Os Templários – História – (17)

OS TEMPLÁRIOS, ESSES GRANDES GUERREIROS DE MANTOS BRANCOS COM CRUZES VERMELHAS : Os seus costumes, os seus ritos, os seus segredos: Digam o que disserem determinados historiadores encastelados em sua erudição acadêmica, a criação da Ordem dos Cavaleiros Templários continua envolta em inúmeros mistérios; e o mesmo acontece com a realidade profunda da sua missão, não a que se tornou pública, mas a missão oculta. Inúmeros locais ocupados e ou de propriedade dos cavaleiros  Templários apresentam particularidades estranhas. 

OS TEMPLÁRIOS, ESSES GRANDES SENHORES DE MANTOS BRANCOS – OS SEUS  COSTUMES, OS SEUS RITOS, OS SEUS SEGREDOS.

Atribuíram-se aos monges-soldados crenças heréticas, cultos curiosos e às suas construções, principalmente a Catedral de Chartres, significados e até poderes fantásticos. A seu respeito, fala-se de gigantescos tesouros escondidos (sendo o maior deles o CONHECIMENTO), de segredos ciosamente preservados e de muitas outras coisas. 

Mais informações sobre os Templários: https://thoth3126.com.br/category/templarios/

ARGINY E O TESOURO DO TEMPLO

Que tesouro?

A realidade de um tesouro templário gigantesco está longe de ser evidente. Ainda por cima, o fato de, em inúmeros locais, os Templários terem conseguido escapar à sorte que Filipe, o Belo, pretendia reservar-lhes, permite pensar que teria podido ser recuperado pelos sobreviventes da Ordem. Mesmo que partamos do princípio de que, de um modo ou de outro, os altos dignitários tenham podido mandar colocar esse tesouro a salvo, nada prova que ainda se encontre no esconderijo que então lhe foi atribuído. Mesmo assim, detenhamo-nos na história que já antes referimos: a da evacuação das riquezas da Ordem por um membro da família Beaujeu, a pedido do último Grão-Mestre Jacques de Molay.

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Segundo esse relato, o conde de Beaujeu teria conseguido convencer Filipe, o Belo, a deixá-lo recuperar o corpo de seu tio a fim de o inumar no Beaujolais, o feudo da sua família. Teria aproveitado, segundo ordens e instruções do último Grão-Mestre, para recuperar as riquezas do Templo e fazê-las sair da capital. Para tal, Guichard de Beaujeu teria reunido alguns companheiros seguros com os quais criara a sociedade secreta «Os Perfeitos Arquitetos». Convinha guardar o tesouro em local seguro e, a fim de poder velar por ele, Guichard teria decidido escondê-lo nas suas próprias terras. Aliás, não era para lá que tinha de levar os restos mortais de seu tio? Um destino diferente não teria parecido suspeito? A lógica mandava, com efeito, que Guichard levasse a sua preciosa carga para as terras dos Beaujeu, no Ródano.

Os Beaujeu da Dama de Paus

Não sabemos muito exatamente quando os Beaujeu se instalaram nesta região montanhosa do Beaujolais. O local fora considerado sagrado nos tempos antigos e fora palco de estranhos cultos ligados aos megálitos. Ainda existem alguns vestígios de um cromlech (Grupo de menires alinhados) a sudoeste do Beaujeu e, um pouco mais a sul, pedras com cúpulas chamadas as Pierres-Fayettes. Dispostas em círculo sobre um esporão rochoso, parecem vigiar o vale do Azergues. No entanto, fora numa outra propriedade muito próxima que Guichard teria escondido o seu precioso depósito, em vez de no castelo da família: em Arginy, no território da comuna de Charentay.

Transformado em quinta, o castelo de Arginy sofreu bastante, de então para cá. No entanto, conservou duas torres redondas cuja imagem se reflete nas águas pesadas e esverdeadas que as rodeiam. Conserva também um torreão que foi alvo do interesse de muitos pesquisadores de tesouros. As oito aberturas que se encontram no seu topo valeram-lhe o nome de Torre das Oito Beatitudes, ou torre da alquimia. Construído no século XI, o castelo foi muito reformado no século XVI. Não se conhece muito bem a origem do topônimo «Arginy»(n.T.: derivado de Argentum, prata em latim?).

