ATLÂNTIDA, A RAINHA das ONDAS dos OCEANOS
“O propósito desta história é relatar o que conheci pela experiência, e não me cabe expor idéias teóricas. Se levares alguns pontos pequenos deixados sem explicação para o santuário interior de tua alma, e ali neles meditares , verás que se tornarão claros para ti, como a água que mitiga a tua sede. . .
“Este é o espírito com que o autor (Philos, o Tibetano) propõe que seja lido este livro. E chama de história o relato que faz de sua experiência. Que é história?. . . Ao leitor a decisão.
“Nunca pronuncies estas palavras: “isto eu desconheço, portanto é falso“. Devemos estudar para conhecer; conhecer para compreender; compreender para julgar“. – Aforismo de Narada.
ATLÂNTIDA, A RAINHA das ONDAS dos OCEANOS
Fonte: https://www.sacred-texts.com
Livro: “Um Habitante de Dois Planetas”, de Philos, o Tibetano – Livro Primeiro.
CAPÍTULO XVII – “RAI NI INCAL” – AS CINZAS ÀS CINZAS RETORNAM
Num esquife em frente ao Ponto Sagrado, na face oriental da Pedra- Maxin no Incalithlon, jazia o que restara da forma terrena de Ernon, o rei de Suern (hoje a Índia). No triângulo estavam reunidas umas poucas testemunhas convidadas pelo Rai Gwauxln e sobre todos se irradiava a misteriosa luz que não requeria ser alimentada nem mantida por qualquer ser humano.
Bem acima estava o teto branco de estalactites, refletindo de suas muitas pontas a radiância das luzes que não podiam ser vistas do piso. “Fecha seus olhos, seu dever foi cumprido.” Ao lado da forma imóvel estava Mainin o Incaliz, com a mão no ombro do rei falecido. Depois que o grandioso órgão fez soar um lutuoso réquiem, Mainin fez a oração fúnebre, dizendo:
“Uma vez mais, uma nobre alma conheceu a terra. Como tratou ela esse que deu a vida para servir seus filhos? Em verdade, Suerna, cometeste uma ação que vos vestirá de juta e cinzas para sempre! Ernon, meu irmão, Filho da Solitude, nós te damos adeus com grande tristeza em nossa alma; tristeza não por ti, pois estás em repouso, mas por nós que ficamos para trás. Muitos anos se passarão antes que encarnes outra vez. Quanto ao pobre barro que é teu corpo, junto a ele diremos nossas palavras finais, pois ele já fez seu trabalho e o Navazzimin o aguarda. Ernon, nosso irmão, que a paz esteja sempre contigo.”
Novamente o órgão soou com solene tristeza e, quando os atendentes ergueram o catafalco por sobre o cubo do Maxin, o Incaliz levantou os braços para o céu e disse: “Para Incal foi esta alma e para a terra este barro.” O corpo, preso por faixas finas ao esquife, foi colocado em posição vertical, tremeu um pouco e caiu no Maxin. Não subiu nenhuma chama, nenhuma fumaça e nem sequer cinzas sobraram após o instantâneo desaparecimento do corpo e do esquife que o continha. O funeral estava terminado. Quando nós, cidadãos de Caiphul, nos preparamos para partir, vimos o que nenhum homem vivente daquele tempo havia visto no Incalithlon.
Atrás de nós, no auditório, estavam grupos de pessoas vestidas de hábito cinzento, encapuzadas como os monges da igreja de Roma. Havia muitas destas pessoas, reunidas em grupos de sete ou oito entre as estalagmites que suportavam o teto. Enquanto olhávamos, foram desaparecendo lentamente, até as oitenta testemunhas de Caiphul ali presentes passarem a parecer um exíguo número naquele vasto salão onde até pouco antes houvera centenas de Incaleni, os “Filhos da Solitude”, em forma astral, reunidos para o funeral de seu irmão. Sim, os Filhos tinham realmente vindo testemunhar a impressionante cerimônia onde a parte mortal de seu companheiro morto fora devolvida à guarda dos elementos da natureza.
“Mas homem algum conhece aquele sepulcro e nenhum deles jamais o viu, pois os anjos de Deus cavaram o solo e ali puseram o homem que morrera.”
