O homem nasceu para ser um guerreiro ou os “deuses” ensinaram a humanidade a guerrear ? Os “deuses” alienígenas/extraterrestres foram responsáveis pelos eventos mais cataclísmicos da história humana ? As guerras da Terra começaram nos “Céus” e os eventos celestes determinaram o futuro da humanidade na Terra ? Neste livro, Zecharia Sitchin apresenta uma evidência surpreendente de que os deuses [Anunnaki, Nefilins, et caterva] que vieram à Terra desde o planeta Nibiru e outros sistemas, travaram uma série de batalhas ferozes pela supremacia e controle do nosso planeta, alistando os terráqueos nesses conflitos entre os “deuses”.
Fonte: As Guerras dos deuses e dos homens : Livro III das crônicas da Terra, de Zecharia Sitchin
Sitchin conta com um estudo meticuloso dos relatos antigos, desde as escritas sumérias em tabletes de argila e o Antigo Testamento até os mitos antigos dos ensinamentos canaanitas, egípcios, hititas, persas, gregos e hindus, para traçar a saga dos “deuses” e dos homens de um início criativo a um fim trágico. Ele usa então fontes modernas, como fotografias da Terra tiradas pela NASA desde o espaço, para revelar a evidência de uma enorme explosão nuclear ocorrida há cerca de 4 mil anos, mudando a vida na Terra para sempre. O novo exame dos mistérios antigos feito por Sitchin explica o Grande Dilúvio, a destruição de Sodoma e Gomorra [o primeiro grande núcleo da permissividade e corrupção da ideologia Transgênero e LGBTQ+] e outros eventos cataclísmicos do passado na história da humanidade, possibilitando a compreensão de nosso presente e um vislumbre do nosso futuro.
14 – O HOLOCAUSTO NUCLEAR – (de Sodoma e Gomorra)
O Juízo Final veio no 24º. ano, quando Abraão, acampado perto de Hebron, estava com 99 anos.
Yahweh/Enlil lhe apareceu no bosque de Mambré quando ele estava sentado na entrada da tenda, ao maior calor do dia. Tendo levantado os olhos, eis que Abraão viu três homens em pé, junto dele. Logo que os viu, correu da tenda ao encontro deles e se prostrou por terra
Subitamente, a partir de uma cena bastante típica do Oriente Médio – um potentado repousando à sombra de sua tenda – o narrador do Gênesis 18 leva Abraão, e também o leitor, a um encontro com “seres divinos” [extraterrestres Anunnaki]. Embora o patriarca estivesse na entrada da tenda, não viu os três visitantes se aproximando. De repente estavam “junto dele”. E, apesar de serem “homens”, Abraão imediatamente reconheceu suas verdadeiras identidades e prostrou-se diante deles, chamando-os de “meus senhores” e pedindo-lhes que não se fossem antes que ele tivesse a oportunidade de mandar preparar para eles uma suntuosa refeição.
Depois que os visitantes [“seres divinos”] comeram e repousaram, o líder perguntou a Abraão
sobre o paradeiro de Sarah e então disse: “Voltarei a ti no próximo ano; então tua mulher Sarah terá um filho”.
Mas aquela visita não tinha como propósito apenas prometer a Abraão e Sarah, já muito idosos, o nascimento de um Herdeiro Legítimo. Havia um objetivo mais agourento nela:
Tendo-se, pois levantado dali, aqueles homens voltaram os olhos para Sodoma; e Abraão os conduziu e foi com eles. Então disse o “Senhor” [o Anunnaki Yahweh/Enlil]: “Acaso poderei eu ocultar de Abraão o que estou para fazer”?
Recordando-se dos serviços prestados pelo patriarca no passado e do futuro fecundo que lhe prometera, o Senhor resolveu revelar-lhe o propósito daquela viagem: verificar as acusações contra Sodoma e Gomorra. “O grito contra Sodoma e Gomorra é muito grande. Seu pecado é muito grave”. Por isso ele decidira ver in loco o que estava acontecendo. “Vou descer e ver se eles
fizeram ou não tudo o que indica o grito que, contra eles, subiu até mim”. Se fossem constatados os pecados das cidades, elas seriam aniquiladas.
A subseqüente destruição de Sodoma e Gomorra tornou-se um dos episódios bíblicos mais retratados e descritos em sermões nas igrejas. Os ortodoxos e fundamentalistas acreditam piamente que Deus literalmente fez derramar fogo e enxofre dos céus para varrer as cidades pecadoras da face da Terra. Os eruditos há muito vêm tentando encontrar explicações “naturais” para a história bíblica. Teria sido um terremoto, uma erupção vulcânica, um fenômeno da natureza, que foi interpretado como um ato de Deus, um castigo. Mas, pelo que diz a narrativa bíblica – e até agora ela é a única fonte para todas as interpretações -, o evento não foi uma calamidade natural. Ele é descrito como um feito premeditado: o Senhor revelou antecipadamente a Abraão o que ia acontecer. Ele era evitável, portanto não um desastre causado por forças naturais irreversíveis, pois só aconteceria se o “grito” contra Sodoma e Gomorra fosse confirmado. E, como veremos adiante, ele era adiável, ou seja, poderia acontecer mais cedo ou mais tarde, dependendo da vontade do “Senhor”Yahweh/Enlil.
Dando-se conta da possibilidade de evitar a calamidade, Abraão tentou argumentar: “Talvez haja cinqüenta justos na cidade. Destruirás e não perdoarás a cidade pelos cinqüenta justos que estão em seu seio?”. E rapidamente acrescentou: “Longe de ti fazeres tal coisa: fazer morrer o justo
com o pecador… Longe de ti! Não fará justiça o juiz de toda a Terra?”. Um mortal fazendo um sermão a uma “Divindade”! E a súplica era para evitar a destruição – premeditada e intencional -, se houvesse pelo menos cinqüenta pessoas virtuosas nas cidades. Mas nem bem o Senhor concordou em poupar Sodoma e Gomorra, caso nelas fossem encontradas essas cinqüenta pessoas, Abraão (que talvez tenha escolhido o número 50 ciente de que ele tinha um significado especial para o Senhor deus Anunnaki) imaginou em voz alta se Yahweh/Enlil ainda destruiria as cidades se faltassem apenas cinco para completar esse número.
Quando o Senhor concordou em desistir da destruição se fossem encontrados 45 justos, Abraão continuou a barganhar, descendo o número para quarenta, trinta, vinte e depois dez. “E o Senhor disse: ‘Não destruirei se houver dez’. E Yahweh/Enlil, tendo acabado de falar a Abraão, foi-se, e Abraão voltou para seu lugar”.
Ao anoitecer, os dois companheiros do Senhor Yahweh/Enlil – a Bíblia agora passa a chamá
los de Mal’akhim, que costuma ser traduzido por “anjos”, mas que de fato significa “emissários” – chegaram a Sodoma com a missão de procurar confirmação para as acusações de iniqüidade. Lót, que estava sentado à porta da cidade, reconheceu de imediato (exatamente como aconteceu com Abraão) a “natureza divina” dos dois recém-chegados. Sem dúvida a identidade deles era
revelada pela aparência, trajes ou armas que usavam, ou talvez pela maneira (numa aeronave qualquer?) como tinham chegado.
Foi a vez de Lót insistir na hospitalidade, e os dois aceitaram o convite para pernoitar em sua casa. No entanto, não foi uma noite tranqüila, pois a notícia da chegada dos visitantes agitou toda a cidade. “Eles ainda não tinham deitado quando a casa foi cercada pelos homens da cidade, os homens de Sodoma, desde os jovens até os velhos, todo o povo sem exceção. Chamaram Lót e lhe disseram: ‘Onde estão os homens que vieram para tua casa esta noite? Traze-os, para que deles abusemos’”.
Quando Lót se recusou a atender a ordem, os homens tentaram invadir sua casa, mas os dois
Mal’akhim “os feriram de cegueira, do menor até o maior, de modo que não conseguiram encontrar a entrada”. Percebendo que de todos os moradores da cidade só Lót era “justo”, os dois
emissários deram por terminada a investigação. O destino da cidade estava selado. “Os homens disseram a Lót: ‘Quem mais tens aqui além de ti [“deuses ignorantes] ? Teus filhos, tuas filhas, todos os teus que estão na cidade, faze-os sair deste lugar porque vamos destruí-lo’”.
Lót apressou-se a avisar seus futuros genros, mas só encontrou descrença e gracejos. Assim, ao raiar da aurora, quando os emissários insistiram para que Lót fugisse sem demora, ele partiu levando consigo apenas a mulher e as duas filhas solteiras.
E como Lót hesitasse, os homens o tomaram pela mão, bem como sua mulher e suas duas filhas – pela piedade que Yahweh/Enlil tinha por ele. Eles o fizeram sair e o deixaram fora da cidade.
