Batalha de Stalingrado: por que Hitler a atacou e como a Vitória Russa mudou rumo da 2ª Guerra Mundial?

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Há 80 anos, em 17 de julho de 1942, começava a Batalha de Stalingrado, que durou 200 dias. Hitler e seu exército queria tomar o petróleo da região do Cáucaso. Mas o que parecia ser uma vitória rápida se tornou um pesadelo para as forças do exército da Alemanha nazista e o início da mudança do rumo da Segunda Guerra Mundial. Marcada por violentos combates em ambientes fechados, privações e desrespeito e desprezo pela vida de militares e civis, a luta em Stalingrado acabou sendo a maior (mais de 2,2 milhões de soldados envolvidos) e a mais sangrenta (1,8 a 2 milhões de mortos, feridos ou capturados) batalha na história das guerras.

Batalha de Stalingrado: por que Hitler a atacou e como a Vitória Russa mudou o rumo da 2ª Guerra Mundial?

Fonte: Sputnik

O 6º Exército alemão sob o comando do General Friederich Paulus iniciou a invasão de Stalingrado, às margens do rio Volga. Antes disso, em 28 de junho de 1942 o grupo Sul do Exército alemão inicia a operação Blau (Azul), cujo objetivo era a conquista do sul da Rússia e a tomada do Cáucaso, de onde vinha a maior parte do fornecimento de petróleo do Exército soviético que os nazistas queriam a todo custo.

O ataque foi dividido em dois grupos, o primeiro seguia para o Cáucaso dominando terreno da margem soviética do mar Negro até as áreas ricas em petróleo de Bacu – atualmente capital do Azerbaijão, na costa do mar Cáspio.

O segundo grupo alemão seguiria para Stalingrado às margens do rio Volga e cidades próximas para dar cobertura ao primeiro grupo em caso de um ataque soviético vindo do flanco norte e permitir assim o avanço pelo Cáucaso. Sob o comando do futuro marechal de campo Friederich Paulus, o 6º Exército alemão entrou na cidade. Não esperando uma forte resistência soviética, o Exército alemão avançou cidade à dentro.

Imagem de Stalingrado após a batalha

A Sputnik Brasil conversou com o historiador militar russo Aleksei Isaev sobre a importância desta batalha e o seu impacto no decorrer da Segunda Guerra Mundial. “Os alemães escolheram Stalingrado, mais especificamente o futuro marechal de campo Paulus, comandante dos grupos do Exército alemão B, V e X. Trata-se de uma cidade perdida no meio das estepes da Rússia, só que passar o inverno nas estepes nuas da Rússia era difícil”.

“Os alemães já haviam tido uma má experiência no inverno russo entre 1941 e 1942 quando muitos deles simplesmente congelaram. Então eles escolheram Stalingrado como sua base para passar o inverno como uma barricada que deveria defender o Cáucaso. O principal objetivo era sem dúvida o petróleo caucasiano dos campos de Baku”, disse Isaev.

Anteriormente, a Alemanha havia conquistado a Polônia em 28 dias e a França em 38 dias. Mas a luta por Stalingrado se prolongou por meses sem que o Exército alemão conseguisse resultados significativos. Em 23 de agosto de 1942, uma grande formação de aeronaves da 4ª Frota da Força Aérea alemã seguiu rumo a Stalingrado. Iniciava-se o maior bombardeio alemão na frente oriental da Segunda Guerra Mundial.

“De início, Stalingrado tinha uma função de importância auxiliar, mas devido às circunstâncias, ou seja, os inesperados combates com forças de reservas russas, cada vez mais forças de ambos os lados foram gradualmente envolvidas na luta pela posse da cidade estratégica. Como resultado, Stalingrado se tornou um ponto de concentração de grandes forças soviéticas e nazistas alemãs, não só nos combates de rua, mas também em combates fora da zona urbana, nas estepes, com batalhas de centenas de tanques”, observou o historiador militar.

A resistência soviética também contava com a infraestrutura industrial da cidade que, mesmo sob fortes bombardeios alemães, continuou produzindo armamentos para o Exército soviético local, principalmente tanques e canhões antitanque.

Contudo, as fábricas acabaram sucumbindo diante dos ataques inimigos, mas o Exército soviético não. Para dar continuidade aos ataques, sob pressão de Hitler, Paulus tentou por diversas vezes tomar a totalidade de Stalingrado, mas sem sucesso. Assim, a cidade se tornou um ponto de exaustão do Exército alemão, o que deu espaço para a vitória soviética e foi uma reviravolta no rumo da guerra. Mas como isso foi possível de acontecer?

