As Digitais dos deuses (52) – Como um Ladrão na Noite

Há no mundo certas estruturas, certas idéias, certos “tesouros intelectuais” realmente misteriosos. Estou começando a desconfiar que a raça humana pode ter se colocado em grave risco ao deixar de considerar as implicações desses mistérios. Temos a capacidade, única no reino animal, de aprender com as experiências de nossos predecessores. Após Hiroshima e Nagasaki, por exemplo, três gerações chegaram à vida adulta bem-informadas da destruição horripilante desencadeada por armas nucleares. Nossos filhos terão também consciência desse fato, sem tê-los experimentado diretamente, e passarão esses dados aos seus próprios filhos.

Livro “AS DIGITAIS dos DEUSES”, uma resposta para o mistério das origens e do fim da civilização

Por Graham Hancock, livro “AS DIGITAIS DOS DEUSES”, Tradução de Ruy Jungmann, editora Record 2001.

CAPÍTULO 52 – Como um Ladrão na Noite

Teoricamente, portanto, o conhecimento do que bombas atômicas podem causar tornou-se parte da herança histórica permanente da humanidade. Se resolvemos ou não tirar proveito dessa herança é problema nosso. Não obstante, o conhecimento existe, se quisermos usá-lo, porque foi preservado e transmitido em registros escritos, em filmes, em pinturas alegóricas, em memoriais a vítimas da hecatombe, e assim por diante. Não se atribui a todos os depoimentos oriundos do passado, porém, o mesmo status concedido a Hiroshima e Nagasaki. Muito ao contrário, tal como a Bíblia canônica, o corpo de conhecimentos que denominamos de “História” é um artefato cultural revisto e modificado (e muito manipulado para nos manter ignorantes), do qual muita coisa (as mais importantes) ficou de fora.

Em particular, referências a experiências humanas anteriores à invenção da escrita, há cerca de 5.000 anos, foram omitidas em sua totalidade e mito transformou-se em sinônimo de fantasia. Mas, e se os mitos não são nada disso? Suponhamos que um terrível cataclismo se abatesse hoje sobre a Terra, obliterando as realizações de nossa civilização e matando quase todos nós. Suponhamos, para parafrasear Platão, que fomos forçados por esse cataclismo a “recomeçar como crianças, em ignorância completa do que aconteceu antes”.

Nessas circunstâncias, dentro de 10 ou 12 mil anos a partir de agora (tendo sido destruídos há muito tempo todos os textos e filmes), que depoimentos poderiam nossos descendentes ainda preservar, a respeito do que aconteceu nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945 da era cristã? É fácil imaginar que eles poderiam falar em termos místicos de explosões que desprenderam “um terrível clarão” e um “imenso calor”. Nem ficaríamos surpresos demais ao descobrir que talvez tivessem formulado uma versão “mítica” do caso, mais ou menos nos seguintes termos:

As chamas dos mísseis carregados de Brahmastra misturaram-se entre si e, cercados por flechas de fogo, cobriram a terra, céu e espaço e aumentaram a conflagração como se fosse o fogo e o Sol no fim do mundo… Todos os seres que foram queimados pelos Brahmastras, e viram o fogo terrível de seus mísseis, pensaram que era o fogo da Pralaya (o cataclismo) que queimava e destruía o mundo.

E o que dizer do Enola Gay que transportou a bomba atômica que destruiu Hiroshima, em dezembro de 1945? Como poderiam nossos descendentes lembrar a estranha aeronave e esquadrões de outras iguais a ela que coalharam os céus do planeta como se fossem enxames de abelhas durante o século XX. da “era cristã”? Não seria possível, provável mesmo, que eles pudessem preservar tradições de “carros celestes” e “carruagens celestiais”, “grandes máquinas voadoras” e mesmo “cidades aéreas”. Se fizessem isso, eles talvez falassem de tais maravilhas em termos míticos como os seguintes:

Oh, tu, Uparicara Vasu, a grande máquina voadora virá a teu encontro – e tu apenas, entre todos os mortais, sentado nesse veículo, parecerás uma divindade. Visvakarma, o arquiteto dos deuses, construiu veículos aéreos para eles. . Oh, tu, descendente dos Kurus, aquele ser perverso chegou naquele veículo voador, que por toda parte vai, conhecido como Saubhapura, e me trespassou com armas. Ele penetrou no palácio divino favorito de Indra e viu milhares de veículos voadores destinados aos deuses, que nesse momento repousavam. . Os deuses chegaram em seus respectivos veículos voadores para presenciar a batalha entre Kripacarya e Arjuna. Até Indra, o Senhor do Céu, veio em um tipo especial de veículo voador, que podia acomodar 33 seres divinos.

Todas essas citações foram tiradas do Bhagavata Purana e do Mahabaratha, escritos sagrados da Índia, duas gotas no oceano da literatura de sabedoria antiga do subcontinente indiano. E essas imagens são repetidas em muitas
outras tradições arcaicas. Para dar um único exemplo (conforme vimos no Capítulo 42), os Textos da Pirâmide estão repletos de imagens anacrônicas de vôo:

O Rei (o faraó) é uma chama, movendo-se à frente do vento até o fim do céu e da terra (…) O Rei viaja pelo ar através da terra… A ele foi dada uma maneira de subir ao céu. (…)

