A última postagem irada de Trump sobre Putin é a mais significativa até agora. Ou ele está sendo maliciosamente mal informado sobre o conflito na Ucrânia por seus conselheiros de confiança (sem contar Witkoff, é claro) ou está criando de forma manipuladora o pretexto para a escalada dos EUA.
Fonte: Andrew Korybko
A última postagem irada de Trump sobre Putin revelou muito sobre como ele percebe o conflito na Ucrânia. Segundo Trump :
“[Putin] ficou completamente LOUCO! Ele está matando muita gente desnecessariamente, e não estou falando apenas de soldados. Mísseis e drones estão sendo disparados contra cidades na Ucrânia, sem motivo algum. Eu sempre disse que ele quer TODA a Ucrânia, não apenas um pedaço dela, e talvez isso esteja se mostrando correto, mas se ele fizer isso, levará à queda da Rússia!”
O que realmente está acontecendo é que a Rússia intensificou sua campanha de bombardeios contra a Ucrânia em resposta à intensificação do uso de drones pela Ucrânia, período em que o helicóptero de Putin quase foi abatido após ser atingido por um enxame de drones enquanto ele visitava Kursk na semana passada.
Zelensky havia exigido anteriormente que os EUA condenassem a Rússia por seus ataques mais recentes, após o país permanecer em silêncio durante toda a semana, o que Trump simplesmente cumpriu, apesar de permanecer em silêncio suspeito após Zelensky ter ameaçado implicitamente o desfile do Dia da Vitória em Moscou.
Quanto à afirmação de Trump de que Putin “quer TODA a Ucrânia, não apenas um pedaço dela”, trata-se de uma deturpação grosseira de seu mais recente plano de zona-tampão, anunciado em resposta à já mencionada campanha intensificada de drones da Ucrânia, que provocou o bombardeio recíproco da Rússia.
Logo no início dessas escaladas retaliatórias, Trump realizou sua terceira ligação telefônica com Putin este ano, que foi analisada aqui e incluiu uma lista de dez briefings de fundo para atualizar os observadores sobre a dinâmica político-militar do conflito.
Embora Trump também tenha escrito em sua última postagem furiosa sobre Putin que “o presidente Zelensky não está fazendo nenhum favor ao seu país ao falar dessa maneira. Tudo o que sai da sua boca causa problemas, eu não gosto disso e é melhor parar”, sua ira é claramente direcionada muito mais ao líder russo do que ao ucraniano.

Observadores objetivos podem, portanto, concluir que Trump está sendo maliciosamente desinformado sobre o conflito por seus conselheiros de confiança ou que está manipulando o pretexto para a escalada americana no conflito.
Quanto à primeira possibilidade, embora seu enviado à Rússia, Steve Witkoff, seja um amigo próximo, alguns no círculo de Trump supostamente não gostam ou sequer confiam nele, e podem ter sussurrado no ouvido dele. Quanto à segunda, a confirmação de Trump de que está considerando novas sanções contra a Rússia – que veio após publicações anteriores sobre o assunto – pode levá-lo a aprovar o plano de seu aliado Lindsey Graham de aprovar sua proposta de lei no Congresso, que imporia tarifas de 500% a todos os clientes russos de energia.
O Secretário de Estado Marco Rubio também confirmou que mais sanções contra a Rússia e até mesmo ajuda à Ucrânia podem estar em pauta, o que pode impedir que os EUA simplesmente se retirem do conflito, como alguns esperam. É claro que a recente indignação de Trump com Putin pode ser apenas uma manobra e jogo de cena para pressioná-lo a comprometer mais de seus objetivos máximos do que se sente confortável, ou pode ter sido uma explosão emocional sem nenhuma intenção estratégica em mente, mas ainda assim levanta questões sobre como Trump percebe o conflito.
Não há desculpa para Trump culpar Putin pelas últimas escaladas retaliatórias, muito menos alegar que ele “enlouqueceu completamente” e pode até “querer TODA a Ucrânia”, o que prova que algo está seriamente errado.
Ou Trump está sendo maliciosamente desinformado/manipulado sobre o conflito por seus conselheiros de confiança (sem contar Witkoff, é claro) ou está manipulando o pretexto para a escalada americana. A próxima semana poderá, portanto, revelar mais sobre qual dessas duas explicações é a mais provável.
Andrew Bogdan Korybko, é um analista geopolítico estadounidense baseado na Rússia. Nascido e criado nos EUA, tem dupla cidadania: americana e polonesa. Jornalista da Sputnik News, é também membro do Conselho de Especialistas do Instituto de Estudos e Previsões Estratégicas, uma seção especializada da Universidade da Amizade dos Povos da Rússia. Graduou-se na Universidade Estadual de Ohio, com especialização em Relações Internacionais e Diplomacia, Estudos Internacionais (com foco na Europa Oriental) e língua russa, em 2010.