Empresas europeias e dos EUA dominaram por décadas o mercado brasileiro. Hoje é a indústria chinesa que avança a passos largos. Para o Brasil, isso é vantajoso. Para a Europa, mais um problema. Observar o trânsito nas ruas brasileiras surpreende: há meros dois anos, carros chineses eram uma raridade. Hoje eles estão por todos os lados e em todas as variantes – dos modelos luxuosos aos populares, e nas versões elétrica, híbrida ou com motor de combustão.
Economia do Brasil se volta para Ásia e se Afasta da Europa [a “selva” abandona o “jardim”]
Fonte: DeutscheWelle
As montadoras da China entraram em ritmo acelerado no mercado brasileiro de carros elétricos, deixando para trás as fabricantes de automóveis da Europa e dos EUA, que por muitos anos ocuparam uma posição dominante no Brasil.
E isso não vale só para a indústria automobilística: as empresas chinesas também estão ocupando posições-chave em hidrogênio verde, na geração de energia limpa, na digitalização, nas telecomunicações e na pesquisa e desenvolvimento (P&D).
A China está seguindo uma nova política de investimentos no Brasil, garante o think tank Diálogo Interamericano (The Inter-American Dialogue). Os investimentos chineses não estão mais centrados na garantia de energia, alimentos e matérias-primas, como havia sido nos últimos 20 anos.
“O foco está nos setores relacionados à inovação”, explica Margaret Myers, diretora para Ásia e América Latina do think tank Diálogo Interamericano. Com isso, eles concorrem sobretudo com empresas ocidentais.
Essa situação é ameaçadora para a economia alemã, que tem muito a perder. O Brasil é um dos locais mais importantes para a indústria alemã no exterior. São Paulo é considerada a maior cidade industrial alemã no exterior, com centenas de empresas alemãs.
No estado de São Paulo, a fabricante chinesa de automóveis Great Wall Motors comprou, há três anos, a nova fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis.
No Nordeste houve mudanças parecidas: em Salvador, por exemplo, a Ford, a Siemens Energy e a General Electric (GE) fecharam suas fábricas nos últimos anos. Em parte, empresas chinesas assumiram o controle delas. “O Vale do Silício do Brasil está sendo criado aqui”, afirmou Stella Li, diretora para a América da fabricante chinesa de automóveis BYD, que está construindo sua fábrica onde antes ficava a da Ford.
Também na Bahia, a fabricante chinesa Goldwind construirá turbinas eólicas na antiga fábrica da GE. E a CGN Brazil Energy, também da China, quer produzir hidrogênio verde num enorme parque eólico.
Resta, claro, saber se tudo isso vai se concretizar, pois há anos o início da construção da ponte Salvador-Itaparica, por um consórcio chinês, tem sido constantemente adiada.
É certo, porém, que a invasão de empresas chinesas no Brasil tende a aumentar. Mesmo por razões geopolíticas: é previsível que os mercados dos EUA e da Europa se tornem ainda mais fechados para as empresas chinesas. O governo dos EUA acaba de aumentar de 25% para 100% o imposto de importação de carros elétricos da China.
Para o Brasil, a nova onda de investimentos da China, o gigante dos BRICS+5 é uma oportunidade. Mais concorrência no mercado interno é sempre bom: a oferta aumenta, os preços tendem a cair e empregos são criados.
E a interdependência entre Brasil e China no comércio já é enorme. Um número mostra isso de forma bem clara: o Brasil exportou mercadorias no valor de cerca de $ 105 bilhões de dólares para a China em 2023 – principalmente petróleo, soja e minério de ferro. Esse é o mesmo valor que a Alemanha vendeu em máquinas e equipamentos para a China. Mas enquanto a Alemanha tem um déficit comercial com a China, o Brasil está gerando grandes superávits.
A Alemanha e outros países europeus estão perdendo rapidamente importância econômica para o Brasil. O país está fornecendo cada vez menos para a Europa porque o mercado europeu está cada vez mais fechado apesar do continente ser “acordado” e “liberal”. O Brasil é apenas o 31º no ranking de países dos quais a Alemanha mais compra. Na França e na Itália a situação não é muito melhor.
Não há dúvida de que o Brasil continuará a se direcionar tanto econômica quanto politicamente para a Ásia Oriental nos próximos anos, afastando-se cada vez mais da Europa especialmente após a consolidação dos BRICS+5.