Será possível que as referências constantes nas literaturas arcaicas a algo como a aviação possam ser depoimentos históricos válidos, sobre as realizações de uma era tecnológica esquecida e remota? Jamais saberemos, a menos que tentemos descobrir. E até agora não tentamos, porque nossa cultura racional, científica, considera mitos e tradições como “não-históricos”. Sem a menor dúvida, muitos deles são não-históricos, mas, ao fim da pesquisa que embasa este livro, tenho certeza de que muitos outros não são apenas mitos…(nota de Thoth: como o “mito” de Tróia, até que a localização e os restos desta cidade foram descobertos… para desespero dos “eruditos acadêmicos” que consideravam a história de Tróia apenas como um “mito”, até que o autodidata (portanto livre do apego à dogmas científicos dos “eruditos e especialistas”) Heinrich Schliemann, um notável aventureiro, falante de 15 línguas [incluindo português], viajante e um talentoso  arqueólogo a descobriu assim como Micenas) 

Para o Benefício de Futuras Gerações da Humanidade

Vejamos o cenário seguinte: Suponhamos que calculamos, na base de prova sólida e além de qualquer sombra de dúvida, que nossa civilização está prestes a ser obliterada por um cataclismo geológico de proporções colossais – um deslocamento de 30° na crosta terrestre, por exemplo, ou uma colisão, de frente, com um asteróide de ferro-níquel, de uns 16km de diâmetro, que vem em nossa direção a uma velocidade cósmica. Claro, no início haveria grande pânico e desespero. Não obstante – se houvesse aviso antecipado suficiente -, medidas seriam tomadas para assegurar que haveria alguns sobreviventes e que parte do que é mais valioso em nossos altos conhecimentos científicos seria preservada para o benefício de futuras gerações.

Estranhamente, o historiador judeu Josephus (em obra escrita no século I d.C.) atribui exatamente esse comportamento aos habitantes inteligentes e prósperos do mundo antediluviano, que viveram antes do Dilúvio, “em um estado de felicidade, sem que nenhum infortúnio os atingisse”. Eles foram também os inventores daquele tipo peculiar de sabedoria que se interessa pelos corpos celestes e sua ordem. E para que suas invenções não fossem perdidas – de acordo com a profecia de Adão, de que o mundo seria destruído uma vez pela força do fogo e em outra pela violência e quantidade da água – eles construíram dois pilares, um de tijolo e o outro de pedra: em ambos inscreveram suas descobertas, de modo que, no caso de o pilar de tijolos ser destruído pelo Dilúvio, o pilar de pedra poderia continuar intacto e mostrar-lhes as descobertas à humanidade e também informá-la de que havia outro pilar de tijolos, também por eles erigido…

De igual maneira, quando John Greaves, astrônomo de Oxford, visitou o Egito no século XVII, ele compilou tradições locais antigas, que atribuíam a construção das três pirâmides de Gizé a um mítico rei antediluviano:

Isso aconteceu porque ele viu em sonho que toda a terra era virada de cabeça para baixo, com os habitantes estatelados de bruços no chão e as estrelas caindo e se chocando com um barulho terrível. (…) Acordou tomado de grande medo e reuniu os principais sacerdotes de todo o Egito. (…) Contou-lhes o sonho, eles mediram a altitude das estrelas, fizeram seus prognósticos e previram um dilúvio. O rei perguntou: o dilúvio atingirá nosso país? Eles responderam que sim e que o destruiria. Mas restava ainda certo número de anos e ele ordenou que, nesse espaço de tempo, fossem construídas as pirâmides… E gravou nelas tudo que era dito pelos sábios, como também todas as ciências profundas – as ciências da astrologia, da aritmética, da geometria e da física. Tudo isso poderá ser interpretado por aquele que reconhecer seus caracteres e linguagem…

Tomada pelo valor aparente, a mensagem desses dois mitos parece meridianamente clara: certas misteriosas estruturas em torno do mundo foram construídas para preservar e transmitir os conhecimentos de uma civilização avançada da antiguidade remota, que foi destruída por uma terrível calamidade. Poderia ter isso acontecido? E de que modo devemos interpretar outras estranhas tradições, que nos chegaram da escuridão da arca da pré-história? De que modo devemos interpretar, por exemplo, o Popol Vuh, que fala em linguagem velada de um grande segredo do passado humano: uma idade áurea, há muito esquecida, quando tudo era possível – um tempo mágico de progresso científico e iluminismo, quando os “Primeiros Homens” (“dotados de inteligência não apenas “mediram a face redonda da Terra”, mas “examinaram os quatro pontos do arco do céu”.

Como os leitores devem lembrar-se, os deuses ficaram ciumentos com o rápido progresso feito por esses humanos novos-ricos, que haviam “conseguido ver, conseguido saber, tudo o que há no mundo”. Rapidamente, caiu a vingança divina:

“O coração do céu soprou nevoeiro nos olhos dos homens. (…) Dessa maneira, toda sabedoria e todo conhecimento da origem deles e de seu início [juntamente com a recordação que deles tinham] foram destruídos”.

O segredo do que aconteceu, porém, nunca se perdeu inteiramente, porque um registro desses distantes Primeiros Tempos foi preservado, até a chegada dos espanhóis, nos textos sagrados do Popol Vuh original. Os abusos cometidos durante a conquista tornaram necessário que esse documento primordial fosse escondido de todos, com exceção dos sábios mais altamente iniciados, e substituído por um texto aguado, escrito “de acordo com a lei do catolicismo” de Roma:

“Não pode ser mais visto o livro do Popol Vuh, que os reis possuíam nos tempos antigos. (…) O livro original, escrito há muito tempo, existia – mas, nesse momento, vê-lo era proibido ao buscador e ao pensador…”

No outro lado do mundo, entre os mitos e tradições do subcontinente indiano, encontramos outras indicações intrigantes de segredos ocultos. Na versão Purânica da história universal do dilúvio, lemos que, pouco antes de começar a inundação, o deus-peixe Vishnu avisou a seu protegido humano que ele “devia esconder as Escrituras Sagradas em lugar seguro, a fim de preservar da destruição os conhecimentos das raças antediluvianas”. De idêntica maneira, na Mesopotâmia, a figura equivalente a Noé, Utnapishtim, recebeu instruções do deus Ea-Enki para “levar o começo, o meio e o fim de tudo que foi consignado na escrita e, em seguida, enterrá-los na Cidade do Sol, em Sippara”.

