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As Digitais dos deuses (23) – O Sol, a Lua e o Caminho dos Mortos

Algumas descobertas arqueológicas são saudadas com grandes fanfarras pelos “eruditos acadêmicos”; outras, por uma série de razões, não. Nesta última categoria temos de incluir a espessa e extensa camada de lâminas de mica encontrada espremida entre dois dos níveis superiores da Pirâmide do Sol, em Teotihuacan, quando sondada em 1906 para fins de restauração. A falta de interesse com que a descoberta foi recebida (pelos “eruditos acadêmicos”), e a ausência de quaisquer estudos de acompanhamento para determinar sua possível função, são inteiramente compreensíveis, porque a mica, que tinha um grande valor comercial, fora retirada e vendida logo que escavada. A culpa coube, aparentemente, a Leopoldo Bartres, que havia sido contratado pelo governo mexicano para restaurar a pirâmide corroída pelo tempo.

Livro “AS DIGITAIS dos DEUSES”, uma resposta para o mistério das origens e do fim da civilização

Por Graham Hancock, livro “AS DIGITAIS DOS DEUSES”, Tradução de Ruy Jungmann, editora Record 2001.

CAPÍTULO 23 – O Sol, a Lua e o Caminho dos Mortos

Houve uma descoberta muito mais recente de mica em Teotihuacán (no “Templo da Mica”), mas que passou quase despercebida. Neste caso, é mais difícil explicar a razão do desinteresse, uma vez que a mica não foi saqueada e continua no mesmo lugar. Fazendo parte de um grupo de estruturas, o Templo da Mica situa-se em um pátio a cerca de 300m da face oeste da Pirâmide do Sol. Imediatamente abaixo de um piso de pesadas lajes de rocha, as escavações de arqueólogos financiados pela Viking Foundation revelaram duas lâminas maciças de mica, que haviam sido cuidadosa e deliberadamente instaladas, em alguma era extraordinariamente remota, por um povo que deve ter sido hábil em cortar e manipular esse material. As folhas têm 8,50m² e formam duas camadas superpostas.

A mica não é uma substância uniforme e contém traços de diferentes metais, dependendo do tipo de formação rochosa em que é encontrada. Costumeiramente, os metais incluem potássio, alumínio e também, em quantidades variáveis, material ferroso e férrico, magnésio, lítio, manganês e titânio. Os elementos residuais no Templo da Mica em Teotihuacán indicam que as lâminas sob o piso pertencem a um tipo que ocorre apenas no Brasil, a cerca de 3.200 km de distância. Evidentemente, por conseguinte, os construtores do Templo devem ter sentido uma necessidade específica desse tipo particular de mica e se mostraram dispostos a percorrer grandes distâncias para obtê-la, pois, de outra maneira, poderiam ter usado, com muito maior facilidade e simplicidade, a variedade disponível no local.

Teotihuacan, vista aérea

Ninguém pensa imediatamente em mica como material de piso de finalidade geral. Seu uso para formar camadas sob pisos e, portanto, inteiramente ocultas, parece muito esquisito, quando nos lembramos que nenhuma outra estrutura nas Américas, ou em qualquer outro lugar no mundo, apresenta uma característica como essas. É frustrante reconhecer que jamais poderemos determinar a posição exata, quanto mais a finalidade da grande lâmina que Bartres escavou e removeu em 1906 da Pirâmide do Sol. As duas camadas intactas no Templo da Mica, por outro lado, estando em um lugar onde não tinham qualquer finalidade decorativa, dão a impressão de que foram instaladas para realizar um determinado trabalho. Vale notar, de passagem, que a mica possui características que a tornam especialmente apropriada para uma larga faixa de aplicações tecnológicas. Na indústria moderna, é usada na fabricação de capacitores e muito valorizada como isolante térmico e elétrico. É também opaca a nêutrons rápidos e pode servir como moderador em reações nucleares.