Tendo retirado a família por via aérea, os emissários deixaram os quatro longe da cidade e avisaram Lót para que fugisse para as montanhas. “Salva-te pela tua vida! Não olhes para trás de ti nem te detenhas em nenhum lugar da planície; foge para a montanha para não pereceres”, explicaram. Mas Lót, temeroso de não conseguir atingir as montanhas a tempo “Sem que me atinja
o mal e eu venha a morrer”, sugeriu: a destruição de Sodoma não poderia ser adiada até ele chegar à cidade de Segor? Concordando com a idéia, os emissários pediram-lhe que se apressasse: “Depressa, refugia-te lá, porque nada podemos fazer enquanto não tiveres chegado lá”.
Portanto, a calamidade não somente era previsível e evitável como também podia ser adiada. E mais: podia afligir uma cidade e não outra, bastante próxima. Nenhuma catástrofe natural se ajusta a esses parâmetros.
23 Saiu o sol sobre a terra, quando Lót entrou em Zoar. 24 Então Enlil/Yahweh fez chover enxofre e fogo, do Senhor desde os céus, sobre Sodoma e Gomorra; 25 E destruiu aquelas cidades e toda aquela campina, e todos os moradores daquelas cidades, e o que nascia da terra. 26 E a mulher de Lót olhou para trás e ficou convertida numa estátua de sal [em hebreu também significa VAPOR]. 27 E Abraão levantou-se aquela mesma manhã, de madrugada, e foi para aquele lugar onde estivera diante da face do Senhor; 28 E olhou para Sodoma e Gomorra e para toda a terra da campina; e viu, que a fumaça da terra subia, como a de uma fornalha. 29 E aconteceu que, destruindo Deus as cidades da campina, lembrou-se Enlil/Yahweh de Abraão, e tirou a Lót do meio da destruição, derrubando aquelas cidades em que Ló habitara.
As cidades, as pessoas, a vegetação, tudo foi destruído pela arma dos deuses Anunnaki. Seu fogo e calor calcinaram tudo o que havia à frente. A radiação afetou até mesmo aqueles que estavam a uma certa distância. A mulher de Lót, ignorando a instrução de que não deveria olhar para trás enquanto fugiam, transformou se num “pilar de vapor”. O “mal” que Ló temia a apanhou… Uma a uma, as cidades que “tinham ofendido o Senhor” foram sendo destruídas, e em cada uma delas Lót recebia instruções para continuar fugindo.
Assim, quando Deus destruiu as cidades na planície, ele se lembrou de Abraão e retirou Lót do meio da catástrofe, na destruição das cidades em que Lót habitava.
Lót, seguindo as instruções recebidas, foi “se estabelecer na montanha… e se instalou numa caverna, ele e suas duas filhas”. Tendo sido testemunhas da destruição pelo fogo e calor de tudo o que era vivo na planície do Jordão e da ação da morte invisível que vaporizara sua mãe, o
que as filhas de Lót podiam pensar? Vemos, na seqüência da narrativa, que elas imaginaram que os três fossem os únicos sobreviventes do mundo e que o único modo de preservar a espécie humana seria as duas cometerem incesto para conceber filhos de seu pai…
“A mais velha disse à mais nova: ‘Nosso pai é idoso e não há nenhum homem na Terra que venha unir-se a nós segundo o costume de todo o mundo. Vem, façamos nosso pai beber vinho e deitemo-nos com ele, assim suscitaremos uma descendência de nosso pai’”. Feito isso, as duas engravidaram e tiveram filhos.
A noite anterior ao holocausto deve ter sido de insônia e ansiedade para Abraão. Sem dúvida ele se preocupava com o destino de Lót e de sua família no caso de não serem encontrados os dez justos em Sodoma. “Levantando-se de madrugada, Abraão foi ao lugar onde estivera na presença de Enlil/Yahweh e olhou para Sodoma, para Gomorra e para toda a planície, e eis que viu a
fumaça subir da terra, como a fumaça de uma fornalha”!
O patriarca hebreu estava testemunhando uma “Hiroxima”, uma “Nagasáqui” – a destruição de uma planície fértil e densamente povoada por armas atômicas. O ano era 2024 a.C. Onde estão os restos de Sodoma e Gomorra?
Os antigos geógrafos gregos e romanos afirmavam que o fértil vale onde antes ficavam as cinco cidades atingidas tinha sido inundado pelo desastre. De fato, os estudiosos modernos acreditam que a catástrofe descrita na Bíblia (qualquer que tenha sido sua causa “natural”) provocou uma falha na margem sul do mar Morto, o que fez suas águas derramarem e cobrirem as regiões mais baixas a sua frente. A parte restante da antiga margem passou a ser chamada pelos nativos da região de el Lissan (“a Língua”), nome que conserva até hoje.
O vale fértil onde ficavam as cinco cidades tornou-se uma nova parte do mar Morto, apelidada de “mar de Lót”. Além disso, o derrame das águas para o sul fez descer a margem norte do mar Morto. A possibilidade de ter havido uma explosão nuclear na região vem sendo confirmada por várias pesquisas, que começaram com uma abrangente exploração da área nos anos 20 do século passado por uma missão científica patrocinada pelo Pontifício Instituto Bíblico do Vaticano.
Os arqueólogos dessa equipe descobriram que os povoados que ficavam nas montanhas em torno da área foram abruptamente abandonados no século 21 a.C. e permaneceram desocupados por muitos séculos. E mais: até hoje a água das fontes que cercam o mar Morto são contaminadas por radioatividade, que segundo o I. M. Blake, em “A Cura de Josué e o Milagre de Eliseu”, artigo
publicado em The Palestine Exploration Quarterly, “é forte o bastante para provocar a esterilidade e outras enfermidades em homens e animais que a ingeriram por muitos anos seguidos”.
A nuvem da morte que se espalhou sobre as cidades da planície assustou não apenas Lót e suas filhas, mas também Abraão. Ele não se sentia seguro nem mesmo nas montanhas de Hebron, a cerca de setenta quilômetros do local da catástrofe. A Bíblia nos conta que ele levantou acampamento e mudou-se para o oeste, indo morar em Gerara.
Abraão também não quis mais se aventurar à península do Sinai. Mesmo muitos anos depois, quando seu filho Isaac mostrou desejo de ir ao Egito por causa da seca e da fome em Canaã. “Enlil/Yahweh apareceu diante dele e disse: ‘Não vás ao Egito; reside na terra que te mostrarei’”. Isso sugere que a passagem pela península do Sinai ainda não era segura. E por quê? Cremos que a destruição das cidades da planície foi só um espetáculo secundário. Nessa mesma ocasião houve a destruição do Espaçoporto dos “deuses” Anunnaki na península do Sinai e a explosão deixou uma radiação mortal que permaneceu ali por muitos séculos.
O principal alvo do ataque nuclear foi a península do Sinai. Mas a verdadeira vítima, no final de tudo, foi a Suméria. Embora o final de Ur tenha sido rápido, ele veio se aproximando, tornando-se
cada vez mais tenebroso, a partir da Guerra dos Reis. O ano do Juízo Final 2024 a.C. – foi o sexto do reinado de Ibbi-Sin, o último rei de Ur. Mas, para encontrarmos o motivo da calamidade, explicações sobre sua natureza e pormenores sobre sua abrangência, temos de estudar os registros dos 24 anos fatídicos que transcorreram desde aquela guerra.
Tendo falhado em sua missão e sido duas vezes humilhados pelas forças de Abraão – uma vez em Cades-Barne, depois perto de Damasco -, os reis que pretendiam invadir Canaã foram prontamente retirados de seus tronos. Em Ur, Amar-Sin foi sucedido por seu irmão, Shu-Sin. A grande coalizão não existia mais, e os antigos aliados agora estavam começando a se apoderar de partes do antigo império de Amar-Sin.
Embora Nannar/Sin e Inanna também tivessem ficado desacreditados com o fracasso da investida dos reis, eles foram os primeiros deuses a receber a lealdade de Shu-Sin. Segundo as inscrições desse rei, foi Nannar que “chamou seu nome” para torná-lo soberano de Ur. Shu-Sin também chamava a si mesmo de “amado de Inanna” e afirmava que a deusa em pessoa o apresentara
a Nannar. Shu-Sin também se vangloriava de que “a santa Inanna”, a com extraordinárias qualidades, a “Primeira Filha de Sin”, lhe dera armas “com as quais combateria os países inimigos desobedientes”. Todavia, tudo isso foi suficiente para manter coeso o império sumério, e Shu-Sin achou prudente solicitar o auxílio de deuses maiores.