Alguns julgaram que se tratava de uma deformação da palavra grega arguros, que significa prata. Outros viram nele Argine, a Dama de Paus, rainha dos tesouros. Diz-se também que a origem do nome remonta à guerra das Gálias. Um lugar-tenente de César, chamado Arginus, teria mandado construir um castellum naquele local, que teria conservado a memória do seu nome. Depois, um castelo teria ocupado o lugar do castellum e os condes de Beaujeu ter-se-iam tornado seus proprietários, no século XIII. Em 1253, Louis de Beaujeu abandonou o castelo familiar para se instalar em Arginy, onde os seus sucessores residiram também: Guichard VI, o Grande, em 1295, Édouard I, em 1331, Antoinette de Beaujeu, em 1343.

Em 1388, o castelo foi cedido à família de Vemet e, depois, em 1453, tornou-se propriedade de Jacqueline de Châlons, que pertencia à mesma família que o Templário Jean de Châlons. Em 1485, a propriedade mudou mais uma vez de família: encontrava-se nas mãos de Thomas de la Buslère. No Renascimento, e isso não deixa de ter interesse, foi adquirida por um amigo de Jacques Coeur: Claude de Vignolles. Restaurou o castelo, aumentou a propriedade, construiu a quinta flanqueada por uma torre octogonal que, mais tarde, recebeu o nome de «A Prisão». Em seguida, a família de Rosemont adquiriu este domínio, em 1883. De então para cá, inúmeras personagens, dizendo-se por vezes mandatarias por sociedades secretas, tentaram comprar o castelo de Arginy, propondo geralmente somas enormes, persuadidos de que se trata de um investimento e de que o tesouro da Ordem do Templo se encontra pura e simplesmente ainda naquele local.

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O lendário castelo Arginy

Os Beaujeu e o Graal

Para saber se o tesouro da Ordem tem a menor hipótese de se encontrar lá, ainda temos de saber o que foi esta família Beaujeu. As personagens que a compuseram são muito variadas. Houve Guichard III, que se distinguiu sobretudo por uma crueldade sem limites quando da cruzada contra os Albigenses. Houve Guichard IV, que foi camareiro de Filipe, o Belo. Tudo isso não milita nada em seu favor. Mas houve também Guillaume, que sucedeu a Thomas Béraut como Grão Mestre do Templo, a 12 de Maio de 1273, e que morreu heroicamente na batalha em Acre, quando do cerco de 1291.

Recuemos um pouco mais no tempo e analisemos uma estranha história: O filho de Guichard II de Beaujeu escorregou e caiu no rio onde estava a dar de beber ao seu cavalo. Afogou-se. Desesperado, seu pai pôs-se a rezar, rezar, e jurou construir uma igreja no local do drama se o seu filho lhe fosse devolvido, O milagre realizou-se e o filho de Guichard II ressuscitou. Beaujeu fez o que prometera: mandou erguer a igreja de Saint-Nicolas-de-Beaujeu, que foi consagrada, em 1131, pelo papa Inocêncio III.

Paul Leutrat relata outra lenda, contada por Pierre le Vénérable, abade de Cluny: estando Humbert III em guerra contra o conde de Forez, um dos seus companheiros de armas foi morto. Chamava-se Geoffroy d’Oingt. Alguns dias mais tarde, encontrando-se Milon d’Anse na floresta de Alix, o fantasma de Geoffroy apareceu-lhe e disse-lhe que a sua alma não estava em paz porque se batera por uma causa injusta e, ainda por cima, Humbert III não mandava rezar missas pelo seu repouso eterno. O fantasma acrescentou que, aliás, isso não o espantava grandemente dado que Humbert de Beaujeu se comportava como um pagão, anexando, em seu proveito, as propriedades da abadia de Cluny.

