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As Digitais dos deuses: (18) “Estrangeiros” bem Visíveis 

Matthew Stirling, o arqueólogo americano que realizou escavações em La Venta na década de 1940, fez no local uma série de descobertas espetaculares. E a mais espetacular foi a Estela do Homem Barbudo. O plano do antigo sítio olmeca, conforme dissemos acima, desenvolve-se ao longo de um eixo que aponta para 8° a oeste do norte. Na extremidade sul do eixo, ergue-se a grande pirâmide em forma de cone canelado, de 25m de altura. Próximo a ela, no nível do chão, havia o que parecia um meio-fio de cerca de 30cm de altura, fechando uma espaçosa área retangular de cerca de um quarto do tamanho de um quarteirão urbano típico. Ao começar a desencavar o meio-fio, os arqueólogos, com grande surpresa, descobriram que ele consistia das partes superiores de um paredão de colunas.

AS DIGITAIS dos DEUSES“, uma resposta para o mistério das origens e do fim da civilização

Por Graham Hancock, livro “AS DIGITAIS DOS DEUSES”, Tradução de Ruy Jungmann, editora Record 2001.

CAPÍTULO 18 – Estrangeiros bem Visíveis 

Mais escavações através de camadas intactas de estratificação que haviam ali se acumulado revelaram que as colunas tinham 3,30m de altura. Havia mais de 600 delas, construídas tão próximas uma da outra que formavam uma paliçada quase inexpugnável. Talhadas em basalto sólido e trazidas para La Venta de pedreiras situadas a mais de 100km de distância, as colunas pesavam aproximadamente duas toneladas cada. Por que esse trabalho todo? A paliçada tinha sido construída para proteger o quê? Mesmo antes de começar a escavação, a ponta de um bloco maciço de rocha estivera visível, projetando-se do solo no centro da área fechada, cerca de 1,20m mais alta do que o suposto “meio-fio” e inclinando-se fortemente para a frente. O bloco era coberto de entalhes, que se estendiam para baixo, perdendo-se nas profundezas, abaixo das camadas de terra que enchiam a antiga paliçada até uma altura de 9,30m. Stirling e seu grupo trabalharam durante dois dias para soltar a grande pedra.

Ao ser exposta à vista, verificaram que se tratava de uma imponente estela de 4,50m de altura, 2,25m de largura e quase 90cm de espessura. Os entalhes mostravam o encontro entre dois homens altos, ambos usando mantos complicados e sapatos elegantes, com as biqueiras voltadas para cima. Erosão ou mutilação deliberada (praticada com grande freqüência em monumentos olmecas) haviam causado o desfiguramento completo de uma das figuras. A outra estava intacta. A peça mostrava com tanta clareza um homem caucasiano de nariz afilado e barba longa e ondulante que os confusos arqueólogos imediatamente a batizaram como “Tio Sam”. Andei vagarosamente em torno da estela de 20 toneladas, lembrando ao mesmo tempo que ela estivera ali enterrada durante mais de 3.000 anos.

Apenas durante um curto meio século, mais ou menos, desde as escavações de Stirling, ela voltara a ver a luz do dia. Qual seria seu destino nesse momento? Ficaria ali por mais trinta séculos, como objeto de veneração e esplendor para as gerações futuras olharem boquiabertas e a reverenciarem? Ou, em um período de tempo tão dilatado assim, seria possível que as circunstâncias pudessem mudar tanto que ela fosse, mais uma vez, sepultada e escondida? Talvez nenhuma das duas coisas acontecesse. Lembrei-me do antigo sistema de calendário da América Central, inventado pelos olmecas.

Segundo o sistema, e de acordo com seus sucessores mais famosos, os calendários maias, talvez simplesmente não nos restasse tanto tempo assim, quanto mais três milênios. Com o Quinto Sol esgotado, um terremoto terrível estava tomando forma para destruir a humanidade, dois dias antes do Natal do ano 2012 d.C. Voltei a atenção para a estela. Duas coisas me pareciam claras: o encontro mostrado na cena deveria, por alguma razão, ter sido de imensa importância para os olmecas e daí a grandiosidade da própria estela e a construção de uma paliçada notável de colunas para protegê-la. E, como acontecia também com as gigantescas cabeças de negros, era óbvio que a face do caucasiano barbudo só poderia ter sido esculpida à vista de um modelo humano. A verossimilhança racial era boa demais para que um artista a tivesse inventado.

