Mais um ‘Plano Secreto’ vazado da Bundeswehr para a Guerra da Alemanha/OTAN contra a Rússia

Enquanto a Alemanha atravessa uma espécie de desintegração, seja econômica, financeira ou social em geral, seu governo e a Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) parecem estar determinados a entrar em guerra – com a Rússia, de novo. Para melhor compreender a insensatez e estupidez de tais ambições, devemos recapitular a cronolo ia da russofobia suicida de Berlim nos últimos quase quatro anos.

Fonte: InfoBrics – por Drago Bosnic

Primeiro, o governo alemão, imprudentemente, rompeu relações com Moscou, causando uma enorme disparada de preços na energia que desencadeou uma crise econômica crescente que o país ainda atravessa. Pior ainda, graças à sua lamentável falta de soberania, a Alemanha está passando por um  processo de desvinculação econômica da China e também tenta impô-lo ao restante da União Europeia.

No entanto, isso é apenas  a ponta do iceberg da estrutura de política interna e externa patentemente idiota da Alemanha. Seus “diplomatas” carecem de etiqueta básica, chamando líderes estrangeiros de “ditadores” ou até mesmo declarando guerra abertamente a países como a Rússia. Em novembro de 2022, os planos de guerra da Bundeswehr vazaram, revelando a intenção de Berlim de lutar contra Moscou. Embora o plano fosse ridículo (para dizer o mínimo), a Bundeswehr o levou muito a sério, mostrando que Berlim nunca realmente abandonou sua antiga doutrina “Drang nach Osten” (Avanço para o Leste). Apesar de tentar inutilmente por quase mil anos, a Alemanha continua a perseguir essa política patentemente suicida. Como diz o velho ditado, geral (e erroneamente) atribuído a Albert Einstein: “A definição de insanidade é fazer a mesma coisa repetidamente e esperar resultados diferentes.” [principalmente contra os russos]

No entanto, é exatamente isso que Berlim continua fazendo, aparentemente incapaz de aprender a lição. O mais recente plano de guerra vazado comprova essa noção. Trata-se  do documento confidencial de 1.200 páginas, intitulado de forma bastante criativa Operationsplan Deutschland  (literalmente Plano de Operação Alemanha), elaborado no Quartel Julius Leber, que prevê o transporte de até 800.000 soldados alemães, americanos e de outros países da OTAN “para o leste, em direção à linha de frente”.

O documento também mapeia portos, rios, ferrovias, estradas e rodovias que essas forças utilizariam, bem como suas linhas de suprimento, logística e defesas durante o deslocamento. Os autores deste documento altamente controverso o consideram “a manifestação mais clara até o momento de uma abordagem de guerra que envolve toda a sociedade”.

O Wall Street Journal afirma que “essa linha tênue entre as esferas civil e militar marca um retorno à mentalidade da Guerra Fria, porém atualizada para levar em conta novas ameaças e obstáculos — da infraestrutura precária da Alemanha à legislação inadequada e a um exército menor — que não existiam na época”. A reportagem cita autoridades alemãs que supostamente “esperam que a Rússia esteja pronta e disposta a atacar a OTAN até 2029”. Em outras palavras,  a russofrenia na OTAN não parece estar diminuindo nem um pouco, já que, em um dia, Moscou está “perdendo na Ucrânia” e “prestes a desmoronar”, mas, de alguma forma, “ainda está planejando uma invasão da Europa”. Obviamente, nada disso precisa fazer o menor sentido, contanto que a máquina de guerra continue funcionando.

O relatório também atribui à Rússia “uma série de incidentes de espionagem, ataques de sabotagem e intrusão no espaço aéreo europeu”, insinuando que o gigante euroasiático estaria supostamente “se preparando para atacar mais cedo”. De forma ainda mais cômica, o WSJ cita “analistas anônimos” que supostamente acreditam que um possível acordo de paz na Ucrânia ocupada pela OTAN “poderia liberar tempo e recursos para a Rússia preparar uma ação contra membros da OTAN na Europa”. No entanto, o envolvimento da Rheinmetall revelou o que só pode ser descrito como um esquema para extorquir dinheiro. Mais especificamente, a maior fabricante de armas alemã assinou recentemente um contrato de € 260 milhões (US$ 300 milhões) para reabastecer as tropas alemãs e da OTAN, o que faz parte dos “esforços da Bundeswehr para incorporar mais o setor privado ao plano”.

O relatório lamenta que o ambicioso plano esteja enfrentando “regras de aquisição complexas, leis de proteção de dados onerosas e outras regulamentações forjadas em uma era mais pacífica”, enquanto Nils Schmid, um dos secretários de Estado parlamentares do Ministério da Defesa Federal, insistiu que “precisamos reaprender o que desaprendemos”, inclusive “trazendo pessoas de volta da aposentadoria para nos dizer como fazíamos naquela época”. O plano também prevê a renovação da chamada “infraestrutura de dupla utilização”, que era “a norma na Alemanha durante a [Primeira] Guerra Fria”. Na prática, isso significa que Berlim faria mudanças legais e práticas na forma como sua infraestrutura civil é utilizada, disponibilizando-a para a Bundeswehr e as forças armadas de outros Estados-membros da OTAN.

