Destruição em Beirute: Número de mortos passa de uma centena, com cerca de cem desaparecidos, mais de quatro mil feridos.

BEIRUTE [Líbano] – Os moradores de Beirute acordaram nesta quarta feira em meio a uma cena de devastação total, num ambiente apocalíptico, um dia após uma enorme explosão no porto da cidade [o principal porto do pais], que provocou ondas de choque na capital libanesa, matando inicialmente pelo menos cerca de 100 pessoas, com mais de cem desaparecidos entre os escombros, destruição generalizada e ferindo milhares [cerca de quatro mil].

Tradução, edição e imagens:  Thoth3126@protonmail.ch

Explosão em Beirute: Número de mortos passa de uma centena, com cerca de cem desaparecidos, mais de quatro mil feridos.

Ainda havia fumaça subindo do porto, onde um grande número de silos para estoque de grãos foi completamente destruído. As principais ruas do centro de Beirute estão cheias de escombros e veículos danificados, e as fachadas dos edifícios foram destruídas, com milhares de toneladas de cacos e estilhaços de vidros espalhados pelas ruas da capital do Líbano. Nos hospitais de toda a cidade, as pessoas esperavam a noite toda por notícias de entes queridos desaparecidos ou feridos. Outros postaram pedidos de ajuda online.

Um funcionário da Cruz Vermelha Libanesa disse que pelo menos 100 pessoas foram mortas e mais de 4.000 ficaram feridas. O funcionário, George Kettaneh, disse que o número de vítimas pode aumentar ainda mais pois há muitos desaparecidos que podem estar soterrados nos escombros da explosão.

Explosão no Líbano

Não ficou claro o que causou a explosão, que pareceu ter sido desencadeada por um incêndio em um depósito de fogos de artifício e atingindo o centro e o porto da cidade pela força de um terremoto de magnitude 3,5º na escala Richter. Foi a explosão mais poderosa já presenciada na cidade, que estava na linha de frente da guerra civil de 1975-1990 e sofreu conflitos com o vizinho Israel, ocorrendo bombardeios e ataques terroristas periódicos.

Uma imagem [abaixo] de drone mostra a cena da explosão que atingiu o porto de Beirute, Líbano , em 5 de agosto de 2020. Os escombros são tudo o que restou de silos de armazenamento de cereais (AP Photo / Hussein Malla)

Explosão no Líbano

O silo destruído ficou reduzido em escombros e destroços após a grande explosão no porto de Beirute, Líbano, Líbano, em 5 de agosto de 2020. (AP Photo / Hussein Malla)

Explosão no Líbano
Uma visão geral [abaixo] da cena do local central da explosão que atingiu o porto de Beirute, Líbano, em 5 de agosto de 2020. (AP Photo / Bilal Hussein)

LÍBANO-EXPLOSÃO
Policiais e oficiais forenses trabalham no local de uma explosão que ocorreu ontem no porto da capital libanesa, Beirute, em 5 de agosto de 2020. (Anwar Amro / AFP via Getty Images). O “L’Apocalypse” do Líbano, dizia a primeira página do jornal francês L’Orient Le Jour, do Líbano. Outro artigo, do jornal al-Akhbar, tinha uma foto do porto destruído com as palavras: “O Grande Colapso”.

O Líbano já estava à beira do colapso vivendo em meio a uma grave crise econômica, que quebrou seu sistema financeiro, que provocou protestos em massa nos últimos meses. Seus hospitais estão enfrentando um aumento nos casos de coronavírus, e havia preocupações de que o vírus pudesse se espalhar ainda mais quando as pessoas invadissem os hospitais em busca de socorro pelos ferimentos causados pela explosão do porto.

O ministro do Interior Mohammed Fahmi disse a uma emissora de TV local que a explosão foi causada pela detonação de mais de 2.700 toneladas de nitrato de amônio armazenadas em um armazém no cais desde que foram confiscadas de um navio de carga em 2014.