Compreendemos, assim, muito bem por que razão Pierre le Vénérable se tornou o contador desta história. O fantasma acrescentou que Humbert III devia imperativamente deslocar-se à Terra Santa. Milon d’Anse apressou-se a relatar toda a história ao conde Beaujeu, mas este não quis ouvir nada. No entanto, uma manhã, encontrou-se, por sua vez, cara a cara com o fantasma. A impressão foi desagradável e Humbert achou mais prudente obedecer. Aí, fez-se Templário, seguiu, portanto, os conselhos do fantasma e partiu para a Terra Santa. Mas ainda não tinham terminado os seus encontros fantásticos. Conheceu uma mulher jovem chamada Assirata. Na verdade, segundo o Zohar, esta sedutora habita no sexto palácio do demônio. Foi ela que deu à luz todos os espíritos que induzem os homens em erro, fazendo-os ver, em sonhos, coisas mentirosas. Humbert regressou a França e a sua mulher, furiosa, descobriu que ele se tornara templário. Ela conseguiu que o papa Eugênio III o fizesse sair da Ordem.

Decididamente muito sensível aos argumentos femininos, Humbert assim fez e entregou o manto branco com a cruz vermelha. Em compensação por esse abandono, devia construir uma igreja em Belleville. Assim foi feito. A colegial foi construída com nove espaços entre as vigas. Uma sereia bífida foi esculpida na fachada virada para o Saône. Considerar-se-ia que representava Assirata? Num capitel da entrada, um leão andrófago segura, nas suas fauces, o corpo de um homem. Foi nesta igreja que vários condes de Beaujeu mandaram que os inumassem. Foi também o local de outro acontecimento lendário.

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Depois do combate em que Geoffroy d’Oingt fora morto, Humbert e os seus companheiros tinham ido festejar a sua vitória em Meys, no coração dos montes do Lyonnais. Alguns afirmam que essa povoação fora o berço da família de Hugues de Payns. Quando dessa festa, Milon d’Anse teria roubado uma taça que, depois, dera a Humbert. Este último nunca mais se quis separar dela, pelo menos até ao momento em que a colegial de Belleville foi construída. Então, ele atirou a taça para o Saône e alguns murmuram que se tratava do Graal. Quando se via a imagem de alguém refletida nela, o homem aparecia desprovido do seu invólucro carnal, a menos que fosse um demônio. A morte de Humbert também foi curiosa. A lenda diz que ela ocorreu precisamente em Meys, durante um banquete. Tirando a sua mulher, os que se encontravam reunidos em redor da mesa já estavam mortos.

Para além daquelas pessoas que conhecera durante a sua existência e que o aguardavam do outro lado do espelho, também lá estava Assirata, a sua bela sedutora que faz lembrar outra ligada também aos Beaujeu. Com efeito, no século XIII, Renaud de Beaujeu escreveu um romance ligado ao ciclo da Távola Redonda. Nele, descrevia como um cavaleiro só podia chegar ao termo da sua busca depois de ter triunfado sobre as tentações carnais. Le Bel inconnu [O Belo Desconhecido], herói e título do romance, depois de ter triunfado sobre tudo, nomeadamente sobre uma fada sedutora, terminava a sua busca na cidade Gastée. Uma sereia beijou-o e disse-lhe quem ele era verdadeiramente: Guislain, filho de Gauvain. O belo desconhecido, que já não o era, casou com a sereia: a loura Esmérée. Este romance teve êxito suficiente para inspirar Ariosto e Tasso que se serviram dele, respectivamente, para descrever a ilha de Alcina e os jardins de Armida. Assim fechava-se o círculo ligando a sereia, os Beaujeu e a demanda do Graal.

Deveremos ver nessas ligações com o mundo dos espíritos uma das razões que teriam podido levar a fazer dos Beaujeu os depositários do tesouro do Templo? Eis uma coisa que é muito difícil de dizer. Acrescentemos apenas mais um indício ao processo, indício que nos faria pensar que, mesmo antes da perseguição, os Templários se teriam certificado de que poderiam utilizar o castelo de Arginy. Com efeito, dois cavaleiros do Templo presos na sua casa de Mâcon, foram interrogados. Perguntaram-lhes, nomeadamente, o que haviam feito nas horas que antecederam a detenção. Reconheceram ter pernoitado, na véspera, no castelo de Arginy. Que faziam lá? Deveriam ter parado, para dormir, na sua comenda de Belleville, situada a cerca de seis quilômetros.