CAPITULO XVIII – A GRANDE VIAGEM
O Rai Gwauxln me convocou a ir ao palácio Agacoe antes de retomar minha viagem de férias, embora tivesse confirmado antes do funeral de Ernon que minhas ações em Suern tinham sido aprovadas por ele. Obedeci quase que imediatamente, pois estávamos todos prontos para recomeçar a viagem. Gwauxln, na presença de seus ministros de estado, nomeou-me Suzerano da terra de Suern, o que me deixou enormemente surpreso, embora eu sentisse que poderia aceitar o cargo e prestar bons serviços na condução dos assuntos daquele país; mas o fato de eu ainda não ter me formado no Xioquithlon me fez hesitar, e respondi: “Zo Rai, estou feliz por conferires tão grande honra a este teu servidor. Não obstante, meu soberano, sentindo que ainda não adquiri todo o conhecimento que desejo, pois sou ainda um simples xioqene (estudante), peço tua permissão para recusar.”
O Rai Gwauxln sorriu e disse. “Pois bem. O governador que indicaste cumprirá tua função nos três anos que te faltam – os quatro anos, eu diria, já que não voltarás aos estudos neste período. Depois disso assumirás legalmente esses deveres. Tenho um objetivo ao te nomear, que está além da mera forma; acredito que o homem que tem um propósito direto em vista tem mais possibilidade de sucesso do que outro que não tem propósito. É uma boa motivação. Portanto eu te nomeio Suzerano dos Suernis e te libero para fazeres a viagem de recreação com teus amigos, assim que assinares este documento. Está muito bem escrito, embora tua mão trema um pouco devido ao nervosismo. Acalma-te!” Estas últimas palavras foram ditas enquanto eu assinava tremulamente o documento de nomeação.
Mais uma vez estávamos viajando. Anzimee, o “elfo”, persistia em me chamar “meu senhor Zailm” desde que ouvira a história de minha transformação em Suzerano. Nosso curso novamente nos levou para o leste, mas com um desvio para o sul, pois não pretendíamos visitar Suern desta vez, e sim nossas colônias americanas, obedecendo o itinerário original (no atual sentido oeste/leste) que tínhamos planejado para depois da momentosa visita a Suern.
Voamos por sobre Necropan (o norte da África) equatorial, depois o Oceano Índico e as atuais índias Ocidentais, que na época eram colônias suernis chamadas de Uz, para em seguida voarmos por sobre o vasto Pacífico, sempre na direção leste. “Umaur”, a costa oeste de Umaur!” – foi a exclamação que atraiu todos para as janelas, a fim de olharem para uma linha denteada e escura que surgira no horizonte oriental. Era a distante Cordilheira dos Andes, que aparecera quase ao nível do vailx, pois as montanhas então se elevavam duas milhas (em torno de 3.200 metros de altitude) acima do oceano. Abaixo, estava o imenso espelho azul do Pacífico, aparentemente sem ondas devido à distância.
Umaur, seria a terra dos Incas num distante futuro. Umaur, (hoje a América do Sul) onde depois de se passarem oito séculos encontrariam refúgio os que teriam a felicidade de escapar de Poseid antes que a “Rainha do Mundo” afundasse nas águas do Atlântico (n.t. No dilúvio em 10.986 a.C.). Oito séculos que viram os orgulhosos atlantes se tornarem corruptos a tal ponto que sua alma não mais refletia a sabedoria do Lado-Noite, pois, com o desaparecimento da moralidade, a chave para o segredo da natureza (poder feminino) tinha se perdido e com ela o domínio atlante sobre o ar e as profundezas do mar. Oh, pobre Atlântida!
Umaur estava à nossa frente e nós, ignorando a futura insensatez de nossos descendentes atlantes, ficamos olhando para a cosia de que nos aproximávamos rapidamente, fazendo comentários sobre as majestosas cordilheiras que observávamos pelos telescópios. *Ali vimos uma terra onde milhares de anos depois chegariam os conquistadores espanhóis liderados por Pizarro e encontrariam uma raça liderada pelos Incas, um nome preservado por muitos séculos desde o tempo em que seus remotos ancestrais haviam fugido da obliterada Poseid em Atlântida, e que se diziam “Filhos do Sol (de Incal)”.
