A Caverna dos Antigos (8)

caverna-dos-antigos-lobsang-rampaEste é um livro que trata do Oculto e dos Poderes do Homem. É livro simples, no sentido de que nele não há “palavras estrangeiras”, palavras em sânscrito, nem coisa alguma de línguas mortas. A pessoa média quer SABER as coisas, e não ficar a adivinhar palavras que o autor médio tampouco compreende!

Se um autor sabe trabalhar, pode escrever, sem ter de disfarçar sua falta de conhecimento com o emprego de uma língua estrangeira. Um número demasiado de pessoas deixa-se envolver pela confusão. As leis da Vida são realmente simples; não há necessidade alguma de revesti-las de cultos místicos ou pseudo-religiões. Tampouco existe qualquer necessidade de que alguém afirme ter tido “revelações divinas”. QUALQUER PESSOA pode obter as mesmas “revelações”, se se esforçar por alcança-las…

Edição e imagens:  Thoth3126@protonmail.ch

T. LOBSANG RAMPA, e o livro “A CAVERNA DOS ANTIGOS

“Quem anda com os sábios será sábio; mas o companheiro dos tolos sofre MUITA aflição”–  Provérbios 13, 20

Nenhuma religião tem em si as Chaves do Céu, nem pessoa alguma será condenada para sempre, por ter entrado em uma igreja com o chapéu na cabeça, ao invés de tirar os sapatos. À entrada das lamaserias tibetanas, lê-se a inscrição: “Mil monges, mil religiões”.

lobsang_rampaQualquer que seja nossa crença, se ela englobar o “faze ao próximo o que queres que te seja feito”, teremos êxito, quando soar o Chamamento final. Alguns dizem que o Conhecimento Interior só pode ser obtido ingressando-se neste ou naquele culto, ao mesmo tempo em que se faça o pagamento de uma contribuição substancial.

As Leis da Vida dizem: “Procura e encontrarás”. Este livro é o fruto de toda uma vida, de ensinamentos obtidos nas grandes lamaserias do Tibete e de poderes conquistados por uma observância rigorosa das Leis. Trata-se de conhecimento transmitido pelos Antigos, e se acha inscrito nas Pirâmides do Egito, nos Altos Templos da Cordillheira dos Andes e no maior de todos os repositorios de conhecimentos ocultos do mundo, o Planalto do Tibete – T. LOBSANG RAMPA [Nasceu: Cyril Henry Hoskin-8 April 1910, em Plympton, Devon, United Kingdom – Morte: 25 January 1981 (aged 70) Calgary, Alberta, Canada]


Capítulo 8

Era agradável, sem a menor dúvida, estar deitado na relva fresca e alta, na base do Pargo Kaling. Por cima, às minhas costas, as velhas pedras se erguiam para o céu e, de onde me encontrava, estendido no chão, a ponta mais alta delas parecia arranhar as nuvens. De modo assaz apropriado, o “Botão do Lótus” formando a ponta simbolizava o Espírito, enquanto as “folhas” que sustentavam o “Botão” representavam o Ar. Eu, na base, me apoiava confortavelmente na representação da Vida sobre a Terra. Pouco além de meu alcance — a menos ,que me erguesse — estavam os “Degraus de Alcance”. Pois bem, eu procurava “alcançar”, agora!

Era agradável estar deitado ali a observar os negociantes vindos da Índia, China e Birmânia, que chegavam à nossa cidade. Alguns vinham a pé, enquanto puxavam longas filas de animais carregando mercadorias exóticas, vindas de lugares muito distantes. Outros, mais imponentes ou talvez simplesmente cansados, estavam montados nos animais e olhavam ao redor. Fiquei pensando ociosamente no que suas bolsas continham e logo voltei a mim, com um sobressalto: era por esse motivo que estava ali!

Estava ali para observar a aura de tantas pessoas quanto pudesse. Estava ali para “adivinhar”, com base na aura e na telepatia, o que aqueles homens faziam, o que pensavam, e quais eram suas intenções. No lado oposto da estrada um esmoler cego se achava sentado, coberto de sujeira. Esfarrapado e de aspecto comum, choramingava para os viajantes que passavam. Um número surpreendente destes lhe atirava moedas, deliciando-se a observar o cego procurando as moedas que caíam e finalmente localizando-as pelo som que faziam, ao baterem na terra e, às vezes, tilintarem contra uma pedra.

De vez em quando, e não era comum, ele deixava de encontrar uma pequena moeda, e o viajante a erguia, deixando-a cair de novo. Pensando nele, voltei minha cabeça preguiçosa em sua direção, sentando-me de modo ereto, dominado pelo espanto. A aura do homem! Eu jamais me dera ao trabalho de observá-la antes. Agora, observando com cuidado, vi que ele não era cego, vi que era rico, tinha dinheiro e bens guardados, e que fingia ser um cego pobre, pois era o meio mais fácil de ganhar a vida que ele conhecia. Não! Não podia ser, eu estava enganado, consciente demais, ou coisa parecida. Talvez meus poderes estivessem fraquejando. Perturbado com tal pensamento, pus-me sobre os pés relutantes, e fui procurar esclarecimento com meu guia, o Lama Mingyar Dondup, que se achava do lado oposto, no Kundu Ling.

Algumas semanas antes, eu sofrera uma operação, para que minha “Terceira Visão” pudesse ser mais ampla. Desde o nascimento eu possuía poderes incomuns de clarividência, com a capacidade de ver a “aura” ao redor dos corpos de seres humanos, animais e plantas. A operação dolorosa obtivera êxito, aumentando meus poderes muito mais do que se esperava, até mesmo mais do que o Lama Mingyar Dondup esperava. Agora, meu desenvolvimento estava sendo apressado; o preparo que recebia em todas as matérias ocultas ocupava o dia todo. Sentia-me apertado por forças poderosas, enquanto este lama e aquele lama “metiam à força” conhecimento no cérebro, mediante a telepatia ou outras forças estranhas, cujo mecanismo eu estava estudando de modo tão intenso.

Para que a sala de aula ou o trabalho escolar, quando se pode aprender pela telepatia? Para que ficar imaginando acerca das intenções de um homem, quando se pode ver isso, em sua aura? Mas eu estava a fazer exatamente a mesma coisa, com aquele cego! —Puxa! Honrado Lama! Onde está? — gritei, correndo e atravessando a estrada, à busca de meu guia. No pequeno parque, tropecei em meus próprios pés, aflito, quase caindo.

—Então! — disse meu guia, sorrindo, sentado pacificamente em um tronco caído. — Então! Você está indignado! Acabou de descobrir que o homem “cego” vê tão bem quanto nós. Eu me detivera, resfolegando, arquejando tanto pela falta de ar quanto pela indignação.

—Sim! — exclamei. — O homem é um impostor, um ladrão, porque está roubando de quem tem bom coração. Devia ser metido na prisão! O lama explodiu em gargalhadas, diante de meu rosto vermelho e indignado.

—Mas, Lobsang, — disse, com suavidade —, para que tanta agitação! Aquele homem está vendendo serviços, tanto quanto outro que vende Rodas de Orações. As pessoas lhe dão esmolas insignificantes, para serem consideradas generosas; isso faz com que se sintam bem. Por algum tempo, isso lhes aumenta a cadência de vibração molecular… eleva-lhes a espiritualidade … leva-os para mais perto dos deuses. Faz-lhes bem! As moedas que dão? Não são nada! Não lhes farão falta!

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—Mas ele não é cego! — disse eu, exasperado.

