Capela de Rosslyn, um ‘Santuário Templário’ na Escócia, em cada pedra há um enigma

A Capela Rosslyn foi fundada em 1446 por Sir William St Clair. A beleza de seu cenário, na zona rural de Midlothian, e o misterioso simbolismo de suas pedras ornamentais inspiraram, atraíram e intrigaram escritores, ocultistas, artistas, místicos, esotéricos e visitantes desde então. A capela esta situada a apenas 11 km ao sul do centro de Edimburgo e perto da fronteira escocesa. Desde o final dos anos 1980, a capela tem sido objeto de teorias especulativas a respeito de uma conexão com os Cavaleiros Templários e o Santo GraalTem um papel de destaque neste papel no romance best-seller de Dan Brown , O Código Da Vinci (2003) e sua adaptação para o cinema de 2006 .Tradução, edição e imagens:  Thoth3126@protonmail.ch

Capela de Rosslyn, um Santuário Templário na Escócia, em cada pedra há um enigma

Fonte:  Público.Pt

Há muito cortejada pelos místicos, esotéricos e ocultistas, a Capela de Rosslyn converteu-se num dos principais santuários turísticos escoceses graças ao livro Código Da Vinci de Dan Brown. Quase tudo o que circula a seu respeito é “pura fantasia”, mas é mesmo verdade que na pequena capela ao sul de Edimburgo “emana uma atmosfera” muito especial.

Rosslyn é uma das igrejas esculpidas em pedra mais preciosas da Idade Média. Os seus interiores são decorados por toda uma galeria de figuras enigmáticas, sem óbvia conotação católica, uma iconografia rara e nalguns casos nunca vista noutros templos da mesma época. Daí os rios de tinta esotérica que especulam sobre a sua eventual ligação com os Templários, a Maçonaria ou o Santo Graal. Era, porém, um sítio mais frequentado por místicos, poetas, esotéricos, ocultistas e românticos, até ter chamada a atenção à existência pelo livro o Código Da Vinci e se converter num lugar de peregrinação de um grande número de visitantes do mundo inteiro. Hoje a capela rivaliza com Loch Ness no topo dos mistérios mais populares da Escócia.

best-seller de Dan Brown foi publicado em 2003 e cenas da adaptação cinematográfica com Tom Hanks foram aqui rodadas durante uma semana. Antes Rosslyn recebia uns 30 mil visitantes ao ano, depois de sua popularização passaram a ser 120 mil, tanto que teve de sofrer uma intervenção de um milhão de euros, incluindo o restauro e um novo centro de interpretação. Mesmo assim, apesar das multidões e das restrições nas visitas, o local continua a exalar uma aura extraordinária, que se torna mais acentuada quando se conjuga com a visita das ruínas do vizinho castelo de Roslin.

A cripta “secreta”

“Existe em Rosslyn Chapel uma capela que contém um texto com centenas de blocos de pedras salientes. Cada bloco é esculpido com um símbolo, aparentemente sem uma ordem, mas criando um código, que os criptógrafos modernos nunca conseguiram decifrar. Mais recentemente ultra-sons geológicos revelaram a presença de um enorme subterrâneo abobadado, escondido por baixo da capela. Essa cave parece não ter entrada nem saída. Até hoje os curadores da capela não permitiram escavações no local”.

A citação vem da rubrica Fatos Bizarros do Código Da Vinci, integrada no site oficial de Dan Brown. A existência de uma cripta em Rosslyn veio a confirmar-se um par de anos mais tarde, quando a capela foi fotografada em pormenor com tecnologia scanner 3D, mas também já se sabia que no canto sul da igreja havia uma porta que lá ia dar, entretanto fechada há séculos. Já a presunção de um código gravado na pedra, mais essa outra tese sugerida no Código Da Vinci – segundo a qual o nome Rosslyn declina Linha Rosa, pretenso meridiano de Paris, que supostamente também passa às portas de Edimburgo – são pura ficção.

Dan Brown terá, no entanto, inventado muito pouco, limitando-se a retomar no seu romance o perfume místico, decantado por uma profusa literatura esotérica sobre Rosslyn Chapel desde meados dos anos 1950. De resto, a extraordinária beleza da capela, os seus mistérios, uma vasta área de floresta à beira do canal Roslin, onde também se integram um castelo e um cemitério arruinados, há séculos que inspiram admiração e versos apaixonados, incluindo de autores tão marcantes da língua inglesa quanto Robert Burns, William Wordsworth e Sir Walter Scott (que chegou a viver ali mesmo ao lado).