Apagando Mensagens do Passado – Pirâmide do Sol, Teotihuacán

Tendo subido uma série de lances de degraus de pedra de mais de 60m de altura, cheguei ao cume e olhei para o zênite. Era meio-dia do dia 19 de maio e o sol estava diretamente acima de mim, como voltaria a estar no dia 25 de julho. Nessas duas datas, e não por acaso, a face oeste da pirâmide fica orientada precisamente para a posição do sol poente. Um efeito mais curioso, mas igualmente deliberado, podia ser observado nos equinócios, 20 de março e 22 de setembro. Nesse caso, a passagem dos raios do sol, da direção sul para o norte, resultava, ao meio-dia, no apagamento progressivo de uma sombra perfeitamente reta, que corria ao longo de um dos níveis mais baixos da fachada oeste. O processo todo, de sombra total para iluminação completa, leva exatamente 66,6 segundos. O fenômeno se repete sem falha, um ano após outro, desde que a pirâmide foi construída e continuará assim até que a estrutura gigantesca se desfaça em pó. O que isso significa, claro, é que pelo menos uma das muitas funções da pirâmide tinha sido a de servir como um “relógio perene”, assinalando com precisão os equinócios e, dessa maneira, facilitando correções do calendário, como e quando necessárias, para indivíduos aparentemente obcecados, como os maias, com a passagem e a medição do tempo.

Outra implicação é que os mestres-construtores de Teotihuacán devem ter possuído um conjunto enorme de dados astronômicos e geodésicos e que os consultaram para erguer a Pirâmide do Sol na orientação precisa necessária para obter os desejados efeitos relativos aos equinócios. Nesse caso, houve planejamento e arquitetura da mais alta ordem. As pirâmides sobreviveram à passagem de milênios e a todo o trabalho de remodelamento de grande parte da casca externa, realizada na primeira década deste século pelo auto nomeado restaurador Leopoldo Bartres. Além de saquear uma prova insubstituível, que poderia nos ter ajudado a compreender melhor as finalidades para as quais havia sido construída a enigmática estrutura, esse repulsivo lacaio do corrupto ditador do México, Porfirio Diaz, mandou retirar a camada externa de pedra, argamassa e reboco até uma profundidade de mais de seis metros das faces norte, leste e sul.

Os resultados foram catastróficos: a superfície subjacente de adobe começou a se dissolver com as pesadas chuvas e a acusar um deslizamento que ameaçava destruir toda a estrutura. Embora o deslizamento fosse detido com apressadas medidas de contenção, nada poderia mudar o fato de que a Pirâmide do Sol tinha sido privada de quase todos os seus aspectos externos originais. De acordo com os modernos padrões arqueológicos, cometeu-se, dessa maneira, um ato imperdoável de profanação. Por causa dele, jamais compreenderemos a importância de numerosas esculturas, inscrições, altos-relevos e artefatos, que foram quase com certeza eliminados com esses seis metros da casca externa. Mas essa não foi a única ou mesmo a mais lamentável conseqüência do vandalismo grotesco de Bartres. Há surpreendentes indicações que sugerem que os construtores desconhecidos da Pirâmide do Sol poderiam ter incorporado intencionalmente dados científicos em muitas das principais dimensões da grande estrutura.

Essa indicação foi recolhida e extrapolada com base na face oeste intacta (que, não por acaso, era também a face onde os efeitos do equinócio que se pretendia mostrar ainda podiam ser vistos), mas, graças a Bartres, nenhuma informação semelhante tem a menor probabilidade de ser colhida nas outras três faces, devido às alterações arbitrárias que nelas foram feitas. Na verdade, ao distorcer a forma e tamanho originais de parte tão grande da pirâmide, o “restaurador” mexicano privou possivelmente a posteridade de algumas das lições mais importantes que os teotihuacanos teriam para nos ensinar.

Pirâmide do Sol em Teotihuacan

Números Eternos

O número transcendente Pi é fundamental à matemática avançada. Com um valor ligeiramente superior a 3,14, é a razão entre o diâmetro de um círculo e sua circunferência. Em outras palavras, se o diâmetro de um círculo é de 30cm, a sua circunferência será de 30cm x 3,14 = 94,2cm. De idêntica maneira, desde que o diâmetro de um círculo é exatamente o dobro do raio, podemos usar pi para calcular, à vista do raio, a circunferência de qualquer círculo. Neste caso, contudo, a fórmula é o comprimento do raio multiplicado por 2pi. Como ilustração, tomemos novamente um círculo de 30 cm de diâmetro. O raio será de 15cm e a circunferência poderá ser obtida da seguinte maneira: 15cm x 2 x 3,14 = 75,36cm. Analogamente, um círculo com um raio de 24cm terá uma circunferência de 150,72cm (24cm x 2 x 3,14) e um círculo com um raio de 17cm terá uma circunferência de 106,76 (17cm x 2 x 3,14).