— É um ladrão! —Lobsang, — disse meu guia —, ele é inofensivo, está vendendo serviços. Mais tarde, no mundo ocidental, você verificará que os homens que trabalham em publicidade fazem afirmações cuja falsidade prejudica a saúde das pessoas, deforma crianças que ainda vão nascer, transforma os razoavelmente lúcidos em maníacos alucinados. Bateu com a mão na árvore caída, fazendo-me um gesto para que me sentasse a seu lado. Eu atendi, batendo com os calcanhares na casca do tronco.

—Você deve exercitar o uso da aura e da telepatia juntas, — disse meu guia. — Usando uma, mas não a outra, suas conclusões podem ser deformadas, como aconteceu neste caso. É essencial usar todas as faculdades que se tenha, empregar todos os poderes que se possua, em todos os problemas. Pois bem, esta tarde terei de ir-me embora, e o Grande Lama Médico, o Reverendo Chinrobnobo, do Hospital Manzekang, conversará com você e você com ele.

—Puxa! — disse eu, com pesar. — Mas ele nunca fala comigo! Nem sequer me dá atenção.

—Tudo isso mudará… de um ou de outro modo, esta tarde, — disse meu guia. “De um ou de outro modo”, eu pensava, achando aquilo muito agourento. Juntos, meu guia e eu voltamos para a Montanha de Ferro, pausando momentaneamente para olhar de novo as antigas esculturas em rocha colorida, que ainda pareciam novas. Depois, subimos a trilha íngreme e pedregosa.

—Como a vida, esta trilha, Lobsang, — disse o lama. — A vida segue uma trilha dura e pedregosa, com muitas armadilhas e buracos, mas quem perseverar alcançará o cimo. Quando chegamos ao cimo da trilha, estavam fazendo a chamada para o Serviço do Templo. Calamo-nos e cada um de nós seguiu seu caminho, ele indo ter com seus companheiros, e eu com os outros de minha classe. Assim que o culto terminara e eu comera, um chela menor do que eu aproximou-se, um tanto nervoso.

—Terça-Feira Lobsang Rampa, — disse, com certa hesitação —, o Santo Lama Médico Chinrobnobo quer vê-lo imediatamente, na Escola Médica. Endireitei o manto, inalei profundamente algumas vezes, para que meus nervos se acalmassem e caminhei com segurança que não sentia para a Escola. —Ah! — trovejou uma voz sonora, uma voz que me fazia lembrar o som de uma trombeta do Templo. Permaneci de pé em frente dele e apresentei-lhe meus respeitos, do modo consagrado e tradicional. O lama era homem grande, alto, corpulento, de ombros largos, figura inteiramente assustadora para um menino pequeno. Eu achava que um peteleco que ele me desse arrancaria minha cabeça do tronco e a mandaria rolando pela encosta da montanha. Ele, entretanto, fez sinal para que me sentasse à sua frente, e o fez de modo tão cordial, que quase caí sentado!

—Agora, menino — disse, com sua voz forte e profunda, semelhante ao trovão nas montanhas distantes —, ouvi falar muito a seu respeito. O seu Ilustre Guia, o Lama Mingyar Dondup, afirma que você é um prodígio, que tem poderes paranormais imensos. Vamos ver! Eu continuava sentado, estremecendo.

—Está-me vendo? E o que vê? — perguntou ele. Estremeci ainda mais, ao dizer a primeira coisa que me ocorria:

—Vejo um homem tão grande, Santo Lama Médico, que julguei ser uma montanha, quando entrei. A gargalhada ruidosa em que ele prorrompeu causou tal lufada de vento que receei ser capaz de arrebatar-me o manto.

—Olhe para mim, menino, olhe para minha aura e diga o que vê! — ordenou, e depois aduziu: — Diga-me o que vê na aura, e o que significa para você. Olhei para ele, não diretamente, não de frente, pois muitas vezes isso obscurece a aura de uma figura vestida. Olhei na direção dele, mas não exatamente para ele.

—Senhor! — disse, então. — Vejo, em primeiro lugar, o esboço físico de seu corpo, fracamente, como estaria, sem o manto. E depois, bem perto do senhor, vejo uma luz azulada leve, na cor de fumaça de madeira nova. Ela me diz que o senhor tem trabalhado demais, que tem passado noites sem dormir ultimamente, e que sua energia etérica está baixa. Ele me fitava, agora, com olhos um tanto maiores do que o normal, e assentiu, com satisfação.

—Prossiga! — ordenou.

—Senhor! — continuei. — Sua aura se estende a uma distância de uns nove palmos, em ambos os lados. As cores estão em camadas tanto verticais quanto horizontais. O senhor tem o amarelo da espiritualidade elevada. Neste instante, está pasmo porque alguém de minha idade lhe pode dizer tanta coisa, e pensa que meu guia, o Lama Mingyar Dondup, tem algum conhecimento, afinal de contas. Está pensando que terá de pedir desculpas a ele, por ter manifestado dúvidas quanto à minha capacidade. Fui interrompido por imensa gargalhada.

—Você está certo, menino! Está certo! — disse ele. — Prossiga!

—Senhor! — (e aquilo era brincadeira de criança para mim!) — Recentemente, teve algum infortúnio, e levou um golpe sobre o fígado. Dói, quando ri demais, e o senhor está pensando que deve tomar alguma erva de tatura, e fazer massagem forte, enquanto se achar sob sua ação anestésica. Está pensando que foi o Destino quem decidiu que, de mais de seis mil ervas, a tatura tinha de estar escassa, neste momento. Ele já não ria. Fitava-me com respeito indisfarçado. Eu aduzi: —Está também indicado em sua aura, Senhor, que em pouco tempo será o mais importante Abade Médico do Tibete. Ele me fitava, agora, com alguma apreensão.

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—Meu menino, — disse —, você tem grande poder. Irá longe. Nunca, nunca abuse do poder que tem. Pode ser perigoso. Agora, vamos falar sobre a aura como iguais. Mas façamo-lo enquanto tomamos chá. Ergueu uma sineta de prata e a sacudiu com vigor tal que receei vê-la voar de sua mão. Em questão de segundos, um jovem monge entrava apressadamente, trazendo chá e — oh, alegria das alegrias! — algumas guloseimas da Mãe Índia!

Enquanto ali estávamos sentados, refleti que todos aqueles Altos Lamas tinham alojamentos confortáveis. Lá embaixo, via os grandes jardins de Lhasa, o Dodpal e o Khati, que — assim parecia — se achavam ao alcance de meu braço, se o estendesse. Mais à esquerda, o Chorten de nossa região, o Kesar Lhakhang, parecia um sentinela, um tanto do outro lado da estrada, mas honesto, e podia ver também meu ponto favorito, o Pargo Kaling (Portão Ocidental).

—O que causa a aura, Senhor? — perguntei.

—Como o seu respeitado guia, o Lama Mingyar Dondup, já lhe disse, — principiou ele —, o cérebro recebe mensagens do Eu Superior. Correntes elétricas são geradas no cérebro. Toda a Vida é energia. A aura constitui uma manifestação de força elétrica. Ao redor da cabeça da pessoa, como você sabe muito bem, existe o nimbo. As pinturas antigas sempre mostram um Santo ou Deus com essa “tigela dourada” ao redor da parte traseira da cabeça.

—Por que tão poucas pessoas vêem a Aura e o Halo? — perguntei.