A mesma conclusão aplicava-se a duas outras figuras caucasianas, que consegui identificar entre os monumentos remanescentes de La Venta. Uma delas havia sido talhada em baixo-relevo em uma laje pesada e aproximadamente circular de uns 65cm de diâmetro. Usando o que pareciam perneiras justas, as feições dessa figura eram de um anglo-saxão. Ele usava barba cerrada em ponta e tinha na cabeça um curioso boné de aba mole. Na mão esquerda, mostrava uma bandeira, ou talvez fosse uma arma de algum tipo. A mão direita, espalmada sobre o centro do peito, parecia estar vazia. Em volta da cintura fina, um faixa ondulante amarrada. A outra figura caucasiana, dessa vez talhada em um lado de um pilar estreito, era também barbuda e se vestia da mesma maneira. Quem eram essas figuras tão patentemente estrangeiras? O que estariam fazendo na América Central? Quando haviam chegado? E que relacionamento mantinham com os outros estrangeiros que haviam se estabelecido nessa quente e úmida floresta de seringueiras – os indivíduos que haviam servido de modelos para as grandes cabeças de negros?

Alguns pesquisadores radicais, rejeitando o dogma do isolamento do Novo Mundo antes de 1492, haviam sugerido o que parecia uma solução viável para o problema: os indivíduos barbudos de feições finas poderiam ter sido fenícios do Mediterrâneo, que haviam cruzado os Pilares de Hércules [estreito de Gibraltar] e chegado ao outro lado do Atlântico já no segundo milênio a.C. Defensores dessa teoria foram ainda mais longe e sugeriram que os negros mostrados nos mesmos sítios arqueológicos eram “escravos” dos fenícios, capturados na costa oeste da África, antes da viagem transatlântica. Quanto mais pensava no caráter estranho das esculturas de La Venta, mais insatisfeito eu ficava com essas idéias. Provavelmente, os fenícios e outros povos do Velho Mundo haviam cruzado o Atlântico muito antes de Colombo. Havia prova sólida nesse sentido, embora elas se situem fora do escopo deste livro.

O problema era que os fenícios, que haviam deixado exemplos inconfundíveis de seu artesanato característico em numerosas partes do mundo antigo, não haviam feito o mesmo em sítios arqueológicos olmecas na América Central. Nada nas cabeças de negro, nem nos altos-relevos que mostravam caucasianos barbudos, continha quaisquer sinais de qualquer coisa remotamente fenícia em estilo, artesanato ou caráter. Na verdade, do ponto de vista estilístico, essas impressionantes obras de arte não pareciam pertencer a qualquer cultura, tradição ou gênero conhecidos. Aparentemente, não tinham antecedentes nem no Novo nem no Velho Mundo. Elas pareciam soltas no ar… e isso, claro, era impossível, porque todas as formas de expressão artística têm raízes em algum lugar.

Uma Hipotética Terceira Parte

Ocorreu-me que uma explicação plausível poderia ser encontrada em uma variante da teoria da “hipotética terceira parte”, proposta originalmente por certo número de destacados egiptólogos para explicar um dos grandes enigmas da história e cronologia egípcias. A evidência arqueológica sugeria que, em vez de desenvolver-se lenta e laboriosamente, como é normal nas sociedades humanas, a civilização do antigo Egito, tal como a dos olmecas, emergiu de repente e inteiramente desenvolvida. Na verdade, o período de transição de sociedade primitiva para avançada parece ter sido tão curto que não faz qualquer tipo de sentido histórico. Perícias tecnológicas que deviam ter levado centenas ou mesmo milhares de anos para evoluir foram postas em uso quase que da noite para o dia – e, aparentemente, sem quaisquer antecedentes. Restos do período pré-dinástico, por volta do ano 3500 a.C., por exemplo, nenhum traço mostram de escrita.

Pouco depois dessa data, súbita e inexplicavelmente, os hieróglifos, encontrados em tantas ruínas do antigo Egito, começaram a aparecer em estado perfeito e completo. Muito longe de ser meros desenhos de objetos ou ações, essa linguagem escrita foi, desde o início, complexa e estruturada, com sinais que representavam exclusivamente sons e um detalhado sistema de símbolos numéricos. Até mesmo os hieróglifos mais antigos eram estilizados e seguiam convenções. É claro que uma escrita cursiva adiantada estava em uso comum quando do surgimento da Primeira Dinastia. O notável é que não havia traços de evolução do simples para o sofisticado e o mesmo acontecia com a matemática, a medicina, a astronomia, a arquitetura e um sistema espantosamente rico e complicado religioso-mitológico (até mesmo o conteúdo básico de obras refinadas, como o Livro dos Mortos, existia já no começo do período dinástico). A maioria dos egiptólogos recusa-se a levar em conta as implicações da antiga sofisticação do Egito. Essas implicações são espantosas, de acordo com certo número de pensadores mais ousados. John Anthony West, especialista no início do período dinástico, pergunta:

“De que modo uma civilização complexa surge inteiramente desenvolvida? Vejam o automóvel de 1905 e comparem-no com o carro de hoje. Não há como negar o processo de “desenvolvimento”. No Egito, porém, não encontramos paralelos. Tudo estava lá, desde o início”.