A julgar pelos formulários de datas – inscrições anuais com objetivos sociais e comerciais, em que cada ano de um reinado era designado pela principal realização do rei naquele período -, no seu segundo ano Shu-Sin tentou obter a graça de Enlil/Yahweh construindo para ele um barco sem igual, capaz de navegar em mar alto e até atingir o Mundo Inferior. O terceiro ano também foi de
preocupação com o alinhamento pró-Enki, pois isso talvez resultasse na pacificação dos seguidores de Marduk e Nabu. Não se sabe no que deram essas tentativas de troca de fidelidade, mas tudo indica que elas foram em vão, pois o quarto e o quinto anos foram marcados pela construção de uma grande muralha na fronteira ocidental da Mesopotâmia, com o fim específico de conter as incursões dos “ocidentais” seguidores de Marduk.
Com o crescimento das pressões vindas do oeste, Shu-Sin procurou se aproximar dos grandes deuses de Nippur, pedindo perdão e salvação. Os formulários de dados, confirmados pelas escavações mais modernas, revelam que o rei iniciou uma maciça reconstrução do recinto sagrado de Nippur numa escala sem precedentes desde a era de Ur-Nammu. As obras culminaram com
a colocação de uma estela em honra de Enlil/Yahweh e Ninlil. O rei desejava desesperadamente ser aceito pelo casal divino, mas só Ninlil, a consorte de Enlil, deu ouvidos à sua súplica.
Compadecendo-se de Shu-Sin e desejando “prolongar o bem-estar do rei para ampliar o tempo de sua coroa”, deu-lhe uma “arma cujo brilho aniquila… cujo assustador relâmpago atinge o céu”.
Um texto de Shu-Sin catalogado como “Coleção B” sugere que, em seus esforços para restabelecer antigos vínculos com Nippur, o rei pode ter tentado uma reconciliação com os nippurianos que tinham deixado Ur (tal como a família de Terah) depois da morte de Ur-Nammu. O texto afirma que, depois de ele ter feito a região onde ficava Haran “tremer de medo diante de suas armas”, ele fez um gesto de paz mandando para lá uma de suas filhas para se casar com um chefe local ou seu herdeiro. A moça em seguida voltou à Suméria, e em seu séquito estavam aqueles antigos cidadãos de Nippur.
Shu Sin fez questão de apregoar que era a primeira vez que um rei fundava uma cidade para esse casal de deuses, sem dúvida esperando elogios e apoio. Possivelmente com a ajuda dos nippurianos repatriados, ele reinstalou as funções sacerdotais no templo de Nippur, concedendo a si mesmo o título de sumo sacerdote. Contudo, isso foi em vão. Em vez de maior segurança, passou a existir maiores perigos no império. Agora a preocupação com a lealdade não estava
apenas restrita às províncias distantes. Havia dúvidas dentro da própria Suméria. Segundo as inscrições de Shu-Sin, ele considerava o governo do seu próprio país o seu maior fardo.
Houve um esforço final para tentar convencer Enlil/Yahweh a voltar para a Suméria, o que colocaria o rei sob sua proteção. Parece que, seguindo um conselho de Ninlil, Shu-Sin mandou construir para o casal um “grande barco de passeio, adequado para os maiores rios… Enfeitou-o com pedras preciosas”, proveu-o com remos feitos das melhores madeiras, varões e leme artisticamente entalhados e mobiliou-o com todo o conforto, colocando nele até mesmo uma
cama de casal. Depois “ancorou o barco de passeio no lago que ficava diante da Casa de Prazer de Ninlil”.
Enlil/Yahweh deve ter ficado tão comovido com o presente que talvez o tenha feito recordar-se da época em que se apaixonara por Ninlil, a jovem enfermeira, ao vê-la banhando-se nua no rio, e apressou-se a ir conhecer o barco.
Quando Enlil/Yahweh soube, apressou-se a cortar o horizonte, de sul a norte viajou; pelos céus, sobre a Terra ele correu para se rejubilar com sua amada rainha, Ninlil.
A viagem sentimental, porém, não passou de um breve interlúdio. Infelizmente, algumas linhas cruciais do final da tabuinha de argila que contém o texto estão faltando e não temos detalhes sobre o que realmente aconteceu. Mas a última linha refere-se a “Ninurta, grande guerreiro de Enlil/Yahweh, que atordoou o Intruso”, o que aconteceu, ao que tudo indica, depois que uma “inscrição maldosa” foi descoberta numa efígie no interior do barco, talvez com a intenção de amaldiçoar o casal divino.
Até agora não se encontrou registros sobre a reação de Enlil/Yahweh, mas todas as outras evidências sugerem que ele partiu definitivamente de Nippur, dessa vez levando consigo a esposa.
Logo depois – em fevereiro de 2031 a.C. pelo nosso calendário – houve um eclipse total da Lua no Oriente Médio, que durou a noite toda. Os sacerdotes do oráculo nada fizeram para acalmar a ansiedade de Shu-Sin. Numa mensagem escrita, disseram que aquilo era um presságio “ao rei que governa as quatro regiões; sua muralha será destruída. Ur encontrará a desolação”.
Rejeitado pelos grandes deuses, Shu-Sin, num ato de desespero ou de desafio, jogou uma cartada final. Mandou construir dentro do recinto sagrado de Nippur um santuário para um jovem deus chamado Shara. Na inscrição dedicatória, afirmou que era o pai do rapaz. “Ao divino Shara, herói celestial, filho amado de Inanna: seu pai Shu-Sin, o rei poderoso, rei de Ur, rei das quatro regiões, construiu para ele o templo Shagipada, seu querido santuário; que viva o rei”.
Isso aconteceu no nono e último ano do reinado de Shu-Sin. O novo ocupante do trono de Ur, Ibbi-Sin, não conseguiu impedir a decadência. Coube a ele apressar a construção de muralhas e fortificações no coração da Suméria, isto é, em torno de Ur e Nippur. O resto do país foi deixado sem proteção. Seus próprios formulários de dados (os encontrados até agora só cobrem parte de seu reinado) contam muito pouco sobre as circunstâncias da época. Conseguimos muito mais informações a respeito dela a partir da ausência das habituais mensagens de lealdade de outras cidades e dos comprovantes de trocas comerciais.
Assim, as primeiras mensagens de lealdade que anualmente deveriam ser enviadas a Ur e pararam de chegar foram as das capitais dos distritos ocidentais. No terceiro ano não chegaram as das províncias orientais. Também naquele terceiro ano, o comércio internacional “parou de uma hora para outra, de maneira significativa”, como disse C. J. Gadd em History and Manuments of Ur. Em Drehem, perto de Nippur, onde ficava o posto de coleta de impostos sobre bens e gado que eram
comercializados e onde, durante toda a Dinastia, foi mantida uma minuciosa contabilidade, os arqueólogos encontraram milhares de plaquinhas de argila intactas contendo essas cifras, mostrando que a contabilidade parou no terceiro ano do reinado de Ibbi-Sin.
Ignorando Nippur depois da partida de seus grandes deuses, Ibbi-Sin colocou sua confiança em Nannar/Sin e Inanna e, no segundo ano de seu reinado, instalou-se como sumo sacerdote do templo da deusa em Erech (Uruk). Repetidamente ele pediu auxílio e orientação, mas só ouvia presságios de destruição. No quarto ano de seu reinado foi informado: “O Filho se erguerá
no oeste… é um presságio para Ibbi-Sin. Ur será julgada”.
No quinto ano Ibbi-Sin tentou conseguir mais força, tornando-se sumo sacerdote de Inanna no santuário da deusa em Ur, mas isso também de nada adiantou. Naquele ano outras cidades da Suméria deixaram de enviar mensagens de lealdade e também foi o último em que essas cidades
mandaram os animais sacrificiais para o templo de Inanna em Ur. Portanto, a autoridade central de Ur, seus deuses e seu zigurate-templo já não eram reconhecidos.
No início do sexto ano os presságios sobre a destruição foram se tomando mais urgentes e específicos. “Quando vier o sexto ano, os habitantes de Ur ficarão presos numa armadilha”, dizia um deles. A calamidade profetizada viria, afirmava um outro, “quando, pela segunda vez, aquele que chama a si mesmo de Supremo, como alguém cujo peito tenha sido ungido, virá do ocidente”.
Naquele mesmo ano, como revelam as mensagens vindas da fronteira, “ocidentais hostis entraram na planície da Mesopotâmia”. Sem encontrar resistência, eles rapidamente penetraram no interior, capturando as fortalezas uma após a outra. A Ibbi-Sin só restava o enclave constituído por Ur e Nippur, mas antes do final do fatídico sexto ano pararam de chegar abruptamente também as
inscrições nippurianas honrando o rei de Ur. O inimigo da cidade e de seus deuses, “aquele que chama a si mesmo de Supremo”, atingira o coração da Suméria.
Marduk, como fora pressagiado, voltara à Babilônia pela segunda vez. Os 24 anos fatídicos – compreendendo a partida de Abraão de Haran, a substituição de Shulgi no trono e o exílio de Marduk entre os hititas resultaram naquele ano do Juízo Final, 2024 a.C. E agora, depois de termos
examinado as histórias separadas, porém interligadas, de Abraão e dos infortúnios de Ur e seus últimos três reis, seguiremos os passos de Marduk.