—Algumas não acreditam na existência da aura, porque elas não a conseguem ver. Esquecem que também não podem ver o ar, e sem ar ninguém consegue viver! Algumas… pouquíssimas… pessoas vêem a aura. Outras, não. Há quem possa ouvir freqüências mais altas e freqüências mais baixas do que outros. Isso tem tanto a ver com o grau de espiritualidade do observador, quanto a capacidade de caminhar sobre ondas indica uma pessoa necessariamente espiritual. Dito isso, sorriu para mim e aduziu: —Eu caminhava sobre ondas, quase tão bem quanto você. Agora, meu corpo já não se presta a isso. Também sorri, pensando que ele precisaria de um tronco de árvores, aliás, um par, para servir-lhe de andas.

—Quando operamos você, para a Abertura do Terceiro Olho — disse o Grande Lama Médico — pudemos observar que partes de sua formação lobo frontal eram muito diferentes das da pessoa comum e, por isso, supusemos que, fisicamente, você nasceu para ser clarividente e telepata. É esse um dos motivos pelos quais você recebeu e continuará a receber este preparo intenso e adiantado. Fitou-me, com satisfação imensa, e prosseguiu: —Vai ter de ficar aqui, na Escola Médica, por alguns dias. Temos de examiná-lo completamente para ver como é possível aumentar sua capacidade, e ensinar-lhe muita coisa. Houve uma tosse discreta à porta e meu guia, o Lama Mingyar Dondup, entrou na sala. Dei um pulo, pondo-me em pé e fazendo uma mesura para ele — o que também foi feito pelo Grande Chinrobnobo. Meu guia sorria.

—Recebi sua mensagem telepática — disse —, Grande Lama Médico, de modo que vim com tanta rapidez quanto pude, pois talvez me desse o prazer de ouvir a confirmação de minha descoberta, no caso de nosso jovem amigo. Dito isso, sorriu para mim e sentou-se. O Grande Lama Chinrobnobo também sorriu e disse:

—Respeitado Colega! Prazerosamente me inclino ao seu conhecimento superior, aceitando este jovem para investigações. Respeitado Colega, vossos próprios talentos são numerosos, sois surpreendentemente versátil, mas nunca encontramos um menino como este. E então, para meu espanto, eles prorromperam em risada, e o Lama Chinrobnobo estendeu o braço para alguma parte atrás de si, dali retirando três jarras de nozes em conserva! Devo ter ficado com uma cara estúpida, pois ambos se voltaram para mim e prorromperam em risadas ainda mais altas.

—Lobsang, você não está usando sua capacidade telepática. Se o fizesse, perceberia que o Reverendo Lama e eu chegamos, ao pecado de fazer uma aposta. Ficou assentado entre nós que, se você correspondesse às minhas afirmações, nesse caso o Reverendo Lama Médico lhe daria três vidros de nozes em conserva, e se você não correspondesse ao padrão que eu declarei, eu teria de fazer uma longa viagem e empreender certos trabalhos médicos para meu amigo. Meu guia sorriu novamente para mim e disse:

—Naturalmente, vou fazer a viagem para ele, de qualquer modo, e você irá comigo, mas temos de acertar as coisas e, agora, a honra ficou satisfeita. Apontou para as três jarras e disse:

—Ponha-as a seu lado, Lobsang. Quando você sair daqui, quando deixar esta sala, leve-as consigo, pois são o botim do vencedor e neste caso o vencedor é você. Eu me sentia realmente aparvalhado. Era claro que não podia usar os poderes telepáticos naqueles dois Altos Lamas. O simples pensar em fazer coisas assim causava-me calafrios. Eu amava meu guia, o Lama Mingyar Dondup, e respeitava enormemente o conhecimento e sabedoria do Grande Lama Médico, Chinrobnobo. Teria sido um insulto, teria sido muito má educação, na verdade, ouvir o que dissessem, mesmo telepáticamente. O Lama Chinrobnobo voltou-se para mim e disse:

—Sim, meu menino, seus sentimentos merecem louvor. Estou realmente satisfeito em cumprimentá-lo, e tê-lo entre nós. Vamos ajudá-lo com seu desenvolvimento. Meu guia disse:

—Agora, Lobsang, vai ter de ficar neste edifício por uma semana, talvez, e vai aprender muita coisa sobre a aura. Ah, sim! — disse, interpretando o olhar que lhe dediquei. — Sei que você julga saber tudo acerca da aura. Pode vê-la, lê-la, mas agora tem de aprender as explicações da mesma, tem de aprender o quanto os demais não vêem. Vou deixá-lo agora, mas o verei amanhã. Ergueu-se e, naturalmente, nós fizemos o mesmo. Meu guia apresentou suas despedidas e depois se retirou daquela câmara bastante confortável. O Lama Chinrobnobo voltou-se para mim e disse:

—Não fique tão nervoso, Lobsang. Nada vai acontecer a você. Vamos, apenas, tentar ajudá-lo e acelerar o seu próprio desenvolvimento. Antes do mais, vamos falar sobre a aura humana. Você, naturalmente, a vê com clareza, e pode compreender a aura, mas imagine se não fosse assim dotado… ponha-se na posição de noventa e nove e nove décimos, ou mais, da população do mundo. Voltou a sacudir com violência aquela sineta de prata e mais uma vez o criado entrou com pressa, trazendo chá e, naturalmente, as “outras coisas necessárias”, que me agradavam mais quando tomava chá!

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Pode ser de interesse mencionar aqui que no Tibete às vezes bebíamos mais de sessenta chávenas de chá em um dia. O Tibete, naturalmente, é um país frio, e o chá quente nos aquecia, não podíamos sair .e comprar bebidas, como os povos do Ocidente faziam. Éramos limitados ao chá e tsampa, a menos que alguma pessoa realmente bondosa trouxesse, de país como a Índia, aquelas coisas das quais não dispúnhamos no Tibete. Acomodamo-nos, e o Lama Chinrobnobo disse:

—Já falamos sobre a origem da aura. Da força vital de um corpo humano. Vamos supor, por momentos, Lobsang, que você não consegue ver a aura e nada sabe a respeito dela, porque apenas pensando assim é que lhe posso contar o que a pessoa comum vê e o que não vê. Assenti, para indicar que compreendera. Naturalmente, nascera com capacidade de ver a aura e coisas assim, e tais poderes tinham sido aumentados pela operação da “Terceira Visão”, e em muitas ocasiões no passado eu fora quase arrastado a dizer o que via, sem perceber que as demais pessoas não viam o mesmo. Lembrei-me de ocasião anterior, quando dissera que uma pessoa ainda estava viva — pessoa essa que o Velho Tzu e eu tínhamos visto caída, ao lado da estrada, e Tzu dissera que eu estava inteiramente errado, que o homem se achava morto. Eu dissera: “Mas, Tzu, o homem ainda está com as luzes acesas!” Por sorte, como compreendi mais tarde, a ventania que soprava truncara minhas palavras, de modo que Tzu não compreendera o significado das mesmas. Movido por algum impulso, entretanto, ele examinara o homem caído à beira da estrada, descobrindo que ainda estava vivo! Mas isto é uma digressão.