Não se conseguiu saber mais sobre o motivo que os conduzira àquele local. Por outro lado, vimos que, depois dos Beaujeu e dos Vemet, Arginy passou, em 1453, para Jacqueline de Châlons. Podemos perguntar-nos se não teria um interesse familiar particular ou uma missão a cumprir, ao tomar conta de Arginy. Com efeito, o templário Jean de Châlons que residia na casa de Nemours, interrogado perante o papa, teria declarado que vira três carroças cobertas de palha deixarem a cidadela do Templo de Paris, ao cair da noite, na véspera da detenção em massa dos templários.

Essa caravana era conduzida por Gérard de Villers e Hugues de Châlons. As carroças teriam transportado os cofres que se julgava conterem o tesouro do Grande Visitador de França, Hugues de Pairaud. Este depoimento existiria nos arquivos secretos do Vaticano sob a cota Register Aven, nº 48 Benedicti XII, Tomo I, fólios 448-451. Mesmo assim, tomamos este testemunho com prudência, dado que não temos mais provas para além do que dizia Gérard de Sède. Mas é certo que poderia reforçar a hipótese de um depósito em Arginy.

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A busca do tesouro e os fantasmas de Arginy

Devia existir uma tradição familiar a propósito deste tesouro, porque desde muito cedo alguns se dedicaram a procurá-lo. Assim, Anne de Beaujeu mandou que se realizassem buscas. Resignou-se a abandonar esse projeto em circunstâncias dramáticas. Um dos homens encarregados do trabalho pôs a descoberto um subterrâneo. Entrou nele e, de súbito, os que tinham ficado do lado de fora ouviram um grito horrível que os gelou de terror. Não ousaram mover-se. Um quarto de hora mais tarde, o homem saiu. Andava mecanicamente, titubeante. Uma parte do seu crânio parecia ter sido esmagada e via-se sair o cérebro. Chegado perante os seus camaradas petrificados, ergueu os braços e caiu. Já estava frio.

Anne de Beaujeu mandou parar as buscas e não se soube mais nada. No entanto, isto ensina-nos alguma coisa: que o segredo exato do eventual esconderijo não chegara a Anne de Beaujeu que, caso contrário, teria sabido chegar mais facilmente ao tesouro. Ou o segredo familiar deixara de ser transmitido por uma causa qualquer, ou já não tinha razão de ser porque o tesouro já fora recuperado e levado para outro lugar. Não foi essa, sem dúvida, a opinião de Pierre de Rosemont, depois de se ter tornado proprietário do local. Decidiu recomeçar as buscas e começou por procurar elementos em velhos manuscritos conservados nos arquivos da abadia de Pommier-en-Forez. Os seus trabalhos permitiram, infelizmente, compreender o que acontecera ao operário de Anne de Beaujeu.

Com efeito, depois de se terem retirado cem metros cúbicos de terra que obstruíam a entrada do subterrâneo, apareceu uma galeria que mergulhava na vertical. Um operário desceu, preso por uma corda. A dada altura, sentiu sob os seus pés «como que uma pipa» que girava. Na verdade, tratava-se de uma enorme mó de pedra. Havia outra mó ao lado e o pé, apertado entre as duas, foi esmagado até ao tornozelo. O infeliz tivera a presença de espírito para puxar de imediato a corda e os seus camaradas tinham-no içado logo, evitando que fosse engolido ainda mais pelas mós. Tal como Anne de Beaujeu, Pierre de Rosemont decidiu que era melhor ficar por ali a correr o risco de acontecer algo ainda pior.

Mandou murar a entrada da galeria e lançar cento e cinquenta carroças de terra no subterrâneo. Proibiu os seus filhos de voltarem a falar no assunto e acrescentou, como único comentário: «Apenas tenho a dizer que o espetáculo é por baixo e não em cima.» Isso não impediu que um dos seus filhos de retomar as buscas, em 1922. Encontrou um subterrâneo junto à Torre das Oito Beatitudes e descobriu lá documentos que datavam da Revolução, mas nada mais. Trinta anos mais tarde, foram utilizados outros meios. Um industrial parisiense, chamado Champion, trouxe ao local um astrólogo e alquimista de renome – Armand Barbault -, bem como um especialista do ocultismo – Jacques Breyer. Muitas outras pessoas, incluindo alguns notáveis, se juntaram a eles para tentarem desvendar o segredo de Arginy.