A tabuinha de argila que conta a autobiografia de Marduk (da qual já foi citada um trecho anteriormente) prossegue contando sobre a volta do deus à Babilônia depois de 24 anos de estada no País dos Hatti.
No País dos Hatti perguntei a um oráculo sobre meu trono e minha soberania; entre eles perguntei: “Até quando ficarei”? Por 24 anos, entre eles, me aninhei.
No 24º. ano, Marduk recebeu um presságio favorável e foi para a Babilônia. A tabuinha está muito danificada nessa parte, mas é possível entender o texto:
Meus dias de exílio estavam terminados; para minha cidade me dirigi. Para meu templo, Esagila, que é como um monte, reconstituir, minha eterna morada estabelecer. Ergui os calcanhares para ir à Babilônia. Através de… Terras voltei à minha cidade, para seu futuro, bem-estar estabelecer, para um rei na Babilônia colocar na casa de minha aliança… No Esagila que é como um monte… Por Anu criado… Dentro do Esagila… Uma plataforma erguer… Em minha cidade… Alegria…
Em seguida o texto dá uma lista das cidades pelas quais Marduk passou a caminho da Babilônia. Essa parte da tabuinha também está bastante quebrada, mas os poucos nomes legíveis indicam que a rota da Ásia Menor até a Mesopotâmia o levou, primeiro, a passar por Hama (Hamat na Bíblia) e depois por Mari. Então ele de fato chegou à Mesopotâmia vindo do Ocidente, como tinham predito os oráculos. E ele estava acompanhado de partidários amoritas (os “ocidentais”).
Conta Marduk em sua autobiografia que seu desejo era trazer a paz e a prosperidade, “expulsar o mal e o azar… trazer amor maternal à humanidade”. Porém, nada disso aconteceu. Um adversário “despejou sua ira” contra a Babilônia. O nome desse deus inimigo aparece logo depois no início de uma nova coluna do texto, mas dele só resta a primeira sílaba: “Divino NIN…”. Só pode ser Ninurta.
Esse texto pouco nos esclarece sobre as ações desse adversário, pois todos os versos seguintes estão numa parte muito quebrada da tabuinha, impossibilitando a compreensão da inscrição. No entanto, podemos captar mais alguma coisa lendo a terceira plaquinha dos Textos de Codorlaomor. Apesar de ser um tanto enigmática, essa inscrição pinta um quadro de tumulto
total, com deuses inimigos marchando uns contra os outros à frente de suas tropas humanas. Os amoritas de Marduk caíram sobre o vale do Eufrates, ameaçando Nippur, e Ninurta organizou as forças dos elamitas para enfrentá los.
À medida que lemos e relemos os registros dessas épocas difíceis, vamos descobrindo que acusar falsamente um inimigo de cometer atrocidades não é algo típico do mundo moderno. O texto babilônico – e temos de ter sempre em mente que ele foi escrito por um adorador de Marduk – atribuiu às tropas elamitas a profanação de templos, inclusive dos santuários de Ishtar e Shamash, e acusa Ninurta de culpar mentirosamente os seguidores de Marduk pela profanação do Santo dos Santos de Enlil/Yahweh em Nippur com o objetivo de instigar Enlil a se posicionar contra Marduk e seu filho Nabu.
Segundo o texto, o saque de Nippur e a profanação do Ekur aconteceram quando os dois exércitos se enfrentaram naquela cidade. Ninurta acusou os seguidores de Marduk pelo sacrilégio, mas o verdadeiro autor do feito foi Nergal! A crônica babilônica não oferece maiores explicações para o aparecimento de Nergal/Erra, um irmão de Marduk, como aliado de Ninurta. Mas nos Textos de Codorlaomor ele é especificamente acusado de profanar o Ekur.
Erra, o impiedoso, entrou no recinto sagrado. Parou diante dele e contemplou o Ekur. Abrindo a boca, disse aos jovens guerreiros: “Levem os despojos do Ekur, tirem daqui seus valores, destruam suas fundações, derrubem o muro do santuário”!
Quando Enlil/Yahweh soube que seu templo fora destruído, que “no Santo dos Santos o véu fora rasgado”, apressou-se a ir a Nippur. “Ele emitia um brilho como se fossem raios” ao descer do céu, tendo a sua frente “deuses vestidos de esplendor”, e “fez o lugar sagrado se sacudir” ao se aproximar dele. O grande deus dirigiu-se a seu filho, “o príncipe Ninurta”, querendo saber quem fora o autor da profanação. Este, falsamente, apontou um dedo acusador para Marduk e seus seguidores. Descrevendo a cena, o texto babilônico garante que Ninurta agiu sem o devido respeito para com seu pai: “Sem temer pela vida, ele não removeu sua tiara”. Ele “contou mentiras a Enlil/Yahweh … não houve justiça; a destruição fora concebida”.
Segundo o cronista, agindo dessa forma Ninurta fez com que Enlil/Yahweh “causasse mal à babilônia”. Além dos “males” contra Marduk e sua cidade, foi também planejado um ataque contra Nabu, o filho de Marduk, e seu templo, o Ezida, situado em Borsippa. Mas Nabu conseguiu fugir para o oeste, onde procurou abrigo nas cidades perto do Mediterrâneo que lhe eram fiéis.
Do Ezida… Nabu, querendo liderar todas as suas cidades, voltou seus passos para o grande mar.
Os versos do texto babilônico que vêm em seguida fazem um paralelo exato com a história bíblica da destruição de Sodoma e Gomorra:
Mas quando o filho de Marduk estava na terra do litoral, aquele Malvado Vento Erra com calor a planície calcinou.
Esses versos e a descrição bíblica da destruição com “fogo e enxofre” têm uma fonte comum.
Segundo a Bíblia (por exemplo, Deuteronômio 29:22-27), a “iniqüidade” das cidades da planície do Jordão foi elas terem “abandonado a aliança com Yahweh”, terem ido “servir a outros deuses”. Pelo texto babilônico ficamos sabendo que o “grito” contra elas era a acusação de terem tomado o partido de Marduk e Nabu. Mas, enquanto a narrativa bíblica pára por aí, o texto babilônico nos oferece importantes detalhes: as cidades cananéias foram atacadas não somente para eliminar Nabu, que nelas procuraram abrigo. Todavia, essa segunda meta não foi atingida, porque Nabu conseguiu fugir para uma ilha no Mediterrâneo, cujos habitantes o aceitaram prontamente, apesar de ele não ser um deus:
Ele no grande mar entrou, sentou-se num trono que não era seu, Porque o Ezida, sua legítima morada, fora arrasado.
O quadro pintado a partir dos textos bíblicos e babilônicos fica mais claro com a leitura do Épico de Erra. Composto a partir de fragmentos encontrados na biblioteca de Assurbanipal, esse texto assírio foi tomando forma e sendo mais bem compreendido à medida que outras versões fragmentadas iam sendo descobertas em diferentes sítios arqueológicos. Hoje sabe-se que ele foi
escrito em cinco tabuinhas de argila, e do texto total só faltam algumas poucas linhas. Existem duas traduções completas e minuciosas desse épico: Das Era Epos, de P. F. Gõssmann, e L’Epopea di Erra, de L. Cagni. O Épico de Erra não apenas explica a natureza e as causas do conflito que redundou no uso da Arma Máxima contra cidades habitadas (com a intenção de aniquilar um deus que nelas se escondia), como também deixa claro que essa medida extrema não foi tomada de maneira apressada e irresponsável.
Sabemos a partir de vários outros textos que naquele momento de grave crise os grandes deuses permaneciam reunidos num contínuo Conselho de Guerra, mantendo um constante contato com Anu. “Anu para a Terra falava as palavras, a Terra para Anu as palavras pronunciava.” O Épico de Erra acrescenta a informação de que, antes de serem usadas as terríveis armas, houve um confronto entre Nergal/Erra e Marduk, em que o primeiro usou de ameaças para persuadir o irmão a deixar a Babilônia e desistir de sua ambição de conquistar a supremacia.
Dessa vez a tentativa de persuasão falhou. Ao voltar diante do Conselho dos Deuses, Nergal recomendou o uso da força contra Marduk. O texto conta que as discussões foram acaloradas e amargas: “por um dia e uma noite”, sem cessar, eles argumentaram. Houve uma discussão violenta entre Enki e seu filho Nergal, em que o primeiro tomou o partido de seu primogênito, Marduk:
“Agora que o príncipe Marduk se ergueu, que o povo pela segunda vez levantou sua imagem, por que Erra continua sua oposição”?