Essas fórmulas, usando o valor de Pi para calcular a circunferência, baseando-se em diâmetro ou raio, aplicam-se a todos os círculos, qualquer que seja seu tamanho e, também, claro, a todas as esferas e hemisférios. Elas parecem relativamente simples – mas só quando adotamos um olhar retrospectivo. Ainda assim, pensa-se que essa descoberta, que representou um progresso revolucionário na matemática, só foi feita relativamente tarde na história humana. A “opinião ortodoxa” é que coube a Arquimedes, no século 3 a.C. calcular Pi corretamente, pela primeira vez, com o valor de 3,148. Pesquisadores não aceitam que qualquer matemático do Novo Mundo tenha jamais chegado perto do número pi, antes da chegada dos europeus, no século XVI. Por isso mesmo é de deixar a pessoa tonta descobrir que a Grande Pirâmide de Gizé (construída mais de 2.000 anos antes do nascimento de Arquimedes) e a Pirâmide do Sol, em Teotihuacán, muito anterior à conquista, incorporam o valor de pi. E, além do mais, fazem isso em grande parte da mesma maneira, o que não deixa dúvida de que os construtores antigos de ambos os lados do Atlântico conheciam perfeitamente esse número transcendente. Os principais fatores implicados na geometria de qualquer pirâmide são os seguintes:

  1. a altura do ápice sobre o solo e
  2. o perímetro do monumento no nível do chão.

No caso da Grande Pirâmide, a razão entre a altura original (146m) elevado a 9 e o perímetro (921m) elevado a 10 é a mesma que a razão entre o raio e a circunferência de um círculo, isto é, 2pi. Dessa maneira, se tomamos a altura da pirâmide e a multiplicamos por 2pi (como faríamos com o raio de um círculo para lhe calcular a circunferência), temos uma medida exata do perímetro do monumento (146m x 3,14 = 921m). Alternativamente, se viramos a equação pelo avesso e começamos com a circunferência no nível do chão, obtemos um número igualmente exato da altura do ápice (921m divididos por 2 dividido por 3,14 = 146m). Uma vez que é quase inconcebível que uma correlação matemática tão precisa pudesse ter sido obtida por acaso, somos obrigados a concluir que os construtores da Grande Pirâmide conheciam bem o pi e que deliberadamente lhe incorporaram o valor às dimensões do monumento.

Vejamos agora a Pirâmide do Sol, em Teotihuacán. O ângulo de suas arestas é de 43,5° (contra os 52° no caso da Grande Pirâmide). O monumento mexicano tem uma inclinação mais suave porque o perímetro de sua base, de 893m, não é muito menor do que o de sua equivalente egípcia, embora seu ápice seja consideravelmente mais baixo (de aproximadamente 71m, antes da “restauração” feita por Bartres). A fórmula de 2pi que funcionou no caso da Grande Pirâmide não funciona com essas medidas. Com uma fórmula de 4pi isso acontece. Dessa maneira, se tomamos a altura da Pirâmide do Sol (71m) e a multiplicamos por 4pi, obtemos mais uma vez uma leitura bem exata do perímetro: 71m x 4 x 3,14 = 893m. Esse resultado, claro, não pode ser mais coincidência do que a relação de pi extrapolada a partir das dimensões do monumento egípcio. Além do mais, o próprio fato de ambas as estruturas incorporarem as relações de pi (o que não acontece com qualquer outra pirâmide em ambos os lados do Atlântico) sugere convincentemente não só a existência de conhecimento matemático avançado na antiguidade, mas algum tipo de finalidade comum subjacente.

Conforme vimos, a desejada razão altura/perímetro da Grande Pirâmide (2pi) exigia a especificação de um ângulo difícil e peculiar da inclinação de suas arestas: 52°. De igual maneira, a desejada razão altura/perímetro da Pirâmide do Sol (4pi) exigia a especificação de um ângulo igualmente excêntrico da aresta: 43,5°. Se não houvesse um motivo ulterior, teria sido certamente mais fácil para os antigos arquitetos egípcios e mexicanos ter optado por 45° (que poderiam ter obtido facilmente e conferido dividindo em dois um ângulo reto). Qual poderia ter sido o objetivo comum que levou os construtores, em ambos os lados do Atlântico, a ter tanto trabalho para estruturar o valor de pi com tanta precisão nesses dois notáveis monumentos? Uma vez. que parece não ter havido contato direto entre as civilizações do México e do Egito nos períodos em que as pirâmides foram construídas, não será razoável deduzir que, em alguma data remota, ambas herdaram certas idéias de uma fonte comum? Será possível que a idéia compartilhada e expressa na Grande Pirâmide e na Pirâmide do Sol pudesse ter alguma coisa a ver com esferas, uma vez que estas, tais como as pirâmides, são objetos tridimensionais (enquanto que círculos, por exemplo, têm apenas duas dimensões)?