Rosslyn foi, na verdade, a terceira capela edificada na propriedade da família Sinclair, descendente de cavaleiros normandos. Havia a capela do castelo, a do cemitério e finalmente esta fundada por William, Príncipe de Orkney, que a projetou como parte de uma igreja mais ampla de planta em cruz, chamada Collegiate Church of St Matthew The Apostle. As igrejas colegiais eram uma moda na época – só na Escócia havia umas 40 – e consistiam em ter um colégio de padres e meninos de coro, incumbidos de diariamente sagrarem missa e rezarem pelas almas dos proprietários e seus familiares (que nessa medida se consideravam melhor colocados para subirem aos céus).

Interior da Capela Rosslyn, à direita o Pilar do Aprendiz – (crédito da foto Capela Rosslyn)

Os trabalhos devem ter se iniciado por volta de 1456, mas Sir William faleceu entretanto e o filho não quis ou não pôde desenvolver a igreja, limitando-se a mandar colocar um telhado sobre a capela do coro, onde o pai foi enterrado. Daí a exiguidade do templo de 20 metros de comprimento, dez de largura e doze de altura. A Reforma da Igreja Escocesa obrigou à destruição do altares e das figuras de santos católicos, em 1560, e obviamente ao encerramento da capela como lugar de culto público. Desde aí Rosslyn escapou mais ou menos intacta aos ventos da história, sendo inclusive renovada – altar novo, vitrais, substituição de pedras quebradas) e reaberta em 1861 pela Igreja Escocesa Episcopal, que nela continua hoje a celebrar culto, apesar da crescente pressão turística.

Quebra-cabeças medievais

Rosslyn pode ser pequena, mas dá pano para mangas. Para onde quer que o visitante se volte descobre esculturas fantásticas e enigmas escritos nas suas pedras. Uma das atrações maiores é o supracitado conjunto de 213 caixas que se destacam de arcos e pilares, cada um esculpido com o seu próprio padrão. A teoria avançada por Dan Brown segundo a qual se trata de um puzzle ainda por decifrar parece muito rebuscada. Já a equipe formada por Thomas e Stuart Mitchell, pai e filho, investigou a semelhança deste conjunto escultórico com os padrões produzidos por corpos em vibração, mais conhecidos por ondas Chladni. E assim produziram uma melodia chamada Rosslyn Motet. É engenhoso, mas também pouco convincente: porque raio haviam os arquitetos medievais de gravar essa ou, na verdade, qualquer outra melodia na pedra?


Todos os que visitam a Capela Rosslyn ficam perplexos com a complexidade e os detalhes das esculturas feitas em suas pedras. Portanto, não é surpresa que tenha intrigado um músico de 75 anos e seu filho, um ex-codificador.  Os dois visitaram a capela e imediatamente souberam que havia algo mais na geometria única de toda a construção.   Então, eles passaram 27 anos tentando decifrar o código.

E, eventualmente, eles tiveram uma descoberta. Eles viram anjos tocando instrumentos e 213 esculturas geométricas em cubos acompanhando-os nos arcos. E para sua surpresa, eles encontraram os padrões geométricos nos cubos correlacionados a um tom Chladni , que são os padrões que a areia e o líquido produzem em uma superfície plana quando certos tons musicais são tocados. Ao olhar para essas notas e um anjo que aponta para uma pauta musical para a chave, eles conseguiram entender a arquitetura como uma partitura musical gigante.


Também a peça mais famosa da capela é um quebra-cabeças. Trata-se do Pilar do Aprendiz, um dos três que se erguem na sua ponta oriental (são 14 no total). Cada um desses três pilares recebeu o nome de um grau do progresso maçônico, algures no século XVIII, mas há qualquer coisa que não bate certo quando o pilar mais artisticamente elaborado não é o do Mestre mas o do Aprendiz.

A lenda reza que o pedreiro encarreguado de executar o pilar achou o desenho de tal modo complicado que primeiro quis ir a Roma ver o original, tempo entretanto aproveitado pelo aprendiz para realizar a obra. Resultou numa obra-prima, o que deixou o mestre cheio de inveja, levando-o a dar o castigo máximo ao aprendiz, cuja cabeça rachou ao meio.

É o tipo de conto que faz sorrir meio mundo, mas: 1 – o enredo não era original e conheceu muitas variações entre a malta da construção do século XVIII; 2 – o próprio pilar exibe um apuro artístico realmente só ao alcance de um mestre-pedreiro. Mais pacífica é a teoria segundo a qual o Pilar do Aprendiz é uma declinação do mito norueguês de Yggdrasil, a “Árvore do Conhecimento”, tal como ela sustentado por um colar de dragões, de cujas bocas saem os ramos que se vão entrelaçando em torno da coluna. Esta semelhança parece também reforçada pela ligação dos Sinclair a Orkney e aos antecedentes noruegueses [vikings] desta ilha escocesa.

