro e aumentar a pressão sobre a Indonésia, mas a China provavelmente não se importaria que seu parceiro estratégico russo fornecesse armas à Indonésia, enquanto os EUA podem não reagir exageradamente a isso se a sua incipiente reaproximação continuar no caminho certo.

Quanto ao ato de equilíbrio da Rússia na Ásia, ele visa evitar preventivamente a dependência desproporcional da China, algumas das consequências da melhora dos laços problemáticos entre a Índia e os EUA, e a possibilidade de se ver presa em um dilema de soma zero para se comprometer com um ou outro.

Laços econômicos mais estreitos com a Indonésia, portanto, ajudam a Rússia a se proteger contra a dependência comercial da China; laços técnico-militares mais estreitos podem substituir parcialmente  a queda da participação de mercado na Índia; e laços políticos mais estreitos com a ASEAN podem dar à Rússia mais flexibilidade em meio à rivalidade sino-indo-americana.

No geral, Rússia e Indonésia desempenham papéis complementares no equilíbrio mútuo, servindo cada uma como uma espécie de válvula de escape contra a pressão de se comprometerem com as relações China-Índia e China-EUA, respectivamente. 

A estreita cooperação estratégica da era soviética, antes do golpe do general Suharto em meados da década de 1960, serve como uma referência nostálgica para o nível de relações que seus líderes contemporâneos anseiam por reavivar. Agora é o momento perfeito para isso e, como não há impedimentos, o futuro de seus laços parece ser muito promissor.