—O homem ou mulher comum, Lobsang, não pode ver a aura humana. Alguns, na verdade, sustentam a crença de que não existe coisa tal como a aura humana. Podiam dizer, com a mesma facilidade, que não existe coisa tal como o ar, porque não o podem ver! O Lama Médico olhou para mim, para ver se eu o acompanhava, ou se meus pensamentos tomavam o rumo das nozes em conserva. Satisfeito com meu aspecto de atenção, assentiu com um movimento da cabeça e prosseguiu:

—Enquanto houver vida em um corpo, haverá também uma aura que pode ser vista por quem possua o poder, dom ou capacidade… qualquer que seja o nome. Deixe explicar a você, Lobsang, que, para a percepção mais clara da aura, a criatura que esteja sendo vista deve estar inteiramente nua. Falaremos sobre isso mais tarde. Basta, para as leituras comuns, olhar uma pessoa que tenha alguma roupa no corpo, mas se vai procurar algo relacionado a um motivo médico, nesse caso a pessoa deve estar completa e inteiramente nua. Bem, envolvendo inteiramente o corpo e estendendo-se do mesmo por uma distância de um oitavo de polegada a três ou quatro polegadas, existe o escudo etérico. É uma bruma azul-cinzenta, e quase não se pode chamála de bruma, pois, embora pareça assim, dá para ver claramente por ela. Essa cobertura elétrica é a emanação puramente animal, e provém de modo particular da vitalidade animal do corpo, de modo que uma pessoa muito sadia terá um etérico bastante largo, até mesmo com três ou quatro polegadas de distância quanto ao corpo. Somente os mais dotados, Lobsang, percebem a camada seguinte, pois entre o etérico e a aura propriamente dita existe uma outra faixa, talvez com três polegadas de espessura, e é preciso ser realmente dotado e talentoso para ver cores nessa faixa. Confesso que não consigo ver coisa alguma senão o espaço vazio, nesse ponto. Eu fiquei .realmente satisfeito com isso, porque podia ver todas as cores no espaço, e me apressei a dizê-lo.

—Sim, sim, Lobsang! Sei que você vê nesse espaço, pois você é um dos mais talentosos nesse sentido, mas eu estava fazendo de conta que você não podia ver a aura, de modo nenhum, porque tenho de lhe explicar tudo isso. O Lama Médico olhou para mim com ar de reprovação — reprovação, sem dúvida, por haver eu interrompido o fio de seus pensamentos. Quando julgou que eu estava suficientemente submisso para não apresentar outras interrupções, ele prosseguiu :

—Em primeiro lugar, então, existe a calmada etérica. Após a camada etérica, vem essa zona que tão poucos de nós conseguem distinguir, a não ser como espaço vazio. Por fora dela, temos a aura. A aura não depende tanto da vitalidade •animal quanto da vitalidade espiritual. A aura se compõe de faixas em rodopio, e estrias de todas as cores do espectro visível, e isso significa mais cores do que podemos ver com os olhos físicos, pois a aura é vista por sentidos outros que não a visão física. Todo órgão no corpo humano emite seu próprio feixe de luz, seu feixe de raios, que se alteram e flutuam, conforme a flutuação dos pensamentos da pessoa. Muitas dessas indicações se acham presentes em grau acentuado no etérico e no espaço além, e quando o corpo nu é visto a aura parece ampliar as indicações de saúde ou doença, sendo claro que os suficientemente clarividentes podem perceber a saúde ou a doença de uma pessoa. Eu sabia de tudo a esse respeito, para mim isso era como brincadeira de criança, e eu estivera praticando coisas assim desde a operação da Terceira Visão. Tinha conhecimento dos grupos de Lamas Médicos que se sentavam ao lado de pessoas doentes e examinavam o corpo nu, para ver como podiam ajudá-las. Eu julgara que talvez, estivesse sendo preparado para trabalhar desse modo.

—E então! — disse o Lama Médico. — Você está sendo preparado especialmente, em alto grau, e quando for àquele grande mundo ocidental, além de nossas fronteiras, julgamos e esperamos que você consiga conceber um instrumento pelo qual até mesmo aqueles destituídos de poder oculto conseguirão ver a aura humana. Os médicos, vendo a aura humana, e vendo realmente o que está errado em alguma pessoa, poderão curar-lhe a doença. Como, falaremos mais tarde. Sei que tudo isto é bastante fatigante, grande parte do que estou dizendo já é há muito do seu conhecimento, mas pode ser fatigante porque você é um clarividente nato, e talvez jamais tenha pensado sobre o mecanismo de funcionamento de seu dom; isso é uma questão que deve ser remediada, porque um homem que conheça apenas metade de um assunto estará preparado pela metade, e será útil também pela metade. Você, meu amigo, vai ser muito útil, não resta dúvida! Mas vamos encerrar esta sessão, agora, Lobsang, e voltar a nossos próprios apartamentos… pois um deles foi destinado a você… e poderemos descansar e pensar nessas questões que apenas esboçamos aqui. Nesta semana, você não precisará freqüentar qualquer culto e isso por ordem pessoal de Sua Santidade. Toda a sua energia e devotamento devem ser dirigidos unicamente à compreensão das matérias que eu e meus colegas vamos apresentar. Pos-se em pé, e eu o imitei. Mais uma vez aquela sineta de prata foi empunhada pela mão poderosa, e sacudida com tanto vigor que realmente receei que o pobre objeto se rompesse em pedaços. O monge-criado entrou correndo, e o Lama Médico Chinrobnobo disse:

—Você tratará de Terça-Feira Lobsang Rampa, que é um hóspede de honra aqui, como sabe. Trate-o como trataria um monge visitante de alto grau. Voltou-se para mim, fez uma mesura, eu me apressei a fazer o mesmo, naturalmente, e logo o criado fez sinal para que eu o acompanhasse.

—Pare! — berrou o Lama Chinrobnobo. — Você esqueceu as nozes! Voltei com pressa, apanhando minhas três preciosas jarras, sorrindo um tanto embaraçado enquanto o fazia, e logo segui sem perda de tempo para ir ter com o criado que esperava. Passamos por um corredor curto e o criado me levou a um quarto muito bom, que tinha janelas dando para a barca que cruzava o Rio Feliz.

—Devo cuidar do senhor, Mestre — disse o criado. — A sineta está aqui, para chamar-me quando quiser. Voltou-se e saiu. Eu fui para a janela. A vista do Vale Sagrado me fascinava, pois a barca feita com couros inflados de iaque acabava de sair da margem e o barqueiro a impelia com uma vara, pelo rio veloz. Na outra margem, ao que vi, estavam três ou quatro homens que, por sua indumentária, deviam ser de alguma importância — impressão que logo se confirmou, pelos modos obsequiosos do barqueiro. Eu os observei por alguns minutos e depois, de repente, senti-me mais cansado do que poderia achar possível. Sentei-me no chão, sem ao menos me dar ao trabalho de apanhar uma almofada, e antes de percebê-lo já havia caído de costas, dormindo.

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As horas se arrastaram, ao acompanhamento de estralajantes Rodas de Orações. De repente, sentei-me, ereto, estremecendo de medo. O Culto! Estava atrasado para o Culto. Com a cabeça inclinada para um lado, pus-me à escuta. Em algum lugar, uma voz entoava alguma Litania. Era o suficiente — dei um salto, pondo-me em pé e corri para a porta minha conhecida. Não estava lá! Com um baque que me sacudiu os ossos, colidi com a parede de pedra e caí de costas. Por momentos, houve um clarão azul-branco dentro de minha cabeça, que também bateu na pedra, e logo me recobrei, pondo-me em pé mais uma vez. Em pânico, por estar atrasado, corri pelo quarto e pareceu-me não encontrar porta alguma. Pior ainda, não havia qualquer janela!

—Lobsang — disse uma voz, vinda da escuridão —, você está doente? A voz do criado me trouxe de volta aos sentidos, como um balde de água gelada.