Exterior de Rosslyn Chapel, na parte de trás.

Muito discutidas também são as esculturas de plantas, que foram identificadas com milho e aloé vera, apesar de desconhecidas na Europa na altura da construção da capela. Daí foi um passo até se conjecturar que essas representações vegetais eram uma prova de que os escoceses, em particular Henry Sinclair I, avô de William, teria estado secretamente do outro lado do Atlântico [junto com os Templários, para extrair prata no México] muito antes de Colombo lá chegar. Os especialistas consideram, porém, que estas esculturas são demasiado estilizadas para justificarem conclusões tão inusitadas. Mais provável é tratar-se de representações grosseiras ou descaracterizadas pelo tempo de plantas bem mais familiares.

Há ainda a coleção de mais de uma centena de Homens Verdes (cabeças de homens envolvidas por folhagem), iconografia que se sabe ter uma raiz pré-cristã e também se encontra noutras igrejas medievais, nomeadamente na Catedral de Glasgow. Seriam um produto da época, mas o que mais recentemente se veio a apurar é que a coleção de Homens Verdes de Rosslyn Chapel forma uma sequência representando o ciclo das estações (e da vida) desde a Primavera com as cabeças joviais e sorridentes a oriente, até ao Inverno e às cabeças-esqueleto da ponta ocidental da capela.

Tudo é (im)possível

A profusa decoração de entalhes nas rochas da capela justifica, mas está longe de esgotar a extraordinária reputação mística, ocultista e esotérica [e Templária] de Rosslyn. A cripta onde ninguém entra há séculos e um cem número de pistas enigmáticas são tão ou mais apelativos. Entramos no domínio do que não se vê, ou não se pode inferir do que se vê, mas que por isso mesmo arrasta multidões. Logo a começar pelo tema recorrente em todos os falatórios: a famosa cripta, onde os Sinclair se fizeram enterrar durante séculos, vestidos a rigor de armas e armaduras.

É suposto a dita galeria subterrânea guardar um tesouro fabuloso, que pode ser muitas coisas. Há uma carta datada de 1546, enviada por Marie de Guise, regente da Escócia e mãe da célebre Mary, Queen of Scots, a (outro) William Sinclair, respeitante a um “Segredo” que importa ser guardado. Podia ser uma arca cheia de joias que na altura se dizia ter desaparecido do paço real escocês, mas é esquisito a regente falar em “Segredo” com letra maiúscula e comprometer-se a ser fiel ao súdito, quando era suposto ser ele a declarar-lhe fidelidade. Seria algo bem mais valioso, sustentam os místicos, certamente algo mais do que meras e fugazes riquezas materiais – qualquer coisa como o Santo Graal, a cabeça de Jesus ou papiros secretos, revelando detalhes da vida de Cristo.

Hipóteses que convergem na tese de Rosslyn Chapel ter sido um bastião Templário [pela ordem construída] , ordem religiosa que chegou a ser favorecida pela coroa escocesa, construindo o seu quartel-general em Balantrodoch, agora Temple, a dois passos de Rosslyn. A ordem não foi dissolvida na Escócia em 1307, mas há quem acredite que depois disso passou à clandestinidade, guardando os seus tesouros religiosos nas profundezas da capela vizinha. Chegados ao século XVIII, o quarto conde Sinclair foi declarado Grande Mestre Maçon na altura em que a Maçonaria se assumiu publicamente na Escócia, sugerindo que a família já detinha esse cargo em segredo, a título hereditário. Os Sinclair seriam, portanto, o elo perdido entre os Templários e a Maçonaria.

A febre mística e esotérica em torno de Rosslyn Chapel tornou-se ainda mais delirante quando, em 1982, um trio de escritores britânicos (Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln) publicou “The Holy Blood and the Holy Grail” [O Santo Graal e a Linhagem Sagrada], estabelecendo uma conexão até aí insuspeita entre a escocesa Rosslyn Chapel e a pequena vila francesa Rennes-le-Château. A ligação reconduzia a Pierre Plantard, auto-intitulado Saint-Clair e líder do chamado Priorado do Sião.


