PT se ‘autoassassinou’ e governo está em fase terminal, diz ex-ministro de LULA
Há pouco mais de dez anos, o senador Cristovam Buarque deixou o PT após uma série de desgastes que levaram à sua demissão, por telefone, do cargo de ministro da Educação e no embalo da eclosão do escândalo do mensalão – ele foi um dos integrantes que não concordaram com a resposta dada pelo partido e pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva às irregularidades reveladas à época.
Edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
Segundo o senador Cristovam Buarque, “o PT se autoassassinou” ao desconsiderar a meritocracia na nomeação de cargos e não pensar um projeto de longo prazo para o país.
Hoje, ensaia um novo desembarque, desta vez do PDT, que, nas palavras de Cristovam, “não existe” como partido, pois virou um “puxadinho do PT” controlado pelo ex-ministro Carlos Lupi, que já colocou como candidato à próxima corrida presidencial um nome escolhido por Lula – Ciro Gomes – para “preencher o vazio” caso o petismo não se recupere a tempo de 2018.
Segundo o senador, “o PT se autoassassinou” ao desconsiderar a meritocracia na nomeação de cargos e não pensar um projeto de longo prazo para o país. Diz ainda que o “fracasso” da gestão Dilma Rousseff se deve principalmente a erros cometidos pela presidente em seu governo, que está em “fase terminal”.
Aos 71 anos, o ex-governador do Distrito Federal e ex-reitor da UnB (Universidade de Brasília) defende, porém, que se pense menos no resultado do pedido de impeachment da presidente, e mais em que governo o país terá após o processo – com ou sem Dilma.
Confira trechos da entrevista à BBC Brasil, feita por telefone.
BBC Brasil – A ex-senadora Marina Silva defendeu ao jornal Folha de S.Paulo que se agilize o processo contra a presidente Dilma Rousseff no TSE (Dilma e seu vice, Michel Temer, podem ter o mandato cassado se o Tribunal Superior Eleitoral entender que a chapa cometeu irregularidades na campanha eleitoral), em detrimento ao pedido de impeachment em curso no Congresso. Como vê isso?
Cristovam Buarque – Para mim, o importante não é saber como isso termina, mas como começa o próximo momento. O chamado day after (dia seguinte). Acho que lamentavelmente a Marina não trabalha com o day after. Estou menos preocupado com se isso vai terminar com a continuação da Dilma, o impeachment ou a cassação.
Teremos o dia seguinte com o Temer em um governo de unidade nacional? Ou com a Dilma, com um governo de coalizão nacional? Se houver a cassação, a eleição em 90 dias vai permitir a construção dessa coalizão com um projeto alternativo? Essa é a minha preocupação.
Cristovam Buarque – Hoje, e nós dissemos isso a ela em agosto, a melhor alternativa seria a Dilma, mas com um governo que não fosse da Dilma. Ela sendo a “Itamar” dela própria. No que consiste isso: ela dizer que não é mais do PT, nem de qualquer outro partido, a não ser do “Partido do Brasil”.
Dizer que precisa da oposição e de todos para governar, compor um ministério de unidade e com um programa de unidade, no qual a estabilidade monetária seja objetivo imediato, desde que não sacrifique conquistas sociais nem investimentos em infraestrutura. Definindo quem vai se sacrificar para que o Brasil seja reorientado e como vamos atravessar os três anos até a próxima eleição.
Seria a continuidade do governo Dilma sem Dilma, uma espécie de presidente sem ser chefe de governo, com um “primeiro-ministro” – entre aspas, não precisa de parlamentarismo para isso. O Itamar (Franco, ex-presidente) conseguiu: o Fernando Henrique (Cardoso) foi o primeiro-ministro. Isso seria o ideal.
Mas não vejo na Dilma condições para isso. Tanto que nós, um grupo de senadores, fomos até ela em agosto, levamos um documento, propusemos isso, dissemos que estávamos dispostos a apoiá-la. Ela ouviu com seriedade, carinho, nos dedicou muito tempo, mas não aconteceu nada. Perdeu a chance.
BBC Brasil – Na sua visão, por que o governo chegou a esse ponto? Quem tem mais culpa, Dilma ou o PT?