O seu grupo acabou por dar origem à «Ordem do Templo Solar». Não seguiram a via dos seus predecessores nem se lembraram das palavras de Pierre de Rosemont. Não olharam para baixo, mas sim para cima e concentraram os seus esforços na Torre das Oito Beatitudes. Estavam persuadidos de que o segredo de Arginy era a pedra filosofal que permite a transmutação dos metais. Para desvendarem o segredo, entregaram-se a longas sessões de espiritismo, durante as quais tentaram entrar em contato com os espíritos dos Templários. Jacques Breyer colocara um pombo numa gaiola, todos se haviam concentrado e o sinal de contato deveria ser dado pela ave que bateria as asas a partir do momento em que houvesse contato com o Além.

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Em dado momento, os participantes ouviram onze pancadas que pareciam dadas no exterior, no topo da torre. Isso viria a repetir-se inúmeras vezes, sempre entre a meia-noite e as duas horas da manhã e, de cada uma das vezes, simultaneamente, a noite tornava-se silenciosa, os animais calavam-se. Na sequência dessas pancadas, Breyer e os seus amigos tiveram várias «conversas» com onze templários. A transcrição desses diálogos com o Além é bastante incoerente e não foi feita qualquer revelação sobre o tesouro. Eis um método que não era verdadeiramente muito eficaz mas que, pelo menos, não provocava a morte de nenhum operário. Cansado, sem dúvida, destas vãs sessões noturnas, Armand Barbault achou mais expedito mandar chamar um médium seu amigo e, efetivamente, este indicou em breve a localização de um subterrâneo.

Começaram de imediato as escavações. Nesse momento, o Sr. Champion teve de deixar Arginy, chamado com urgência por causa de negócios. Armand Barbault perdeu um dos seus próximos e os operários começaram a abandonar a obra sem dar explicações. Parou-se tudo. No entanto, houve outras tentativas de contato com os Templários, porque os nossos investigadores sentiam que não conseguiriam nada enquanto os manes dos irmãos do Templo lhes não dessem luz verde. Numa noite de São João organizaram «um grande esconjuro», durante o qual Barbault entrou em comunicação «com o guardião do tesouro» por intermédio de um médium. Este último afirmou:

«Vejo um cofre montado sobre carris. Uma mão articulada e com uma luva de ferro mergulha magicamente no cofre e retira de lá moedas de ouro. Agora, há um grande monte delas sobre a mesa. A mão continua a tirá-las. Outras mãos, com avidez, estendem-se para o tesouro… mãos com garras que de súbito se tornam peludas, monstruosas, horríveis. O mestre dos guardiões do tesouro é um cavaleiro deitado num caixão. Fala, mas mantém-se rígido no seu túmulo. Desejaria sair. Para tal, seria necessária uma grande cerimônia com os sete esconjuros rituais.»

Com isto, os pesquisadores tinham avançado muito… Aliás, o próprio médium achou que os entes troçavam deles e que nunca iriam revelar-lhes a localização do tesouro. Apenas um descendente dos Templários digno de continuar a sua missão poderia um dia sabê-la. Deixaremos de lado alguns episódios sem grande interesse durante os quais alguns se julgaram reencarnações de Grão-Mestres do Templo ou imaginaram que seria possível «engravidar» uma jovem durante uma cerimônia mágica, esperando levar Guillaume de Beaujeu a reencarnar na criança assim concebida.

Podem ficar calmos: a cerimônia nunca se realizou. No entanto, Jacques Breyer pensou ter descoberto o segredo e decidiu revelá-lo numa obra intitulada Arcanes solaires. Escreveu: “A mina das jóias está bem guardada. Cada porta é defendida por um dragão. Para encontrar, é preciso humildade, desinteresse, pureza. Eis as três chaves infalíveis quando as compreendes bem. O F. F. [o rei] a captar pelo artista mantém-se portanto: no ar; a verdadeira mina é em cima! Pobre alquimista! Por que te desvias do caminho?… Vá lá… pensa melhor, a grande arte é a luz.” Sem dúvida que as três chaves infalíveis foram mal compreendidas porque as buscas não deram qualquer resultado, apesar de sete anos de invocações, esconjuros e outras práticas dos «espíritos».