* Nota – Quando tua ciência abordar a natureza por seu lado divino, como o fizeram os poseidanos; quando, ao invés de ascenderes até a força-chave de toda a Natureza, a energia ódica, pela síntese dos fenômenos ambientais, aprenderes a olhar a partir da Odicidade para o rio da Energia, então terás tudo que Poseid teve (pois és Poseid rediviva, oh América), inclusive seus vailx, naims e telescópios. Os telescópios atlantes não eram os grosseiros instrumentos que hoje possui tua ciência. Mesmo a mais remota estrela emitindo sua fraca luz das profundezas do espaço podia ser trazida para perto e, se houvesse um organismo diminuto como uma folha no “solo” de algum planeta em órbita daquela estrela, ficava visível aos nossos olhos. Não consegues acreditar? Ouve esta proposição: a luz não é apenas um reflexo ou refração de força de uma substância, mas um prolongamento de toda forma substancial, pois embora só exista uma Substância com muitas variações dinâmicas, essas variações são confundidas por ti como substâncias diferentes. Só existe UMA SUBSTÂNCIA! A Luz de Arcturus, por exemplo, é o prolongamento da substância daquela estrela. A eletricidade obtida por máquinas é, em comparação, uma força sem forma. É possível fazer com que uma reforce a outra e que o Sem Forma adquira a imagem do que é Forma. Entendes agora o princípio de nossos telescópios? Tua mente salta para a frente e te ouço perguntar: “Marte será habitado? E Júpiter? Saturno? Vênus?” Ah, meu amigo, não responderei sim nem não, pois quando a visão poseidana da natureza ressurgir na Terra, SABERÁS. Busca e encontrarás, mas busca corretamente. Caminha pela Via cruciforme.
Umaur (América do Sul) era a região das pedreiras e de muitas das ricas minas de Poseid. Havia também ali vastas plantações; a leste das montanhas havia bosques regulares de seringueiras, da genuína espécie Siphonia Elástica da tua botânica. Também existiam viçosas Cin-chonas e outras árvores nativas da América do Sul, mas originárias de Poseid-Atlântida. Antes de serem plantadas no estrangeiro pelos atlan-tes, esses tesouros vegetais nunca haviam crescido em outra parte a não ser em Poseid; as grandes selvas com peculiares árvores e arbustos sulamericanos são descendentes diretas das fazendas e bosques que estabelecemos em Umaur.
Naquele tempo o Rio Amazonas corria por dentro de diques e atravessava o continente, e as cerradas selvas do Brasil eram áreas drenadas e cultivadas, assim como o território adjacente ao Mississippi o é atualmente. Um dia, esse rio, o “Pai das águas” no Norte, correrá sem resistência e sem diques por essas terras. Assim será, porque tais coisas com certeza farão parte das mutações que ocorrerão nos próximos séculos, e também porque a história se repete.
Não imagineis que sereis herdeiros das glórias reencarnadas da Atlântida sem as suas sombras. Todas as coisas se movem em círculos, mas o círculo é como o que vemos na rosca dos parafusos, sempre subindo para um plano mais elevado a cada volta que dá. Devo dizer entretanto que o tempo em que essas coisas ocorrerão, e que nenhum homem pode negar, ainda está muito longe ( o livro foi publicado em 1.894), no horizonte do futuro; tão distante quanto está a recessão do Amazonas no horizonte do passado. Seguimos nossa rota, começando nas grandes hortas, plantações e casas de Umaur, que ficavam no Norte daquele continente, e nos dirigimos para os selvagens ermos do Sul, onde uma grande dificuldade me assolaria no futuro; e de lá para o norte, ao longo das costas orientais, deixando os afazeres de nossos milhões de colonos à imaginação do leitor.
Sucessivamente, chegamos ao Istmo do Panamá, que naquela época tinha quatrocentas (n.t. 643 quilômetros, muito mais largo do que nos dias atuais) milhas de largura; ao México (Incalia do Sul) e às imensas planícies do Mississippi. Estas últimas formavam as grandes pastagens de onde Poseid recebia a maior parte de seus suprimentos de carne e onde, quando o homem moderno as descobriu, encontrou enormes rebanhos de bovídeos descendentes de nosso gado, que ali vagavam livremente: búfalos, ursos, veados, alces e carneiros montanheses, todos representando a progênie de remotas eras.
Angustia-me vê-los sendo dizimados de forma tão insensata quanto agora – raças tão antigas deviam ser preservadas. Séculos mais tarde, chegaram a esse largo vale e ao distante istmo ao norte onde agora só restam vestígios (as ilhas Aleutas) hordas invasoras em canoas e outros tipos de embarcações. Esses invasores vieram da Ásia, que em grande parte era o lar de povos da raça amarela e semibárbaros, a não ser onde os Suernis haviam exercido uma influência civilizadora através de tribos que, num período bem posterior, ocupariam um lugar tão importante na história, com o nome de raças semíticas.