O desejo de simbolizar esferas em monumentos tridimensionais com superfícies planas explicaria por que tanto trabalho foi investido para assegurar que ambas incorporassem inconfundíveis relações de pi. Além do mais, parece provável que a intenção dos construtores dos dois monumentos não foi simbolizar esferas em geral, mas focalizar atenção em uma única esfera em particular: o planeta Terra. Passará ainda muito tempo antes que arqueólogos ortodoxos estejam prontos para aceitar a ideia de que alguns povos do mundo antigo foram avançados o suficiente em ciência para ter possuído boas informações sobre a forma e o tamanho da Terra. Não obstante, de acordo com os cálculos de Livio Catullo Stecchini, professor americano de História da Ciência e especialista conhecido em medições antigas, é irrefutável a prova da existência desses conhecimentos anômalos na antiguidade. As conclusões de Stecchini, que se relacionam principalmente com o Egito, são particularmente impressionantes, porque obtidas de dados matemáticos e astronômicos que, por consenso, estão além de qualquer dúvida bem fundamentada. Um exame mais completo dessas conclusões, e da natureza dos dados em que se apoiam, é apresentada na Parte VII. Nesta altura, contudo, algumas palavras de Stecchini podem lançar mais luz sobre o mistério que enfrentamos:

A idéia básica da Grande Pirâmide foi que ela deveria ser uma representação do hemisfério setentrional (Norte) da terra, um hemisfério projetado sobre superfícies planas, como é feito na elaboração de mapas. (…) A Grande Pirâmide era uma projeção sobre quatro superfícies triangulares. O ápice representava o pólo e o perímetro representava o equador. Esta é a razão por que o perímetro está em uma relação de 2pi com a altura. A Grande Pirâmide representa o hemisfério setentrional em uma escala de 2:43.200.

Na Parte VII veremos por que motivo foi escolhida essa escala.

A Cidade Matemática

Erguendo-se à frente enquanto eu me dirigia para a extremidade norte da Rua dos Mortos, a Pirâmide da Lua, por sorte não danificada pelos restauradores, mantivera a forma original de zigurate em quatro níveis. A Pirâmide do Sol, igualmente, consistira de quatro andares. Bartres, porém, havia caprichosamente criado um quinto nível entre o os originais terceiro e quarto. Havia, contudo, um aspecto original na Pirâmide do Sol que Bartres não conseguira desfigurar: uma passagem subterrânea que saía de uma caverna natural situada sob a face oeste. Após ter sido
descoberta por acaso em 1971, a passagem havia sido exaustivamente estudada. De 2,10m de altura, descobriu-se que corria para leste por mais de 70m, até chegar a um ponto próximo do centro geométrico da pirâmide. Ali desembocava em uma segunda caverna, de generosas dimensões, que havia sido artificialmente alargada e recebido uma forma muito semelhante a de um trevo de quatro folhas.

As “folhas” do trevo eram câmaras, cada uma delas com cerca de 18m de circunferência, contendo grande variedade de artefatos, tais como discos de ardósia belamente entalhados e espelhos altamente polidos. Havia também um complexo sistema de drenagem, formado por segmentos interligados de canos abertos na rocha. Este último aspecto era o mais enigmático, porque não havia dentro da pirâmide nenhuma fonte conhecida de água. As eclusas, porém, pouca dúvida deixavam de que água deveria ter estado presente na antiguidade e, provavelmente, em grande quantidade. Esse fato fazia nos lembrar a prova de que água correu certa vez pela Rua dos Mortos, fato confirmado pelas comportas e divisórias que eu vira antes ao norte da Cidadela e pela teoria de Schlemmer, referente a poços refletores e previsão de abalos sísmicos.

Na verdade, quanto mais pensava no caso, mais me parecia que a água devia ter sido um motivo dominante em Teotihuacán. Embora eu mal tivesse notado naquela manhã, o Templo de Quetzalcoatl fora decorado não só com efígies da Serpente Emplumada, mas com um simbolismo aquático inconfundível, notadamente um desenho ondulante sugestivo de ondas e grande número de belos entalhes de conchas marinhas. Com essas imagens em mente, cheguei à larga praça à base da Pirâmide da Lua e a imaginei cheia d’água, como pode ter acontecido, a uma profundidade de uns 4m. O local teria parecido magnífico, majestoso, impressionante e sereno. A Pirâmide Akapana, na distante Tiahuanaco, fora também cercada de água, que lá havia sido o motivo dominante – como nesse momento eu descobria que acontecia em Teotihuacán.