Cristovam Buarque – Acho que a grande culpa é do PT. O PT se autoassassinou. Há uma diferença entre autoassassinato e suicídio: suicídio é um gesto consciente, em que existe até uma dignidade; o autoassassinato nem é consciente nem carrega dignidade.
O PT se autoassassinou por recusar o mérito nos seus dirigentes: nomeava ministro, vice-ministro, subministro, diretores apenas por interesses imediatistas, corporativos. Se autoassassinou por não pensar o médio e longo prazo do Brasil, por ficar prisioneiro da próxima eleição, por abrir mão das reformas necessárias que poderia ter feito, sobretudo com a grande liderança que era Lula.
Agora, a Dilma colaborou. Ela poderia ter se “independizado” do PT, mas continuou dependente dele, e com isso destruiu seu governo.
BBC Brasil – Como vê o papel do seu partido, o PDT, na base aliada?
Cristovam Buarque – O PDT, como partido, não existe: é uma associação, um clube de militantes sob o comando absoluto do Carlos Lupi.
Em 2007, ele assumiu o Ministério do Trabalho. De lá para cá, continua sempre junto ao governo em troca de ministério e isso destruiu o PDT como partido, fez dele o que o Pedro Taques (ex-senador e atual governador do Mato Grosso) chamava de “puxadinho do PT”.
E a situação é essa, ao ponto de hoje ele ter colocado um candidato a presidente escolhido pelo Lula, o Ciro Gomes, cujo papel é preencher o vazio que haverá se o PT e o Lula não se recuperarem do impacto.
BBC Brasil – Do impacto da Operação Lava Jato?
Cristovam Buarque – Da Lava Jato e do fracasso do governo Dilma. E é um erro achar que esse fracasso decorre da Lava Jato. Do ponto de vista ético, sim, mas também dos erros que ela cometeu na condução do governo.
Se fosse a Lava Jato sem inflação, com a economia crescendo, seria diferente: apenas o PT carregaria o problema. Mas temos recessão, inflação, infraestrutura desorganizada, crise de gestão. O problema é a soma com a crise socioeconômica. E o PDT optou equivocadamente, e digo isso desde 2007, em vez de ser uma alternativa para o Brasil, por ser coadjuvante de um partido e de um governo em fase terminal.
BBC Brasil – O que o manteve no PDT até hoje, então?
Cristovam Buarque – Primeiro porque sair de um partido é algo muito dolorido, complicado. E você sempre fica acreditando que ele pode mudar. E segundo, porque essa é uma crise geral dos partidos.
BBC Brasil – É como se não houvesse para onde ir?
Cristovam Buarque – É isso. Não é só o PDT. O PDT perdeu a vergonha, mas os outros não demonstram ainda o vigor transformador. Creio que um partido precisa de duas coisas: vergonha, do ponto de vista ético, e vigor transformador, do ponto de vista político. A gente sente que muitos têm vergonha na cara, mas fica se perguntando se têm esse vigor.
Além disso, é importante dizer com clareza: há três anos o Carlos Lupi diz que vai sair do governo no mês seguinte. Reunia a nós senadores e dizia: “no próximo mês nós estamos fora do governo”. Passava o mês, a gente esperava, ele nos reunia e dizia a mesma coisa. Não vou negar que cometi o erro de ficar esperando por esse mês seguinte.
BBC Brasil – A imprensa dá como certo que o senhor vai para o PPS, que o convite já foi feito.
Cristovam Buarque – O convite foi realizado pelo meu velho amigo Roberto Freire, que é meu companheiro desde a política estudantil em Pernambuco, ainda nos anos 60. Mas não vou tomar essa decisão em um período de recesso, antes de conversar com meus colegas do PDT do Distrito Federal e ouvir diferentes forças ligadas a mim.
Mas houve o convite, e eu não disse não.
BBC Brasil – O senhor foi procurado por outros partidos?
Cristovam Buarque – Outros partidos me procuraram, mas a sintonia com o PPS é maior..
BBC Brasil – Está em seus planos se candidatar à Presidência em 2018?