Mas os bárbaros que penetraram na Incalia, ocupando as planícies americanas e regiões dos lagos, esses no futuro desapareceriam da terra para sempre; mais tarde ainda, arqueólogos curiosos diriam ao analisarem certas escavações: “Aqui viveram os construtores de túmulos em forma de montes”. Mais adiante na direção norte, na atual “região dos grandes lagos”(Michigan), havia grandes minas de cobre que nos forneciam a maior parte desse material, além de certa quantidade de prata e outros metais. Era uma região fria, muito mais do que é hoje, já que se encontrava próxima dos limites das forças de retração da era glacial, uma época que terminou muito mais recentemente do que os geólogos imaginaram – e ainda acreditam. . .
A oeste se encontravam as chamadas “grandes planícies” dos primeiros tempos da América do Norte. Nos dias de Poseid tinham uma aparência muito diferente da de hoje. Não eram tão áridas nem tão esparsamente habitadas, embora fossem muito mais frias no inverno devido à proximidade das vastas geleiras ao norte. Os lagos de Nevada não eram, então, meros leitos ressequidos de bórax e soda, nem o Grande Lago Salgado de Utah era a massa comparativamente pequena de água salobra e amarga que é hoje. Todos os lagos eram grandes massas de água fresca e o “Grande Lago Salgado” era uma ilha interior de água doce onde flutuavam icebergs vindos das geleiras existentes em sua margem norte.
O Arizona, esse tesouro geológico, tinha o seu atual deserto coberto pelas águas do “Miti”, como chamávamos o grande mar interior daquela região. Havia vegetação abundante nas centenas de milhas quadradas não cobertas pela água. Uma população considerável de colonos da Atlântida vivia nas margens do Miti e numa cidade de bom tamanho. Caro Leitor, lembras a promessa que te fiz em páginas anteriores ‘ de que te brindaria com uma descrição primorosa, dizendo que provinha de outra pena que não a minha?
Cumpro-a agora, pois existe um geólogo me perseguindo por eu ter declarado que o Arizona já teve um lago ou mar interior tão vasto quanto o Miti, há apenas treze mil anos. Lembro que ele concluiu, pelas evidências da erosão e do desgaste das rochas naquela notável região, que embora o hoje deserto do Arizona tivesse realmente sido um lago , ou mar de pouca profundidade desde a era paleozóica, aquele lago era “mais antigo que o Plioceno, sendo provavelmente da época do cretáceo”.
Não, meu amigo. As estupendas gargantas e desfiladeiros não são meramente o produto da “erosão” pelo tempo, da água e do clima. Ao contrário, provieram de uma formação súbita, pelo rachar e rasgar de extratos numa escala semelhante, embora muito maior, à da explosão do vulcão em Pitach Rhok em Atlântida, descrita no primeiro capítulo deste relato. As maravilhas do Arizona e a formação do “Grande Canyon do Colorado” foram o resultado de uma terrível dança da crosta sólida do globo. Mesmo hoje os leitos de lava no retângulo entre os paralelos 32 e 34, latitude norte, e 107 graus longitude oeste de Greenwich, na região dos Montes Taylor e São Francisco, têm poucos paralelos na terra, em questão de tamanho. Nesse terrificante trabalho de destruição, depois que o mar Miti se escoou para o Ixal (Golfo da Califórnia), as chuvas e torrentes de treze mil invernos e os poderes pulverizantes e dessecantes de muitos verões tórridos alisaram, esculpiram e cinzelaram as superfícies rompidas e recortadas, dando-lhes formas ainda mais fantásticas, e reclamaram para si a autoria da obra, negando a participação de Plutão como principal artista. O geólogo parece ter aceito essa reivindicação e admitiu a existência do lago num tempo muito anterior, para justificar o tempo necessário para a execução da descomunal obra. Mas não foi assim, pois vi o lago faz apenas doze mil anos.