Finalmente, perdendo a paciência, Enki gritou para Nergal sair de sua presença. Furioso, Nergal voltou a seus domínios. “Consultando-se consigo mesmo”, ele decidiu usar as terríveis armas:
“As terras destruirei, transformando-se num monte de pó; as cidades arrasarei, as transformarei em desolação; os mares agitarei, o que neles pulula eu dizimarei; as pessoas farei sumir, suas almas se transformarão em vapor, ninguém será poupado”…
Por um texto conhecido como CT-xvi-44/46, sabemos que foi Gibil, o irmão cujos domínios africanos faziam fronteira com os de Nergal, quem avisou Marduk sobre a destruição que Nergal estava tramando. Era noite, e os grandes deuses tinham se retirado para repousar. Gibil foi procurar Marduk e contou sobre as “sete armas” que tinham sido criadas por Anu… “A maldade
dessas sete está voltada contra ti”. Assustado, Marduk perguntou ao irmão onde eram guardadas essas armas: “ó Gibil, aquelas sete… onde nasceram, onde foram criadas”? Ao que Gibil respondeu:
Aquelas sete na montanha habitam; elas moram numa cavidade dentro da terra. Desse lugar, com um brilho elas se arremeterão, da Terra para o Céu, vestidas de terror.
Mas onde exatamente ficava esse lugar? Marduk repetiu a pergunta várias vezes, mas tudo o que Gibil pôde informar foi: “Até mesmo para os sábios deuses isto é desconhecido”. Marduk apressou-se em transmitir o assustador relatório a seu pai, que já estava deitado, preparando-se para dormir. “Meu pai, Gibil, assim me falou: ele descobriu a vinda das sete [armas]”. Depois de dadas as explicações necessárias, rogou ao pai, aquele que muito sabia:
“Apressa-te, procura onde estão”! Imediatamente Enki convocou o Conselho dos Deuses. Todavia, ficou surpreso ao constatar que nem todos estavam tão chocados como ele diante da possibilidade de se usar aquelas armas terríveis. Então pediu que fossem tomadas sérias medidas contra Nergal, salientando: “As terras ficarão desoladas, o povo perderá”. Nannar e Utu estavam hesitantes, mas Enlil/Yahweh e Ninurta defendiam uma ação decisiva. Por não haver unanimidade, a decisão final foi deixada a cargo de Anu.
Quando Ninurta por fim chegou ao Mundo Inferior para comunicar a decisão de Anu, descobriu que Nergal já ordenara a instalação dos “venenos” (as ogivas nucleares) nas “sete armas assustadoras”. Embora o Épico de Erra refira-se constantemente a Ninurta como Ishum (“O Calcinador”), ele explica com grandes detalhes que esse deus deixou bem claro ao seu aliado que as armas só poderiam ser usadas contra alvos especificamente aprovados.
Também, antes de elas serem disparadas, os Anunnaki que estavam nos lugares condenados tinham de ser evacuados, e os Igigi que tripulavam a plataforma espacial e os ônibus espaciais em órbita da Terra precisavam ser avisados. E, por último, mas não menos importante, a humanidade deveria ser poupada, pois, “Anu, o senhor dos deuses, teve piedade da Terra”.
De início Nergal foi contra a idéia de dar qualquer tipo de aviso, e o texto demora-se relatando a troca de palavras ásperas entre os dois deuses. No final, contudo, Nergal concordou em alertar os Anunnaki e os Igigi, mas não alertou Marduk, Nabu e seus seguidores humanos. Foi então que Ninurta, tentando dissuadir Nergal de provocar um aniquilamento indeterminado, usou palavras
idênticas às que a Bíblia atribui a Abraão quando tentou poupar Sodoma:
Valoroso Erra, destruirás os justos com os injustos? Destruirás os que contra ti pecaram junto com os que contra ti não pecaram?
Usando de lisonjas, ameaças e lógica, os dois deuses discutiram sobre a extensão da destruição. Nergal, muito mais que Ninurta, estava tomado pelo ódio pessoal: “Aniquilarei o filho e deixarei o pai enterrá-lo; depois matarei o pai, mas não deixarei ninguém enterrá-lo”! Ninurta com muita dificuldade, recorrendo à diplomacia, salientando a injustiça da destruição indiscriminada e os méritos de alvos predeterminados, finalmente conseguiu dobrar Nergal. “Ele ouviu as palavras de Ishum; elas lhe pareceram tão atraentes como o óleo fino”. Depois de concordar em não mexer nos mares e deixar a Mesopotâmia fora do ataque, ele formulou um novo plano: a destruição seria seletiva; a meta tática seria destruir as cidades onde Nabu poderia estar escondido; a meta estratégica seria negar a Marduk seu mais cobiçado prêmio – o Espaçoporto, “o lugar de onde os Grandes ascendem”:
De cidade em cidade enviarei um emissário; O filho, semente de seu pai, não escapará; sua mãe parará de rir… Ele não terá acesso ao lugar dos deuses. O lugar de onde os Grandes ascendem, eu destruirei.
Quando Nergal terminou de falar, Ninurta estava boquiaberto, chocado com a idéia de destruir o Espaçoporto. Mas, como afirmam outros textos, Enlil aprovou o plano assim que ele lhe foi comunicado. Sem perder tempo, Nergal pediu a Ninurta para eles iniciarem rapidamente a ação:
Então o herói Erra foi à frente de Ishum, recordando-se de suas palavras; Ishum também avançou de acordo com a palavra dada, mas com um aperto no coração.
O primeiro alvo era o Espaçoporto, cujo complexo de comando ficava escondido no “Mais Supremo dos Montes”, enquanto os campos de pouso espalhavam-se pela planície adjacente:
Ishum dirigiu seu curso para o Mais Supremo dos Montes; as terríveis sete [armas], sem paralelo, flutuavam atrás dele. Ao Mais Supremo dos Montes o herói chegou: Ele ergueu a mão… O monte foi esmagado; A planície do Mais Supremo dos Montes ele não obliterou.
O Espaçoporto na Península do Sinai foi arrasado com um único golpe nuclear. E esse feito, como atestam todos os registros, foi obra de Ninurta. Chegou a vez de Erra/Nergal dar vazão a seu voto de vingança. Seguindo para as cidades cananéias orientando-se pela Estrada do Rei, ele destruiu as cidades da planície do Jordão. As palavras usadas no Épico de Erra são quase idênticas às empregadas na história de Sodoma e Gomorra:
Então, imitando Ishum, Erra seguiu a Estrada do rei. Com as cidades acabou, transformando-se em desolação. Nas montanhas causou fome, pois seus animais matou.
Os versos que se seguem podem bem estar descrevendo a criação da nova parte sul do mar Morto e o fim de toda a vida marinha que havia nele:
Ele cavou o mar, sua inteireza dividiu. Aquilo que mora nele, até os crocodilos, fez definhar. Como se usasse fogo, queimou os animais, os grãos transformou em poeira.
Dessa forma o Épico de Erra abrange todos os três aspectos do evento nuclear: a destruição do Espaçoporto no Sinai; a destruição das cidades da planície do Jordão; e o rompimento da margem do mar Morto, que resultou em sua ampliação para o sul. Um acontecimento único e tão devastador como esse deveria estar registrado em mais do que um único texto. E isso realmente
é o que acontece. Existem outras crônicas descrevendo ou recordando a catástrofe nuclear.
E um desses textos (catalogado como K.5001 e publicado na Oxford Editions of Cuneiforms Textes, vol. VI) é de especial valor, pois está escrito em sumério, e cada linha vem acompanhada de uma tradução para o acadiano. Isso mostra que, sem dúvida, ele é uma das primeiras crônicas sobre o assunto e deve ter sido uma das fontes para a narrativa bíblica. Dirigido a um deus cuja identidade não fica clara, devido às falhas na tabuinha, ele diz:
Senhor, portador do Calcinador, que queimou o adversário, que obliterou a terra desobediente; que definhou a vida dos seguidores da Má Palavra; que fez chover pedra e fogo sobre os adversários.
A fuga dos Anunnaki que guardavam o Espaçoporto, alertados para o perigo iminente, está lembrada num texto babilônico em que um rei fala de eventos acontecidos “no reinado de um monarca anterior”.
Naquela época, no reinado de um monarca anterior, as condições mudaram. O bem partiu, o sofrimento era habitual. O Senhor enfureceu-se e concebeu a ira. Ele deu a ordem. Os deuses daquele lugar o abandonaram… Os dois, decididos a cometer o mal, fizeram os guardiões se afastar; os protetores subiram para a cúpula do céu.
Os Textos de Codorlaomor, que identificaram Ninurta e Nergal pelos seus epítetos, contam o ocorrido da seguinte maneira:
Enlil/Yahweh, entronizado em altura, estava consumido de raiva. Os devastadores novamente sugeriram o mal. Aquele que calcina com fogo Ishum/Ninurta e aquele do vento mau
[Erra/Nergal], juntos, executaram sua maldade. Os dois fizeram os deuses fugir, fizeram-nos fugir da calcinação.