A solução do mistério é, claro, óbvia. Mas como se choca com o molde predominante do pensamento moderno, ela raramente é levada em conta. A civilização egípcia não foi um “desenvolvimento”, mas um legadoWest tem sido há muitos anos um espinho na carne do “Sistema” egiptológico criado pelos “eruditos acadêmicos”. Outros estudiosos, de opiniões mais tradicionais, porém, confessaram também sua confusão com a subitaneidade com que apareceu a civilização egípcia. Walter Emery, o falecido professor da Cátedra Edwards de Egiptologia, da Universidade de Londres, resumiu o problema da seguinte maneira:

“Em um período de aproximadamente 3.400 anos antes de Cristo uma grande mudança ocorreu no Egito e o país passou rapidamente de um estado de cultura neolítica, com um complexo caráter tribal, para outro de monarquia bem organizada… Na mesma ocasião, apareceu a arte da escrita, a arquitetura monumental, as artes e ofícios desenvolveram-se em um grau impressionante, ao mesmo tempo em que todas as indicações sugeriam a existência de uma civilização luxuosa. Tudo isso foi realizado em um período de tempo relativamente curto, pois parece ter havido poucos ou nenhum antecedente desses progressos básicos na escrita ou na arquitetura”.

Uma explicação poderia simplesmente ser que o Egito recebeu seu súbito e decisivo empurrão cultural de alguma outra civilização conhecida do mundo antigo. A Suméria, no baixo Eufrates, Mesopotâmia, parece o candidato mais provável. A despeito de numerosas diferenças básicas, uma grande variedade de técnicas de construção e estilos arquitetônicos comuns sugerem, de fato, um elo entre as duas regiões. Mas nenhuma dessas semelhanças é suficientemente forte para justificar a inferência de que a conexão poderia ter sido de qualquer maneira causal, com uma sociedade influenciando diretamente a outra. Muito ao contrário, como sugere o professor Emery:

“A impressão que formamos é de uma conexão indireta e, talvez, a existência de uma terceira parte, cuja influência espalhou-se pelo Eufrates e pelo Nilo… Estudiosos modernos têm se inclinado a ignorar a possibilidade de emigração para ambas as regiões, procedente de alguma área hipotética e até agora não descoberta. Não obstante, uma terceira parte, cujas realizações culturais tivessem sido transmitidas independentemente ao Egito e à Mesopotâmia, seria a melhor explicação para aspectos comuns e diferenças fundamentais entre as duas civilizações”.

Entre outras coisas, essa teoria lança luz sobre o fato misterioso de que os egípcios e os sumerios, estes da Mesopotâmia, parecem ter adorado divindades lunares virtualmente idênticas, que figuraram entre as mais antigas em seus respectivos panteões. (Thoth, no caso do Egito, e Sin, no caso dos sumerianos.) De acordo com o eminente egiptólogo sir E.A. Wallis Budge,

“A semelhança entre os dois deuses é forte demais para que seja acidental. (…)Seria errôneo dizer que os egípcios tomaram empréstimos aos sumerios ou que estes fizeram o mesmo com os egípcios, mas pode-se sugerir que os literati de ambos os povos tomaram seus sistemas teológicos emprestados de uma fonte comum, mas extremamente antiga”.

A questão, por conseguinte, consiste em saber o seguinte: qual era essa “fonte comum, mas extremamente antiga”, essa “área hipotética mas ainda não descoberta”, essa avançada “terceira parte” a que se referem Budge e Emery? E se ela deixou um legado de alta cultura no Egito e na Mesopotâmia, por que não teria feito o mesmo na América Central? Não basta argumentar que a civilização “decolou” muito mais tarde no México do que no Oriente Médio. É possível que o impulso inicial pudesse ter sido sentido simultaneamente em ambos os lugares, mas que o resultado subseqüente possa ter sido inteiramente diferente.

De acordo com esse cenário, os civilizadores teriam obtido um sucesso brilhante no Egito e na Suméria, criando nessas regiões culturas duradouras e notáveis. No México, por outro lado (como também parece ter acontecido no Peru), eles sofreram alguns graves reveses – talvez começando bem, ocasião em que as cabeças de pedra gigantescas e os altos-relevos de homens barbudos foram feitos, mas em seguida despencando rapidamente ladeira abaixo. A luz da civilização jamais teria sido inteiramente perdida, mas talvez as coisas não se arrumassem novamente até por volta do ano 1500 a.C., ou no chamado “horizonte olmeca”. Por essa altura, as grandes esculturas já seriam velhíssimas, relíquias antigas de imenso poder espiritual, com suas origens praticamente esquecidas e envolvidas em mitos de gigantes e civilizadores barbudos.

