Decisão do CEO do grupo na França valia para as lojas na França e provocou boicote por parte de frigoríficos brasileiros, que pararam de fornecer o produto para os supermercados da rede Carrefour, Atacadão e Sam’s Club no Brasil em represália à afronta dos fransceses ao produto brasileiro.
Fonte: Globo-G1
O ministro da Agricultura brasileiro, Carlos Fávaro, disse na noite desta segunda-feira (25) que a embaixada francesa no Brasil está intermediando com o Carrefour “uma carta de retratação”, após o veto à carne do Mercosul anunciado pela multinacional para as suas lojas da França.
“O embaixador francês se ofereceu, falando com o nosso secretário de relações internacionais, para ser um intermediador de uma proposta pra apaziguar este assunto”, afirmou Fávaro. O ministro afirmou que não foi dado um prazo. “O ‘timing’ é deles”.
Desde o fim de semana, frigoríficos brasileiros pararam de fornecer o produto para unidades do Carrefour no Brasil em reação à medida, anunciada na última quarta-feira (20) pelo presidente-executivo do grupo na França, Alexandre Bompard.
Em carta dirigida aos agricultores franceses que, desde o início daquela semana, protestavam contra o governo e o acordo comercial União Europeia-Mercosul, Bompard citou “o risco de inundação do mercado francês com carne que não atende às suas exigências e normas“.
Fávaro diz que espera que o Carrefour se retrate quanto a esse ponto. “Feito isso, compra quem quiser, quem achar que é importante”, afirmou.
“A questão é a seguinte: se é para ter um protecionismo dos produtores franceses, por parte da companhia, tudo certo. Eles podem comprar de quem eles quiserem”, disse o ministro. “O problema é que afrontou a qualidade da carne brasileira. Isso nós não podemos admitir.”
“Se a carne brasileira não pode ser colocada na gôndola deste supermercado na França, também não deve ser colocada na gôndola desse supermercado aqui no Brasil”, completou Fávaro.
O ministro já tinha mencionado esse ponto na manhã desta segunda, em entrevista à GloboNews, quando afirmou que apoiava o boicote dos frigoríficos brasileiros como resposta a Bompard (assista abaixo).
Ao comentar a reunião com o embaixador, Fávaro voltou a defender que os produtos brasileiros seguem regras rígidas.
“O Brasil tem o melhor sistema sanitário do mundo. Só para você ter uma noção, é um dos dois únicos países que não tem gripe aviária. Graças à força de um sistema muito rigoroso de controle sanitário”, afirmou. “Então, atentar contra a qualidade sanitária das carnes brasileiras é algo que nós não vamos admitir.”
França compra pouco
O ministro ressaltou que o impacto econômico do veto à carne do Mercosul nas lojas francesas da rede de supermercados deve ser pequeno.
“Já se foi o tempo por exemplo que o Brasil vendia quase 20% das exportações da carne brasileira para a União Europeia“, observou. A maior cliente dos frigoríficos brasileiros no mercado exterior é a China.
“Hoje, só pra ter uma noção, a França compra 0,5% da carne bovina brasileira. Não estou falando o Carrefour, estou falando toda a França. Portanto, claro que é um mercado importante, mas não é significativo”, resumiu.
O Carrefour já tinha informado ao g1, na última quinta-feira (21) que suas unidades na França praticamente não vendem carne importada.
Após forte pressão, CEO global do Carrefour deve pedir desculpas ao Brasil; carta já está pronta
Por Adriana Mattos, Valor — São Paulo
Alexandre Bompard decidiu voltar atrás e deve pedir desculpas ao Brasil e aos frigoríficos brasileiros pelas declarações controversas a respeito dos requisitos e padrões de venda da carne oriunda do Mercosul
O presidente global do Carrefour, Alexandre Bompard, decidiu voltar atrás e deve pedir desculpas ao país e aos frigoríficos brasileiros pelas declarações controversas a respeito dos requisitos e padrões de venda da carne oriunda do Mercosul, apurou o Valor. Pelo teor do documento em elaboração, a ideia é Bompard afirmar que a França voltará a comprar carne dos países do Mecosul.
A decisão foi tomada com a escalada das pressões políticas e econômicas nas últimas horas, contra a empresa no Brasil, e contra Bompard, seu principal executivo. Anúncios de empresas de boicote de venda de produtos para a varejista cresciam, e nas redes sociais, as críticas de consumidores brasileiros vinham aumentando desde o início desta segunda-feira (25).
Há o risco de o Atacadão perder a liderança para o Assaí no quarto trimestre, se a questão não for resolvida rapidamente, confirmou o Valor com três fontes a par do tema. A ideia é que uma carta com esse teor seja oficialmente entregue, primeiramente, pela embaixada da França ao ministro da Agricultura do Brasil, Carlos Fávaro, num respeito à posição do governo, num encontro que deve ocorrer possivelmente amanhã. As conversas para o contato estão em andamento. No texto, Bompard, que assina o documento, deve ressaltar a longa história de parceria com a indústria do setor, numa parceria de 50 anos, e reforçar a qualidade do produto brasileiro.
O Valor apurou que o ministro só aceitará o pedido se o teor for claramente entendido como uma confissão de erro, e esse recado já chegou à rede, e esse é o maior cuidado do Carrefour na elaboração desse texto. Uma versão pode ser enviada previamente ao ministro, inclusive, dizem fontes.
Inicialmente, é esperado que o embaixador francês na capital federal, Emmanuel Lenain, faça esse contato com o ministro, mas caso exista alguma dificuldade de agenda, o atual presidente do Carrefour no Brasil, Stéphane Maquaire, deve ir no encontro.
A expectativa da rede é que, com as desculpas diretas do próprio CEO global, que criou toda a crise em torno do tema, a situação seja resolvida. Como o Valor noticiou no sábado (23), houve soluções iniciais estudadas no fim de semana para resolver a questão, como uma retratação pública de outro executivo do grupo na França, ou do CEO brasileiro. Mas o governo brasileiro não aceitaria um pedido de desculpas que não fosse de Bompard, apurou o Valor.
Na última quarta-feira (20), Bompard disse que os produtos sul-americanos não atendem às exigências e às normas francesas, e esse problema vinha afetando os fabricantes locais. Ainda disse que a rede na França não iria mais comercializar qualquer carne proveniente do Mercosul e esperava que a sua atitude mobilizasse a sociedade local.
Uma crise diplomática, política e econômica, causada por Bompard, avançou rapidamente nos últimos dias — para pessoas a par do tema, o executivo agiu de forma errada ao se posicionar sobre um tema sensível sem medir as consequências. No fim da tarde desta segunda, cerca de 40 empresas já estariam boicotando o Carrefour no Brasil e deputados anunciavam apoio a campanhas de boicote de consumidores às lojas da empresa, formada pelos grupos Carrefour, Atacadão e Sam’s Club. Sobre o tema da carta de retratação, a empresa não comenta as informações.