Mas vamos à dádiva literária prometida; ela foi extraída de um escrito bem moderno, mas que faz uma descrição tão fiel da aparência atual da região que desejo compartilhá-la com meu leitor. As palavras que se seguem são do Major J. W. Powell, do Exército dos Estados Unidos:
“As paredes do canyon têm grandes contrafortes nos quais há profundas cavidades; fendas rochosas coroam os penhascos e o rio corre lá embaixo. O Sol brilha com esplendor nas paredes avermelhadas e sombreia-se com tons verdes e cinzentos ao bater em rochas cobertas de líquens; o rio ocupa todo o canal de um paredão a outro e o canyon se abre como um lindo portal para a glória. Mas ao anoitecer, quando o Sol baixa e as sombras se põem no canyon, os matizes avermelhados e róseos, misturados com pinceladas de verde e cinza, lentamente mudam para o castanho em cima e se fazem sombras negras mais no fundo – e então o canyon parece o obscuro portal para uma região de trevas.
Deitados, olhamos diretamente para cima pela fenda do canyon e só vimos uma nesga azul de céu – um crescente de Armamento quase azul-marinho, com duas ou três constelações nos espiando. Não consegui adormecer logo, pois a excitação do dia não tinha amainado ainda. Vi uma estrela brilhante que parecia descansar na beira do penhasco. Parecia flutuar lentamente e se dirigir de seu ponto de repouso nas rochas para o canyon. De início, pareceu uma pedra preciosa engastada na beira do despenhadeiro, mas ao deslocar-se me fez imaginar que logo despencaria. Na realidade, ela dava a impressão de estar descendo numa curva suave, como se o céu no qual as estrelas se encontravam estivesse esticado por cima do canyon, preso nos dois lados do mesmo, curvando-se para baixo sob seu próprio peso.
A estrela parecia estar realmente no canyon, tão altas eram as escarpas. O Sol da manhã brilhou com esplendor em suas coloridas faces. Os ângulos salientes pareciam estar em fogo e os ângulos retraídos mergulhados na sombra -, as rochas, vermelhas e castanhas, brilhavam como um fogo vermelho, em contraste com seus engastes de trevas, embaixo. A luz lá de cima, que se fazia mais brilhante por causa das rochas de vivas cores, e as sombras lá embaixo, tornadas mais densas pelos tons obscuros intocados pelo Sol, aumentavam a profundidade aparente das portentosas gargantas, fazendo parecer muito longo o caminho para o mundo do Sol, lá no alto – o caminho mede, na realidade, uma milha!”
Nem as extensas águas do Miti, pontilhadas de elevados picos no passado, lindos como um sonho, eram mais impressionantes e gloriosas do que as esmagadoras gargantas que vieram tomar o seu lugar. Da cidade de Tolta, nas praias do Miti, nosso vailx subiu e voou para o norte, por sobre o lago UI (Grande Salgado), para alcançar sua praia noroeste, a centenas de milhas de distância.
Naquela praia tão distante erguiam-se três majestosos picos cobertos de neve, os Pitachi UI, que davam seu nome ao lago. No mais elevado desses picos havia existido talvez por cinco séculos uma edificação de pesadas lajes de granito. Tinha sido inicialmente erigida com o duplo propósito de culto a Incal e cálculos de astronomia, mas no meu tempo era um mosteiro. Não havia trilhas que levassem ao pico e o único meio de acesso era o vailx. Faz uns vinte anos, contados deste ano de 1886, um intrépido explorador americano descobriu a famosa região de Yellowstone, e no decorrer da mesma expedição chegou até os Three Tetons, em Idaho.
*Essa tripla montanha era o conjunto dos Pitachi Ui dos atlantes. O Professor Hayden, depois de chegar à base desses majestosos gigantes, conseguiu após ingentes esforços chegar ao topo do pico mais alto, fazendo a primeira escalada dos tempos modernos. Em seu topo encontrou a estrutura de granito, já sem telhado, dentro da qual, segundo ele, “os restos de granito formavam uma camada muito espessa, indicando que não tinham sido perturbados por onze mil anos”.
Sua inferência foi a de que esse período de tempo tinha decorrido desde a construção daquelas paredes de granito. O professor estava certo, como bem o sei. Ele encontrou uma estrutura construída por mãos poseidanas cento e vinte séculos e meio antes, e foi pelo fato de o Professor Hayden ter sido um poseidano com um cargo no governo atlante, o de adido governamental de cientistas destacados para estudar os Pitachi Ui, que ele foi carmicamente atraído ao local de seu antigo trabalho. Creio que o conhecimento desse fato emprestou maior ênfase ao interesse que ele sentiu pelos Three Tetons.