Quando desapareceram as águas, os sobreviventes receberam instruções para se dirigirem à Cidade do Sol e “procurar os escritos”, que descobririam que continha conhecimentos que seriam úteis às futuras gerações da humanidade. Curiosamente, foi a Cidade do Sol no Egito, Innu, conhecida pelos gregos como Heliópolis (On), a mesma que veio a ser considerada durante todo o período dinástico como fonte e centro da alta sabedoria legada aos mortais pelos fabulosos deuses dos Primeiros Tempos. E foi em Heliópolis que ocorreu a compilação dos Textos da Pirâmide e coube aos sacerdotes da cidade – ou melhor, do culto que aí se praticava – a custódia dos monumentos da necrópole de Gizé.

Mais do que um Simples “Kilroy Esteve Aqui” (Kilroy was here)

Mas voltemos ao nosso cenário:

  • Sabemos que nossa civilização do século XX, pós-industrial, está prestes a ser destruída por um inescapável cataclismo cósmico ou geológico (ou ambos);
  • Sabemos – porque nossa ciência é muito “competente” – que a destruição vai ser quase total;
  • Mobilizando recursos tecnológicos maciços, pomos nossas melhores mentes para trabalhar, a fim de garantir que, pelo menos, uma parte de nossa espécie sobreviverá à catástrofe, e que o núcleo de nossos conhecimentos científicos, médicos, astronômicos, geográficos, arquitetônicos e matemáticos será preservado;
  • Sabemos bem, claro, que são escassas nossas possibilidades de ter sucesso em ambas as coisas. Não obstante, galvanizados pela perspectiva de destruição, fazemos um esforço imenso para construir as Arcas ou as Vars, ou espaços fechados impregnáveis, nos quais os sobreviventes “escolhidos” possam ser protegidos, e concentramos nossa grande engenhosidade em maneiras de transmitir às futuras gerações a essência dos conhecimentos que acumulamos durante os 5.000 anos de nossa história documentada.

Começamos a nos preparar para o pior. Damos por certo que haverá sobreviventes, mas que serão jogados pelo cataclismo de volta à Idade da Pedra. Compreendendo que serão necessários de dez a doze mil anos para que uma civilização tão avançada quanto a nossa ressurja das cinzas, como a Fênix, uma de nossas maiores prioridades será descobrir uma maneira de nos comunicarmos com essa suposta futura civilização. Pelo menos, gostaríamos de lhe dizer KILROY ESTEVE AQUI! e ter a certeza de que ela recebeu a mensagem, qualquer que seja a língua que fale ou que tendências éticas, religiosas, ideológicas, metafísicas ou filosóficas sua sociedade possa exibir. Tenho certeza de que gostaríamos de dizer mais do que apenas “Kilroy esteve aqui!”. Gostaríamos, por exemplo, de dizer a ela – a esses nossos distantes netos – quando nós vivemos, em relação a seus tempos.

De que maneira poderíamos fazer isso? De que maneira diríamos, digamos, “ano 2012 d.C. da era cristã”, em uma linguagem suficientemente universal para ser decifrada e compreendida dentro de doze mil anos por uma civilização que nada saberia da era cristã ou de quaisquer outras eras através das quais expressamos a cronologia histórica? Uma solução óbvia seria usar a bela previsibilidade da precessão axial da Terra, que produz o efeito de lenta e regularmente alterar a declinação de todo o campo estelar, em relação a um observador que esteja localizado em um ponto fixo no planeta e que, com igual lentidão e regularidade, muda o ponto equinocial em relação às doze constelações do zodíaco. A vista da previsibilidade desse movimento, segue-se que, se conseguirmos descobrir uma maneira de declarar, NÓS VIVEMOS QUANDO O EQUINÓCIO VERNAL SE ENCONTRAVA NA CONSTELAÇÃO DE PEIXES, propiciaremos a eles um meio de especificar nossa época dentro de um único período de 2.160 anos em cada grande ciclo precessional de 25.920 anos.

O único problema com esse plano seria se uma civilização equivalente à nossa não surgisse dentro de 12.000 ou mesmo 20.000 anos após o cataclismo, mas levasse muito mais tempo -, talvez até 30.000 anos. Neste caso, um monumento ou criação que servisse de calendário, declarando “nós vivemos quando o equinócio vernal estava na constelação de Peixes”, não seria mais inequívoco. Se descoberta por uma cultura adiantada que esteja florescendo no próprio início da futura Era de Sagitário, por exemplo, a mensagem poderia ser interpretada como dizendo “nós vivemos 4.320 anos antes do tempo de vocês” – isto é, dois “meses” precessionais completos antes da Era de Sagitário (os 2.160 anos – “meses” de Aquário e Capricórnio). Mas poderia também significar “Nós vivemos há 30.420 anos antes do tempo de vocês”, isto é, aqueles dois “meses” mais todo o ciclo precessional prévio de 25.920 anos.

Os arqueólogos sagitarianos teriam não só que dar tratos à bola para decifrar o significado da mensagem (isto é, NÓS VIVEMOS QUANDO O EQUINÓCIO VERNAL ESTAVA EM PEIXES), mas precisariam decidir, à vista de
outras pistas, em que Era de Peixes tínhamos vivido: a mais recente, ou seja, a do ciclo precessional prévio, ou talvez até mesmo no ciclo anterior ao mesmo. A geologia seria naturalmente útil para que fossem formados esses vastos juízos de valor…

Os Civilizadores

Se pudéssemos descobrir uma maneira de dizer NÓS VIVEMOS NA ERA DE PEIXES, e especificar a altitude acima do horizonte de certas estrelas identificáveis em nossa própria época (digamos, os bem visíveis cinturões estelares da constelação de Órion), teríamos como sinalizar, com maior precisão, nossas datas para futuras gerações.