“O comando russo criou um plano genial: atacar com tanques pelas estepes nuas e abertas e a partir destas mesmas estepes, avançando as duas forças por 100 km ao encontro uma da outra. Este movimento de pinça com os tanques acabou fechando por traz o exército de Paulus, que tinha cerca de 330 mil soldados encurralados. Pela primeira vez, desde o início da Segunda Guerra Mundial, foi derrotado por completo um exército inteiro que tinha grande quantidade de soldados alemães. Ficou cercado, e consequentemente destruído, um agrupamento de 330 mil soldados”, explicou Isaev.

Chegada triunfal dos soldados soviéticos que cercaram os alemães em Stalingrado - Sputnik Brasil, 1920, 18.07.2022
Chegada triunfal dos soldados soviéticos que cercaram os alemães em Stalingrado© Sputnik / Anatoly Arkhipov / Abrir o banco de imagens

A derrota do exército de Paulus criou uma enorme brecha no front nazista na Rússia, que ficou livre para o avanço das tropas soviéticas que, consequentemente, não só eliminaram a ameaça alemã no Cáucaso, mas também deram início ao contra-ataque que levaria os russos até Berlim. Já o comandante do 6º Exército alemão, Friederich Paulus, se rendeu ao Exército Vermelho em 31 de janeiro de 1943, poucos dias antes do final da batalha em 2 de fevereiro do mesmo ano.

Os remanescentes do exército alemão renderam-se a 2 de fevereiro; 91 mil homens esfomeados, feridos, doentes e exaustos foram feitos prisioneiros, entre eles 22 generais, para comemoração dos soviéticos, com o agora Marechal de Campo Friedrich Paulus e seus oficiais após a rendição

De acordo com o documentário alemão Stalingrad, cerca de 11 mil alemães e soldados do Eixo  recusaram a rendição oficial, achando que lutar até a morte seria melhor que uma morte lenta nos campos de concentração soviéticos. Estas forças continuaram a lutar em pequenas unidades até o começo de março de 1943, escondidos em porões e sótãos, com seu número diminuindo enquanto as tropas soviéticas iam fazendo a limpeza da cidade. De acordo com documentos mostrados no documentário, 2.418 destes homens foram mortos e 8.646 capturados.

Apenas 5 mil dos 91 mil prisioneiros de guerra alemães em Stalingrado sobreviveram ao cativeiro e retornaram para casa depois da guerra. Após a rendição, eles foram mandados para campos de trabalho por toda a União Soviética, doentes, sem cuidados médicos e com fome, e a grande maioria deles morreu de maus tratos, má nutrição e trabalhos forçados. Alguns oficiais mais graduados foram levados a Moscou e usados para propaganda antinazista e alguns deles fundaram o Comitê Nacional por uma Alemanha Livre.

Alguns, incluindo Von Paulus, assinaram um discurso anti-Hitler que foi transmitido por rádio pelos soviéticos para as tropas alemãs na frente oriental. O general Walther von Seydlitz-Kurzbach ofereceu-se para formar um exército anti-Hitler com sobreviventes alemães de Stalingrado, mas a oferta não foi aceita pelos soviéticos. Só em 1955 os últimos dos poucos combatentes restantes da Batalha de Stalingrado foram repatriados para a Alemanha.

opinião pública alemã não foi oficialmente informada do desastre até o fim de janeiro de 1943. Stalingrado não foi a primeira derrota nazista na guerra, nem a primeira grande derrota na história das forças armadas alemãs, mas a sua escala não tinha paralelo histórico até então. Alguns dias depois da rendição, em 16 de fevereiro de 1943, o ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels, fez seu famoso discurso em Berlim, onde conclamou a nação a uma guerra total, que necessitaria de todos os recursos do país e todos os esforços da população alemã.

Soldados soviéticos atacando posições alemãs

Legado

A Batalha de Stalingrado durou 199 dias e foi uma das maiores batalhas da história humana. O número de baixas é difícil de ser calculado exatamente, pelo tamanho e duração do conflito e pelo fato de o governo soviético não ter permitido que cálculos oficiais fossem feitos, temendo que o custo de vidas demonstrado fosse muito alto.

Alguns estudiosos de guerra estimam que as tropas do Eixo sofreram cerca de 850 mil baixas entre todas as armas das forças alemãs e de seus aliados, muitos deles sendo prisioneiros de guerra dos soviéticos que morreram em cativeiro entre 1943 e 1955; 400 mil alemães, 200 mil romenos, 130 mil italianos e 120 mil húngaros morreram, foram feridos ou capturados. 