—Oh — disse eu, timidamente. — Esqueci, julguei estar atrasado para o Serviço. Esqueci que tinha sido dispensado. Houve uma risadinha abafada e a voz disse:

—Vou acender a lâmpada, pois a noite está muito escura. Um pequeno brilho veio da porta — que se achava em lugar dos mais inesperados! — e o criado se adiantou para mim. —Um interlúdio dos mais divertidos, — asseverou.

— Pensei, de início, que um bando de iaques disparara e entrara aqui. O sorriso que ostentava retirou toda a ofensa das palavras que pronunciara. Acomodei-me outra vez, e o criado se retirou, levando consigo a luz. Na escuridão menor que era a janela, uma estrela cadente passou, incendiando-se, incandescente, e sua jornada por aquela distância imensa chegara ao fim. Eu me voltei para o outro lado e adormeci. O desjejum foi da mesma tsampa antiga e enfadonha, com chá. Coisa nutritiva, alimentícia, mas sem proporcionar qualquer inspiração. Depois, o criado veio e disse:

—Se estiver pronto, devo levá-lo a outro lugar. Pus-me em pé e caminhei com ele, saindo do quarto. Seguimos por caminho diferente, dessa feita, indo ter a uma parte do Chakpori que eu não sabia existir. Descendo, descendo muito, até que eu julgasse estarmos chegando às entranhas da própria Montanha de Ferro. Já não havia qualquer lampejo de luz, a não ser das lâmpadas que carregávamos. Finalmente, o criado parou, apontando para a frente:

—Prossiga… em frente, e entre na sala à esquerda. Com uma inclinação, voltou-se e regressou por onde tínhamos vindo. Eu prossegui, imaginando: “O que vem, agora?” A sala à esquerda estava diante de mim. Entrei e parei, espantado. A primeira coisa a chamar minha atenção era uma Roda de Orações, no meio do aposento. Tive tempo, apenas para vê-la de relance, mas ainda assim pareceu-me uma Roda de Orações muito estranha, e logo meu nome foi pronunciado:

—Bem, Lobsang! Folgamos em vê-lo aqui. Olhei, e lá estava o meu guia, o Lama Mingyar Dondup, tendo sentado a seu lado o Grande Lama Médico Chinrobnobo, e no outro lado um Lama indiano de aspecto muito distinto, chamado Marfata. Ele já estudara medicina ocidental, e na verdade estudara em alguma Universidade alemã, que creio chamar-se Heidelberg. Era, agora, um monge budista, um lama, naturalmente, mas “monge” na acepção genérica. O indiano me fitou de modo tão inquiridor, tão penetrante, que julguei estar ele examinando o tecido na parte traseira de meu manto — pois ele parecia olhar através de meu corpo. No entanto, naquela determinada ocasião eu nada tinha de ruim na consciência, e retribuí esse olhar. Afinal de contas, por que não olharia para ele? Eu era tão bom quanto ele, pois estava sendo preparado pelo Lama Mingyar Dondup e pelo Grande Lama Médico Chinrobnobo. Um sorriso se forçou em seus lábios rígidos, como se lhe causasse dor intensa. Ele assentiu, voltando-se para meu guia.

—Sim, estou satisfeito em ver que o menino é como dizem. Meu guia sorriu — mas não havia coisa alguma forçada nesse sorriso, que era natural, espontâneo e realmente consolava o coração.. O Grande Lama Médico disse:

—Lobsang, nós o trouxemos aqui, a esta sala secreta, porque queremos mostrar-lhe coisas, e falar de coisas com você. O seu guia e eu o examinamos, e estamos realmente satisfeitos com os seus poderes, poderes esses que vamos aumentar em intensidade. Nosso colega indiano, Marfata, não acreditava que tal prodígio existisse no Tibete. Esperamos que você venha comprovar todas as nossas afirmações. Olhei para o indiano, e pensei: “Bem, aí temos um homem com opinião bastante exaltada, sobre si próprio”. Voltei-me para o Lama Chinrobnobo e disse:

—Respeitável Senhor, O Mais Precioso, que teve a bondade de me conceder audiência em uma série de ocasiões, advertiu-me expressamente contra proporcionar provas, dizendo que a prova era um simples paliativo para a mente ociosa. Aqueles que queriam provas não eram capazes de aceitar a verdade de uma prova, por mais que ficasse esclarecida. O Lama Médico Chinrobnobo riu para mim, de modo que quase receei ser arrastado pela ventania por ele criada, e meu guia também riu, e ambos fitaram o indiano Marfata, que continuava sentado, olhando para mim com ar azedo.

—Menino! — disse o indiano. — Você fala bem, mas a fala não prova coisa alguma, como você próprio diz. Agora, diga-me uma coisa, menino, o que vê em mim? Senti-me bastante apreensivo, parque grande parte do que eu via não me agradava.

—Ilustre Senhor! — disse eu. — Receio que se disser o que vejo, vós venhais a interpretá-lo mal e achar que estou apenas sendo insolente, ao invés de responder à vossa pergunta. Meu guia, o Lama Mingyar Dondup, assentiu em concordância, e pelo rosto do Grande Lama Médico Chinrobnobo um sorriso enorme e radioso se apresentou, como o aparecimento da lua cheia.

—Diga o que quiser, menino, pois não temos tempo para conversa fantasiosa aqui, — disse o indiano. Por alguns momentos, fiquei a olhar o Grande Lama Indiano, e assim foi até que ele próprio se mexesse um pouco, diante da intensidade com que eu o fitava, e então declarei:

— Ilustre Senhor! Ordenaste-me que falasse como vejo, e eu sei que meu guia, o Lama Mingyar Dondup, e o Grande Lama Médico Chinrobnobo também querem que eu fale francamente. Pois bem, isto é o que vejo, e nunca o vi antes, mas com base em vossa aura e vossos pensamentos, percebo o seguinte: Sois um homem que viajou muito, e viajou pelos grandes oceanos do mundo. Fostes àquela pequena ilha cujo nome não conheço, mas onde todas as pessoas são brancas, e onde existe uma outra ilha pequena, próxima, como se fosse um poldro da grande ilha, que seria a égua. Vós vos antagonizastes muito com essa gente, e eles estavam realmente ansiosos por adotar alguma medida contra vós, com relação a algo ligado a… Hesitei nesse ponto, pois o quadro se mostrava bastante obscuro, referia-se a coisas sobre as quais eu não tinha o menor conhecimento. Entretanto, prossegui:

—Houve algo ligado a uma cidade indiana, que em vossa mente presumo ter sido Calcutá, e alguma coisa ligada a um buraco negro, onde as pessoas daquela ilha foram submetidas a grandes inconveniências ou embaraços. De algum modo, julgaram que vós poderíeis ter evitado problemas, ao invés de causá-los. O Grande Lama Chinrobnobo riu outra vez, e isso fez bem a mim, ouvir essa risada, porque indicava que eu estava na pista certa. Meu guia não deu qualquer indicação, mas o indiano rosnou. Eu prossegui:

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—Depois, fostes para outra terra, e posso ver o nome “Heidelberg” claramente escrito em vossa mente. Nessa terra, estudastes medicina de acordo com muitos ritos bárbaros, de acordo com os quais efetuastes muitos cortes, cortastes muitas coisas e serrastes outras, e não usastes os sistemas que temos aqui no Tibete. Com o tempo, recebestes um pedaço de papel grande, com muitos carimbos e selos. Também noto, em vossa aura, que sois um homem com enfermidade. Respirei fundo, nessa altura, porque não sabia como minhas palavras seguintes seriam recebidas.