{O Priorado de Sião (em francês: Prieuré de Sion) seria um grupo de variadas sociedades tanto verídicas como falsas, das quais se destaca uma sociedade fraternal francesa fundada em 1956 por Pierre Plantard. De acordo com as divulgações de Pierre Plantard recolhidas pelos autores anglo-saxónicos Henry LincolnMichael Baigent e Richard Leigh e publicadas na obra The Holy Blood and the Holy Grail em 1982, o Priorado de Sião seria uma sociedade secreta fundada em Jerusalém no ano de 1099 e que jurara proteger um segredo acerca do Santo Graal, entendido por estes autores como uma hipotética descendência humana de Jesus Cristo com Maria Madalena, que seria a origem da dinastia de reis Merovíngios da França.

O Priorado de Sião se tornou assunto de controvérsia histórica e religiosa durante as décadas de 1960 e 1980. Durante o período de 1980 foi alegado pelo próprio Plantard que o Priorado não passava de uma conspiração com o objetivo de restaurar a monarquia francesa, porém muitos teólogos e historiadores persistem em crer que há um segredo sob o Santo Graal que envolve o Priorado.}


Autor de um extraordinário embuste, o Priorado do Sião apresentou-se como uma sociedade milenar, encarregada de proteger a linhagem secreta e sagrada que teria começado na união carnal de Jesus e Maria Madalena, com sua descendência tendo criado a dinastia Merovíngia na França, para chegar finalmente a Pierre Plantard. Uma vez que o apelido da família era o mesmo, Rosslyn teria também sido habitada por descendentes de Cristo e poderia muito bem guardar o Santo Graal ou outras preciosidades do gênero.

Foram estas “teorias da conspiração”, que agitaram os circuitos místicos, ocultistas e esotéricos dos anos 1980, que Dan Brown criou num best-seller policial. Claro que nenhum dos “mistérios” em causa resiste à “verificação histórica” [será mesmo ?]. Os Sinclair foram cavaleiros Cruzados, mas não Templários e, apesar da vizinhança, não hesitaram em denunciá-los, quando a ordem enfrentou os tribunais escoceses. A assunção dos Sinclair como maçons no século XVIII deve-se à força das circunstâncias, valendo sobretudo um ato político destinado à Maçonaria escocesa não perder a face em relação à inglesa, que se lhe antecipou na declaração pública. A ligação com a pequena vila de Rennes-le-Château e à descendência de Cristo não tem, por sua vez, nem pés nem cabeça.

Resta a atmosfera especial que se respira na secular propriedade dos Sinclair. Na capela, mas também no castelo de Roslin, verdadeiro cliché da Escócia romântica, muito menos visitado do que ela (fica longe da estrada, não há placas a indicar o caminho, o castelo não se vê da capela). O nome Rosslyn deriva da conjugação das palavras gaélicas para rocha e espuma de água, devendo-se à sua localização nas imediações do rio North Esk. Os rochedos desabaram ou foram retirados para construção, de modo que o rio já não é tão estrondoso. Mas o bosque que o rodeia é assim mesmo de uma beleza extraordinária.

A aura de mistério da Capela Rosslyn é reforçada quando as visitas são complementadas com uma ida ao Castelo de Roslin – Foto Luis Maio

O castelo meio arruinado emerge dessa paisagem frondosa como uma miragem saída de um conto de fadas. Primeiro construído em 1330, no sítio em que uma pequena força escocesa venceu uma enorme tropa inglesa, o castelo foi edificado no alto de um promontório, protegido a três quartos por uma vala profunda. Isso não impediu que fosse várias vezes destruído (pelas armas, mas também pelo fogo) e reconstruído, a aparência atual datando de finais do século XVI.

Impressiona a ponte de pedra que lhe dá acesso sobre o abismo, a ruína do antigo portão à entrada, o edifício de cinco andares construído a toda a altura do promontório, ainda emoldurado por grossas muralhas defensivas. Também aqui há lendas que falam de um tesouro escondido nas caves, guardado por uma formosa dama adormecida. Ou será verdade que um conde italiano foi lá desencantar uma preciosa história da Escócia, desde então guardada a sete chaves na Biblioteca do Vaticano?

[Nota de Thoth: em gaélico antigo Rosslyn pode significar “antigo conhecimento passado ao longo das gerações”.]


A regra dessa ordem da Cavalaria de  monges  guerreiros foi escrita por {São} Bernardo de Clairvaux. A sua divisa foi extraída do livro dos Salmos: “Non nobis Domine, non nobis, sed nomini tuo ad gloriam” (Slm. 115:1 – Vulgata Latina) que significa “Não a nós, Senhor, não a nós, mas pela Glória de teu nome” (tradução Almeida)

“Leões na guerra e cordeiros no lar; rudes cavaleiros no campo de batalha, monges piedosos na capela; temidos pelos inimigos de Cristo, a suavidade para com os seus amigos”. – Jacques de Vitry


Saiba mais sobre os Templários:

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