Alternativamente, quem sabe, agir como os construtores das pirâmides de Gizé e dispor nossos monumentos em um padrão no solo que refletisse exatamente o padrão das estrelas em nosso tempo. Haveria várias outras opções e combinações de opções ao nosso dispor, dependendo das circunstâncias, do nível de tecnologia disponível, da extensão do aviso antecipado que recebemos e dos fatos cronológicos que gostaríamos de transmitir a futuras gerações.

Suponhamos, por exemplo, que não houvesse tempo para fazer os preparativos necessários antes da catástrofe. Suponhamos que a calamidade, como o “Dia do Senhor”, em 2 Pedro, capítulo 3, se aproximasse sorrateiro como “um ladrão na noite?”. Que perspectiva a humanidade enfrentaria? Fosse o resultado do choque de um asteroide, do deslocamento da crosta terrestre, ou de qualquer outra causa cósmica ou geológica, vamos supor o seguinte:

  1. Devastação maciça em todo o mundo;
  2. Sobrevivência de apenas relativamente poucos indivíduos, a maioria dos quais voltaria rapidamente à barbárie;
  3. A presença, entre os sobreviventes, de uma minoria de visionários bem organizados – incluindo mestres-construtores, cientistas, engenheiros, cartógrafos, matemáticos, médicos e outros especialistas – que se dedicassem a salvar o que pudessem e descobrir maneiras de transmitir seus conhecimentos ao futuro, para benefício dos que pudessem finalmente compreendê-los. Chamemos a esses hipotéticos visionários de “os civilizadores”.

Reunindo-se eles, no início, para sobreviver e mais tarde para ensinar e compartilhar idéias – eles poderiam assumir algo parecido com os sistemas de conduta e crenças de um culto religioso, desenvolvendo um claro sentido de missão e de identidade comum. Sem dúvida, usariam poderosos e facilmente reconhecíveis símbolos para reforçar e expressar esse senso de finalidade comum: os homens poderiam usar barba característica, por exemplo, raspar a cabeça, ou então adotar certas imagens arquetípicas como a cruz, a serpente e o cão, que poderiam ser usadas para ligar entre si os membros do culto, quando partissem em suas missões civilizatórias para reacender as lâmpadas do conhecimento em todo o mundo.

Desconfio que, se a situação fosse realmente péssima após o cataclismo, muitos civilizadores fracassariam ou teriam apenas sucesso limitado. Mas vamos supor que um pequeno grupo tivesse a perícia e a dedicação necessárias para criar uma cabeça-de-ponte duradoura e estável, talvez em uma região que tivesse sofrido relativamente poucos danos. Vamos supor ainda que alguma outra calamidade inesperada ocorresse – um choque secundário ou uma série desses choques, talvez decorrentes da catástrofe inicial – e que a cabeça-de-ponte fosse quase inteiramente destruída. O que poderia acontecer em seguida? O que poderia ser salvo dos escombros de um culto de sabedoria que fora também salvo de um desastre ainda mais grave?

Transmitindo a Essência

Se certas as circunstâncias, parece possível que a essência do culto pudesse sobreviver, ser levada adiante por um núcleo de homens e mulheres decididos. Desconfio também que, com a devida motivação e técnicas de doutrinação, além de um meio para recrutar novos membros entre os habitantes locais semi-selvagens, tal culto poderia perpetuar-se quase que indefinidamente. Mas isso só aconteceria se seus membros (como os judeus que esperam pelo Messias) estivessem dispostos a ter paciência, durante milhares e milhares de anos, até ter certeza de que chegara o momento de se revelarem.

Se fizessem isso, e se seu objetivo sagrado fosse realmente preservar e transmitir conhecimentos a alguma civilização futura evoluída, é fácil imaginar que os membros do culto poderiam ser descritos em termos semelhantes aos que foram usados pelo deus egípcio da sabedoria, Thoth, que teria conseguido compreender os mistérios dos céus [e os ter] revelado ao consigná-los em livros sagrados, que em seguida escondeu aqui na Terra, querendo que eles fossem procurados por gerações futuras, mas encontrados apenas pelos realmente justos e SÁBIOS. (…)

O que poderiam ter sido os misteriosos “livros de Thoth”? Seria necessário crer que todas as informações que eles supostamente continham teriam que ser transmitidas sob a forma de livro? Não valeria a pena especular, por exemplo, se os professores de Santillana e Von Dechend não teriam merecido seu lugar entre os “realmente justos” quando decodificaram a linguagem científica avançada encerrada nos grandes mitos universais sobre a precessão? Ao fazer isso, não seria possível que tivessem tropeçado por acaso em um dos metafóricos “livros” de Thoth e lido a ciência antiga gravada em suas páginas? De igual maneira, o que dizer das descobertas de Posnansky em Tiahuanaco e dos mapas de Hapgood? E o que dizer ainda da nova compreensão que está surgindo sobre a antiguidade geológica da Esfinge de Gizé? O que dizer das perguntas inspiradas pelos blocos gigantescos de rochas usados na construção dos Templos do Vale e do Mortuário?