—A doença de que sofreis é uma para a qual não existe cura, em que as células do corpo se tornam selvagens e crescem como ervas daninhas, mas não de acordo com um padrão, não de um modo ordenado, mas se espalham, obstruem e se agarram em órgãos vitais. Senhor! Estais encerrando vossa própria vida nesta terra, pela natureza de vossos pensamentos, que não reconhecem qualquer bondade nas mentes alheias! Por diversos momentos — a mim pareceram anos! — não houve som algum, e depois o Grande Lama Médico Chinrobnobo disse:

—Isso é inteiramente correto, Lobsang, inteiramente correto! O indiano disse:

—O menino provavelmente foi informado de tudo, antes de vir aqui. Meu guia, o Lama Mingyar Dondup, disse:

—Ninguém falou a seu respeito. Ao contrário, grande parte do que ele disse é novidade para nós, pois não investigamos a sua aura, nem sua mente, porque o senhor não nos convidou a isso. Mas a questão principal que examinamos é que o menino Terça-Feira Lobsang Rampa possui esses poderes, e os mesmos vão ser desenvolvidos ainda mais. Não temos tempo para disputas, nem lugar para elas. Ao invés disso, há trabalho sério a fazer. Venha! — ordenou, pondo-se em pé, e levando-me para aquela grande Roda de Orações.

Examinei o objeto estranho, e vi que não era uma Roda de Orações, afinal de contas, mas ao invés disso um dispositivo com cerca de quatro palmos de altura, a quatro palmos do chão, e uns cinco de largura. Havia duas pequenas janelas de um lado, e pude notar o que me pareceu ser vidro nas mesmas. No outro lado da máquina, e fora do centro, apresentavam-se duas janelas bem maiores. Do lado oposto, existia uma manivela comprida, mas toda a coisa era um mistério para mim. Não fazia a menor idéia do que se tratava. O Grande Lama Médico disse:

—Este é um dispositivo, Lobsang, com o qual aqueles que não são clarividentes podem ver a aura humana. O Grande Lama Indiano Marfata veio aqui consultar-nos, não disse qual a natureza de seu mal, afirmando que se soubéssemos tanto sobre a medicina esotérica, tomaríamos conhecimento de sua enfermidade, sem que fosse preciso ele dizer. Trouxemo-lo aqui, para que pudesse ser examinado com esta máquina. Ele concordou em retirar o manto, e você o examinará primeiro e depois dirá qual é o mal de que ele sofre. Depois, utilizaremos esta máquina e veremos até onde suas descobertas e as da máquina podem coincidir. Meu guia indicou um ponto em uma parede escura, e o indiano seguiu até lá, retirando o manto e demais peças de roupa, de modo que se apresentou na pele castanha e nua contra a parede.

—Lobsang! Olhe bem para ele, e diga-nos o que vê, — ordenou meu guia.

Eu não olhei para o indiano, mas um tanto para um dos lados. Pus os olhos fora de foco, por ser esse o meio mais fácil de ver a aura. Isto é, não usei a visão binocular normal, mas ao invés disso, via com cada um dos olhos, em separado. É realmente difícil explicar, mas consistia em olhar com um dos olhos para a esquerda e com o outro para a direita, e isso é simplesmente uma habilidade — um truque — que pode ser aprendido, a bem dizer, por qualquer pessoa. Olhei o indiano, e sua aura brilhava e flutuava. Vi que era realmente um grande homem, de grande poder intelectual, mas que, infelizmente, toda sua visão fora amargurada pela doença misteriosa que tinha. Enquanto o fitava, enunciei meus pensamentos, falei à medida que vinham a meu espírito. Não percebia, de modo algum, a atenção com que meu guia e o Grande Lama Médico ouviam minhas palavras.

—Está claro que a doença foi causada por muitas tensões dentro do corpo. O Grande Lama Indiano esteve insatisfeito e frustrado, e isso agiu contra a saúde dele, fazendo com que as células de seu corpo disparassem, fugindo da direção do Eu Superior. Assim, ele tem essa enfermidade aqui — (eu apontei para o fígado) — e, por ser homem de temperamento muito áspero, a doença se agrava a cada vez que é contrariado. Torna-se claro, pela aura, que se ele se pusesse mais tranqüilo, mais plácido, como o meu guia, o Lama Mingyar Dondup, permaneceria mais tempo nesta terra, e assim conseguiria realizar uma parte maior de sua tarefa, sem necessidade de ter de voltar.

Mais uma vez reinou o silêncio, e fiquei satisfeito em ver que o lama indiano assentia, como em acordo completo com meu diagnóstico. O Lama Médico Chinrobnobo voltou-se para aquela máquina estranha, e espiou pelas janelinhas. Meu guia foi ter à manivela, fazendo-a girar com força cada vez maior, até que uma palavra do Lama Médico Chinrobnobo o levasse a manter a rotação em velocidade constante. Por algum tempo, o Lama Chinrobnobo espiou por aquele dispositivo, depois empertigou-se e, sem dizer uma palavra, o Lama, Mingyar Dondup tomou seu lugar, enquanto o Lama Médico Chinrobnobo acionava a manivela, como meu guia fizera anteriormente. Afinal, eles terminaram seu exame, e ali ficaram, sendo óbvio que conversavam por telepatia. Não fiz qualquer tentativa de interceptar-lhe os pensamentos, porque fazê-lo teria sido uma grosseria e me teria posto “acima de minha posição”. Finalmente, voltaram-se para o indiano e disseram:

—Tudo que Terça-Feira Lobsang Rampa lhe disse é correto. Examinamos sua aura do modo mais completo, e acreditamos que tenha câncer do fígado. Também acreditamos que isso tenha sido causado por certa irritabilidade. Acreditamos que, se você levar uma vida tranqüila, ainda terá bom número de anos à frente, anos nos quais poderá cumprir sua tarefa. Estamos preparados para interceder em seu favor, de modo que, se você concordar com nosso plano, terá permissão de ficar aqui em Chakpori. O indiano debateu o assunto por algum tempo, e depois fez sinal a Chinrobnobo, com quem deixou a sala. Meu guia, o Lama Mingyar Dondup, bateu-me no ombro e disse:

—Andou bem, Lobsang. Andou bem! Agora, quero mostrar-lhe esta máquina. Seguiu para aquele dispositivo muito estranho, e suspendeu uma parte da tampa. Toda a coisa se movia, e lá dentro vi uma série de braços que vinham de um eixo central. Na extremidade dos braços havia prismas de vidro em vermelho-rubi, azul, amarelo e branco. À medida que a manivela era acionada, correias que ligavam a manivela ao eixo faziam com que os braços girassem, e eu observei que cada prisma, à sua vez, era posto em alinhamento, o que se via espiando pelos dois oculares. Meu guia mostrou-me como a coisa funcionava e depois disse:

—Está claro que isto é um dispositivo muito primitivo e desajeitado. Nós o utilizamos aqui para experiências, na esperança de que algum dia se possa fazer um modelo menor. Você jamais terá de utilizá-lo, Lobsang, mas não são muitos os que possuem o poder de “ver a aura com tanta clareza. Em alguma ocasião, explicarei o funcionamento com mais detalhes; mas, resumindo, a máquina se baseia num princípio heteródino, pelo qual prismas coloridos emrotação rápida interrompem a linha da visão, destruindo assim a imagem normal do corpo humano e intensificando os raios, muito mais fracos, da aura. Recolocou a tampa, e voltou-se para outro dispositivo em uma mesa a um canto distante. Seguia para lá, quando o Lama Médico Chinrobnobo voltou à sala e veio ter conosco.