Do sol aos subterrâneos de Arginy

Mediante as suas frases sibilinas, Jacques Breyer teria querido dizer que o segredo do tesouro se encontrava na Torre das Oito Beatitudes, à altura das janelas, sendo a chave definitiva fornecida pelo sol que passava por uma delas. É também, em parte, a opinião da Sra Jeanne de Grazia, que dizia: “Das oito janelinhas trilobadas da torre da alquimia, só uma está tapada por pedras e argamassa. Seria necessário desobstruí-la e ver a direção do feixe luminoso que nela penetra, a 24 de Junho. O sol do solstício de verão (hemisfério norte) deve desempenhar um papel importante, bater talvez numa pedra que dará uma indicação decisiva.”

A Sra de Grazia diz ter descoberto, no local, alguns sinais-chave de um esconderijo importante, que figuram, em primeiro lugar, no brasão da porta de entrada e conduzem à torre da alquimia ou das Oito Beatitudes. Entre esses sinais, alguns símbolos alquímicos que encontramos também no interior do castelo. Poderiam dever-se ao barão de Camus, «iniciado do Renascimento», que estaria inumado, com a mulher, numa cripta situada oito a nove metros debaixo de terra. Alguns pensaram também que o mistério de Arginy estava ligado à sua localização especial que facilitaria determinados «contatos» e determinadas operações mágicas.

A própria arquitetura do castelo e, sobretudo, da Torre das Oito Beatitudes estaria em harmonia com o local e representaria uma parte importante do segredo. Seria por isso que Guichard de Beaujeu e os seus companheiros haviam fundado a sua sociedade dos «Perfeitos Arquitetos»? Na verdade, o local é especial: três rios subterrâneos sobrepostos passariam sob o castelo, transformando esse lugar num nó de energia telúrica importante. É certo que, quando o conde de Rosemont mandou abrir furos na sala inferior do torreão, o furo ficou inundado de imediato. Outra pessoa que se interessou muito por Arginy: Gabrielle Carmi.

Sonhos ligados a vários locais importantes que haviam sido ocupados pelo Templo obcecaram-na durante muito tempo, tanto mais que conduziram a uma descoberta concreta: a de um cofrezinho de concha encontrado numa aldeola de Seine-et-Marne. Gabrielle Carmi, que conta toda esta história numa obra intitulada Le Temps hors du temps, atribuiu muita importância aos seus sonhos. Um deles conduziu-a a um local, cujo nome não refere, mas que é incontestavelmente Arginy. Escreveu ela:

“Sonho de novo com o castelo (de Arginy) da torre isolada. Revejo a torre que está colocada como se fizesse parte de um conjunto de edifícios que continua, embora deles esteja separada […]. Frente a ela, a oitenta metros mais ou menos, vi, sobre o solo, uma luz azul-elétrico imaterial, semelhante àquela que vi quando da descoberta do cofrezinho de concha, em Hermé. Essa luz formava dois desenhos, separados cerca de um metro e cinquenta, comportando cada um deles dois S separados por um intervalo. A uma determinada profundidade sob eles, vejo um cofre. Está colocado sobre uma laje num subterrâneo que forma, nesse local, uma sala circular, cujo acesso não vejo.

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“O cofre é de pedra. Tem a forma de um pequeno sarcófago com cerca de um metro de comprimento. A sua tampa, também de pedra, é em duas abas. No interior do cofre, que está aberto, vejo um molho muito grosso de folhas de pergaminho. Estão juntas por duas placas, uma por cima e outra por baixo, ligadas por um cordão de metal escuro que forma uma laçada. As placas também são de metal escuro. Esse conjunto tem as dimensões habituais dos grandes livros de música gregoriana que vemos nas estantes das igrejas […].