Explosão no Líbano
Esta foto acima mostra uma visão geral da cena da explosão que atingiu o porto de Beirute, Líbano, em 5 de agosto de 2020. (AP Photo / Bilal Hussein). Testemunhas relataram ter visto uma enorme nuvem laranja como aquela que aparece quando o gás tóxico dióxido de nitrogênio é liberado após uma explosão envolvendo nitratos.

Vídeos mostraram o que parecia ser um incêndio nas proximidades, pouco antes, e estações de TV locais informaram que um armazém de fogos de artifício esta envolvido na tragédia. O fogo parecia se espalhar do depósito de fogos para um prédio próximo, desencadeando a explosão, enviando uma nuvem de cogumelo e gerando uma onda de choque violentíssima que derrubou pessoas e cujo estrondo da explosão chegou a ser ouvido a mais de 200 km de distância.

“Foi um verdadeiro show de terror. Não vejo nada assim desde os dias da guerra (civil) ”, disse Marwan Ramadan, que estava a cerca de 500 metros do porto e foi derrubado pela força da onda de choque gerada pela mega explosão.

A explosão destruiu vários prédios de apartamentos, deixando potencialmente um grande número de pessoas desabrigadas em um momento em que muitos libaneses perderam o emprego e viram suas economias evaporarem devido a uma crise cambial. A explosão também suscita preocupações sobre como o Líbano continuará importando quase todos os seus bens vitais, com seu principal porto devastado.

Explosão no Líbano

Cenário de destruição generalizada, como em uma devastadora guerra, é visto após a enorme explosão em Beirute, Líbano, em 5 de agosto de 2020. (AP Photo / Hassan Ammar)

Líbano

Igreja e veículos danificados [acima] são vistos em Beirute, em 5 de agosto de 2020. (Anwar Amro / AFP via Getty Images). Há também a questão da segurança alimentar no Líbano, um pequeno país que já hospeda mais de 1 milhão de refugiados sírios em meio à guerra de cinco anos nesse país.

O principal silo de grãos do porto é administrado pelo Ministério da Economia e Comércio do Líbano. Imagens de drones feitas na quarta-feira pela Associated Press mostraram que a explosão abriu aqueles silos de grãos, despejando seu conteúdo nos detritos e na terra lançados pela explosão. Cerca de 80% do suprimento de trigo do Líbano é importado, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA. Estimativas iniciais sugerem que cerca de 85% dos grãos do país estavam armazenados nos silos agora destruídos.

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Um silo destruído [acima] é visto em meio aos escombros e detritos após a explosão de ontem no porto da capital libanesa, Beirute, em 5 de agosto de 2020. (Anwar Amro / AFP via Getty Images)

A Agência Nacional de Notícias do Líbano citou o ministro da Economia e Comércio Raoul Nehme, dizendo que todo o trigo armazenado na instalação havia sido “contaminado” e não podia mais ser consumido. No entanto, ele insistiu que o Líbano tinha trigo suficiente para suas necessidades imediatas. Nehme disse que o Líbano também importaria mais trigo.

A pequena crise econômica da nação mediterrânea está enraizada em décadas de corrupção sistêmica e má governança pela classe política que está no poder desde o fim da guerra civil. Os libaneses realizam protestos em massa pedindo mudanças políticas desde o outono passado, mas poucas de suas demandas foram atendidas, pois a situação econômica piorava constantemente.

O tamanho e a escala da explosão de Beirute espelhavam a de outro grande desastre envolvendo nitrato de amônio. Em 1947, um navio que transportava cerca de 2.200 toneladas do composto químico pegou fogo na cidade de Texas, nos EUA, e explodiu, causando uma série de explosões subseqüentes em instalações de petróleo próximas e em uma planta química. Esse desastre matou mais de 575 pessoas e feriu outras 4.000.

Por Bassem Mroue e Zeina Karam


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