Sobre “os livros de Thoth”: 

O que dizer dos segredos que estão sendo extraídos, um após outro, dos alinhamentos astronômicos, dimensões e câmaras secretas das pirâmides? Se essas, também, são leituras dos metafóricos livros de Thoth, pareceria que os números dos “realmente justos” estão aumentando e que novas e ainda mais surpreendentes revelações podem estar prestes a surgir… Voltando rapidamente, e pela última vez, ao nosso cenário em evolução:

  1. No início do século XXI de nossa Era (pseudo) Cristã, próximo dos momentos culminantes das Eras de Peixes e de Aquário, a civilização, como a conhecemos, é destruída;
  2. Entre os sobreviventes, algumas centenas ou alguns milhares de indivíduos se reúnem, a fim de preservar e transmitir os frutos dos conhecimentos científicos de sua cultura a um futuro distante e incerto;
  3. Esses civilizadores se dividem em pequenos grupos e se espalham pelo globo;
  4. De modo geral, fracassam e morrem. Não obstante, em certas áreas, alguns conseguem, de fato, deixar uma impressão cultural duradoura;
  5. Após milhares de anos – e, talvez, depois de várias tentativas infrutíferas -, um ramo do culto de sabedoria inicial influencia o surgimento de uma civilização plenamente desenvolvida…
Uma Tábua de Esmeralda de THOTH, o Atlante, parte do conhecimento contido nos “livros de Thoth“.

Claro, o paralelo desta última categoria seria, mais uma vez, encontrado no Egito. Sugiro seriamente a hipótese, para ser submetida a testes ulteriores, de que um culto de sabedoria científico, constituído de sobreviventes de uma grande civilização marítima perdida, poderia, talvez, ter se estabelecido no Vale do Nilo em data tão remota quanto o décimo quarto milênio a.C. O culto, baseado em Heliópolis, Gizé e Abidos, e talvez também em outros centros, teria iniciado a antiga revolução agrícola no Egito. Mais tarde, contudo, assolados pelas imensas inundações e outras perturbações da Terra, que ocorreram em torno do undécimo milênio a.C., o culto teria sido obrigado a cortar suas perdas e retirar-se, até que o caos da Era Glacial passasse – jamais sabendo se sua mensagem sobreviveria a subseqüentes eras de trevas.

Nessas circunstâncias, a hipótese sugere que um enorme e ambicioso projeto de construção poderia ter sido uma das maneiras através das quais os membros do culto poderiam preservar e transmitir informações científicas ao futuro, independentemente de sua sobrevivência física. Em outras palavras, se as estruturas fossem suficientemente grandes, capazes de durar através de períodos imensos de tempo e codificadas extensamente com a mensagem do culto, haveria esperança de que ela pudesse ser decodificada em alguma data futura, mesmo que o culto tivesse deixado há muito tempo de existir. A hipótese sugere que as enigmáticas estruturas existentes no platô de Gizé significam o seguinte:

  • Que a Grande Esfinge é, como argumentamos em capítulos anteriores, um marco equinocial da Era do Leão, indicando uma data, em nossa cronologia, entre os anos 10970 e 8810 a.C.;
  • Que as três principais pirâmides foram construídas em relação ao Vale do Nilo, a fim de reproduzir as posições exatas das três estrelas do cinturão de Órion em relação ao curso da Via Láctea, no ano 10450 a.C.

Usar o fenômeno da precessão, descrito corretamente como “o único relógio preciso de nosso planeta”, foi uma maneira muito eficaz de “especificar” a época do undécimo milênio a.C. Estranhamente, porém, sabemos também que a Grande Pirâmide contém chaminés estelares “amarradas” com as estrelas do cinturão de Órion (Osiris) e com Sírius (ÍSIS), na situação em que esses corpos celestes estariam no ano 2450 a.C. A hipótese soluciona a anomalia dos anos perdidos, ao supor que as chaminés estelares foram simplesmente trabalho posterior do mesmo duradouro culto, que inicialmente plotara a disposição das estruturas de Gizé no ano 10450 a.C. Naturalmente, a hipótese sugere também que coube ao mesmo culto, por volta do fim desses 8.000 anos perdidos, fornecer a fagulha inicial do aparecimento súbito e “inteiramente formado” da civilização histórica letrada do Egito dinástico.

O que sobra ainda como objeto de palpites são os motivos dos construtores das pirâmides, que foram presumivelmente os mesmos indivíduos que os misteriosos cartógrafos que mapearam o globo em fins da última Era Glacial no hemisfério Norte. Se assim, poderíamos também perguntar por que esses arquitetos e navegadores altamente civilizados e tecnicamente adiantados viviam obcecados em mapear a glaciação gradual do enigmático continente sul, a Antártida, desde o décimo quarto milênio a.C. – época em que, segundo cálculos de Hapgood, foram desenhados os mapas básicos mencionados por Phillipe Buache – até cerca de fins do quinto milênio a.C.?

Poderiam estar eles fazendo um registro cartográfico permanente da obliteração lenta de sua terra natal? E poderia o desejo irresistível deles, de transmitir uma mensagem ao futuro através de uma grande variedade de meios de expressão – mitos, mapas, estruturas, sistemas de calendário, harmonias matemáticas -, estar ligado aos cataclismos e mudanças na Terra que causaram essa perda?

Uma Missão Urgente

O conhecimento e domínio de uma história bem concatenada constitui uma das faculdades que distingue os seres humanos dos animais. Ao contrário de ratos, digamos, ou de ovelhas, vacas, ou faisões, temos um passado separado de nós mesmos. Temos, portanto, a oportunidade, como disse acima, de aprender com as experiências de nossos predecessores.

Será que, como somos perversos, mal-orientados ou simplesmente estúpidos, nós nos recusamos a reconhecer essas experiências, a menos que elas nos cheguem sob a forma de “registros históricos” bona fide e autenticados por um bando de “eruditos, acadêmicos, especialistas”? E será arrogância ou ignorância (ou ambos) que nos levam a traçar uma linha arbitrária, separando “história” de “pré-história” há cerca de 5.000 anos – definindo os registros da “história” como depoimentos válidos e, os da “pré-história”, como ilusões primitivas? Neste estágio, em pesquisas contínuas, o instinto me diz que podemos ter nos colocado em perigo ao fechar os ouvidos, por tanto tempo, para as perturbadoras vozes ancestrais que nos chegam sob a forma dos inúmeros mitos. Trata-se de um sentimento mais intuitivo do que racional, mas que não é de modo nenhum irracional.

