Sentar-se com a postura ereta, fechar os olhos, sentir a respiração e trazer a atenção para o presente por 10 minutos diários ajudam a diminuir a ansiedade, melhorar a concentração e viver mais e melhor.
Não é o trecho de um livro de autoajuda. É a constatação não de um, mas de muitos e diferentes estudos científicos. Foi-se o tempo em que a meditação era considerada apenas uma atividade mística sem embasamento teórico…
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
Valor da prática para a saúde e para a qualidade de vida de pessoas de todas as idades. Antes vista apenas como atividade mística, meditação ganha o aval da ciência (não que isso fosse necessário)
Fernanda Pandolfi – Fonte: https://zerohora.clicrbs.com.br
… Iniciada na Índia e difundida em toda a Ásia, a prática começou a se popularizar no ocidente com o guru Maharishi Mahesh Yogi que nos anos 1960 convenceu os Beatles a atravessar o planeta para aprender a meditar. Até a década passada, não contava com respaldo médico. Nos últimos anos, no entanto, os pesquisadores ocidentais começaram a entender por que, afinal, meditar funciona tão bem, e para tantos problemas de saúde diferentes.
Em uma era de gente conectada, que recebe estímulos e informações por toda e qualquer via, como o smartphone que bipa, a música que toca no fone de ouvido e os outdoors de led nas ruas, pesquisadores renomados têm dedicado tempo e dinheiro para provar que exercícios de relaxamento mental podem ser fundamentais na qualidade de vida.
É o caso do neurocientista norte-americano Richard Davidson, da Universidade de Wisconsin-Madison, que, após um período de imersão com monges tibetanos, descobriu que a meditação funciona – de fato – como um antidepressivo. Segundo ele, a prática altera as estruturas cerebrais, mudando o padrão de suas ondas e protegendo contra a depressão e os efeitos do estresse.
Mais perto daqui, a bióloga brasileira Elisa Kozasa, do Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein, uma das principais pesquisadoras do tema no mundo, afirma: quem medita tem a capacidade de executar as mesmas tarefas que não-praticantes usando menos neurônios. Em recente passagem por Porto Alegre para participar do workshop Ciência, Meditação e o Cultivo Emocional, promovido pela ONG gaúcha Mente Viva, Elisa discorreu sobre seu estudo, que avaliou os cérebros de 20 meditadores e 19 não meditadores combinados por idade, sexo e nível de escolaridade. O resultado apontou para a alta capacidade de concentração e atenção dos praticantes de meditação, que “economizam”, por assim dizer, seus cérebros.
Em um terceiro levantamento realizado na Universidade de Brasília pelo psiquiatra Juarez Iório Castellar, foram investigadas 80 pacientes com histórico de câncer de mama. Por meio da coleta de amostras de sangue e saliva, antes e depois dos exercícios meditativos, verificou-se que a prática reduziu os efeitos colaterais da quimioterapia, como náuseas, vômitos, insônia e inapetência.
Sendo assim, é fácil perceber que ficou para trás dos anos 2000 a visão de que para meditar era necessário ser budista, usar bata longa e terceiro olho. Quem pratica, garante: não tem hora, lugar, profissão ou religião. É universal. Oprah Winfrey – que chegou a ser a personalidade mais bem paga da televisão internacional – declarou que o tempo despendido com a meditação foi fundamental para o sucesso de sua carreira.
A gaúcha Gisele Bündchen revelou em entrevista recente que, mesmo que o despertador toque às 5h30min para uma sessão fotográfica, não abre mão dos seus 15 ou 20 minutos de momento meditativo para manter o equilíbrio. Já para encarar a maratona da campanha eleitoral, a presidente Dilma Rousseff quer intensificar os períodos de meditação transcendental, método que pratica, e, inclusive, já teria agendado uma sessão com a guru africana Rajshree Patel, que visitará o Brasil em maio.
Steve Jobs, o fundador da Apple, consagrou a prática budista no meio empresarial e ganhou adeptos mundo afora. Seu argumento para defendê-la era justamente o foco nos negócios. Graças a ela, conseguia afastar de sua cabeça tudo que considerava distração.
Personalidades internacionais – o ex-vice-presidente americano Al Gore, o cineasta David Lynch, o músico Adam Levine, o ator Robert Downey Jr., a atriz Demi Moore – e nacionais – a atriz Claudia Ohana, a cantora Luiza Possi e a top Alessandra Ambrósio – engordam a lista de pessoas bem-sucedidas que incentivam a atividade e acreditam que, em uma data nem tão distante, a prática da meditação será reconhecida como questão de saúde pública e terá sua importância igualada ao exercício físico na atualidade.
Receita para uma vida de paz
Mariela Silveira reflete a quebra dos tabus que cercam a meditação. Filha de pai católico e mãe espírita, não quis seguir religião alguma e prometeu ser fiel à ciência quando se formou em Medicina pela Ulbra-Universidade Luterana do Brasil.