O alvo, o local de onde eles tinham feito os deuses fugir, era o Local de Lançamento:
Aquilo que estava levantando na direção de Anu para lançar eles fizeram definhar; seu rosto fizeram desaparecer, do lugar fizeram desolação.
E foi assim que o Espaçoporto, a causa de tantas guerras anteriores, foi varrido da face da Terra. O monte que abrigava o equipamento foi arrasado; as plataformas de lançamento sumiram; a planície de solo duro, usada como pista, foi liquidada e nela não restou nem mesmo um arbusto.
Essa grande instalação dos deuses Anunnaki jamais seria vista novamente… Mas a cicatriz que essa destruição deixou na Terra pode ser vista até hoje! É uma vasta cicatriz, tão imensa que só pode ser vista por inteiro do espaço. Por isso sua existência só foi revelada ao mundo recentemente, quando os satélites começaram a fotografar a Terra do espaço. Essa é uma marca para a qual nenhum cientista encontra explicação.
Estendendo-se para o norte desse enigmático acidente geográfico está a planície central da península do Sinai, que em outras eras geológicas era o fundo de um lago. O solo duro e plano é ideal para a aterrissagem de veículos espaciais. Foi uma geografia semelhante que fez a Base Aérea Edwards, no deserto de Mojave, na Califórnia, ser escolhida para pouso dos ônibus espaciais.
Quando estamos em pé na grande planície da península do Sinai, cujo terreno foi palco de combates entre tanques nas guerras modernas, podemos ver a distância as montanhas que o cercam, dando-lhe a forma oval. O calcário de que elas são constituídas fazem com que elas brilhem muito brancas no horizonte. Porém, na borda da imensa cicatriz existe um forte contraste entre o negro do terreno e a brancura que o cerca.
O preto não é uma cor natural da península do Sinai, porque ali predominam a brancura do calcário e os tons avermelhados do arenito, que podem chegar ao marrom-escuro, mas jamais ao preto, pois este só é encontrado na natureza quando existe o basalto, que não ocorre naquela área.
No entanto, ali, na parte norte-noroeste da enigmática cicatriz, o solo é preto. Essa cor é provocada por milhares de pedacinhos de rocha enegrecida, que se espalham pela área como se tivessem sido atiradas por uma mão gigantesca.
Até hoje, desde que a cicatriz foi fotografada por satélites, não há explicação para ela. Até hoje também não existe explicação para os pedacinhos de rocha enegrecida que cobrem essa área. Não existe justificativa, a não ser para quem lê os versos dos antigos textos e aceita nossa conclusão de que, na época de Abraão, Nergal e Ninurta destruíram completamente o Espaçoporto ali situado
com armas nucleares. “Aquilo que estava levantado na direção de Anu para lançar, eles fizeram definhar; seu rosto fizeram desaparecer; do lugar fizeram desolação”.
Bem distante, a leste, na Suméria propriamente dita, as explosões não foram vistas nem sentidas, mas mesmo assim existem registros dos feitos de Ninurta e Nergal porque tiveram um profundo efeito sobre a região e seu povo. Apesar de todos os esforços de Ninurta em tentar impedir que Nergal ferisse a humanidade, o sofrimento não foi evitado. A explosão nuclear deu origem a uma imensa ventania, que começou como um turbilhão:
Uma tempestade, o Vento Mau, gritou pelos céus.
Então esse remoinho radioativo começou a se espalhar para leste, empurrado pelos ventos vindos do Mediterrâneo. Logo depois os presságios que previam o fim da Suméria se realizaram. A Suméria propriamente dita tornou-se a grande vítima da catástrofe atômica dos “deuses” no Sinai.
A calamidade que caiu sobre a região no final do sexto ano do reinado de Ibbi-Sin está descrita em vários textos, as Lamentações, longos poemas que choram a morte da majestosa Ur e de outros centros da civilização suméria. Como esses textos fazem lembrar muito o Livro das Lamentações da Bíblia, que fala da destruição de Jerusalém pelos babilônicos, os primeiros tradutores dos poemas sumérios partiram da hipótese de que a catástrofe mesopotâmica também fora resultado de uma invasão, nesse caso de tropas elamitas e amoritas.
De início, quando os arqueólogos encontraram as primeiras tabuinhas com as Lamentações, os estudiosos imaginavam que somente Ur fora destruída. Mas, à medida que mais textos foram sendo descobertos, foi ficando claro que Ur não havia sido a única cidade afetada nem o ponto central da catástrofe. A descoberta de tabuinhas com um lista das cidades afetadas demonstrou que a destruição pareceu começar a sudoeste, estendendo-se para o nordeste, abrangendo todo o sul da Mesopotâmia, e que uma catástrofe súbita e geral caiu sobre todas as cidades ao mesmo tempo. A destruição não aconteceu numa vagarosa sucessão, como teria ocorrido se tivesse havido uma invasão progressiva.
Estudiosos como Th. Jacobsen (The Reign of Ibbi-Sin) concluíram que “invasores bárbaros” não tiveram nada a ver com a “terrível calamidade” que atingira a Mesopotâmia e considerou essa catástrofe algo “muito, muito intrigante”. “Só o tempo dirá se um dia veremos com plena clareza o que aconteceu naquela época”, escreveu Jacobsen. “Estou convencido de que a história completa ainda está muito longe de nossa compreensão”. Mas o enigma pode ser resolvido, e a história compreendida, quando relacionamos a catástrofe que se abateu sobre a Mesopotâmia com a explosão nuclear na península do Sinai. As Lamentações, notáveis por sua extensão e, no geral, pelo excelente estado de conservação, começam deplorando a súbita partida dos vários deuses de seus recintos sagrados, deixando os templos “abandonados ao vento”.
Em seguida começam uma rica descrição da desolação causada pela calamidade. Os versos seguintes são um exemplo:
Fazendo cidades ficarem desoladas, fazendo casas ficarem desoladas, fazendo currais ficarem desolados, os redis vazios. Os bois da Suméria já não ficam em seus estábulos, seus carneiros já não correm nos redis; em seus rios corre água amarga, nos campos cultivados só nasce mato.
Nas estepes só crescem plantas murchas. Nas cidades e aldeias “a mãe não cuida de seus filhos, o pai não diz: ‘Ó minha esposa’… a criança não nasce forte, a ama não canta cantigas de ninar… a realeza foi tirada da terra”…
Antes da Segunda Guerra Mundial, antes de Hiroxima e Nagasaki serem destruídas com bombas atômicas caídas do céu, alguém ainda podia ler a história de Sodoma e Gomorra e aceitar [por ignorância] a tradicional e inocente chuva de “fogo e enxofre” produzida pelos deuses por falta de melhor explicação. Os primeiros tradutores das Lamentações, que não tinham idéia do que era uma catástrofe nuclear, deram lhe títulos como “A Destruição de Ur” ou “A Destruição da Suméria”.
Todavia, não é isso que os textos descrevem. Eles falam em desolação, não em destruição. As cidades continuaram lá, mas sem seus habitantes; os currais continuavam lá, mas não havia gado; os redis continuavam lá, mas não existiam mais carneiros. Invasão, guerra, morte – todos esses males são bem conhecidos pela humanidade, mas como uma das Lamentações afirma claramente, o mal que atingiu a Suméria foi único e jamais tinha sido experimentado antes:
Sobre a Terra [Suméria] caiu uma calamidade; uma desconhecida para o homem; uma que ninguém jamais vira antes; uma que não pôde ser suportada.
A morte não veio pela mão de um inimigo, foi uma morte invisível “que vaga pelas ruas, que está solta nas estradas. Ela pára ao lado do homem, mas ninguém consegue vê-la; quando entra numa casa, sua aparência é desconhecida”. Não havia defesa contra “esse mal que assolou a cidade como
um fantasma… pelas muralhas mais altas, pelas muralhas espessas ela passa como se fosse uma inundação; nenhuma porta consegue deixá-la de fora, nenhuma trava a impede; pelas frestas ela desliza como uma serpente; como vento, ela penetra pelo batente”. Todos os habitantes foram atingidos e morreram ali mesmo onde estavam. “Tosse e catarro enfraqueceram o peito; a
boca ficou cheia de saliva e espuma… torpor e tontura os afligiram, um entorpecimento doentio… uma maldição, uma dor de cabeça… seus espíritos abandonaram seus corpos”. A morte era horrível:
As pessoas, aterrorizadas, mal conseguiam respirar; o Vento Mau as agarrou, não lhes concedendo nem mais um dia… Bocas estavam encharcadas de sangue, cabeças atoladas em sangue… O Vento Mau fazia empalidecer o rosto.