A pesquisa despertou em mim respeito pelo pensamento lógico, a ciência pura, os insights psicológicos (Intuição) profundos e o vasto conhecimento cosmográfico dos gênios antigos que formaram esses mitos e que, estou agora sinceramente convencido, eram descendentes da mesma civilização perdida que gerou os cartógrafos, os construtores de pirâmides, os navegantes, os astrônomos, os medidores da Terra, cujas impressões digitais vimos acompanhando através dos continentes e oceanos da terra. Uma vez que aprendi a respeitar esses Newtons, Shakespeares e Einsteins há longo tempo esquecidos e ainda apenas vagamente identificados da última Era Glacial, acho que seria tolo ignorar o que eles parecem estar dizendo.

E o que parece que eles nos dizem é o seguinte: que destruições cíclicas, recorrentes e quase totais da humanidade são partes integrantes da evolução da vida neste planeta, que essas destruições ocorreram muitas vezes antes e que certamente voltarão a ocorrer. O que, afinal de contas, é o notável sistema de calendário dos maias, senão um meio para transmitir exatamente essa mensagem? O que, senão veículos para o mesmo tipo de más notícias, as tradições dos quatro “Sóis” anteriores (ou, às vezes, dos três “mundos” anteriores) passados a seus descendentes nas Américas desde tempos imemoriais?

Pela mesma razão, qual poderia ser a função dos grandes mitos da precessão dos equinócios, que mencionam não só cataclismos anteriores, mas cataclismos que virão e que (através da metáfora do moinho cósmico) ligam essas calamidades terrenas a “perturbações nos céus”? Por último, mas não de menor importância, que ardente motivo impeliu os construtores das pirâmides a erigir, com tanto cuidado, os imponentes e misteriosos edifícios do platô de Gizé? Sim, eles estavam dizendo: “Kilroy esteve aqui.” E, sim, eles descobriram uma engenhosa maneira de nos dizer quando estiveram aqui. Sobre essas coisas, não tenho a menor dúvida.

Impressionou-me também o enorme esforço que fizeram para nos fornecer prova convincente de que sua civilização era respeitável e cientificamente adiantada. E ainda mais o senso de urgência – de uma missão de importância vital que aparentemente lhes inspirou os atos e obras. Recorro novamente à intuição, não à prova “acadêmica”. Meu palpite é que o objetivo básico dessa gente pode ter sido transmitir um aviso ao futuro e que esse aviso tenha a ver com um cataclismo global, talvez mesmo uma repetição do mesmo cataclismo que claramente devastou a humanidade ao fim da última Era Glacial, quando “Noé viu que a terra tinha se inclinado, que sua destruição estava próxima e gritou em voz aflita: ‘Dize-me o que está sendo feito à Terra, porque a Terra está tão aflita e abalada.”’

Essas palavras são extraídas do Livro de Enoque, embora aflições e abalos semelhantes tenham sido previstos em todas as tradições da América Central, que falam do fim da atual época do mundo – uma época, como o leitor deve lembrar-se, na qual “os anciãos dizem [que] haverá um grande movimento da crosta da Terra e devido ao qual todos nós pereceremos”. O leitor certamente não esqueceu a data calculada pelo antigo calendário maia para o fim do mundo:

O dia será 4 Ahau 3 Kakin [correspondente a 23 de dezembro de 2012] e será governado pelo Deus Sol, o nono Senhor da Noite. A lua terá oito dias de idade e será a terceira lunação em uma série de seis. (…)

No esquema maia das coisas, já estamos vivendo nos últimos dias da nossa civilização da Terra. No esquema cristão das coisas, acredita-se que os últimos dias também estão próximos. De acordo com a Watch Tower Bible and Tract Society, da Pensilvânia, Estados Unidos:

“Este mundo (atual) perecerá com tanta certeza quanto o mundo de antes do Dilúvio. (…) Foi profetizado que numerosas coisas ocorreriam durante os últimos dias, e todas elas estão sendo cumpridas. Isso significa que o fim do mundo está próximo. (…)”

Analogamente, o vidente cristão Edgar Cayce profetizou, em 1934, que por volta do ano 2000 ocorreria o seguinte:

“Haverá um deslocamento na posição dos pólos. Haverá sublevações no Ártico e na Antártida que provocarão erupção de vulcões nas áreas tórridas. (…) A Europa setentrional será mudada em um abrir e fechar de olhos. A terra será fendida na região oeste da América (Califórnia e a região do mega vulcão de Yellowstone, no Wyoming). A maior parte do Japão mergulhará no mar.”

Curiosamente, a época do ano 2000, que figura nessas profecias, coincide também com o Último Tempo (ou o ponto mais alto) no grande ciclo ascendente do cinturão de estrelas da constelação de Órion, da mesma maneira que a época do undécimo milênio a.C. coincidiu com o Primeiro Tempo (o ponto mais baixo) desse ciclo. E ainda curiosamente, conforme vimos no Capítulo 28:

Uma conjunção de cinco planetas, que se pode esperar que exerça profundos efeitos gravitacionais, ocorrerá no dia 5 de maio do ano 2000, quando Netuno, Urano, Vênus, Mercúrio e Marte ficarão alinhados com a Terra, no outro lado do sol, iniciando uma espécie de cabo-de-guerra cósmico…