Entre os objetivos, um prioritário: trabalhar com o que proporcionasse bem-estar às pessoas. Escolha um tanto previsível, já que Mariela engatinhou ainda de fraldas pelos corredores do Kurotel Centro de Longevidade e SPA (que ajuda a dirigir atualmente), fundado pelos seus pais, Luís Carlos e Neusa Silveira, em 1982, na Serra. E cresceu uma criança diferente, que enxergava uma peraltice no ato de deixar envelopes com sementes de plantas embaixo das portas dos vizinhos em Gramado.
Foi em 2003, ao longo de uma viagem à Índia, que a gaúcha percebeu nos exercícios mentais de relaxamento uma alternativa para promover a paz.
— Vi que não era a miséria que provocava a violência em um país. Era possível observar que, por mais pobres que aquelas pessoas fossem, elas viviam em harmonia e incitavam o bem. Foi aí que a meditação entrou na minha vida — lembra.
Para exterminar o preconceito – o dela mesmo, inclusive -, muniu-se de livros, pesquisas e estudos sobre o tema para buscar respaldo científico e poder investir na prática sem receio. Verificou dados concretos de melhora na frequência cardíaca, pressão arterial, imunidade e até no comportamento quando comparava meditadores e não-meditadores.
— Eu achava que poderia ser mal vista pelas pessoas como praticante de uma atividade sem comprovação. Mas percebi que tinha fundamento e parei de me sentir a “Mariela bicho-grilo” (risos). Além disso, me dei conta de que era um instrumento maravilhoso, comum entre as pessoas, independentemente de crença, de onde ela nasceu, de qual a cultura — reforça.
E assim, a médica de 34 anos que preferia intitular a atividade como “exercício de relaxamento ou dirigido” para formalizar o termo, deixou o constrangimento no passado e passou a prescrever a meditação em receitas, além de se tornar uma das principais incentivadoras da atividade no Estado via fundação da ONG Mente Viva, em 2007, ao lado da sócia Anmol Arora.
Trata-se de um projeto que leva a prática para escolas públicas e privadas de Gramado, Porto Alegre, Eldorado, Gravataí, Tapes e Pelotas, com um trabalho pré-aula de cinco a 10 minutos com as crianças e que estimula a concentração, a afetividade e o desempenho escolar – com resultados positivos já comprovados em pesquisa.
A técnica utilizada é a mindfulness, ou atenção plena, que visa trazer o foco para o presente e “desligar” o cérebro, mentalizando pensamentos positivos.
— É claro que essa não é a única solução para terminar a violência, que é algo muito mais complexo. Mas de um modo geral, a medicina só foca no tratativo, não foca tanto na prevenção como deveria. Com a violência é igual. Tudo bem falar sobre reabilitação, mas existe também aquele indivíduo que tem todos os fatores de risco, mas ainda não cometeu um crime e que pode ser observado mais de perto. E a prevenção primária mesmo, aquela desde criança — analisa.
Mariela garante: a meditação é simples, gratuita e, no bom sentido, vicia – a ponto de torcer para que uma viagem de ônibus dure mais do que o tempo previsto para poder praticar, ou de ficar entristecida quando o despertador não toca no horário correto e a impede de meditar nos minutos iniciais do dia. E, assim como em qualquer outra atividade, requer paciência e prática para pegar o jeito. Na sua opinião, a meditação trabalha com uma das grandes questões da humanidade: a de como aumentar o espaço interno de conforto para viver com mais qualidade.
— Os indianos costumam falar que a mente (inferior) é como se fosse um macaco com o rabo pegando fogo, mordido por mil escorpiões, pulando de galho em galho. Está sempre no passado e no futuro, nunca conosco no PRESENTE – O AGORA. Em resumo: a meditação ajuda a pessoa a trazer a consciência para o presente – analisa. — Atualmente, o mundo convida à vigilância, à pouca tenacidade, à falta de atenção.
Então, precisamos aprender que temos limites para ficarmos internamente bem. Não é exercício de estímulo, é de relaxamento mesmo. A mente é um produto do cérebro, que não está em nenhum lugar do nosso corpo. A meditação faz os dois se encontrarem e ajuda a buscar recursos internos para enfrentar as dificuldades do dia-a-dia.
A recomendação da especialista é reservar de 10 a 20 minutos por dia, cinco vezes por semana, para o exercício. Sentar, fechar os olhos, respirar e esvaziar a mente.
Para quem se blinda com o argumento de que a rotina é muito corrida para isso, ela repete um mantra de sua coach Dulce Magalhães: “Medite 20 minutos por dia. Se você acha que está sem tempo, então medite por uma hora“.
Para Mariela Silveira, a receita é simples: medite durante 20 minutos por dia. Se você acha que está sem tempo para isso, então medite por uma hora.
Quem são as estrelas que meditam:
A apresentadora de televisão nos EUA, Oprah Winfrey já declarou que a meditação interferiu positivamente em sua carreira.
No auge do sucesso, em 1967, os Beatles mergulharam na meditação transcendental praticada pelo guru Maharishi Mahesh Yogi. Dessa experiência surgiram muitos sucessos do quarteto. DONNA ZH.
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