A fonte da morte invisível era uma nuvem radioativa que apareceu nos céus da Suméria e “cobriu a terra como uma capa, estendeu-se sobre ela como um lençol”. Pardacenta, durante o dia “o sol no horizonte obliterou com sua escuridão”. À noite, luminosa nas bordas (“Orlada com terrível brilho ela encheu a ampla Terra”), ela escondeu a Lua. Indo de oeste para o leste, a nuvem mortal foi levada para a Suméria por um vento furioso, “um grande vento que sopra muito alto, um vento mau que derrota a Terra”.
Aquilo não foi considerado um fenômeno natural: “Uma grande tempestade dirigida por Anu… viera do coração de Enlil/Yahweh”. Era um produto das sete armas assustadoras: “Nasceu numa única cria… como o amargo veneno dos deuses; no oeste foi gerada”. O Vento Mau, “trazendo sofrimento de cidade em cidade, carregando densas nuvens que trazem tristeza do céu”, era resultado de um “relâmpago de tempestade”. “Do meio das montanhas ele desceu sobre a terra, da Planície Sem Piedade ele veio”. Embora a população estivesse confusa, os deuses sabiam muito bem qual era a causa do Vento Mau:
Um estrondo cruel foi o arauto da chorosa tempestade, um estrondo cruel foi precursor da chorosa tempestade; poderosos descendentes, valentes filhos, foram os arautos da pestilência.
Os dois filhos valentes – Ninurta e Nergal – soltaram “numa única cria” as sete terríveis armas criadas por Anu, “arrancando tudo, destruindo tudo” no local da explosão. As antigas descrições são tão vívidas e exatas como as feitas por testemunhas oculares de explosões atômicas. Logo que as “terríveis armas” foram lançadas dos céus, houve um imenso fulgor. Como conta um texto,
“elas espalharam raios assustadores na direção dos quatro cantos da Terra, calcinando tudo como fogo”. Um outro descreve a formação do cogumelo atômico: “Uma densa nuvem que traz tristeza” subiu aos céus e foi seguida por “rajadas de vento… uma tempestade que furiosamente queima até os céus”.
Não um, mas vários textos atestam que o Vento Mau, que carregava a nuvem da morte, foi causado por gigantescas explosões ocorridas num dia que seria para sempre lembrado:
Naquele dia, quando o céu foi esmagado e a Terra aniquilada, sua face obliterada pelo remoinho… Quando os céus escureceram, cobertos por uma sombra.
As Lamentações identificam o local dos assustadores estrondos como sendo “no oeste”, perto do “seio do mar” – uma descrição gráfica da curva do litoral do Mediterrâneo na região da península do Sinai -, numa planície “no meio das montanhas”, que passou a ser chamada de “Lugar Impiedoso”, mas que antes era o local de onde os deuses “ascendiam aos céus”.
O monte que ficava perto dessa planície, que no Épico de Erra tem o nome de “O Mais Supremo”, numa das Lamentações é chamado de “Monte dos Túneis Uivantes” – epíteto que nos traz à mente as descrições encontradas nos Textos das Pirâmides, que contam a viagem dos faraós para a Outra Vida quando eles entravam numa montanha cheia de passagens subterrâneas. Essa viagem está amplamente comentada em A Escada para o Céu, livro em que também identificamos essa montanha como sendo aquela que Gilgamesh encontrou em sua viagem para a Terra dos Foguetes, na península do Sinai.
Segundo uma Lamentação, a nuvem mortal criada pela explosão do monte foi levada pelos ventos na direção leste, “até a fronteira de Anzan”, nas montanhas Zagros, afetando toda a Suméria desde Eridu, ao sul, até a Babilônia, mais ao norte. A passagem da “morte invisível” durou 24 horas:
“Naquele dia, num único dia; naquela noite, numa única noite… a tempestade, criada no estrondo de um raio, deixou prostrado o povo de Nippur”.
O Lamento de Uruk descreve com detalhes a confusão entre a população e os próprios deuses. Explicando que Anu e Enlil/Yahweh prevaleceram sobre Enki e sua consorte, Ninki, ao consentirem no uso das sete armas, deixa claro que nenhum dos deuses antevia o terrível resultado:
Os “grandes” deuses empalideceram diante de sua grandiosidade ao assistir à explosão, cujos “raios gigantescos atingiram o céu e fizeram a Terra estremecer até seu âmago”.
À medida que o Vento Mau ia “se espalhando para as montanhas como uma rede”, os “Grandes” deuses [covardemente] iam fugindo de suas amadas cidades. O poema Lamentações sobre a Destruição de Ur dá uma lista de todos os “grandes” deuses e grandes templos da Suméria. Um outro, intitulado Lamentação sobre a Destruição da Suméria e Ur, nos conta mais detalhes sobre essa retirada apressada dos “grandes” deuses. “Ninharsag chorou lágrimas amargas” enquanto fugia de Isin; Nanshe gritou: “Ó, minha cidade devastada”! Enquanto sua “amada residência era entregue ao infortúnio”. Inanna partiu apressadamente de Uruk, zarpando para a África num “navio submergível”, queixando-se de que precisava deixar para trás suas jóias e outros bens… Chorando por Uruk, Inanna-Ishtar lamentou a desolação causada em sua cidade e em seu templo pelo Vento Mau que, “num instante, num piscar de olhos, foi criado no meio das montanhas” e contra o qual não havia defesa.
Uma comovente descrição do medo e da confusão que tomaram conta de deuses e homens diante da aproximação do Vento Mau é encontrada no texto Lamento de Uruk, que foi escrito anos depois, durante a restauração da Suméria. Enquanto os “leais cidadãos de Uruk eram tomados de terror”, as deidades residentes, as encarregadas da administração e do bem-estar da cidade, deram o alarme. “Acordem”! Gritaram para a população no meio da noite. “Fujam! Escondam-se na estepe”! Em seguida os próprios deuses fugiram, “tomaram caminhos desconhecidos”. Tristemente o texto acrescenta:
Assim todos os “grandes” deuses saíram de Uruk; ficaram longe dela; esconderam se nas montanhas, fugiram para as planícies distantes.
Em Uruk a população, indefesa e sem liderança, ficou entregue ao caos. “O pânico caiu sobre Uruk… seu bom senso estava distorcido”. Desesperado, o povo invadiu os santuários, quebrando tudo o que encontrava lá dentro, perguntando: “Por que os deuses nos esqueceram? Quem causou tanto sofrimento e lamentação”? Mas suas perguntas ficaram sem resposta e, quando o Vento Mau passou, “as pessoas estavam mortas amontoadas em pilhas… o silêncio cobriu Uruk como se fosse uma capa negra da morte”.
Como nos conta o Lamento de Eridu, Ninki fugiu de sua cidade para procurar abrigo na África: “Ninki, sua grande senhora, voando como um pássaro, deixou sua cidade”. Enki, porém, só se afastou o suficiente para ficar fora do raio de ação do Vento Mau: “O senhor ficou fora de sua cidade… Pai Enki parou fora da cidade… chorou lágrimas amargas diante do infortúnio de sua
cidade ferida”. Vários de seus súditos o seguiram, e eles ficaram acampados nos arredores, de onde, por um dia e uma noite, assistiram a tempestade “pôr a mão” sobre Eridu.
Quando a tempestade passou, Enki foi inspecionar Eridu e encontrou uma cidade “afogada em silêncio… os residentes empilhados em montes”. Os sobreviventes lamentaram: “Ó Enki, tua cidade foi amaldiçoada, foi transformada em território desconhecido”! Mas embora o Vento Mau tivesse
passado, o lugar continuava inseguro, e Enki “ficou fora de sua cidade como se ela fosse uma terra estrangeira”. Em seguida, “esquecendo-se da Casa de Eridu”, Enki conduziu “os que tinham sido desalojados” para o deserto, na direção de uma “terra inimiga”, onde usou seus conhecimentos científicos para tornar comestível a “árvore suja”.
Marduk, da Babilônia, enviou urna mensagem urgente a seu pai, Enki, enquanto a nuvem da morte se aproximava de sua cidade. “O que devo fazer?” Enki aconselhou a todos que pudessem para deixar a cidade, mas tomando unicamente a direção norte. Uma das instruções é idêntica à dada a Lót. O povo da Babilônia não deveria “nem virar nem olhar para trás”. Além disso, ninguém deveria levar nenhum tipo de comida e bebida, pois poderiam estar “tocadas pelo fantasma”. Se a fuga fosse impossível, deveriam procurar um abrigo subterrâneo: “Sigam para uma câmara abaixo da terra, penetrem numa escuridão”, até o Vento Mau passar.