Se assim, podemos estar olhando para faces de um passado muito mais remoto do que imaginamos, quando fitamos os olhos amendoados de uma das cabeças de negro ou os traços angulosos, nitidamente cinzelados, de “Tio Sam”. Não é absolutamente impossível que essas grandes obras preservem as imagens de homens de uma civilização desaparecida que englobava vários diferentes grupos étnicos. Essa, em resumo, é a teoria da “hipotética terceira parte”, da forma aplicada à América Central: a civilização do México antigo não emergiu sem influência externa e tampouco como resultado de influência do Velho Mundo. Em vez disso, certas culturas do Velho e do Novo Mundo podem ter recebido um legado de influências e idéias de uma terceira parte, em uma data extremamente remota.

De Villahermosa a Oaxaca

Antes de deixar Villahermosa, visitei o CICOM, o Centro de Investigação das Culturas Olmeca e Maia. Eu queria saber com os estudiosos desse estabelecimento se havia algum outro sítio arqueológico olmeca importante na região. Para minha surpresa, eles sugeriram que eu procurasse muito mais longe, em Monte Albán, na província de Oaxaca, a centenas de quilômetros na direção sudoeste, onde arqueólogos haviam aparentemente desenterrado artefatos “olmecóides” e certo número de altos-relevos que se pensava que representassem os próprios olmecas. Eu e Santha havíamos pensado em seguir diretamente de Villahermosa para a península de Yucatán, que fica a nordeste. Embora a viagem a Monte Albán implicasse uma volta enorme, resolvemos fazê-la, na esperança de que pudesse lançar mais alguma luz sobre os olmecas. Além do mais, prometia ser uma viagem espetacular, através de montanhas imensas e até o coração do vale escondido onde se situa a cidade de Oaxaca.

Seguimos quase diretamente para oeste, deixando para trás o sítio arqueológico perdido de La Venta, mais uma vez Coatzecoalcos, Sayula e Loma Bonita, até o entroncamento ferroviário na cidade de Tuxtepec. Ao fazer isso, demos gradualmente as costas ao campo cheio de cicatrizes e enegrecido pela indústria petrolífera, cruzamos baixas encostas atapetadas de luxuriante relva verde e corremos entre campos plantados e em plena produção agrícola. Em Tuxtepec, onde as sierras realmente começam, viramos bruscamente para o sul, seguindo a Estrada 175 até Oaxaca. No mapa, parecia pouco mais do que a metade da distância que havíamos coberto desde Villahermosa. Descobrimos, no entanto, que a estrada era um ziguezague complicado, de dar nos nervos e cansar os músculos, de curvas fechadas intermináveis – estreita, tortuosa e costeando precipícios – e que entrava nas nuvens como uma escada no céu.

Passamos por muitas diferentes camadas de vegetação tipo alpino, cada uma delas ocupando um nicho climatológico especializado, até que a estrada nos levou, acima das nuvens, a um lugar onde plantas conhecidas floresciam em formas gigantescas, tal como as trífides de John Wyndham, criando uma paisagem surrealista e extraterrena. Precisamos de 12 horas para cobrir os 700 quilômetros que separam Villahermosa de Oaxaca. Ao terminar a viagem, eu tinha as mãos cheias de bolhas, por segurar o volante com força demais, por tempo longo demais, através de um número grande demais de curvas fechadas. Sentia os olhos turvos e continuava a ver retrospectivamente os abismos vertiginosos pelos quais havíamos passado na Estrada 175, nas montanhas, onde cresciam as trífides.

A cidade de Oaxaca é famosa pelos cogumelos mágicos, pela maconha e por D.H. Lawrence (que a descreveu e a usou em parte como cenário de seu romance The Plumed Serpent, publicado na década de 1920). Persiste no local uma atmosfera boêmia e até tarde da noite uma corrente de excitação parece ondular entre as multidões que enchem os bares e os cafés, as ruas lajeadas estreitas, os velhos prédios e as espaçosas praças. Tomamos um quarto de frente para um dos três pátios abertos do Hotel Las Golondrinas. A cama era confortável, estrelas brilhavam no céu, mas, embora cansado, eu não conseguia dormir. O que me mantinha acordado era a idéia sobre os civilizadores… os deuses barbudos e seus companheiros. No México, como no Peru, eles aparentemente haviam amargado um fracasso. Era isso o que as lendas insinuavam, e não apenas elas, como descobri quando chegamos a Monte Albán na manhã seguinte. (Continua)


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