“Vi a página que ostenta os sete pontos de ouro unidos pelas linhas. Vi também outras páginas desse livro, cobertas de sinais ou de letras de que, infelizmente, não me lembrava quando acordei. Tenho a certeza absoluta de que se trata de documentos de uma extrema importância, dos quais apenas uma parte se refere à regra dos Templários. Tive também a sensação de que estava em presença de um grande e verdadeiro mistério […]. Alguns ensinamentos referem-se aos segredos e técnicas relativos à arte de construir (Geometria Sagrada), mas não apenas ao modo de juntar os materiais. As regras que devem ser seguidas para determinar a orientação, as formas e as proporções dos edifícios para que estes tenham o seu pleno valor iniciático estão lá determinadas […].”

Gabrielle Carmi foi a Arginy. Alí, sentiu-se atraída por um determinado local, no sítio onde haviam aparecido os sinais luminosos do seu sonho. Sentiu a presença do cofre, sob os seus pés, num lugar onde, outrora, se erguera uma torre. Escavações superficiais permitiram revelar quatro degraus de escada. No entanto, não se escavou mais e cobriram mesmo o buraco feito, tapando de novo os degraus encontrados. Gabrielle Carmi sentia também a presença de dois subterrâneos que convergiam para a localização do cofre. Um partiria da torre isolada e outro de um local mais próximo do castelo. Isto diz o que valem os sonhos, é claro, mas os de Gabrielle Carmi são bastante interessantes, tanto mais que os subterrâneos existem. Com efeito, já vimos que as escavações permitiram pôr à luz uma galeria na base da Torre das Oito Beatitudes.

As chaves do Paraíso

Antes de terminarmos esta estranha história, vamos fazer um passeio pelo mapa do estado-maior. Lembremo-nos de que a toponímia encobre muitas vezes a chave dos mistérios locais. Sirvamo-nos da carta do I. G. N. a 1/25000 cotas 2929 leste, 3029 oeste, 2930 leste e 3030 oeste. Há vários elementos dignos de nota na toponímia da região. Em primeiro lugar, nomes de lugares ligados à história santa: Bethléem, Lazare, La Balthazarde, La Jacobée, La Zacharie, Saint-Abram. Há também um número espantoso de topônimos que se encontram amiúde e frequentemente muito próximos uns dos outros. Assim, apercebemo-nos de três Jérusalem, três Saint-Julien, três Saint-Roch, três La Rochelle, quatro Saint-Jean, dois Saint-Étienne, dois La Varenne, dois SaintPaul, dois Saint-Abram, dois Saint-Pierre e um Razès que corresponde a um Razet

Estas duplicações, para não dizer mais, não deviam tornar nada fácil a identificação dos locais. É difícil saber de que Jerusalém se fala se não for fornecida qualquer explicação suplementar. Então, por que razão teriam criado esta curiosa meada de topônimos, tão difícil de desenredar? Não poderia servir de fio de Ariadne àquele que soubesse ir até ao fim? Convém notar também, que a cinco quilômetros a nordeste de Arginy, a existência de um conjunto de topônimos tipicamente templários: Le Bois des Épines, La Fonderie de Saint-Jean, Saint-Jean-d’Ardières e L’Épinay. Devemos dizer que estamos muito perto de Belleville, onde se encontra um local chamado La Commanderie, perto de Sainte-Catherine. Se nos ativermos a Arginy e aos lugares mais próximos, iremos ver uma Croix-Rouge e um local chamado Les Chevaliers.

Mas, sobretudo, há que se notar, no meio das vinhas, a cerca de mil e duzentos metros para oeste da Torre das Oito Beatitudes, uma capela consagrada a São Pedro. Forma, com Arginy e um local chamado Le Nicolas, um triângulo equilátero. Não foi a São Nicolau que foi dedicada a capela misteriosa construída pelo conde de Beaujeu, depois da ressurreição do filho? De qualquer modo, quase poderíamos apostar que existe um subterrâneo que conduz a Arginy, a partir da capela de São Pedro. Talvez, nela, a luz indique a entrada, desenhando no solo estranhos reflexos, depois de ter passado pelo prisma dos vitrais. Uma vez mais, o santo das chaves mostra, sem dúvida, o caminho do paraíso e das suas beatitudes.


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