—Ah! — disse, aproximando-se de nós. — Com que, então, vai examinar o poder de pensamento dele? Ótimo! Preciso ver isto! Meu guia apontou para um cilindro curioso, feito, ao que parecia, de papel bruto.

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—Isto, Lobsang, é um papel grosso e forte. Você verá que tem inúmeros buracos, feitos com um instrumento muito embotado, de modo que o papel está rasgado e deixa projeções. Depois disso, dobramos esse papel, de modo que todas as projeções ficassem para fora e a folha, ao invés de ser lisa, formasse um cilindro. Sobre a parte superior do cilindro, fixamos uma palha rígida, e num pequeno pedestal fixamos uma agulha pontiaguda. Assim, temos o cilindro apoiado num suporte quase destituído de fricção. Agora, observe! Sentou-se, e pôs as mãos em ambos os lados do cilindro, sem tocá-lo, mas deixando perto de uma polegada ou polegada e meia de espaço entre as mãos e as projeções. Logo o cilindro começava a girar, e fiquei atônito à medida que aquilo adquiria velocidade, chegando a girar com rapidez. Meu guia o deteve, com um toque, e colocou as mãos na direção oposta, de modo que os dedos — ao invés de apontarem para longe de seu corpo, como fora antes — apontavam agora para o mesmo. O cilindro começou a girar, mas na direção oposta!

—O senhor está soprando nele! — disse eu.

—Todos dizem isso! — disse o Lama Médico Chinrobnobo. — Mas estão completamente errados. O Grande Lama Médico foi a um recanto, numa parede distante, e dali voltou trazendo uma chapa de vidro, bastante grossa, que levou a meu guia, o Lama Mingyar Dondup. Meu guia deteve o cilindro, para que não girasse, e permaneceu quieto e parado, enquanto o Grande Lama Médico Chinrobnobo punha a folha de vidro entre ele e o cilindro de papel.

—Pense em rotação, — disse o Lama Médico. Meu guia deve tê-lo feito, pois o cilindro começou a girar outra vez. Era de todo impossível que ele, ou qualquer outra pessoa, soprasse sobre o cilindro, fazendo-o girar, devido ao vidro. Ele tornou a deter o cilindro, voltando-se para mim e dizendo:

—Você venha tentar, Lobsang! Levantou-se do banco, onde eu me sentei. Coloquei as mãos exatamente como meu guia fizera. O Lama Médico Chinrobnobo segurava a folha de vidro, à minha frente, para que minha respiração não influenciasse a rotação do cilindro. Eu estava ali, sentado, sentindo-me um imbecil. Ao que parecia, o cilindro achava que eu realmente o era, pois nada aconteceu.

—Pense em fazê-lo girar, Lobsang! — disse meu guia. Eu pensei, e imediatamente a coisa começou a girar. Por momentos, tive vontade de largar tudo e sair correndo — julgando que aquilo era enfeitiçado, mas logo a razão (de certo tipo!) prevaleceu, e permaneci sentado.

—Este dispositivo, Lobsang, — disse meu guia —, gira pela força da aura humana. Você pensa em rodá-lo, e sua aura põe um rodopio na coisa, que a faz girar. Você pode estar interessado em saber que um dispositivo assim já foi experimentado em todos os principais países do mundo. Todos os maiores cientistas já procuraram explicar o funcionamento desta coisa, mas a gente ocidental, naturalmente, não pode acreditar em força/energia etérica, de modo que inventam explicações ainda mais estranhas do que a força verdadeira do etérico! O Grande Lama Médico disse:

—Estou com muita fome, Mingyar Dondup. Acho ter chegado o momento de voltarmos a nossos quartos, para descansar e comer. Não devemos sobrecarregar as capacidades do rapaz, nem sua resistência, pois ele enfrentará bastante disso no futuro. Nós nos voltamos, e as luzes se apagaram naquela sala. Seguimos pelo corredor de pedra, para o edifício principal do Chakpori. Eu logo me encontrei em uma sala com meu guia, o Lama Mingyar Dondup. Logo — pensando feliz! — consumia alimento, e me sentia muito melhor.

—Coma bem, Lobsang — disse meu guia — porque mais tarde, hoje, voltaremos a vê-lo, para falar sobre outros assuntos.

Por uma hora, aproximadamente, descansei em meu quarto espiando pela janela, parque tinha uma fraqueza: sempre gostei de olhar de lugares altos, observando o mundo a se mover lá embaixo. Gostava muitíssimo de observar os comerciantes, seguindo em marcha lenta pelo Portão Ocidental, indicando a cada passo que davam o deleite por terem alcançado o final de uma viagem longa e árdua, pelos altos passos das montanhas. No passado, os comerciantes haviam-me falado da visão maravilhosa que se tinha, de determinado lugar num passo alto onde, quando se vinha da fronteira indiana, podia-se espiar por uma rachadura das montanhas, e ver a Cidade Sagrada, com seus telhados refulgindo em ouro e, pelo lado das montanhas, as paredes brancas do “Monte de Arroz”, semelhante realmente a um monte de arroz, estendendo-se em profusão generosa pelas encostas montanhosas. Eu adorava observar o barqueiro que atravessava o Rio Feliz, e sempre estava à espera para ver um furo surgir em seu barco de peles infladas. Ansiava por vê-lo afundar gradualmente, desaparecer de vista, até que apenas a cabeça do homem estivesse acima da água. Nunca tive tanta sorte, porém, e o barqueiro sempre chegou à outra margem, recebendo sua carga e regressando.

Não tardou que eu estivesse outra vez naquela sala profunda, com meu guia, o Lama Mingyar Dondup, e o Grande Lama Médico Chinrobnobo.

—Lobsang! — disse o Grande Lama Médico. — Quando for examinar um paciente ou uma paciente, para poder ajudá-lo ou ajudá-la, você precisa fazer com que a pessoa fique inteiramente sem roupa.

—Honrado Lama Médico! — disse eu, um tanto confuso. — Não vejo motivo pelo qual eu deva fazer, uma pessoa tirar a roupa, neste clima frio, pois posso ver-lhe a aura perfeitamente, sem qualquer necessidade, em absoluto, de retirar uma só peça, e, oh! Respeitável Lama Médico! Como seria possível eu pedir a uma mulher que tirasse a roupa?

Meus olhos se voltaram para cima, no horror causado pelo pensamento. Devo ter formado uma figura bastante cômica, porque tanto meu guia quanto o Lama Médico explodiram em gargalhadas. Sentaram-se, enquanto davam vazão à sua hilaridade. Fiquei à frente deles, sentindo-me formidavelmente imbecil mas, na verdade, minha perplexidade era completa quanto a essas coisas. Eu podia ver uma aura perfeitamente — sem problema algum — e não viá motivo para afastar-me do que era minha própria prática normal.

—Lobsang! — disse o Lama Médico. — Você é um clarividente muito dotado, mas existem coisas que você não vê ainda. Você nos deu uma demonstração notável da habilidade que tem em ver a aura humana, mas não teria percebido a enfermidade do fígado no lama indiano Marfata, se ele não houvesse retirado a roupa.

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Refleti sobre isso, e quando pensei bem tive de reconhecer que era verdade; ao olhar para o lama indiano, enquanto o mesmo estivera com o manto, embora visse muita coisa a respeito de seu caráter e traços básicos, eu não percebera o mal no fígado.