Cristovam Buarque – Quando conversei com o Roberto Freire, ele falou nisso. Mas deixei claro: não vou para o PPS exigindo ser candidato à Presidência, e nem com o compromisso de ser candidato se o PPS quiser. Não será por essa razão (a eventual mudança)
Até porque… Eu disse a ele que, na idade da gente, antes de tomar uma decisão tão ousada como ser candidato a presidente, precisamos pensar se já não é hora de começar a pensar mais na memória do que já fez do que na aventura do que vai fazer.
BBC Brasil – O senhor tem um histórico ligado aos chamados partidos de esquerda. Indo para o PPS, migraria para uma sigla que, para muitos, está mais à direita e é criticada como uma espécie de satélite do PSDB. Seus eleitores não estranhariam esse movimento?
Cristovam Buarque – Diferencio a palavra partido da palavra sigla. Não mudo de partido. Já mudei de sigla: era PT, virei PDT, mas sem mudar de partido. Se sair do PDT, e for para outra sigla, não mudarei de partido. Meu partido é de que a gente precisa transformar a sociedade brasileira, e isso exige uma revolução. E o elemento fundamental dessa revolução é garantir escola de qualidade para todos, por o filho do trabalhador na mesma escola do filho do patrão, entre outros aspectos.
Agora, a sigla PPS vem do Partido Comunista. Você pode dizer que o Roberto Freire esteve ao lado de gente do PSDB, mas você não pode dizer que ele e os militantes do PPS são conservadores e de direita. Continuo dividindo a política entre direita e esquerda. Mas não divido por sigla, e sim por compromissos. Para mim, compactuar com corrupção é coisa de direitista. Mesmo que seja do PT, do PC do B.
BBC Brasil – O PT vai sobreviver a essa crise?
Cristovam Buarque – Veja bem, sobreviver, vai. Mas vai sobreviver cambaleante. E a pergunta para a qual eu gostaria de ter uma resposta é sobre o que virá depois desse período em que o PT vai cambalear. Vai cambalear para o lado dos corruptos, dos acomodados socialmente? Ou vai cambalear para o lado dos éticos e dos revolucionários? Isso não dá para saber.
BBC Brasil – A Câmara e o Senado são comandadas por parlamentares implicados na Lava Jato. Como isso influencia o funcionamento do Congresso neste ano?
Cristovam Buarque – Se continuar nesse ritmo, o impeachment será um tema para todos, não só para a Dilma. E poderá vir, sim, o povo na rua pedindo eleição geral, para todos os cargos. Porque não é só a Dilma que está sob suspeição. Todos nós, que temos mandato, estamos.
Há os “Cunhas” da vida, os outros, mas também os que não aparecem. Somos hoje um Parlamento sob suspeição, e nenhum de nós, portanto estou no meio, está fora da suspeição, da dúvida, do questionamento da população.
Temo que, se não formos capazes de cassar logo os corruptos conhecidos, vamos cair num processo de reação tão forte da população que teremos de fazer uma eleição geral para todos.
- Na Era do Ouro, as pessoas não estavam conscientes de seus governantes.
- Na Era de Prata, elas os amavam e cantavam.
- Na Era de Bronze, elas os temiam.
- E por fim, na Era do Ferro (a atual), elas os desprezavam.
- Quando os governantes perdem sua confiança, as pessoas (e Deus) perdem sua fé (e o RESPEITO) nos governantes. – Retirado do Tao Te Ching
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- https://thoth3126.com.br/petrobras-mais-us-16-bilhoes-em-multa-em-tribunal-nos-eua/
- https://thoth3126.com.br/dilma-rousseff-o-movimento-que-quer-derrubar-seu-governo/
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- https://thoth3126.com.br/pmdb-quer-derrubar-dilma-em-ate-quatro-meses/
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- https://thoth3126.com.br/o-dominio-do-fato-jurisprudencia-pode-prender-lula/
- https://thoth3126.com.br/o-que-esperar-da-operacao-lava-jato-em-2016/
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10 respostas
Caro Thoth.