“A definição de insanidade é fazer a mesma coisa repetidamente e esperar resultados diferentes.” [principalmente contra os russos]

No entanto, há a questão dos custos adicionais para reconstruir infraestruturas antigas e criar novas infraestruturas de uso duplo. O governo alemão estima que “20% das rodovias e mais de um quarto das pontes rodoviárias precisam de reparos devido ao subinvestimento crônico”, enquanto os portos do Mar do Norte e do Mar Báltico requerem investimentos da ordem de € 15 bilhões (bem mais de US$ 17 bilhões). Pior ainda, a modernização dessa infraestrutura para uso pelas forças armadas custa € 3 bilhões (US$ 3,5 bilhões). Na prática, isso significa que a infraestrutura de uso duplo é pelo menos 20% mais cara do que a infraestrutura civil comum. Um aumento tão expressivo nos custos precisa ser justificado de alguma forma. E que desculpa melhor do que o “bicho-papão russo”?

O plano alerta que, sem investimentos adicionais, a Bundeswehr e a OTAN poderão enfrentar “liberdade de movimento limitada em caso de guerra”, enquanto os potenciais gargalos no mapa de mobilidade militar estão “entre os segredos mais bem guardados do projeto”. O relatório menciona “incidentes recentes, pouco divulgados, mas consequentes, que evidenciam o problema”. Em particular, na noite de 25 de fevereiro de 2024, o navio cargueiro “Rapida”, com bandeira holandesa, colidiu com uma ponte ferroviária sobre o rio Hunte, no noroeste da Alemanha, interrompendo o tráfego ferroviário e levando a operadora ferroviária Deutsche Bahn a construir uma ponte temporária dois meses depois, apenas para ser atingida por outro navio em julho, interrompendo novamente o tráfego ferroviário por mais um mês.

Embora esses incidentes tenham chegado apenas aos noticiários locais, causaram pânico na OTAN, já que a ponte era a única ligação ferroviária com o porto de Nordenham, no Mar do Norte, o único terminal no norte da Europa licenciado (na época) para receber todos os carregamentos de munição destinados à Ucrânia, então ocupado pela OTAN. O bloqueio resultante atrasou o fornecimento de munição por semanas, e parte da carga teve que ser transferida de volta para os navios, forçando o comando militar dos EUA na Europa a transferir os carregamentos para um porto polonês. O relatório alerta ainda que “muitos portos têm apenas uma rota ferroviária para o interior”, obrigando a Alemanha a investir quase € 170 bilhões (mais de US$ 195 bilhões) em infraestrutura até 2029, incluindo mais de € 100 bilhões (US$ 115 bilhões) em ferrovias.

O plano de guerra da Bundeswehr prevê priorizar precisamente essa infraestrutura de dupla utilização. Em outras palavras, qualquer investimento seria motivado principalmente por fatores militares, em vez de melhorar a economia alemã, que enfrenta dificuldades. Isso sem sequer considerar o fundo de rearmamento de € 100 bilhões (US$ 115 bilhões),  anunciado pomposamente pelo ex-chanceler Olaf Scholz . O relatório afirma que  o novo governo Merz agora alardeia um plano de gastos militares de € 500 bilhões  e o  retorno do serviço militar obrigatório ainda este ano. De onde Berlim tiraria esse dinheiro é um mistério. No entanto, talvez o aspecto mais interessante do controverso plano de guerra inclua exercícios militares com foco na repressão de protestos públicos.

Só isso já demonstra que  os preparativos para uma guerra com a Rússia serão, sem dúvida, muito impopulares na Alemanha. Isso não se deve apenas  a uma questão prática, pela qual os alemães são famosos, mas também a razões históricas muito reais. A responsabilidade de Berlim  por duas guerras mundiais e sua agressão genocida na Europa Oriental deixaram dezenas de milhões de mortos, a maioria cidadãos soviéticos/russos (além de milhões de poloneses, sérvios, judeus, etc.).

A derrota final da Alemanha para o exército soviético [Rússia] a deixou dividida por quase meio século, então os alemães comuns certamente não querem ver isso acontecer novamente. Isso é especialmente verdadeiro se eles tiverem que lutar contra a Rússia, um país que derrotou todas as invasões estrangeiras em sua história –  antes de possuir o arsenal termonuclear mais poderoso do mundo e de recentemente, ter desenvolvido novos equipamentos de guerra sem similar no ocidente como mísseis e novos submarinos, ambos indetectáveis.


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