—Está inteiramente correto, Honrado Lama Médico, — confirmei —, mas eu gostaria de receber mais algum preparo do senhor, nessa questão. Meu guia, o Lama Mingyar Dondup, olhou para mim e disse:

—Quando você olha para a aura de uma pessoa, quer ver a aura dela, não está preocupado com os pensamentos da ovelha, da qual veio a lã que foi transformada em um manto. Todas as auras são influenciadas por aquilo que interfere com seus raios diretos. Aqui temos uma lâmina de vidro, e se eu soprar sobre ela, isso afetará o que você pode ver através do vidro. Da mesma forma, embora este vidro seja transparente, na verdade êle altera a luz, ou melhor, a cor da luz, que você veria quando espiando por ele. Do mesmo modo, se olhar por um pedaço de vidro colorido, todas as vibrações que recebe de um objeto são alteradas em intensidade pela ação do vidro colorido. Assim é que uma pessoa cujo corpo esteja vestido, ou tenha ornamentos de qualquer tipo, fica com a aura modificada, de acordo com o teor etérico da roupa ou ornamento. Pensei sobre isso, e tive de concordar com o que o meu guia afirmava. E ele prosseguiu:

—Uma outra questão é que cada órgão do corpo projeta seu próprio quadro… seu próprio estado de saúde ou doença… no etérico, e a aura, quando descoberta e livre da influência das roupas, amplia e intensifica a impressão que recebemos. Assim, é fora de dúvida que, se você vai ajudar uma pessoa, para saber se está com saúde ou doente, terá de examiná-la sem as roupas. Sorriu para mim, e aduziu:

—E se estiver fazendo frio, Lobsang, ora! Você terá de levá-la para um lugar mais quente!

—Honrado Lama — disse eu —, faz algum tempo que o senhor me disse que estava trabalhando em um dispositivo que permitiria a cura de doença, por meio da aura.

—Isso é inteiramente correto, Lobsang — disse meu guia —, a doença é apenas uma dissonância nas vibrações do corpo. Um órgão tem sua cadência de vibração molecular perturbada, sendo assim considerado doente. Se pudéssemos realmente ver o quanto a vibração de um órgão se afasta do normal, nesse caso, restaurando a cadência de vibração à que devia ser, teremos efetuado uma cura. No caso de uma doença mental, o cérebro geralmente recebe mensagens do Eu Superior, que não consegue interpretar corretamente, e assim os atos resultantes são aqueles que se afastam do que é aceito como atos normais de um ser humano. Desse modo, se o ser humano não conseguir raciocinar ou agir de modo normal, diz-se que apresenta alguma enfermidade mental. Medindo a discrepância… ou subestímulo… podemos ajudar uma pessoa a recuperar o equilíbrio normal. As vibrações podem estar mais baixas do que o normal, resultando em subestímulo, ou mais altas do que o normal, o que apresentaria efeito semelhante àquele de uma febre cerebral. De modo perfeitamente definido, a doença pode ser curada pela intervenção através da aura. O Grande Lama Médico interveio nesse ponto, dizendo:

—Por falar nisso, Respeitável Colega, o Lama Marfata esteve falando sobre essa questão comigo, e disse que em certos lugares da Índia… em certas lamaserias isoladas… eles estavam fazendo experiências com um dispositivo de voltagem muito alta, conhecido como… — ele hesitou, e disse: — É um gerador de Graaf. — Mostrava-se um tanto incerto quanto aos termos, mas fazia um esforço realmente viril para nos dar a informação exata. —Esse gerador, ao que parece, desenvolve uma voltagem extraordinariamente alta, com corrente extraordinariamente baixa, e aplicado de certo modo ao corpo, faz com que a intensidade da aura aumente muitíssimas vezes, de modo que até o não clarividente possa observá-la com clareza. Também estou informado de que fotografias foram tiradas de uma aura humana, sob tais condições. Meu guia assentiu, com ar solene, e disse:

—Sim, também é possível ver a aura humana por meio de um corante especial, um líquido que fica imprensado entre duas lâminas de vidro. Providenciando-se iluminação e fundo adequados, e vendo o corpo humano nu por essa cortina, muitas pessoas podem realmente ver a aura. Eu intervim, dizendo:

—Mas, Honrados Senhores! Por que as pessoas têm de utilizar todos esses truques? Eu posso ver a aura! Por que elas não podem? Meus dois mentores voltaram a rir, e dessa feita não acharam necessário explicar a diferença entre o preparo como o que eu tinha e o preparo do homem ou mulher comuns. O Lama Médico disse:

—Agora, sondamos no escuro, procuramos curar nossos pacientes, usamos regras empíricas, tais como ervas e pílulas e poções. Somos como homens cegos, procurando um alfinete que caiu ao chão. Gostaria de ver um dispositivo pequeno, de modo que qualquer pessoa não-clarividente pudesse espiar por ele e ver a aura humana, ver todos os defeitos da aura humana e, ao vê-los, se capacitasse a curar a discrepância ou deficiência que foi realmente a causa da doença. Durante o resto daquela semana, mostraram-me coisas, usando o hipnotismo e a telepatia, e meus poderes aumentaram e se intensificaram; tivemos conversas sucessivas sobre os melhores meios de ver a aura e aperfeiçoar uma máquina que também visse a aura e então, na última noite daquela semana, fui para meu pequeno quarto na Lamaseria de Chakpori, espiando pela janela e pensando no dia seguinte, quando voltaria àquele dormitório maior, onde dormia em companhia de tantos outros.

As luzes no Vale cintilavam. Os últimos raios do sol, vindos sobre a orla rochosa de nosso Vale, faziam tremeluzir os telhados dourados, como se fossem dedos faiscantes a emitir chuveiros de luz dourada, e ao fazê-lo dividiam a luz em cores iridescentes, que eram do espectro do próprio ouro. Azuis, amarelos, vermelhos e até alguns verdes, lutavam por atrair o olhar, tornando-se cada vez mais fracos, à medida que a luz esmaecia. Logo o próprio Vale se achava envolto em veludo escuro, um azul-violeta escuro ou purpúreo, que quase podia ser apalpado. Por minha janela aberta, eu sentia o odor dos salgueiros, e o odor das plantas no jardim tão lá embaixo. Uma brisa vadia trazia odores ainda mais fortes às minhas narinas, o pólen e as flores em botão. Os últimos raios do sol desapareceram completamente, e não mais aqueles dedos de luz vinham sondar a orla de nosso Vale fechado por rochas. Ao invés de fazê-lo, atiravam-se ao céu que escurecia, refletindo-se sobre nuvens baixas, exibindo vermelho e azul.

De modo gradual, a noite se tornou mais escura, à medida que o sol se punha mais e mais, para além de nosso mundo. Logo surgiam pontos brilhantes de luz no céu purpúreo escuro, a luz de Saturno, de Vénus, de Marte. Depois veio a luz da Lua, corcovada no céu, com todas as marcas de bexiga bem claras. Pela face da lua passou uma nuvem leve e esgarçada. Fazia-me pensar em uma mulher, que se encobria com alguma peça de indumentária, depois de ter sido examinada mediante a aura. Eu me voltei, decidido em cada fibra do meu ser em que faria tudo para aumentar o conhecimento da aura humana, e ajudaria aqueles que saíssem pelo grande mundo a fora para levar ajuda e paz a milhões de sofredores. Deitei-me no chão de pedra, e quase no mesmo instante em que minha cabeça tocou no manto dobrado adormeci, e não percebi mais nada.


“Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem”.  –  Mateus 7:13,14

countdown-contagem-regressivaAcautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos?  Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Mateus 7:15-19

Não vos enganeis. As más companhias corrompem os bons costumes” – 1 Coríntios 15, 33


Saiba mais, leitura adicional:

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