Dos 91 mil alemães feitos prisioneiros em Stalingrado, 27 mil morreram em questão de semanas e apenas 5 mil voltaram à Alemanha, muitos deles apenas dez anos após o fim da Segunda Guerra Mundial; os demais morreram nos campos de concentração ou de trabalho soviéticos; 50 mil hiwis, – voluntários soviéticos – que se juntaram às tropas alemãs, foram mortos ou aprisionados pelo Exército Vermelho.

Dados de arquivos mostram que os soviéticos sofreram cerca de 1.130.000 baixas, sendo 478.741 mortos ou desaparecidos e 650.878 feridos em toda área de Stalingrado. No perímetro da cidade, foram 750 mil mortos ou feridos. Além disso, 40 mil civis soviéticos foram mortos em Stalingrado e seus subúrbios numa única semana de bombardeio aéreo, enquanto o 6º Exército e o IV Exército Panzer nazistas se aproximavam da cidade em julho de 1942; o total de civis mortos nas áreas fora da cidade é desconhecido. No total, a batalha resultou num total de 1,7 a 2 milhões de baixas de ambos os lados.

Além de ser um ponto de virada na guerra, Stalingrado também revelou a extrema disciplina e determinação tanto dos soldados nazistas da Wehrmacht quanto os do Exército Vermelho. No princípio, os soviéticos defenderam a cidade de todas as maneiras contra uma força arrasadora alemã. Suas perdas eram tão grandes que a expectativa de vida de um novo soldado em combate na frente era de um dia. 

O sacrifício destes homens pela defesa de Stalingrado foi imortalizado por um soldado do general Aleksandr Rodimtsev, um dos comandantes locais, que escreveu na parede da estação ferroviária da cidade – que mudou de mãos quinze vezes durante a batalha – a frase: “os homens da guarda de Rodimtsev aqui lutaram e morreram pela mãe-pátria“.

Mamáiev Kurgán é uma colina que se ergue dominante sobre a cidade de Volgogrado (ex-Stalingrado) e cujo nome em russo significa  “túmulo de Mamái” Encimando a colina, encontra-se a monumental estátua Mãe Pátria, de 85m de altura, erguida em honra daqueles que morreram na batalha defendendo o solo pátrio.

Pelo heroísmo, bravura e coragem de seus defensores, a cidade recebeu o título de Cidade-Herói, em 1945. Após a guerra, nos anos 1950, um colossal monumento chamado Mãe Pátria, foi erguido na colina de Mamayev Kurgan. A enorme estátua faz parte do complexo de um memorial que inclui paredes e construções arruinadas, conservadas no estado em que se encontravam após a batalha.

O “Grain Silo” e a casa de Pavlov, mantida por seus defensores por dois meses contra os ataques alemães, também podem ser visitados como memorial de guerra. Ainda hoje, turistas encontram lascas de ossos e pedaços de material enferrujado no terreno da colina, símbolos do sofrimento humano dos dois lados e da bem sucedida e custosa resistência soviética ao ataque nazista.

Por outro lado, os soldados alemães mostraram admirável disciplina após terem sido cercados, na primeira vez em que lutaram sob condições adversas desta escala na guerra. Durante as últimas semanas do cerco, muitos soldados morreram de fome e frio mas, ainda assim, a disciplina foi mantida até o fim, quando a resistência já não tinha mais sentido. 

Mesmo o comandante do 6º Exército alemão,  Friedrich Paulus, obedeceu às ordens de Adolf Hitler de não tentar romper o cerco, contra todos os conselhos dos generais do alto-comando da Werhmacht, incluindo Erich von Manstein, que ainda tentou levar suas tropas até às proximidades de Stalingrado debaixo de luta, mas foi obrigado a recuar e deixá-los entregues à própria sorte, sem comida, munição e agasalhos. Quando finalmente se rendeu, Paulus, o primeiro marechal alemão a se render em combate na história da Alemanha declarou, referindo-se a Hitler: “Não tenho intenção de me suicidar por aquele cabo da Baviera”.

Depois de Stalingrado, os alemães não ganharam mais nenhuma grande batalha. O 6º Exército da Alemanha foi exterminado e os poderes dos aliados europeus da Alemanha, com exceção da Finlândia, foram destruídos. Num discurso de 9 de Novembro de 1944, o próprio Hitler culpou a derrota em Stalingrado pela morte iminente da Alemanha.


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