Poderiam as influências ocultas da gravidade, quando combinadas com o bamboleio precessional de nosso planeta, os efeitos de torção da rotação axial e a massa e peso, em rápido crescimento, da calota de gelo da Antártida, ser suficientes para desencadear um deslocamento em grande escala da crosta da Terra? Talvez nunca saibamos, de qualquer maneira – até que isso aconteça. Enquanto isso, não acredito que o escriba egípcio Manetho estivesse sendo menos que literal quando falou de um poder cósmico duro e mortal em ação no universo:

Da mesma forma que é provável que o ferro seja atraído e rebocado pela magnetita, mas com freqüência ele se solta e é repelido na direção oposta, o movimento salutar, bom e racional do mundo simultaneamente atrai, concilia e pacifica esse áspero poder; em seguida, mais uma vez, quando este último se recupera, derruba o outro e o reduz à impotência…

Em suma, desconfio que, através de metáforas e alegorias contidas em seus “mitos”, os antigos possam ter tentado descobrir numerosas maneiras de nos dizer exatamente quando – e por quê – o martelo da destruição global voltará a bater. Por isso mesmo, acredito que, depois de 12.500 anos de pêndulo, seria apenas sábio de nossa parte se dedicássemos mais o nosso tempo que resta e recursos a estudar os sinais e mensagens que nos chegaram daquele período escuro e apavorante de amnésia que nossa espécie chama de pré-história. Uma aceleração da pesquisa física no platô de Gizé seria também altamente desejável – não apenas feita por “egiptólogos” determinados a resistir a qualquer ameaça ao status quo acadêmico, mas por equipes ecléticas de pesquisadores, que poderiam aplicar algumas das ciências mais novas aos desafios desse que é o mais enigmático e impenetrável dos sítios arqueológicos do mundo.

A técnica de datação de rocha à base de cloro-36, mencionada no Capítulo 6, por exemplo, parece um meio especialmente promissor para resolver o impasse sobre a antiguidade das Pirâmides e da Esfinge. De igual maneira, se houver vontade, uma maneira poderá ser encontrada para descobrir o que se encontra por trás da pequena porta escondida, a uma altura de 60m na chaminé sul da câmara da Rainha. Os mesmos esforços sérios poderiam ser empreendidos para pesquisar o conteúdo da grande cavidade de bordas quadradas, e aparentemente feitas pelo homem, no leito rochoso, bem abaixo das patas da Esfinge, que foi descoberta ao ser realizado um levantamento sísmico daquele sítio em 1993. Por último, mas não de menor importância, muito longe de Gizé, desconfio que nosso esforço seria bem recompensado se realizássemos uma investigação bem-feita das paisagens subglaciais da Antártida – o continente com maior probabilidade de esconder os restos de uma civilização perdida.

Se pudéssemos descobrir o que destruiu essa civilização, poderíamos ficar em melhor situação para nos salvar de um destino catastrófico semelhante. Ao fazer estas últimas sugestões, claro, estou plenamente consciente de que muitos receberão com desprezo essas idéias e reiterarão a opinião uniformista de que “todas as coisas continuarão como sempre foram desde o início da criação”. Mas estou também consciente de que esses “escarnecedores dos últimos dias” são os mesmos que, por uma ou outra razão, mantêm-se surdos aos depoimentos de nossos esquecidos ancestrais.

Conforme vimos, esses depoimentos parecem uma tentativa de nos dizer que uma horripilante calamidade, de fato, se abate de tempos em tempos sobre a humanidade, e que em todas as ocasiões ela ocorreu subitamente, sem aviso e sem compaixão, como um ladrão na noite, e que certamente voltará em algum ponto no futuro, obrigando-nos – a menos que nos preparemos bem – a recomeçar como crianças órfãs, em ignorância completa de nossa verdadeira herança.

Andando nos Últimos Dias

Reserva dos Índios hopi, maio de 1994: De um lado a outro das altas planícies do Arizona, durante dias seguidos, soprou um vento assolador. Cruzando essas planícies a caminho da minúscula aldeia de Shungopovi, revisei mentalmente tudo que vira e fizera nos cinco anos anteriores: viagens, pesquisas, tentativas infrutíferas e becos sem saída, golpes de sorte, momentos em que todas as coisas se encaixaram e outros em que pareceu que todas elas iam desmoronar. Eu havia percorrido uma longa estrada para chegar até aqui, compreendi muito mais longa do que a via expressa de 460km de extensão que nos trouxera de Phoenix, a capital do estado, até essas terras desoladas.

Tampouco esperava voltar com qualquer grande grau de iluminação. Ainda assim, fazia essa viagem porque se acredita que a ciência da profecia continua viva entre os nativos peles vermelha Hopi, índios moradores de pueblos, parentes distantes dos astecas do México, e cujos números foram reduzidos, por atrito e pobreza, há pouco menos de 10.000 almas. Tal como os antigos maias, cujos descendentes espalhados por toda a península do Yucatán estão convencidos de que o fim do mundo chegará em torno dos ano 2000 y pico (e pouco), os hopi acreditam que estamos andando nos últimos dias, com uma espada de Dâmocles geológica pairando sobre nossa cabeça. De acordo com os mitos desse povo, conforme vimos no Capítulo 24:

O primeiro mundo foi destruído, como castigo pela maldade humana, por um fogo consumidor que veio de cima e de baixo. O segundo mundo terminou quando o globo terrestre caiu de seu eixo e tudo foi coberto pelo gelo. O terceiro mundo terminou em um dilúvio universal. O atual mundo é o quarto. Seu destino final dependerá de se ou não seus habitantes se comportarão de acordo com os planos do Criador. (…)”

Eu tinha vindo ao Arizona para descobrir se os hopi acreditavam que estávamos nos comportando de acordo com os planos do Criador…

O Fim do Mundo

O vento assolador, soprando pelos altos platôs, sacudiam e faziam com que chocalhassem os lados de nossa casa-reboque. Ao meu lado, Santha, que estivera em todos os lugares comigo, dividindo os riscos e as aventuras, compartilhando dos altos e baixos. Sentado à nossa frente, o amigo Ed Ponist, enfermeiro instrumentista de Lansing, Michigan. Alguns anos antes, Ed trabalhara na reserva durante algum tempo e era graças a seus contatos que íamos para lá. À minha direita, Paul Sifki, um ancião Hopi de 96 anos de idade, do clã da Aranha, e porta-voz importante das tradições de seu povo. Ao lado dele, a neta, Melza Sifki, uma simpática senhora de meia-idade, que se oferecera como intérprete.