Esse sujeito é como quase todos os políticos deste país. Não passa de um safado, que na minha opinião não merecia nem estar vivo, como quase todos os políticos e ex políticos deste país. Só existe uma solução para o Brasil, matar todos estes safados junto com suas respectivas famílias e começar tudo do 0 de novo. Político é igual bandido, ao saber que ira morrer se fizer merda, pensa duas vezes antes de à cometer.
Caro Arthur, os políticos e a politica são um reflexo do povo do pais em que eles se elegeram. Qualquer raciocínio sobre os políticos tem que ser expandido para o povo que os elegeu e CADA POVO TEM O GOVERNO (E POLÍTICOS) QUE MERECE. Muita Luz e Paz.
as eleições são uma farsa, votamos em um certo candidato e ele leva consigo outros que a população não votou, como podemos escolher pelo voto se na lei eleitoral o partido pode colocar quem ele quiser, sem ser escolhido pelo povo, e ainda tem a urna eletrônica pra finalizar, que só existe no Brasil…
Bom, o Título dessa matéria esta incompleto, vou colocar o verdadeiro título: Antes de auto destruir-se o pt destruiu o Brasil.
Imagina a grana preta que esses crápulas ainda tem escondido?????
Infelizmente Thoth vc tem razão, vejo nas palavras do Arthur a revolta contida que é a mesma que eu tenho, não posso deixar de dar muita razão para ele também. Os que pensam e não fazem o reflexo para esse desgoverno e maioria desses venenosos politicos, são os que mais sofrem.
Fica assim mais do que evidente a ingenuidade do povo que acredita em qq um. Sempre foi assim e gostaria de saber até quando. Quando assumirmos a responsabilidade que nos cabe nesta situação toda, as coisas começarão a melhorar. A ” CULPA” não pode ser jogada nos outros somente. Somos todos coniventes. Penso que o modelo de vida vigenre já não funciona mais, a não ser para a escuridão, que conta com a ignorância do povo. Fico estarrecida com a credulidade das pessoas, com sua visão estreita das coisas. Nao percebem ou nao querem perceber o jogo sujo que rola há séculos. E o pior é que, o mundo como é, propicia esse embotamento mental. Entao é necessário fazer por merecer uma vida mais verdadeira. Por enquanto, é isso aí o q temos pra hoje: trabalho escravo, extorsão, doenças, sofrimentos, ignorância. Ah… e o carnaval…
Fica assim mais do que evidente a ingenuidade do povo que acredita em qq um. Sempre foi assim e gostaria de saber até quando. Quando assumirmos a responsabilidade que nos cabe nesta situação toda, as coisas começarão a melhorar. A ” CULPA” não pode ser jogada nos outros somente. Somos todos coniventes. Penso que o modelo de vida vigente já não funciona mais, a não ser para a escuridão, que conta com a ignorância do povo. Fico estarrecida com a credulidade das pessoas, com sua visão estreita das coisas. Nao percebem ou nao querem perceber o jogo sujo que rola há séculos. E o pior é que, o mundo como é, propicia esse embotamento mental. Entao é necessário fazer por merecer uma vida mais verdadeira. Por enquanto, é isso aí o q temos pra hoje: trabalho escravo, extorsão, doenças, sofrimentos, ignorância. Ah… e o carnaval…
Caro Thoth.
Concordo em parte com o amigo, se houvesse lisura na votação, mas não ha.
A coisa é facilmente manipulável por qualquer haker que seja bom.
Não acredito em nenhum resultado eleitoral com voto eletrônico, já que não existe no universo nenhum sistema 100% seguro.
Não acredito que o povo tenha elegido realmente este desgoverno que ai está.
É claro que existe uma parcela grande de culpa do próprio povo.
Povo que gosta de ser manipulado em todos os sentidos adorando o pão e circo que o domina.
Exemplo mais claro disso é o futebol, carnaval, festivais e grandes acontecimentos ” gratuitos “intitulados de cultura de massa que de cultura real tem muito pouco ou nada.
Criticar a política de forma tão simplista e agressiva é fácil. Comparar o Cristovan Buarque com outros políticos mal caráter é prova de total desconhecimento da política brasileira.
A solução para o Brasil não é somente o voto, mas a evolução da sociedade.
Então me fale de tal evolução.
A começar por vc, quem disse que vc é evoluído.