* Os Three Tetons (Três Tetons) estão situados na parte noroeste do estado do Wyoming que, como território, não existia naquele tempo, tendo sido formado em 1868 com partes de Idaho, Dakota e Utah. Uma pequena parte do Parque de Yellowstone fica em Idaho. – Guia King dos Estados Unidos.
Nosso vailx desceu numa saliência de rocha diante do templo de Ui, ao cair da noite. Fazia muito frio, não só por causa da altitude, mas também porque estávamos bem ao norte. Quanto aos monges que viviam no sólido e bem construído edifício nunca passavam frio, pois eram adantes e tinham as forças do Lado-Noi-te à sua disposição. O principal motivo de nossa visita foi o desejo de prestar culto a Incal quando seu símbolo surgisse no céu, na manhã seguinte. Por toda a noite os brilhantes raios de luz de nossas lanternas de rubi emitiram o aviso de que uma nave real estava na região, para qualquer poseidano que por acaso nos visse.
No dia seguinte, ao amanhecer, nossa nave decolou para o leste, para uma visita às minas de cobre localizadas na atual região do Lago Superior. Fomos conduzidos em troles elétricos pelos labirintos de galerias e túneis. Quando nos preparávamos para partir, o capataz oficial presenteou cada membro da comitiva com variados artigos de cobre temperado. Eu ganhei um instrumento parecido com o moderno canivete, que guardei comigo até o dia de minha morte, valorizando-o muito pela refinada têmpera que dava ao instrumento um corte afiado que raramente requeria cuidados e inclusive permitia que eu me barbeasse com ele.
Os poseidanos eram aficcionados da hoje perdida arte da tempera do *cobre. Em retribuição, dei ao capataz uma pepita de ouro em estado natural e ele me perguntou de onde provinha; ouvindo minha resposta, comentou: “Qualquer amostra da famosa mina de Pitach Rhok será muito apreciada por um velho mineiro como eu, especialmente sendo um presente do próprio descobridor da mina.” Dessa forma, a mina por mim encontrada quando eu ainda era um jovenzinho obscuro, havia retribuído com seu tesouro o trabalho das pás e picaretas que a tinham tornado famosa em todo o mundo civilizado de então.
Após confabularmos, decidimos não penetrar mais no Norte, pois todos nós já tínhamos visto as geleiras árticas pelo menos uma vez e alguns de nós várias vezes. Resolvemos permanecer em Incalia mais uma semana, passando onze dias visitando com mais vagar o imenso território onde, embora obviamente o ignorássemos, os anglo-saxões um dia fundariam a gloriosa União Americana, os Estados Unidos da América. Dizem que a história se repete e acredito que seja mesmo assim. É inegável que as raças seguem os passos de outras raças e, assim como a mais importante e populosa parte das colônias americanas de Poseid ficava a oeste da grande cordilheira hoje chamada por Montanhas Rochosas, a grandeza da América moderna será levada ao auge pelos estados do oeste e sudoeste da União Americana.
O homem prefere viver em locais aprazíveis, nas terras onde a Mãe Natureza é amigável e dá abundantes colheitas. Aprecia viver numa terra que dê muitos frutos – e onde encontraria coisa melhor que o Oeste e Sudoeste da Incalia de outrora? Ao longo da costa oceânica até as montanhas da Sierra Nevada havia uma província que não ficava atrás, em beleza, da região dos lagos ao longo das praias do Miti. Essa terra manteve seu encanto, mas a beleza da outra cedeu lugar às areias móveis, cactos e mesquitas onde vivem lagartos, cascavéis e cães selvagens. Não é mais a “União de lagos e união de terras” do longínquo passado.
Quando finalmente partimos da Incalia para retornarmos a Caiphul, a última parte da colônia que avistamos foi a costa do Maine, pois tomamos o rumo leste, dirigindo-nos mais tarde para o sul. Para variarmos um pouco, trocamos os domínios do ar pelo das profundezas do oceano onde o tubarão é rei. Como todos os vailx da mesma classe, o nosso tinha sido construído para funcionar no ar e no mar, e as placas do convés deslizante e outras partes móveis da fuselagem se fechavam hermeticamente por meio de parafusos especiais e vedações de borracha.