Comecei a subir a Pirâmide da Lua. Era menor do que a do Sol, na verdade, de menos da metade do tamanho e se estimava que tivesse uma massa de um milhão de toneladas de pedra e terra, contra os dois milhões e meio no caso da Pirâmide do Sol. Os dois monumentos, em outras palavras, tinham um peso combinado de três e meio milhões de toneladas. Era considerado improvável que esse volume de material pudesse ter sido manipulado por menos de 15.000 homens e se calculava ainda que mesmo tal força de trabalho teria levado pelo menos 30 anos para completar o enorme trabalho. Trabalhadores em número suficiente teriam certamente existido nas vizinhanças: o Projeto de Mapeamento de Teotihuacán havia demonstrado que a população da cidade, em seu auge, deveria ter chegado a umas 200.000 almas, tornando-a uma metrópole maior do que a Roma Imperial dos Césares.

O Projeto provara ainda que os principais monumentos hoje visíveis cobriam apenas uma pequena parte da área total da antiga Teotihuacán. No seu auge, a cidade devia ter coberto uma área de mais de 31km², com aproximadamente 50.000 residências individuais e 200 blocos de apartamentos, 600 pirâmides e templos secundários, e 500 áreas de “fábricas”, especializadas em cerâmica, estatuetas, lapidação, conchas marinhas, basalto, ardósia e trabalho de moagem de pedra. Parei no topo da Pirâmide da Lua e virei-me lentamente. Do outro lado do chão do vale, que descia suavemente na direção sul, toda Teotihuacán se estendia nesse momento diante de meus olhos – uma cidade geométrica, projetada e construída por arquitetos desconhecidos, antes do início do tempo histórico. A leste, a cavaleiro da Rua dos Mortos, reta como uma flecha, erguia-se, enorme, a Pirâmide do Sol, “imprimindo” eternamente a mensagem matemática com que fora programada há longas eras, uma mensagem que parecia dirigir nossa atenção para a forma da Terra.

As pirâmides em Gizé, no Egito

Tinha-se quase a impressão de que a civilização responsável pela construção de Teotihuacán fizera a opção deliberada de codificar informações complexas em monumentos duradouros e fazer isso usando linguagem matemática. Mas por que linguagem matemática?  Talvez porque, pouco importando por que mudanças e transformações extremas pudesse passar a civilização humana, o raio de um círculo multiplicado por 2pi (ou metade do raio multiplicada por 4pi) daria sempre o número correto da circunferência da terra. Em outras palavras, uma linguagem matemática poderia ter sido escolhida por motivos práticos: ao contrário de qualquer língua verbal, esse código poderia ser sempre decifrado, até mesmo por povos de culturas sem qualquer relação entre si que viessem a existir milhares de anos depois no futuro. Não pela primeira vez, senti-me diante da possibilidade vertiginosa de que um episódio inteiro da história da humanidade pudesse ter sido esquecido.

Na verdade, pareceu-me nessa ocasião, enquanto olhava do alto da Pirâmide da Lua para a cidade matemática, que nossa espécie poderia ter padecido de alguma forma terrível de amnésia e que o período de trevas tão ingênua e displicentemente denominado de “pré-história” pudesse esconder verdades inimaginadas sobre nosso passado. O que é a pré-história, afinal de contas, senão um tempo esquecido – um tempo sobre o qual faltam-nos registros? O que é a pré-história senão uma época de obscuridade impenetrável, através da qual passaram nossos ancestrais, mas sobre a qual não temos lembrança consciente? E foi como remanescente dessa época de obscuridade, configurada em um código matemático, de acordo com princípios astronômicos e geodésicos, que Teotihuacán, com todos os seus enigmas, chegou até nós.

Dessa mesma época vieram as grandes esculturas olmecas, o calendário inexplicavelmente preciso e exato que os maias herdaram de seus predecessores, os geoglifos inescrutáveis de Nazca, a misteriosa cidade andina de Tiahuanaco… e tantas outras maravilhas cujas origens desconhecemos. Era quase como se tivéssemos despertado para a luz ensolarada da história após um sono longo e sobressaltado e continuássemos ainda sobressaltados pelos ecos baixos, mas insistentes de nossos sonhos…

Continua . . .


Uma resposta

  1. Creio que Jesus era um Annunnaki: ou Enlil, ou Enki, ou um de seus herdeiros – Jesus dizia a Pilatus que o reino dele não era deste mundo, e se considerava “Herdeiro de seu pai celestial” (Em outras palavras).

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