Ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, analista apontou que a rápida evolução tecnológica russa, percebida no campo de batalha na Ucrânia, apesar de todas as sanções impostas pelo ocidente, reflete o que na defesa é chamado “cisne negro” — conceito que descreve eventos imprevisíveis e de grande impacto.
Fonte: Sputnik
A Rússia ampliou, de forma significativa, sua capacidade industrial de produzir drones kamikaze com a consolidação da gigantesca fábrica em Alabuga, no Tartaristão, considerada a maior do mundo em sua categoria. A medida é vista como símbolo da pujança da indústria de defesa da Rússia.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, Ricardo Cabral, historiador e analista de geopolítica, frisa que “produzir 18 mil drones por mês é um feito”.
“É algo que vai dar uma base industrial, porque veja bem, não é só essa fábrica. Existem outras fábricas que apenas vão dar suporte. E é interessante se nós formos ver que a guerra está no final. Prevê-se aí, com essa reunião do [presidente norte-americano, Donald] Trump com o [presidente russo, Vladimir] Putin, [que] o conflito esteja encaminhando para o final”, afirma.
Ele acrescenta que o uso de drones em conflitos, que começou tímido, hoje não é novidade, e os modelos contam com alto nível de sofisticação.
“E aí esta uma coisa interessante. Os russos começam atrás e, depois, agora, estão fatalmente na frente, fazendo muitas inovações, transformando o campo de batalha.”
Cabral destaca que “a essência da guerra é fogo e o movimento”, e que hoje em dia o drone é o maior limitador do movimento, que consegue desequilibrar o adversário, pegando de surpresa “onde ele não esperava”.
Segundo Cabral, essa rápida evolução tecnológica russa, percebida em campo de batalha, assusta o Ocidente, porque eles não esperavam isso da Rússia.

“Isso é o que a gente chama, na defesa, de cisne negro. Você esperava uma evolução, mas não tão rápida. Lembro que a Rússia, ainda que ela não esteja lutando contra a OTAN, está lutando contra um país com forte apoio da OTAN. Essa é uma diferença danada.”
Segundo ele, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) está usando a Ucrânia como campo de provas para testar táticas, novos arranjos operacionais, arranjos de unidades, de como fazer guerra eletrônica, e a Rússia está tendo que entender a demanda. No entanto, essas lições estão sendo rapidamente disseminadas pelos russos.
“Todos estão aprendendo com a guerra da Ucrânia, e a Rússia vai ter que pegar essas lições. Se ela quer manter uma dianteira, ela vai ter que, vamos dizer assim, fazer jogos de guerra cada vez mais precisos, com novas mudanças”, afirma.
Questionado sobre a possibilidade do Ocidente — percebendo Moscou na vanguarda de produção de armamentos — tomar medidas para frear esse processo, como sanções e acordos multilaterais, Cabral afirma que a Rússia sofreu várias tentativas de fragmentação quando deixou de ser União Soviética (URSS).
“Ela [a Rússia] sofreu com guerra psicológica interna para a divisão do país, e o que aconteceu? Você teve um movimento de restauração. A Rússia tem um passado, porque a Rússia já passou por isso algumas vezes [com os mongóis, Napoleão, com Hitler] em sua história. Então, para ela, voltar a ter uma liderança que a levou a um patamar próximo do que tinha foi mais fácil.”
Entretanto, ele afirma que o país, para assegurar o temor e respeito do Ocidente, deve manter o alto nível de uma panóplia militar, além da população unida.
“Uma panóplia militar de respeito provoca medo, e o medo é necessário. E como é que você consegue isso? Tem que manter uma sociedade coesa, unida, patriota, nacionalista, e tem que, a cada momento, explorar seus pontos fortes e trabalhar nos frágeis”, afirma o especialista.