Mergulhar diretamente no oceano seria muito parecido com um pouso em terra firme. Estávamos a uma altitude de duas milhas, mais ou menos, e o piloto recebeu ordem de reduzir a corrente de repulsão, diminuindo dessa forma nosso poder de flutuação, levando-nos a penetrar na água dez milhas após o ponto em que iniciássemos a inclinação para a descida. Ele também foi instruído para descer a uma velocidade bastante alta naquela espécie de manobra, embora fosse lenta para um vailx; ou seja, ele teria de cobrir dez milhas em poucos minutos.
Quando impactamos a água a essa velocidade, o choque sofrido pela agulha metálica foi grande o bastante para fazer os passageiros perderem o equilíbrio e as mulheres presentes soltarem exclamações de susto. Logo que entramos na água a repulsão foi anulada e seu oposto, um grau de atração maior que o da água pelo centro terrestre da gravidade, foi acionado, permitindo-nos mergulhar a uma profundidade considerável, a despeito do ar contido na nave. As luzes exteriores às janelas foram acesas, nosso movimento ajustado ao novo elemento, e nos reunimos todos no salão perto das janelas, as luzes de dentro apagadas e as de fora acesas, e pudemos ver as curiosas tribos de Netuno que se aglomeravam em torno da iluminação que era estranha ao seu meio.
Ocupado nessa observação, ouvindo ao mesmo tempo as explicações entusiasmadas de um ictiólogo amador, ouvi uma voz familiar que reconheci como sendo a do meu pai Menax e me dirigi para o naim. Ele não podia me ver porque estava escuro no vailx, mas eu podia vê-lo no espelho, já que a casa dele estava iluminada – não só o via mas também o ambiente próximo a ele, da mesma forma que alguém do lado de fora de uma janela, à noite, vê as pessoas e coisas no interior, sem ser vista.
“Meu filho” -disse o príncipe -“não deveria permitir que teu amor pelas novidades te fizesse agir com tanta imprudência, mergulhando no oceano daquela forma, mesmo a uma velocidade pequena de um ven (milha) por minuto. Temo que tenhas uma tendência estouvada em tua natureza, que um dia poderá causar uma infelicidade. Incal pune os temerários permitindo que Suas leis, quando violadas, apliquem sua própria penalidade. Toma cuidado, Zailm, age com prudência!” Quando as experiências submarinas se tornaram tediosas, o curso contrário, de aumento rápido mas gradual de repulsão, foi aplicado ao vailx – não foi um procedimento perigoso como o do mergulho – logo a nave saiu da água e subiu à altitude indicada pelo raz -mostrador de repulsão – altitude essa de algumas centenas de pés acima da superfície do mar.
Aberto o convés, senta-mo-nos para tomar Sol e apreciar a agradável brisa marinha que soprava na mesma direção sul seguida pela aeronave. Como desejávamos chegar a Caiphul no dia seguinte, fechamos o convés quando a tarde caiu e começou a fazer frio e, elevando-nos bem alto no céu para diminuir a resistência atmosférica, aumentamos a velocidade. Devo observar que nosso curso era menos longo do que seria se tomássemos a direção leste ou oeste, quando então percorreríamos uma longitude a cada quatro minutos. Tomando a direção norte ou sul, cortávamos as correntes terrestres, enquanto que na mesma proporção a velocidade diminuiria, se o vailx desviasse a rota do leste para oeste, para depois virar para o sul ou o norte, o que daria uma média de apenas algumas centenas de milhas por hora.
Calculamos que, tomando a rota direta, só chegaríamos a Caiphul dentro de dois dias; como nosso desejo era chegar na manhã seguinte, decidimo-nos pela rota em ângulo. Isto quer dizer que o vailx iria para sudeste na direção da costa de Necropan, de lá para sudoeste para Caiphul, e a velocidade maior dessa rota nos levaria ao destino a tempo de tomarmos o desjejum em casa.
“Bela Caiphul nenhuma é como tu; Rainha da Atlântida e Rainha do mar.”
“O ser humano vivência a si mesmo, seus pensamentos como algo separado do resto do universo numa espécie de ilusão de ótica de sua consciência. E essa ilusão é uma espécie de prisão que nos restringe a nossos desejos pessoais, conceitos e ao afeto por pessoas mais próximas. Nossa principal tarefa é a de nos livrarmos dessa prisão, ampliando o nosso círculo de compaixão, para que ele abranja todos os seres vivos e toda a natureza (e o universo) em sua beleza. Ninguém conseguirá alcançar completamente esse objetivo, mas lutar pela sua realização já é por si só parte de nossa liberação e o alicerce de nossa segurança interior.” – Albert Einstein
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