– Ouvi dizer – comecei – que os hopi acreditam que o fim do mundo está se aproximando. É verdade isso? Paul Sifki é um homem baixinho, encolhido, de cor de noz, e na ocasião usava jeans e camisa de cambraia. Durante toda a conversa, ele nem uma única vez olhou para mim, fixando a vista à frente, como se estivesse procurando um rosto conhecido em uma multidão distante. Melza repetiu-lhe minha pergunta e, um momento depois, traduziu a resposta do avô:

– Ele diz: “Por que você quer saber?” Expliquei que havia muitas razões. A mais importante, que eu sentia uma sensação de urgência:

– Minhas pesquisas convenceram-me de que houve uma civilização avançada, há muito, muito tempo, que foi destruída por um terrível cataclismo. Tenho receio de que nossa própria civilização possa ser destruída por um cataclismo semelhante… Seguiu-se uma longa conversa em hopi e, em seguida, a tradução:

– Ele disse que, quando era menino, na década de 1900, houve uma estrela que explodiu… uma estrela que estava lá em cima há muito tempo. Ele foi procurar o avô e lhe pediu que explicasse o significado daquele sinal. O avô respondeu:

“É dessa maneira que nosso próprio mundo vai acabar… envolvido em chamas… Se os homens não mudarem seus costumes, o espírito que toma conta do mundo ficará tão frustrado conosco que castigará o mundo com chamas e o mundo acabará exatamente como aquela estrela acabou.” Foi isso o que o avô lhe disse: que a terra explodiria exatamente como aquela estrela…

– De modo que a impressão é que este mundo acabará pelo fogo… E, tendo observado o mundo pelos últimos noventa anos, ele acredita que o comportamento da humanidade melhorou ou piorou?

– Ele diz que não melhorou. Estamos ficando piores. – De modo que, na opinião dele, o fim está chegando?

– Ele diz que os sinais já estão aí para serem vistos… Ele disse que, hoje em dia, nada, só o vento sopra, e que tudo que fazemos é apontar uma arma um para o outro. Isso mostra como nos afastamos e como nos sentimos hoje um em relação ao outro. Não há mais valores… nenhum, absolutamente… e as pessoas vivem como querem, sem moral ou leis. Esses são os sinais de que o tempo chegou… Melza interrompeu-se na tradução e, em seguida, acrescentou por conta própria:

– Este vento terrível. Ele seca tudo. Não traz umidade. Acreditamos que este tipo de clima é conseqüência da maneira como estamos vivendo… não apenas nós, mas seu povo também. Notei que os olhos dela se enchiam de lágrimas, enquanto falava.

– Eu tenho um milharal – continuou ela – que está todo seco. Levanto a vista para o céu e rezo por chuva, mas não há chuva, nem mesmo nuvens… Quando estamos assim, nem mesmo sabemos quem somos.

Passou-se um longo momento de silêncio, enquanto o vento balançava o trailer, soprando forre e ininterrupto sobre a mesa, enquanto a noite caía em volta de nós. Tranqüilamente, voltei a falar:

– Por favor, pergunte a seu avô se ele acha que alguma coisa ainda pode ser feita agora pelos Hopi e pelo resto da humanidade.

– A única coisa que ele sabe – respondeu Melza, após ter ouvido a resposta – é que enquanto os hopi não abandonarem suas tradições, eles poderão se ajudar e ajudar os outros. Eles têm de se apegar ao que acreditaram no passado. Têm de preservar suas memórias. Essas são as coisas mais importantes… Mas meu avô também quer lhe dizer, e quer que o senhor compreenda, que esta Terra (o planeta) é trabalho de um ser inteligente, de um espírito… um espírito criativo e inteligente que projetou tudo para ser como é. Meu avô diz que nada está aqui apenas por acaso, que nada acontece por acaso seja coisa boa ou má… e que há uma razão para tudo que acontece…

Na Pedra do Moinho

Quando seres humanos de toda parte em volta do globo, e de muitas e diferentes culturas, compartilham uma forte e inarredável intuição de que um cataclismo está a caminho, temos o direito de ignorá-los. E quando as vozes de nossos distantes ancestrais, descendo até nós através de mitos e arquitetura sagrada, nos falam sobre a obliteração física de uma grande civilização na antiguidade remota (e nos diz que nossa própria situação está em perigo), temos o direito, se quisermos, de tapar os ouvidos… E assim foi, diz a Bíblia, no mundo antediluviano:

“Assim como foi nos dias de Noé, será também nos dias do Filho do homem: comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e destruiu a todos.”

Da mesma maneira, profetizou-se que a próxima destruição global cairá de repente sobre nós:

“Eis que eu vo-lo tenho predito. Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no deserto, não saiais. Eis que ele está no interior da casa; não acrediteis. Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até ao ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem. Pois onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias. E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da Terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus”.  Mateus 24:25-31

O que aconteceu antes pode acontecer novamente. O que foi feito antes poderá ser feito outra vez. E, talvez, não haja realmente nada de novo sob o sol.

FIM


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Receba nosso conteúdo

Junte-se a 4.290 outros assinantes

compartilhe

Últimas Publicações

Indicações Thoth