O vagaroso avanço da tempestade enganou alguns deuses, que pagaram caro por seu atraso na fuga. Em Lagash, Bau, a consorte de Ninurta, hesitava em fugir de sua amada cidade. “Mãe Bau chorava amargamente por seu templo”. A demora quase custou-lhe a vida:
Naquele dia, a senhora… A tempestade a apanhou; Bau, como se fosse mortal… A tempestade a apanhou…
Pelas lamentações em relação a Ur, uma das quais composta pela própria deusa Ningal, sabemos que ela e Nannar/Sin recusaram-se a acreditar que o fim da cidade fosse inexorável. Nannar fez um longo e emocionado apelo a seu pai, Enlil/Yahweh, procurando algum meio de evitar a calamidade. Mas [o grande, poderoso, senhor deus das legiões, onipotente, o criador do céu e da Terra, etc…] Enlil/Yahweh respondeu que o destino não poderia ser mudado:
A Ur foi concedida a realeza… Não lhe foi concedido um reino eterno. Desde os dias de antanho, quando a Suméria foi fundada, até o presente, quando o povo se multiplicou… Quem já viu uma realeza de um reino eterno?
Enquanto o apelo era feito, diz o poema de Ningal, “a tempestade avançava, seu rugido cobria tudo”. O Vento Mau chegou a Ur durante o dia. “Embora eu ainda trema por aquele dia, do fedor daquele dia não fugimos”. Ao chegar a noite, “um amargo lamento levantou-se de Ur”, mas ainda assim o deus e a deusa continuaram na cidade: “Do fedor daquela noite não fugimos”. Então a
nuvem atingiu o grande zigurate, e Ningal se deu conta de que Nannar “fora apanhada pela tempestade cruel”.
O casal passou uma noite de pesadelo, que Ningal jurou jamais esquecer, escondidos na “casa do cupim” (uma câmara subterrânea) no interior do zigurate. Somente no dia seguinte, “quando a tempestade foi carregada para fora da cidade”, os dois partiram da cidade que tanto amavam.
Enquanto eles saíam, viram morte e desolação: “Amontoados como cacos de cerâmica, os habitantes mortos enchiam as ruas; perto dos grandes portões, onde antes o povo costumava passear, agora só havia cadáveres; nas praças onde se faziam celebrações, eles estavam espalhados; em todas as ruas em que costumavam passear havia cadáveres; nos locais onde antes havia festividades, pessoas jaziam amontoadas”.
Os mortos não foram enterrados: “Os cadáveres, como gordura deixada ao sol, derreteram-se por si mesmos”. Então Nergal levantou a voz no seu grande lamento por Ur, a antes majestosa cidade, o principal centro sumério, a capital de um império anunnaki:
Ó casa de Sin em Ur, amarga é tua desolação… Ó Ningal, cujas terras pereceram, fazendo teu coração virar água. A cidade tornou-se um lugar estranho, como agora alguém pode existir? A casa tornou-se uma casa de lágrimas e faz meu coração virar água… Ur e seus templos foram entregues ao vento.
Todo o sul da Mesopotâmia estava liquidado pela radioatividade das bombas nucleares usadas pelos “grandes” deuses Anunnaki. As águas e o solo tinham sido envenenados pelo Vento Mau: “Nas margens do rio Tigre e do rio Eufrates só crescem plantas doentias… Nos pântanos nascem caniços doentes que logo apodrecem… Nos pomares e jardins nada brota, tudo murcha rapidamente… Os campos cultivados já não são mais arados, não se planta sementes, não existem mais alegres canções nos campos”.
Os animais da área rural foram dizimados: “Na estepe, todo tipo de gado, grande e pequeno, todas as criaturas vivas pereceram”. Os animais domésticos também morreram: “Os redis foram
entregues ao vento… o zumbido da batedeira já não ecoa no redil… Os estábulos já não fornecem manteiga e queijo… Ninurta levou embora o leite da Suméria”. “A tempestade arrasou a terra, varreu tudo; rugiu como um grande vento; ninguém dela conseguiu escapar; esvaziando as cidades, esvaziando as casas… Ninguém caminha pelas ruas, ninguém procura as estradas”. A devastação da Suméria estava completa.
O fim da influência DIRETA dos “grandes” deuses Anunnaki na história humana havia chegado ao fim. Apenas a nefasta influência psíquica de Enlil/Yahweh permaneceu até os dias de hoje, mas . . .
EPÍLOGO
Sete anos depois de o Vento Mau [radioativo] levar a desolação à Suméria, a vida começou a brotar de novo. Mas, em vez de ser a parte mais importante de um império, ela agora era uma terra ocupada, onde um arremedo de ordem era mantido por tropas elamitas ao sul e soldados gutianos ao norte. Isin, que nunca fora uma capital, passou a ser o centro administrativo temporário. Um antigo governador de Mari foi indicado para cuidar da região. Documentos da época registram queixas contra “alguém que não é semente da Suméria” estar à frente do governo. Como indica seu nome, Ishbi-Erra era o seguidor de Nergal, e sua nomeação pode ter sido parte do acordo entre deus e Ninurta.
Alguns estudiosos chamam as décadas que se seguiram à devastação de Ur de Idade das Trevas da Mesopotâmia. Quase nada se conhece dessa época além dos poucos dados que podem ser captados a partir dos formulários de datas anuais. Depois de melhorar a segurança e fazer uma ou outra restauração, Ishbi-Erra, procurando solidificar sua autoridade secular, despediu a guarnição estrangeira que patrulhava Ur e, estendendo seu domínio até essa cidade, reivindicou o título de sucessor dos reis de Ur. No entanto, poucos centros repovoados aceitaram sua supremacia. Um chefe de Larsa entrou repetidamente em confronto com Ishbi-Erra. Um ou dois anos depois de assumir o governo de Ur, Ishbi-Erra tentou adicionar uma autoridade religiosa aos seus poderes, assumindo a custódia de Nippur, lá erguendo os emblemas sagrados de Enlil/Yahweh e Ninurta.
Porém, só conseguiu o apoio deste último, pois os grandes deuses continuavam frios e distantes. Procurando desesperadamente por mais apoio, Ishbi-Erra indicou sacerdotes e sacerdotisas para restaurarem a adoração de Nannar, Nergal e Inanna, mas o coração do povo estava com outros deuses. Como sugerem numerosos textos Shurpu (“Purificação”), foram Enki e Marduk – usando seu imenso conhecimento científico, “poderes mágicos” aos olhos da população que curaram os doentes, que purificaram as águas e que fizeram o solo novamente gerar vegetação comestível.
Nos cinqüenta anos seguintes, que abrangeram o reinado de dois sucessores de Ishbi-Erra, a normalidade foi voltando pouco a pouco. A agricultura e a indústria reviveram, o comércio foi restabelecido. Contudo, só depois de setenta anos – o mesmo intervalo de tempo posteriormente aplicado ao templo de Jerusalém depois de sua destruição – o templo de Nippur pôde ser reconstruído. Essa obra coube a Ishme-Dagan, o terceiro sucessor de Ishbi Erra. Num longo poema dedicado a Nippur, ele contou como o divino casal da cidade atendeu suas súplicas e lhe deu permissão para reformar a cidade e seu grande templo, para que “as tábuas divinas” pudessem “voltar a Nippur”.
Houve grande júbilo quando o templo tornou a ser dedicado a Enlil/Yahweh e Ninlil, o que aconteceu no ano de 1953 a.C. E foi só nessa época que as cidades da Suméria e Acad foram oficialmente declaradas outra vez habitáveis. Todavia, a volta oficial à normalidade só serviu para acirrar as velhas rivalidades entre os deuses. O sucessor de Ishme-Dagan tinha um nome que
indicava sua fidelidade a Ishtar, Ninurta rapidamente acabou com ele e substituiu-o por um de seus seguidores – o último governante a ter um nome sumério. Mas Ninurta não conseguiu manter a supremacia, pois afinal, embora indiretamente, fora ele o culpado da devastação da Suméria.
Como sugere o nome do governante seguinte, Nannar tentou impor sua autoridade. No entanto, os dias de supremacia de Ur tinham terminado. E, assim, Anu e Enlil/Yahweh, com a autoridade de que eram investidos, finalmente aceitaram o direito de Marduk à supremacia na Babilônia. Comemorando essa decisão no preâmbulo de seu código, o rei babilônico Hamurabi escreveu:
O altíssimo Anu, senhor dos deuses que do Céu vieram à Terra, e Enlil/Yahweh, senhor do Céu e da Terra que determina os destinos dos países, determinaram para Marduk, o primogênito de Enki, as funções de Enlil/Yahweh sobre toda a humanidade. Eles o tornaram grande entre os deuses que guardam e vêem; chamaram a Babilônia pelo nome para exaltá-la, tornaram-na suprema no mundo. E estabeleceram para Marduk dentro dela um reinado “eterno”.
A Babilônia atingiu a grandiosidade e em seguida foi a vez da Assíria. A Suméria não se levantou mais. Porém, numa terra distante, o bastão de seu legado passou das mãos de Abraão e Isaac, seu filho, para a mão de Jacó, aquele cujo nome foi mudado para Isra-El, e assim, os Anunnaki continuaram a influenciar a humanidade… até a chegada de um verdadeiro mensageiro do Criador Universal…. Jesus Cristo.